segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Papa na Santa Marta: cuidar dos idosos e jovens é cultura da esperança



O amor de Deus pelo seu povo não conhece "descarte": é grande, é como um fogo que nos torna mais humanos. Relendo uma passagem do profeta Zacarias, o Papa na Missa de hoje na Santa Marta, volta a destacar como, quer nas famílias como na sociedade, negligenciar crianças e idosos porque não são produtivos não é sinal da presença de Deus

Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano

Quão forte é o amor de Deus por seu povo, mesmo que este o tenha abandonado, o tenha traído, tenha se esquecido dele. Em Deus, há sempre um ardente amor do qual brota a promessa de salvação para cada um de nós.

O Papa Francisco, na homilia da Missa celebrada na Casa Santa Marta, interpreta desta forma o oitavo capítulo do livro do profeta Zacarias, onde está escrito: "Eis o que diz o Senhor dos exércitos: consumo-me de ardente amor por Sião; estou animado em favor dela de uma violenta cólera. Assim fala o Senhor: eis que volto a Sião, venho residir em Jerusalém.” Graças ao amor de Deus, portanto, Jerusalém voltará a viver.

O cuidado de idosos e crianças é uma promessa do futuro

E na Primeira Leitura são claros - ressalta Francisco - também os "sinais da presença do Senhor" com seu povo, uma "presença que nos torna mais humanos", que nos torna mais "maduros”. São os sinais da abundância da vida, da abundância de crianças e idosos que animam nossas praças, as sociedades, as famílias:

O sinal da vida, o sinal do respeito pela vida, do amor pela vida, o sinal de fazer a vida crescer e este é o sinal da presença de Deus em nossas comunidades e também o sinal da presença de Deus que faz um povo amadurecer, quando há idosos. É bonito isto: "ver-se-ão ainda velhos e velhas sentados nas praças de Jerusalém, tendo cada um na mão o seu bastão”, é um sinal. E também tantas crianças. Usa uma expressão “regorgitarão”. Muitos! A abundância de velhice e da infância. É este o sinal, quando um povo cuida dos idosos e das crianças, os têm como um tesouro, este é o sinal da presença de Deus, é a promessa de um futuro.

A cultura do descarte é uma ruína

E a amada profecia de Joel retorna às palavras do Papa: "Vossos anciãos terão sonhos, vossos  jovens terão visões". E assim, repete, entre eles há uma troca recíproca, o que não acontece quando, pelo contrário, prevalece em nossa civilização a cultura do descarte, uma "ruína" que nos faz "enviar de volta ao remetente" as crianças que chegam ou nos faz adotar como "critério" fechar os idosos em asilos porque "não produzem"," porque impedem a vida normal".

Volta então à memória do Papa a história da avó, citada em outras ocasiões, para fazer as pessoas entenderem o que significa negligenciar idosos e crianças. É a história de uma família na qual o pai decide mudar o avô para comer sozinho na cozinha porque, à medida que envelhecia, começou a deixar cair a sopa e se sujar. Mas um dia esse pai voltou para casa e encontrou o filho construindo uma mesa de madeira porque, naquele mesmo isolamento, cairia também ele mais cedo ou mais tarde.

"Quando crianças e idosos são negligenciados", se acaba nos efeitos das sociedades modernas, que Francisco recorda falando das tradições não compreendidas e de inverno demográfico:

Quando um país envelhece e não há filhos, você não vê carrinhos de nenê nas ruas, não vê mulheres grávidas: "Um filho, melhor não ...". Quando você lê que naquele país há mais aposentados do que trabalhadores. É trágico! E quantos países hoje começam a viver esse inverno demográfico. E depois, quando os idosos são negligenciados perdemos – digamos isso sem vergonha - a tradição, a tradição que não é um museu de coisas velhas, é a garantia do futuro, é o suco das raízes que faz a árvore crescer e dar flores e frutos. É uma sociedade estéril para as duas partes, e assim acaba mal.

"Sim, é verdade", acrescenta o Papa, "a juventude se pode comprar": hoje existem tantas empresas que a oferecem na forma de truques, cirurgia plástica e lifting, mas - é a reflexão de Francisco - tudo sempre acaba no "ridículo"."

Velhos e jovens: esperança de nação e Igreja

Qual é então o coração da mensagem de Deus? É o que o Papa chama de "cultura da esperança" e que é representada exatamente por "velhos e jovens". São eles a certeza da sobrevivência de "um país, de uma pátria, da Igreja".

