Jesus estava a chegar a Betânia, onde Lázaro tinha morrido há
quatro dias. Quando soube da Sua vinda, a irmã de Lázaro, Marta,
correu esperançosa ao Seu encontro. Jesus gostava muito dela, e da
sua irmã Maria e de Lázaro, como assinala o Evangelho[1].
Apesar do sofrimento, Marta manifestou ao Senhor a sua confiança
n’Ele, convicta de que, se Ele estivesse ali antes da morte do
irmão, este ainda estaria vivo. Mas também que agora, qualquer
pedido que Jesus fizesse a Deus, seria atendido. «O teu irmão
ressuscitará» (Jo 11,23), afirmou então Jesus.
«Acreditas nisto?»
Jesus esclareceu que se referia ao regresso de Lázaro à vida
física, aqui e agora, e não apenas à vida que espera o crente
depois da morte. Depois pediu a Marta a adesão da fé, não só para
realizar um dos seus milagres – a que o evangelista João chama
“sinais” – mas para lhe dar, como a todos os crentes, uma vida
nova e a ressurreição. «Eu sou a ressurreição e a vida»
(Jo 11,25), afirmou Jesus. A fé que Jesus pede é um
relacionamento pessoal com Ele, uma adesão ativa e dinâmica.
Acreditar não é como aceitar um contrato – que se assina uma vez
e fica para sempre –, mas é um facto que transforma e impregna a
vida quotidiana.
«Acreditas nisto?»
Jesus convida-nos a viver uma vida nova, aqui e agora. Convida-nos
a experimentá-la cada dia, sabendo que, como descobrimos no Natal,
Ele próprio no-la trouxe, tomando a iniciativa de nos procurar e de
vir habitar no meio de nós.
Como responder à Sua pergunta? Olhemos para Marta, a irmã de
Lázaro.
Em diálogo com Jesus, desponta nela uma profissão de fé plena
n’Ele. O original grego exprime-o com uma força ainda maior.
Aquele “eu creio” por ela pronunciado significa “fiquei a
acreditar”, “creio firmemente” que «Tu és o Cristo, o Filho
de Deus que havia de vir ao mundo»[2], com todas as
consequências. É uma convicção amadurecida no tempo, posta à
prova nas diversas circunstâncias que enfrentou na vida.
O Senhor faz-me a mesma pergunta a mim. Também a mim pede uma
grande confiança n’Ele, a adesão ao Seu estilo de vida alicerçado
no amor generoso e concreto para com todos. A perseverança
amadurecerá a minha fé, que se reforçará ao verificar, dia após
dia, a veracidade das palavras de Jesus colocadas em prática, e que
não deixará de se expressar no meu agir quotidiano para com todos.
Entretanto, podemos fazer nosso o pedido dos apóstolos a Jesus:
«Aumenta a nossa fé» (Lc 17, 6).
«Acreditas nisto?»
«Uma das minhas filhas tinha perdido o trabalho, assim como todos
os seus colegas, porque o governo tinha fechado a agência pública
onde trabalhavam», conta a Patrícia, da América do Sul. «Como
forma de protesto, organizaram um acampamento diante da sede. Eu
procurava apoiá-los participando em algumas das suas atividades,
levando-lhes comida ou simplesmente ficando a falar com eles.
Na Quinta-Feira Santa, um grupo de sacerdotes que os acompanhava
decidiu fazer ali uma celebração onde se ofereciam também espaços
de escuta, leu-se o Evangelho e realizou-se o gesto do lava-pés,
recordando o que Jesus fez. A maior parte dos presentes não eram
pessoas religiosas. Contudo, foi um momento de profunda união, de
fraternidade e de esperança. Sentiram-se abraçados e, emocionados,
agradeceram àqueles sacerdotes que os acompanhavam na incerteza e no
sofrimento».
Esta palavra de Jesus foi escolhida como lema para a Semana de
Oração pela Unidade dos Cristãos 2025. Rezemos então e façamos
de tudo para que a nossa fé comum seja o motor da procura da
fraternidade com todos: é a proposta e o desejo de Deus para a
humanidade, mas requer a nossa adesão. A oração e a ação serão
eficazes se nascerem da nossa confiança em Deus e do nosso agir em
conformidade.
Texto preparado por Silvano Malini e pela equipa da Palavra de
Vida
São João Bosco, fundador da família salesiana, sofreu tentativas de assassinato ordenadas pela maçonaria.
Artigo publicado em 1º de junho de 1980 no Bollettino Salesiano, publicação oficial da Família Salesiana, relata duas tentativas de assassinato ordenadas pela maçonaria contra dom Bosco.
No final de junho de 1880, conta o Bollettino, um ex-aluno de dom Bosco, Alessandro Dasso, "veio à portaria" pedindo para falar com o santo sacerdote.
