segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

ANGELUS (Texto)



PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Praça São Pedro
Domingo, 10 de dezembro de 2023

 

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste segundo domingo de Advento, o Evangelho fala-nos de João Batista, o precursor de Jesus (cf. Mc 1,1-8), e descreve-o como «a voz de quem grita no deserto» (v. 3). O deserto, lugar vazio, onde não se comunica, e a voz, meio para falar, parecem duas imagens contraditórias, mas no Batista elas conjugam-se.

O deserto. João prega ali, junto do rio Jordão, perto do ponto onde o seu povo, muitos séculos antes, tinha entrado na terra prometida (cf. Js 3,1-17). Ao fazê-lo, é como se dissesse: para escutar Deus, é preciso voltar ao lugar onde, durante quarenta anos, Ele acompanhou, protegeu e educou o seu povo, no deserto. É o lugar do silêncio e da essencialidade, onde não podemos dar-nos ao luxo de nos determos em coisas inúteis, mas devemos concentrar-nos no que é indispensável para viver.

E esta é uma chamada de atenção sempre atual: para prosseguir no caminho da vida é necessário despojar-se daquele “mais”, pois viver bem não significa encher-se de coisas inúteis, mas livrar-se do supérfluo, para ir ao fundo de si mesmo, para captar o que é verdadeiramente importante diante de Deus. Só se, através do silêncio e da oração, dermos espaço a Jesus, que é a Palavra do Pai, é que nos poderemos libertar da poluição das palavras vãs e da tagarelice. O silêncio e a sobriedade - nas palavras, no uso das coisas, dos meios de comunicação social e das redes sociais - não são apenas “sacrifícios” ou virtudes, são elementos essenciais da vida cristã.

E chegamos à segunda imagem, a voz. Ela é o instrumento com o qual manifestamos o que pensamos e trazemos no coração. Compreendemos então que ela está muito ligada ao silêncio, porque exprime o que amadurece no interior, a partir da escuta do que o Espírito nos sugere. Irmãos e irmãs, se alguém não souber ficar em silêncio, dificilmente terá algo de bom para dizer; ao passo que, quanto mais atento for o silêncio, mais forte será a palavra. Em João Batista, essa voz está ligada à genuinidade da sua experiência e à clareza do seu coração.

Podemos interrogar-nos: que lugar ocupa o silêncio no meu dia a dia? É um silêncio vazio, talvez opressivo, ou um espaço de escuta, de oração, de guarda do coração? A minha vida é sóbria ou está cheia de coisas supérfluas? Mesmo que isso signifique ir contra a corrente, valorizemos o silêncio, a sobriedade e a escuta. Que Maria, Virgem do silêncio, nos ajude a amar o deserto, a tornarmo-nos vozes credíveis que anunciam o seu Filho que vem.

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Depois do Ângelus

Amados irmãos e irmãs!

Há 75 anos, a 10 de dezembro de 1948, foi assinada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. É como uma via mestra, na qual foram dados muitos passos em frente, mas faltam ainda muitos e, por vezes, infelizmente, andamos para trás. O compromisso com os direitos humanos nunca está terminado! A este respeito, estou próximo de todos aqueles que, sem proclamações, na vida concreta de todos os dias, lutam e pagam pessoalmente para defender os direitos daqueles que não contam.

Regozijo-me com a libertação de um número significativo de prisioneiros arménios e azerbaijanos. Vejo com grande esperança este sinal positivo para as relações entre a Arménia e o Azerbaijão, para a paz no Cáucaso do Sul, e encorajo as partes e os seus dirigentes a concluírem o Tratado de Paz o mais rapidamente possível.

Daqui a poucos dias terminarão os trabalhos da Cop28 sobre o clima, que está a decorrer em Dubai. Peço-vos que rezeis para que se alcancem bons resultados para o cuidado da nossa casa comum e a proteção das populações.

E continuemos a rezar pelas populações que sofrem com a guerra. Estamos a caminho do Natal: seremos capazes, com a ajuda de Deus, de dar passos concretos de paz? Sabemos que não é fácil. Alguns conflitos têm raízes históricas profundas. Mas temos também o testemunho de homens e mulheres que trabalharam com sabedoria e paciência para uma convivência pacífica. Sigamos o seu exemplo! Que sejam envidados todos os esforços para enfrentar e eliminar as causas dos conflitos. E, entretanto - falando de direitos humanos -, protejam-se os civis, os hospitais, os locais de culto, libertem-se os reféns e garanta-se a ajuda humanitária. Não esqueçamos a atormentada Ucrânia, a Palestina, Israel.

Asseguro também as minhas orações pelas vítimas do incêndio ocorrido há dois dias no hospital de Tivoli.

Saúdo com afeto todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de outras partes do mundo, especialmente os fiéis de San Nicola Manfredi, os escuteiros adultos de Scafati e os grupos de jovens de Nevoli, Gerenzano e Rovigo.

Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!

 

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