E a conclusão da homilia refere-se às tantas viagens do Papa no mundo, quando os pais levantam seus filhos para a bênção e fazem isso como se fossem mostrar os próprios "tesouros", uma imagem que deveria fazer refletir:

E nunca esqueço aquela velhinha na praça central de Iași, na Romênia, quando olhou para mim - ela era como as avós romenas, com um véu -, ela me olhou, tinha o neto nos braços e o mostrou para mim, como que dizendo: "Esta é a minha vitória, este é o meu triunfo”. Essa imagem, que depois girou pelo mundo, nos diz mais do que essa pregação. Portanto, o amor de Deus é sempre semear amor e fazer o povo crescer. Não cultura do descarte. Não sei, me vem de dizer, me perdoem, a vocês, párocos, quando à noite fazem o exame de consciência, perguntem isso: como me comportei hoje com as crianças e com idosos? Nos ajudará.

(vaticannews)

Papa Francisco - Oracão do Angelus 2019-06-29

Papa Francisco institui Domingo da Palavra de Deus



Com o Motu Proprio “Aperuit illis", o Santo Padre estabelece que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”.

Cidade do Vaticano

Foi divulgada, nesta segunda-feira (30/09), a Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio “Aperuit illis” do Papa Francisco com a qual se institui o Domingo da Palavra de Deus.

Com esse documento, o Santo Padre estabelece que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”. O Motu Proprio foi publicado no dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de São Jerônimo, início dos 1.600 anos da morte do conhecido tradutor da Bíblia em latim que afirmava: “A ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo”.

Francisco explica que com essa decisão quis responder aos muitos pedidos dos fiéis para que na Igreja se celebrasse o Domingo da Palavra de Deus. A carta começa com a seguinte passagem do Evangelho de Lucas (Lc 24,45): “Encontrando-se os discípulos reunidos, Jesus aparece-lhes, parte o pão com eles e abre-lhes o entendimento à compreensão das Sagradas Escrituras. Revela àqueles homens, temerosos e desiludidos, o sentido do mistério pascal, ou seja, que Ele, segundo os desígnios eternos do Pai, devia sofrer a paixão e ressuscitar dos mortos para oferecer a conversão e o perdão dos pecados; e promete o Espírito Santo que lhes dará a força para serem testemunhas deste mistério de salvação.”

O Papa recorda o Concílio Vaticano II que “deu um grande impulso à redescoberta da Palavra de Deus com a Constituição Dogmática Dei Verbum”, e Bento XVI que convocou o Sínodo, em 2008, sobre o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” e escreveu a Exortação Apostólica Verbum Domini, que “constitui um ensinamento imprescindível para as nossas comunidades”. Nesse documento, observa, “aprofunda-se o caráter performativo da Palavra de Deus, sobretudo quando o seu caráter sacramental emerge na ação litúrgica”.

O Domingo da Palavra de Deus, sublinha o Pontífice, situa-se num período do ano que convida a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos: “Não é uma mera coincidência temporal: celebrar o Domingo da Palavra de Deus expressa um valor ecumênico, porque as Sagradas Escrituras indicam para aqueles que se colocam à escuta o caminho a ser percorrido para alcançar uma unidade autêntica e sólida”.

Francisco exorta a viver esse domingo “como um dia solene. Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus (...). Neste Domingo, os Bispos poderão celebrar o rito do Leitorado ou confiar um ministério semelhante, a fim de chamar a atenção para a importância da proclamação da Palavra de Deus na liturgia. De facto, é fundamental que se faça todo o esforço possível no sentido de preparar alguns fiéis para serem verdadeiros anunciadores da Palavra com uma preparação adequada (...). Os párocos poderão encontrar formas de entregar a Bíblia, ou um dos seus livros, a toda a assembleia, de modo a fazer emergir a importância de continuar na vida diária a leitura, o aprofundamento e a oração com a Sagrada Escritura, com particular referência à lectio divina.

“A Bíblia”, escreve o Papa, “não pode ser patrimônio só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados (...). Muitas vezes, surgem tendências que procuram monopolizar o texto sagrado, desterrando-o para alguns círculos ou grupos escolhidos. Não pode ser assim. A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os fiéis e faz deles um só povo”.

Também nessa ocasião, o Papa reitera a importância da preparação da homilia: “Os Pastores têm a grande responsabilidade de explicar e fazer compreender a todos a Sagrada Escritura (...) com uma linguagem simples e adaptada a quem escuta (...). Para muitos dos nossos fiéis, esta é a única ocasião que têm para captar a beleza da Palavra de Deus e a ver referida à sua vida diária (...).