“Seus olhos
estavam angustiados”, diz o artigo. “Dom Bosco o recebeu com sua
habitual gentileza”, mas diante da “crescente agitação” do jovem, o
fundador da Família Salesiana lhe disse: “O que você quer de mim? Fala!
Você sabe que dom Bosco te ama”.
Depois destas palavras, Alessandro Dasso “caiu de joelhos, começou a soluçar de tanto chorar” e lhe disse a verdade.
“O próprio jovem estava ligado à
maçonaria. A seita condenara dom Bosco à morte. Doze homens foram
sorteados. Doze indivíduos deveriam cumprir com essa ordem, para
executar a sentença”, lê-se no Bollettino Salesiano.
Dasso disse a dom Bosco que ele
deveria ser o primeiro “só eu! E vim para isso! Nunca farei tal ação.
Carregarei sobre mim a vergonha dos outros. Revelar o segredo é a minha
morte, estou perdido, eu sei. Mas, matar dom Bosco, nunca!”.
Após confessar qual era a sua missão, o jovem jogou a arma que escondia no chão.
Apesar das
tentativas de dom Bosco de consolá-lo, o jovem saiu rapidamente da casa.
Em 23 de junho, Dasso tentou se suicidar jogando-se no rio Pó, mas foi
resgatado a tempo pela polícia.
Algum tempo depois, dom Bosco
conseguiu ajudá-lo a fugir da Itália e viveu escondido "até o fim de
seus dias", diz a publicação salesiana.
Meses depois, em dezembro de 1880, "um jovem de cerca de vinte e cinco anos visitou dom Bosco".
Os olhos do jovem deram ao santo sacerdote "pouquíssima confiança", mostrando um brilho "sinistro".
O jovem, recorda o Bollettino Salesiano, se expressava como "um homem exaltado".
Enquanto falava, “um pequeno revólver de seis tiros escorregou de seu bolso para o sofá”, continuou ele.
"Dom Bosco, sem que ele percebesse, colocou habilmente a mão sobre ele e lentamente o colocou no bolso."
O jovem então procurava sem sucesso a arma no bolso, mostrando um gesto de espanto.
Dom Bosco, muito
calmo, perguntou-lhe: "O que procura, senhor?" O jovem respondeu
confuso: "Tinha uma coisa aqui no bolso... quem sabe como... Mas para
onde foi?"
“Dom Bosco, aproximando-se
rapidamente da porta e colocando a mão esquerda na maçaneta para
abri-la, apontou a arma para ele e sem se irritar disse: 'Esta é a
ferramenta que você procurava, não é?' Vendo isso, o sem-vergonha ficou
atordoado”.
O Bollettino Salesiano
contou que o jovem então “quis pegar seu revólver. Mas, dom Bosco lhe
disse energicamente: ‘Vamos, sai logo daqui! E Deus tenha misericórdia!”
“Então, ele abriu a porta e disse a
alguns dos que estavam na ante-sala para que acompanhassem o cavalheiro
à portaria. O assassino hesitou; mas dom Bosco respondeu: 'Saia e não
volte!'”, e o jovem que queria acabar com a vida dele teve que ir
embora, junto com seus comparsas que o esperavam em um carro do lado de
fora.
Hoje (31) é a festa do pai e mestre
da juventude, são João Bosco, ou simplesmente dom Bosco. Ele ressuscitou
um jovem para tirá-lo do inferno e levá-lo ao céu.
Nas “Memórias Biográficas”, uma
coleção de 19 volumes sobre a vida de dom Bosco, conta-se a história de
Carlos, um adolescente de 15 anos que participava do oratório de são
Francisco de Sales, onde dom Bosco jogava com os meninos e lhes dava uma
educação humana e cristã.
Certo dia, Carlos adoeceu e o
médico, ao vê-lo tão mal, aconselhou a família a procurar um padre para
ouvir sua confissão. O menino pediu que ligassem para dom Bosco, mas
quando foram procurar o santo, ficaram surpresos ao descobrir que ele
estava fora da cidade. Então, chamaram o vigário da paróquia.
Carlos
continuou insistindo em ver dom Bosco até que, um dia e meio depois, ele
morreu. Quando dom Bosco voltou, soube o que havia acontecido com seu
amigo e foi imediatamente vê-lo. Ao chegar onde ele morava, encontrou um
homem que trabalhava lá. Ele lhe disse que o santo tinha chegado tarde
demais porque o menino já estava morto há meio dia.
Dom Bosco sorriu dizendo que na
verdade estava dormindo e que queria ver o menino, em meio ao pranto dos
familiares. Ele foi levado ao local em que estava sendo velado o
cadáver, que estava envolto em um lençol costurado e com um véu cobrindo
o rosto.
O santo pediu para ficar sozinho,
fez uma oração profunda, deu uma bênção e chamou duas vezes o jovem com
uma voz de comando: "Carlos, Carlos, levanta-te". O morto começou a se
mexer e dom Bosco imediatamente desamarrou o lençol com as mãos e
descobriu seu rosto.
Carlos acordou como se tivesse
saído de um sonho e perguntou por que estava daquele jeito. Depois,
olhou para dom Bosco, reconheceu-o e se encheu de alegria. Ele disse ao
santo que estava esperando por ele. O padre, então, o encorajou a lhe
contar tudo o que quisesse.
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O menino lhe explicou que, em
sua última confissão, não havia dito nada sobre um pecado que havia
cometido semanas antes. Depois, contou-lhe que havia tido um sonho
terrível no qual se encontrava a beira de uma enorme fornalha.
Ali ele tentava
escapar de muitos demônios e, quando eles estavam prestes a pegá-lo,
apareceu uma senhora e se colocou entre ele e os malignos, dizendo-lhes
que esperassem porque ele ainda não havia sido julgado. Então, ele ouviu
a voz de dom Bosco e acordou.
Carlos, arrependido, se confessou
com dom Bosco e, quando o padre estava lhe dando a absolvição, sua mãe e
toda a família entraram. O jovem olhou para a mãe e disse: "Dom Bosco
me salvou do inferno".
Carlos permaneceu lúcido por quase
duas horas, movia-se e falava, mas seu corpo continuava frio. Além
disso, pediu a dom Bosco que sempre aconselhasse os rapazes a serem
sinceros na confissão.
Finalmente, dom Bosco lhe
perguntou: "Agora você está na graça de Deus: tem o céu aberto. Quer ir
para cima ou ficar aqui conosco?". Carlos respondeu: " Quero ir para o
céu". E dom Bosco lhe disse: "Então, nos veremos novamente no paraíso”.
Carlos pôs a cabeça sobre o travesseiro, fechou os olhos e dormiu na paz do Senhor.
É interessante o que dom Bosco
disse a Carlos, porque o santo dos jovens vivia convencido de que ele
também iria para o céu. As últimas palavras de dom Bosco antes de morrer
foram: "Amem-se como irmãos... Façam o bem a todos, e o mal a
ninguém... Digam aos meus meninos que os espero, a todos no Paraíso".
“Um só é meu desejo: que sejam
felizes no tempo e na eternidade”, escreveu pouco antes de sua morte são
João Bosco, cuja memória litúrgica é recordada hoje (31). O fundador da
Congregação Salesiana (os salesianos) ficou também conhecido como
patrono e mestre da juventude.
João Melchior Bosco Occhiena
nasceu 16 de agosto de 1815 na aldeia del Becchi, perto de Morialdo em
Castelnuovo (norte da Itália), em uma família muito humilde. Quando
tinha dois anos, seu pai morreu e sua mãe, a serva de Deus Margarida
Occhiena, sendo analfabeta e pobre, foi responsável pela educação dos
seus filhos.
Aos nove anos, João Bosco teve um
sonho no qual viu uma multidão de meninos que brigavam e blasfemavam.
Ele tentou silenciá-los com os punhos. Então, apareceu Jesus Cristo e
lhe disse que devia ganhar os meninos com a mansidão e a caridade e que
sua professora seria a Virgem Maria. A Mãe de Deus disse: “a seu tempo
compreenderá tudo”.
Não conseguiu entender este sonho inicialmente, mas Deus mesmo o foi esclarecendo de diferentes maneiras com o tempo.
Dom Bosco teve que estudar e
trabalhar ao mesmo tempo, com seu desejo de ser sacerdote. Ingressou no
seminário de Chieri e conheceu são José Cafasso, que lhe mostrou as
prisões e os bairros onde havia jovens necessitados. Foi ordenado
sacerdote em 1841.
Iniciou o oratório salesiano,
no qual todo domingo se reunia com centenas de meninos. No começo, esta
obra não tinha um lugar fixo, até que conseguiram se estabelecer no
bairro periférico de Valdocco. Depois de uma enfermidade que quase lhe
custou a vida, prometeu trabalhar até o final por Deus através dos
jovens.
São João Bosco se dedicou
inteiramente a consolidar e estender sua obra. Deu alojamento a meninos
abandonados, ofereceu oficinas de aprendizagem e, sendo um sacerdote
pobre, construiu uma igreja em honra a são Francisco de Sales.
Em 1859, fundou os salesianos,
tomando como modelo são Francisco de Sales. Mais adiante, fundou as
filhas de Maria Auxiliadora e os cooperadores salesianos. Além disso,
construiu a basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, em Turim, e a
basílica do Sagrado Coração, em Roma, somente com doações.