Não se pode improvisar o comentário às leituras sagradas. Sobretudo a nós, pregadores, pede-se o esforço de não nos alongarmos desmesuradamente com homilias enfatuadas ou sobre assuntos não atinentes. Se nos detivermos a meditar e rezar sobre o texto sagrado, então seremos capazes de falar com o coração para chegar ao coração das pessoas que escutam”.

Recordando o episódio dos discípulos de Emaús, o Papa recorda também “como seja indivisível a relação entre a Sagrada Escritura e a Eucaristia”. Cita a Constituição Apostólica Dei Verbum que ilustra “a finalidade salvífica, a dimensão espiritual e o princípio da encarnação para a Sagrada Escritura”. “A Bíblia não é uma coletânea de livros de história nem de crônicas, mas está orientada completamente para a salvação integral da pessoa. A inegável radicação histórica dos livros contidos no texto sagrado não deve fazer esquecer esta finalidade primordial: a nossa salvação. Tudo está orientado para esta finalidade inscrita na própria natureza da Bíblia, composta como história de salvação na qual Deus fala e age para ir ao encontro de todos os homens e salvá-los do mal e da morte”.

“Para alcançar esta finalidade salvífica, a Sagrada Escritura, sob a ação do Espírito Santo, transforma em Palavra de Deus a palavra dos homens escrita à maneira humana. O papel do Espírito Santo na Sagrada Escritura é fundamental. Sem a sua ação, estaria sempre iminente o risco de ficarmos fechados apenas no texto escrito, facilitando uma interpretação fundamentalista, da qual é necessário manter-se longe para não trair o caráter inspirado, dinâmico e espiritual que o texto possui. Como recorda o Apóstolo, «a letra mata, enquanto o Espírito dá a vida».”

O Papa recorda a afirmação importante dos Padres conciliares “segundo a qual a Sagrada Escritura deve ser «lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita». Com Jesus Cristo, a revelação de Deus alcança a sua realização e plenitude; e, todavia, o Espírito Santo continua a sua ação. De facto, seria redutivo limitar a ação do Espírito Santo apenas à natureza divinamente inspirada da Sagrada Escritura e aos seus diversos autores. Por isso, é necessário ter confiança na ação do Espírito Santo que continua a realizar uma sua peculiar forma de inspiração, quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura, quando o Magistério a interpreta de forma autêntica e quando cada crente faz dela a sua norma espiritual.”

Falando sobre a encarnação do Verbo de Deus que “dá forma e sentido à relação entre a Palavra de Deus e a linguagem humana, com as suas condições históricas e culturais”, o Papa ressalta que “muitas vezes corre-se o risco de separar Sagrada Escritura e Tradição, sem compreender que elas, juntas, constituem a única fonte da Revelação (...). A fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro.

Quando a Sagrada Escritura é lida com o mesmo Espírito com que foi escrita, permanece sempre nova”. Assim, “quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro”.

“Por isso, é necessário que nunca nos abeiremos da Palavra de Deus por mero hábito, mas nos alimentemos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação com Deus e com os irmãos. A Palavra de Deus apela constantemente para o amor misericordioso do Pai, que pede a seus filhos para viverem na caridade. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos, permitindo-nos sair do individualismo que leva à asfixia e à esterilidade enquanto abre a estrada da partilha e da solidariedade.

A carta se conclui com uma referência a Maria que nos acompanha “no caminho do acolhimento da Palavra de Deus”. “A bem-aventurança de Maria antecede todas as bem-aventuranças pronunciadas por Jesus para os pobres, os aflitos, os mansos, os pacificadores e os que são perseguidos, porque é condição necessária para qualquer outra bem-aventurança.”


(vaticannews)

sábado, 21 de setembro de 2019

O “menu espiritual” do Papa Francisco



Padre Pierluigi Plata lançou o livro “Preparar a mesa à santidade. Os alimentos na pregação do Papa Francisco”, no qual estuda as imagens usadas pelo Pontífice para explicar o seu magistério

Michele Raviart – Cidade do Vaticano

“Bom domingo e bom almoço”. Desde o seu primeiro Angelus de 17 de março de 2013 o Papa Francisco usou muitas vezes imagens ligadas aos alimentos e ao convívio nas suas palavras aos fiéis. Seria quase um “magistério dos alimentos” que o padre Pierluigi Plata, sacerdote e teólogo estudou e analisou no livro “Preparar a mesa à santidade. Os alimentos na pregação do Papa Francisco” (em tradução livre), editado pela Libreria Editrice Vaticana.