Morreu em 31 de janeiro de 1888. Foi beatificado em 1929 e canonizado em 1924.
Na Audiência Geral de hoje (29) o
papa Francisco exortou a seguir o exemplo de são José que, ao descobrir a
gravidez de Maria, confiou completamente em Deus e "não pediu mais
provas".
“José não pede mais provas, confia!
José confia em Deus, aceita o sonho de Deus sobre a sua vida e a da sua
noiva”, disse Francisco na catequese para centenas de peregrinos
reunidos na Sala Paulo VI do Vaticano.
Ao assumir a paternidade adotiva de
Jesus, continuou o papa, são José “entra na graça de quem sabe viver a
promessa divina com fé, esperança e amor”. “Em tudo isto, José não
pronuncia sequer uma palavra, mas crê, espera e ama”, disse.
"Não se
expressa com ‘palavras ao vento’, mas com gestos concretos",
acrescentou. Francisco exortou os católicos a pedirem ao Senhor “a graça
de escutar mais do que falamos, a graça de sonhar os sonhos de Deus e
de acolher responsavelmente Cristo que, a partir do momento do nosso
batismo, vive e cresce na nossa vida”.
O tema da catequese de hoje foi o
mistério das origens de Jesus, narrado pelos Evangelhos da Infância.
Segundo o papa, são Lucas mostra isso a partir da perspectiva da mãe, a
Virgem Maria, enquanto são Mateus coloca a ênfase na perspectiva de são
José, o homem que assume a paternidade legal de Jesus, “enxertando-o no
tronco de Jessé e ligando-o à promessa feita a Davi”.
Ele disse que são José entra em
cena no Evangelho segundo são Mateus como “o noivo de Maria”, um
compromisso que para os judeus implicava “um verdadeiro vínculo
jurídico”, que preparava a celebração do casamento, “quando a mulher
passava da guarda do pai para a do marido”.
O papa disse que foi justamente
nessa época que são José descobriu a gravidez de Maria, o que colocou
seu amor à “dura prova”. Na verdade, a lei judaica propunha duas
soluções possíveis que resultariam na “interrupção do noivado”: um ato
jurídico público, como convocar a mulher ao tribunal, ou uma ação
privada, como dar à mulher uma carta de repúdio.
São José age “com ponderação”,
continuou o papa, porque não se deixa vencer por “sentimentos
instintivos”, mas prefere ser guiado pela “sabedoria divina”.
“Prefere separar-se de Maria sem clamor, privadamente”, disse.
Uma escolha – disse na sua
catequese – que lhe permite “não se enganar, abrir-se e tornar-se dócil à
voz do Senhor, que ressoa nele através do canal dos sonhos”.
O papa Francisco disse que são José
sonha “com o milagre que Deus realiza na vida de Maria”, e também com o
que realiza “na sua própria vida”; isto é, “assumir uma paternidade
capaz de conservar, proteger e transmitir uma herança material e
espiritual”.
Apelo pela paz na República Democrática do Congo
Por fim, em suas
saudações aos fiéis de língua italiana, o papa lamentou a situação na
República Democrática do Congo que sofre a ofensiva do grupo rebelde
Movimento 23 de Março (M23) em Goma.
A escalada do conflito no leste do
país africano causou deslocamentos em massa, com mais de 178 mil pessoas
fugindo, de acordo com Vivian van de Perre, a número dois da missão de
paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO).
“Exorto todas as partes no conflito
a se comprometerem com a cessação das hostilidades e a proteção da
população civil de Goma e outras áreas afetadas por operações
militares”, disse o papa Francisco.
Segundo a tradição, santa Martina foi
uma mulher romana de origem nobre, que viveu na primeira metade do
século III. Por se recusar a renunciar a sua fé cristã foi presa e
submetida a cruéis tormentos.
A jovem terminaria entregando sua vida em martírio nos tempos de Alexandre Severo, imperador entre os anos 222 e 235.
Santa Martina é considerada uma das santas padroeiras da cidade de Roma.
As relíquias dos mártires, âncoras da fé
A devoção a santa Martina ganhou
força com a descoberta de seu túmulo e a recuperação de suas relíquias.
Isto aconteceu muitos séculos depois de sua morte, em 1624, durante as
escavações da antiga igreja dedicada a santa pelo papa Honório I no
século VII, localizada em frente ao fórum romano.
Na época das descobertas, o papa
Urbano VIII, preocupado com a renovação espiritual da igreja, transferiu
seus restos mortais para outro templo, colocando o crânio em um
relicário especial, com o objetivo de promover a devoção à santa. Foi
esse papa que fixou sua celebração em 30 de janeiro.