Padre Pierluigi Plata: O Papa dá um valor a cada alimento, por exemplo a alegria, a gratuidade, a convivialidade, a ajuda mútua… Atribui um sacramento aos alimentos: à Eucaristia, o pão; à esperança, o peixe; à fé, o doce… Desde o primeiro Angelus nos acostumou com a frase – e a repete todos os domingos: “Rezem por mim e bom almoço”. Por que? O domingo é o dia da Eucaristia, mas depois da conclusão da oração do Angelus a oração não deve ficar estéril: eu e o Senhor e mais nada; é preciso pensar também às situações concretas dos que não têm o que comer. Por isso a ligação do “bom almoço” desejado pelo Papa todas as vezes que termina o Angelus. Não só porque é hora do almoço, não só porque quer agradar: “Que belo, nos deseja bom apetite, e bom almoço”. Mas, para nos colocar uma reflexão: oração mas também reflexão concreta porque o que se come não deve ser desperdiçado.

Qual é a imagem de alimento usada pelo Papa Francisco que mais o impressionou?

Pe. Plata: Por exemplo, usa a pizza para falar de eclesiologia. Quando diz: “Na minha vida nunca vi um pizzaiolo colocar 1 quilo de fermento e 10 gramas de farinha. Não é assim!” O mesmo acontece com a Igreja, começando por ele mesmo, Papa, bispos, padres, fiéis, todos devem dar sua própria contribuição de modo harmônico como uma pizza! Senão, não dá certo”.

No livro o senhor fala de um tipo de menu espiritual: qual é a sua composição ideal?

Pe. Plata: Antes de tudo é preciso ver que tipo de fome eu tenho, de afetos, de conhecimentos, de amizades. Depois devo selecionar os produtos – ele cita muitas vezes a feira, o supermercado – e começar pelos mais naturais. O menu ideal é não comprar produtos já prontos para colocar no forno, no microondas, no congelador, mas os genuínos porque até a preparação de raviolis – ele disse como exemplo – de pizza com as próprias mãos, ajuda a si mesmos, ajuda os outros. Também não pode faltar, depois de citar o pão e a massa, o peixe, que sabemos desde as descobertas das catacumbas, é o símbolo de Jesus. Por fim, como sobremesa, eu diria os biscoitos, que o Papa recorda que a sua avó sempre fazia.

O Papa fala também de doces nas suas metáforas?

Pe. Plata: Sim, fala de doces. É muito interessante porque diz que a fé não é como um glacê que decora um bolo: não é opcional, não deve ser usada apenas em algumas ocasiões, mas deve ser constante… também ligado a doces há um discurso muito interessante, quando ele fala de “adoçar”, adoçar as coisas: atenção aos que são muito adocicados nas relações contigo, porque poderia esconder algo, ser muito adocicado pode, às vezes, esconder alguma coisa amarga por trás. Também fala dos lanches fora de hora. Como um, depois outro. Ao invés quando devo comer na hora do almoço, do jantar, não tenho mais fome. Então o Papa diz: Hoje nos contentamos com lanches, ou seja, com substitutos e não comemos mais uma refeição completa, que seria, fora da metáfora, no mundo espiritual, nos contentamos até mesmo de realidades talvez espirituais não profundas que não nutrem a nossa fé, esperança e caridade.

E quanto a bebidas?

Pe. Plata: A primeira é a água, este ouro branco ao qual todos devem ter acesso. A responsabilidade da água. Também liga a água ao Espírito Santo, ao batismo, aos sacramentos que dizia antes. E a última ligação que selecionei é: atenção que a água pode ficar estagnada, não potável, nociva. Por isso nas suas homilias, no seu magistério, continua a dizer aquela famosa frase, que não deveria ser dita “sempre foi feito assim” porque seria como a água estagnada que polui, que causa doenças ao estômago.

(vaticannews)

Palavra de Vida – setembro 2019



«Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos reciprocamente» 
(1 Ts 5, 11).