Fé e tradição
As fontes textuais históricas
mais antigas sobre santa Martina datam do século VI, ou seja, depois de
sua morte, o que levou alguns hagiógrafos a duvidar de sua existência.
Este cepticismo para alguns é acentuado se considerar que, em geral, a
falta de fontes cronologicamente próximas a sua execução abriu caminho
para a divulgação de algumas imprecisões ou lendas.
A força com que a
tradição da igreja preservou o nome e a devoção a santa Martina ao longo
dos séculos permitiu que ela se mantivesse sempre na lista dos santos.
A moda cristã: generosidade e altruísmo
O relato tradicional mais difundido
sobre ela é que Martina ficou órfã de pai, um homem rico e nobre, e
herdou seus bens. Ela os teria distribuído entre os pobres da cidade, à
moda de muitos convertidos daquele tempo, e teria se dedicado à oração e
ao serviço da igreja nascente.
Justamente, por causa da prática
pública de sua fé, por volta do ano 235, ela foi presa por ordem de
Alexandre Severo e levada ao templo de Apolo. Ali lhe foi oferecida a
liberdade se ela renunciasse a sua fé cristã e adorasse os deuses Apolo e
Diana. Martina recusou, proclamando Cristo como seu único Deus e
Senhor.
A recusa fez com
que ela fosse submetida aos habituais tormentos romanos: espancamentos,
açoites, óleo fervente sobre suas feridas. Ela foi até mesmo jogada em
um poço cheio de animais ferozes, mas eles não a tocaram, por fim, ela
foi decapitada.
O texto a seguir inclui também as partes não lidas que são igualmente consideradas como pronunciadas:
Ciclo – Jubileu 2025. Jesus Cristo Nossa Esperança. I. A infância de Jesus. 3. "Porás o nome de Jesus" (Mt 1,21). O anúncio a José
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje continuamos a contemplar Jesus no mistério das suas origens, narrado pelos Evangelhos da infância.
Enquanto Lucas nos permite fazê-lo na perspetiva da mãe, a Virgem
Maria, Mateus, pelo contrário, coloca-se na perspetiva de José, o homem
que assume a paternidade legal de Jesus, enxertando-o no tronco de Jessé
e ligando-o à promessa feita a David.
Com efeito, Jesus é a esperança de Israel que se cumpre: é o descendente prometido a David (cf. 2 Sm 7, 12; 1 Cr 17, 11), que torna a sua casa «abençoada para sempre» (2 Sm 7, 29); é o rebento que brota do tronco de Jessé (cf. Is 11, 1), o «rebento justo», destinado a reinar como verdadeiro rei, que sabe exercer o direito e a justiça (cf. Jr 23, 5; 33, 15).
José entra em cena no Evangelho de Mateus como noivo de Maria. Para
os judeus, o noivado era um verdadeiro vínculo jurídico, que preparava
para o que haveria de acontecer cerca de um ano mais tarde, ou seja, a
celebração do casamento. Era então que a mulher passava da guarda do pai
para a do marido, transferindo-se para a sua casa e tornando-se
disponível para o dom da maternidade.
É precisamente neste intervalo de tempo que José descobre a gravidez
de Maria, e o seu amor é duramente posto à prova. Perante uma situação
semelhante, que comportaria a interrupção do noivado, a Lei sugeria duas
possíveis soluções: ou um ato jurídico de caráter público, como a
convocação da mulher ao tribunal, ou uma ação particular, como a entrega
à mulher de uma carta de repúdio.
Mateus define José como um homem «justo» (zaddiq), um homem
que vive segundo a Lei do Senhor, que se inspira nela em todas as
ocasiões da sua vida. Portanto, seguindo a Palavra de Deus, José age com
ponderação: não se deixa dominar por sentimentos instintivos, nem pelo
medo de acolher Maria, mas prefere deixar-se guiar pela sabedoria
divina. Prefere separar-se de Maria sem clamor, privadamente (cf. Mt 1, 19). E esta é a sabedoria de José, que lhe permite não se enganar, abrir-se e tornar-se dócil à voz do Senhor.
Deste modo, José de Nazaré traz à mente outro José, filho de Jacob, chamado «senhor dos sonhos» (cf. Gn 37, 19), tão amado pelo pai e tão odiado pelos irmãos, que Deus elevou, levando-o a fazer parte da corte do Faraó.
Pois bem, com o que sonha José de Nazaré? Sonha com o milagre que
Deus realiza na vida de Maria, e também com o milagre que cumpre na sua
própria vida: assumir uma paternidade capaz de conservar, proteger e
transmitir uma herança material e espiritual. O ventre da sua esposa
está grávido da promessa de Deus, promessa que tem um nome no qual a
certeza da salvação é oferecida a todos (cf. At 4, 12).