O apóstolo Paulo escreve à comunidade cristã de Tessalónica, comunidade que nasceu através dele. Já não poderá voltar àquela cidade, porque teve de fugir de lá, devido a grandes dificuldades e perseguições. Contudo, com as suas cartas, Paulo continua a acompanhar aqueles cristãos com o seu amor, chegando mesmo a louvá-los pela sua constância e perseverança na fé. Os tessalonicenses tornaram-se testemunhas exemplares!
Paulo conhece as interrogações profundas daquela comunidade, bem como as suas questões existenciais: O que é que nos espera depois da morte? Se o Senhor vai voltar depressa, como devemos preparar-nos convenientemente para a sua vinda definitiva?
Paulo responde-lhes, não para dar preceitos para cumprir. Em vez disso, professa de novo a sua fé: Jesus deu a sua vida por amor a toda a humanidade, e ressuscitou, abrindo para todos os homens o caminho que leva à Vida. 
E para que se preparem para a vinda de Jesus, Paulo aconselha-os a viverem segundo o Evangelho na vida quotidiana, continuando a trabalhar honestamente e a construir uma comunidade fraterna:
«Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos reciprocamente».

Paulo experimentou-o pessoalmente: o Evangelho faz germinar a semente de bondade que Deus colocou no coração humano.
É uma semente de esperança, que cresce no encontro pessoal e quotidiano com o amor de Deus e floresce no amor recíproco. É um estímulo para combater as sementes ruins do individualismo e da indiferença, que provocam isolamento e conflitos, e para levar os pesos uns dos outros, encorajando-nos reciprocamente.
É uma Palavra simples que todos nós podemos compreender e pôr em prática, e que é capaz de revolucionar os nossos relacionamentos pessoais e sociais.
É um conselho precioso, que nos ajuda a redescobrir a verdade fundamental da fraternidade, raiz de muitas culturas. Assim o exprime o princípio da filosofiabantu do Ubuntu: «Eu sou aquilo que sou por mérito daquilo que somos todos nós juntos». 
Foi este o princípio que, na África do Sul, guiou a ação política do grande líder metodista Nelson Mandela. Ele afirmava: «Ubuntunão significa não pensar em si mesmo, mas sim pôr-se a pergunta: “Quero ajudar a comunidade que me rodeia?”» (1). A sua ação coerente e corajosa provocou uma reviravolta histórica no seu país e constituiu um grande passo em frente na civilização.
«Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos reciprocamente».

Como viver esta Palavra? 
«Procuremos também nós crescer no amor recíproco no seio das nossas famílias, no nosso ambiente de trabalho, nas nossas comunidades ou associações eclesiais, nas nossas paróquias, etc. Esta Palavra exige uma caridade acrescida, isto é, uma caridade que saiba ultrapassar os limites medíocres e as múltiplas barreiras do nosso egoísmo subtil. 
Basta lembrarmo-nos de certos aspetos da caridade (tolerância, compreensão, acolhimento recíproco, paciência, disponibilidade para o serviço, misericórdia para com as reais ou supostas falhas do nosso próximo, partilha dos bens materiais, etc.), para descobrirmos muitas ocasiões para a viver.
Evidentemente que, se na nossa comunidade existir este clima de amor recíproco, este ardor vai irradiar-se necessariamente por todos. Até aqueles que ainda não conhecem a vida cristã se vão sentir atraídos por ela e, quase sem se darem conta, serão facilmente envolvidos, até ao momento em que passarão a fazer parte desta mesma família» (2).
«Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos reciprocamente».

Foi com este espírito que nasceu, na cidade de Palermo (Itália), um grupo de assistência com diversas especialidades médicas, psicologia e enfermagem, para ajudar os pobres da cidade. Eis as palavras dos protagonistas: 
«Somos um grupo de médicos e outros técnicos de saúde cristãos, de várias Igrejas. As palavras do Evangelho estimulam-nos a reconhecer em cada pessoa um irmão ou uma irmã, especialmente naqueles que são atingidos pela doença, mas que não conseguem obter resposta para a sua necessidade de cura.
Entre aqueles a quem prestamos assistência há pessoas com doenças muito graves, outras com dependências do jogo e da internet. A todos oferecemos o nosso profissionalismo nos locais onde trabalhamos, potenciando consultas já existentes. Para nos mantermos ligados uns aos outros e comunicarmos as diversas necessidades de intervenção, criámos um “chat” de referência no WhatsApp, bem como uma página no facebooke uma rede de endereços e-mail.
Apesar de ter nascido há pouco, este grupo já está operacional, sobretudo entre a população imigrada, e, de modo muito especial, com a comunidade adventista proveniente do Gana. Trata-se de um grupo numeroso e alegre, com quem experimentamos a alegria de nos ajudarmos reciprocamente como irmãos, filhos de um mesmo Pai». 
Letizia Magri

(focolares)