Durante o sono, José ouve estas palavras: «José, filho de David, não
tenhas medo de receber Maria como esposa, pois o que nela foi concebido
vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de
Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1,
20-21). Perante esta revelação, José não pede mais provas, confia! José
confia em Deus, aceita o sonho de Deus sobre a sua vida e a da sua
noiva. Assim entra na graça de quem sabe viver a promessa divina com fé,
esperança e amor.
Em tudo isto, José não pronuncia sequer uma palavra, mas crê, espera e
ama. Não se expressa com “palavras ao vento”, mas com gestos concretos.
Pertence à linhagem daqueles a quem o apóstolo Tiago chama os que «põem
em prática a Palavra» (cf. Tg 1, 22), traduzindo-a em ações, em
carne, em vida. José confia em Deus e obedece: «A sua vigilância
interior para Deus... torna-se espontaneamente obediência» (Bento XVI, A infância de Jesus, Milão-Cidade do Vaticano 2012, 57).
Irmãs, irmãos, peçamos também nós ao Senhor a graça de escutar mais
do que falamos, a graça de sonhar os sonhos de Deus e de acolher
responsavelmente Cristo que, a partir do momento do nosso batismo, vive e
cresce na nossa vida. Obrigado!
______________________________
Saudações:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos. Deus não
cessa de nos sonhar como homens e mulheres de esperança, de concórdia e
de paz, como pessoas que não se deixam abater pelas adversidades. Desejo
a cada um de vós a coragem de vos sonhardes exatamente assim como Deus
vos sonha. Que o Senhor vos abençoe! E obrigado pela presença de tantos
brasileiros, que são animados...
______________________________
Resumo da catequese do Santo Padre:
O evangelista Mateus descreve a infância de Jesus a partir da figura
do justo José, noivo de Maria, que, sem ainda terem vivido em comum, se
encontrara grávida por obra do Espírito Santo. Este desígnio de Deus foi
uma prova para São José, o qual, procurando na Lei do Senhor a luz
necessária para resolver tal situação, não desejou sujeitar Maria a uma
condenação pública e estava inclinado a entregar-lhe, secretamente, uma
carta de repúdio. Enquanto assim pensava, foi-lhe revelado em sonhos que
tudo o que se realizava em Maria vinha do próprio Deus e pôde, então,
descobrir a sua parte nesse milagre, ou seja, ser o guardião e protetor
do Menino que estava para nascer, a quem ele devia dar o nome de Jesus.
O papa Francisco falou sobre como o
sofrimento pode se tornar “uma ocasião para um encontro transformador”
com Deus em mensagem divulgada ontem (27).
Em sua mensagem para o Dia Mundial
do Enfermo deste ano, assinada em 14 de janeiro na arquibasílica de São
João de Latrão, em Roma, o papa falou sobre a presença, o dom e a
partilha como caminhos profundos de companheirismo providencial em
tempos de provação.
Francisco também se dirigiu a todos
os “que estão doentes ou cuidam dos que sofrem”, dizendo-lhes: “A vossa
jornada juntos é um sinal para todos: 'um hino à dignidade humana, um
cântico de esperança' ”.
O papa, de 88
anos, escreveu com base em sua experiência pessoal, tendo enfrentado
vários problemas de saúde nos últimos anos, como problemas nos joelhos
que exigiram uma cadeira de rodas, infecções respiratórias e, mais
recentemente, uma queda que causou uma contusão no antebraço .
“Em tempos de doença, sentimos
nossa fragilidade humana nos níveis físico, psicológico e espiritual”,
disse o papa. “Mas também experimentamos a proximidade e a compaixão de
Deus, que, em Jesus, compartilhou nosso sofrimento humano”.
Francisco disse que a primeira
maneira de Deus estar próximo é por meio da presença, ao dizer que o
sofrimento “se torna uma ocasião para um encontro transformador, a
descoberta de uma rocha sólida à qual podemos nos agarrar em meio às
tempestades da vida”.
Ao falar sobre o segundo
aspecto, o dom, o papa citou a venerável Madeleine Delbrêl, ao dizer que
a esperança vem principalmente do Senhor como “um dom a ser recebido e
cultivado”. O papa Francisco já citou anteriormente o testemunho orante da escritora, poetisa, ensaísta, assistente social e mística francesa.
Na mensagem divulgada ontem (27),
Francisco disse que a terceira dimensão da proximidade divina se
manifesta por meio do compartilhamento, particularmente em ambientes de
assistência médica, onde o enriquecimento mútuo geralmente ocorre entre
pacientes, equipe médica e familiares.
O papa concluiu sua
mensagem com uma palavra especial de gratidão aos profissionais de
saúde e aos que cuidam dos doentes, ao chamar sua jornada mútua de “um
hino à dignidade humana, uma canção de esperança”.
O papa Francisco confiou todos os doentes à intercessão de Nossa Senhora, Saúde dos Enfermos, e pediu orações por si mesmo.
O Dia Mundial do Enfermo é tradicionalmente celebrado em 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes.
A cada 29 de janeiro, recorda-se o
beato Bronislau (Bronislaw) Markiewicz, sacerdote polonês, fundador da
Congregação de São Miguel Arcanjo (Congregatio Sancti Michaëlis
Archangeli), ligada à família salesiana, a Pia Sociedade de São
Francisco de Sales.
A espiritualidade da Congregação se
resume em dois lemas: "Quem como Deus! – significado do nome de são
Miguel - e "Temperança e trabalho!". Seus membros, inspirados no
testemunho e nos ensinamentos de são João Bosco, dedicam-se de modo
especial à recuperação e a formação de crianças e jovens abandonados.
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate
Bronislao
Markiewicz nasceu em 13 de julho de 1842 na Galícia, região do sul da
Polônia. Ele foi o sexto de onze filhos, todos de uma família devota de
classe média baixa.
Ingressou no seminário maior de Przemysl em 1863, onde foi ordenado padre quatro anos depois.
Markiewicz sempre foi considerado
um homem fora do comum, muito dedicado ao serviço apostólico, humilde,
um inveterado buscador dos conselhos daqueles que servem a Deus
fielmente. Ele incentivou a devoção a Eucaristia e a piedade filial a
Santíssima Virgem. Da mesma forma, incentivou a devoção a são Miguel
Arcanjo, a quem escolheu como seu protetor na luta diária contra o mal. O
padre Markiewicz consagrou sua sociedade ao Arcanjo Miguel e nomeou-o
patrono de seus filhos espirituais.
Seguindo os passos de são João Bosco
Depois de alguns anos como
vigário e pároco, o padre Markiewicz descobriu um chamado particular à
vida religiosa. Em novembro de 1885, ele partiu para a Itália para se
formar com os salesianos. Ali teve a oportunidade de conhecer dom Bosco,
quem fez seus votos religiosos em 25 de março de 1887.
Em 1892, retornou a
Polônia como salesiano e foi nomeado pároco de Miejsce, na Galícia,
onde se dedicou inteiramente ao serviço dos jovens poloneses pobres e
abandonados. Algumas das necessidades que mais preocupavam o beato
Markiewicz foram a proteção e a defesa da fé e da moral cristã,
constantemente atacadas pela cultura secular.
O pároco havia percebido claramente
a falta de formação entre os católicos e os numerosos perigos que a fé
enfrentava nos tempos modernos. Para responder efetivamente a esses
desafios, promoveu a vivência radical da espiritualidade de dom Bosco. A
fundação da sociedade chamada "Temperança e Trabalho" foi o fruto mais
óbvio desse objetivo.
Legado
Bronislao Markiewicz morreu em 29
de janeiro de 1912, aos 69 anos, em Miejsce Piastowe, Império
Austro-Húngaro (estado que durou de 1867 a 1918).
Nove anos depois de
sua morte, em 29 de janeiro de 1912, os ramos masculino e feminino da
Sociedade foram oficialmente reconhecidos pela igreja, dando origem as
duas congregações que conhecemos hoje, consagradas sob a proteção de
Miguel, Chefe dos Exércitos Celestiais. Seus membros são conhecidos como
"miguelinos".
O papa Bento XVI proclamou o padre Markiewicz bem-aventurado em 19 de junho de 2005.
Foi publicada a Nota sobre a
relação entre Inteligência Artificial e inteligência humana dos
Dicastérios para a Doutrina da Fé e para a Cultura e Educação: “A IA não
é uma forma artificial de inteligência, mas um dos seus produtos”. São
destacadas as potencialidades e os desafios nos campos da educação,
economia, trabalho, saúde, relações humanas e internacionais, bem como
em contextos de guerra.
Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano
A Inteligência Artificial não deve ser considerada como uma pessoa,
não deve ser divinizada, nem substituir as relações humanas. Deve ser
utilizada “apenas como um instrumento complementar à inteligência
humana”. Os alertas do Papa sobre a Inteligência Artificial nos últimos
anos servem de guia para a Antiqua et Nova (em referência à
“sabedoria”, antiga e nova), a nota sobre a relação entre inteligência
artificial e inteligência humana, fruto da reflexão mútua entre o
Dicastério para a Doutrina da Fé e o Dicastério para a Cultura e a
Educação. O documento é dirigido a pais, professores, sacerdotes, bispos
e a todos os que são chamados a educar e transmitir a fé, mas também
àqueles que compartilham a necessidade de um desenvolvimento científico e
tecnológico “a serviço da pessoa e do bem comum” [5]. Publicado hoje,
28 de janeiro, o texto foi aprovado pelo Papa Francisco.
Em 117 parágrafos, a Antiqua et Nova destaca os desafios e as
oportunidades do desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) nos
campos da educação, economia, trabalho, saúde, relações internacionais e
interpessoais, além de contextos de guerra. Neste último, por exemplo,
as potencialidades da IA – adverte a Nota – poderiam aumentar os
recursos bélicos “muito além do alcance do controle humano”, acelerando
“uma corrida desestabilizadora por armamentos com consequências
devastadoras para os direitos humanos” [99].
Perigos e progressos
Mais detalhadamente, o documento enumera com equilíbrio ponderado os
perigos da IA, mas também os progressos, que, aliás, incentiva como
“parte da colaboração” do homem com Deus “para levar à perfeição a
criação visível” [2]. A preocupação, no entanto, é grande e decorre de
todas as inovações cujos efeitos ainda são imprevisíveis, inclusive
naquilo que, no momento, parece inofensivo, como a geração de textos e
imagens.
Distinguir entre IA e inteligência humana
Portanto, são considerações éticas e antropológicas que estão no
centro da reflexão dos dois Dicastérios, que dedicam vários parágrafos
da Nota à distinção “decisiva” entre Inteligência Artificial e
inteligência humana. Esta última “se exerce nas relações” [18], é
modelada por Deus e “é moldada por uma miríade de experiências vividas
na corporeidade”. A IA “não possui a capacidade de evoluir nesse
sentido” [31]. A visão que ela oferece é “funcionalista”, avaliando as
pessoas apenas com base em trabalhos e resultados, enquanto a dignidade
humana é imprescindível e permanece sempre intacta. Mesmo em “uma
criança ainda não nascida”, em “uma pessoa em estado não consciente” ou
em “um idoso em sofrimento” [34]. É, portanto, “enganoso” usar a própria
palavra “inteligência” em referência à IA: ela não é “uma forma
artificial de inteligência”, mas “um dos seus produtos” [35].
Poder nas mãos de poucos
E, como todo produto do engenho humano, também a IA pode ser direcionada para “fins positivos ou negativos”, destaca a Antiqua et Nova.
Não se nega que a Inteligência Artificial possa introduzir “inovações
importantes” em diversos campos [48], mas há o risco de agravar
situações de marginalização, discriminação, pobreza, “divisão digital” e
desigualdades sociais [52]. O que levanta “preocupações éticas” em
especial é o fato de que “a maior parte do poder sobre as principais
aplicações da IA esteja concentrada nas mãos de poucas empresas
poderosas” [53], permitindo que essa tecnologia seja manipulada para
“lucros pessoais ou corporativos” ou para “orientar a opinião pública em
favor dos interesses de um setor” [53].
Guerra
A Nota examina, em seguida, os vários aspectos da vida em relação à
IA. Inevitável é a referência à guerra. As “capacidades analíticas” da
IA poderiam ser utilizadas para ajudar as nações a buscar paz e
segurança, mas um “grave motivo de preocupação ética” são os sistemas de
armas autônomas e letais, capazes de “identificar e atingir alvos sem
intervenção humana direta” [100]. O Papa pediu com urgência o banimento
de seu uso, como afirmou no G7 na Puglia: “Nenhuma máquina jamais
deveria decidir tirar a vida de um ser humano”. Máquinas capazes de
matar com precisão de forma autônoma e outras aptas à destruição em
massa representam uma verdadeira ameaça para “a sobrevivência da
humanidade ou de regiões inteiras” [101]. Essas tecnologias “conferem à
guerra um poder destrutivo incontrolável, atingindo muitos civis
inocentes, sem poupar sequer as crianças”, denuncia a Antiqua et Nova.
Para evitar que a humanidade caia em “espirais de autodestruição”, é
indispensável “adotar uma posição firme contra todas as aplicações da
tecnologia que ameaçam intrinsecamente a vida e a dignidade da pessoa
humana”.
Relações humanas
Sobre as relações humanas, o documento observa que a IA pode, sim,
“favorecer as conexões”, mas, ao mesmo tempo, levar a “um isolamento
prejudicial” [58]. A “antropomorfização da IA” também apresenta
problemas específicos para o desenvolvimento das crianças, incentivadas a
entender “as relações humanas de maneira utilitarista”, como ocorre com
os chatbots [60]. É “errado” representar a IA como uma pessoa, e
é “uma grave violação ética” utilizá-la para fins fraudulentos. Da
mesma forma, “usar a IA para enganar em outros contextos – como na
educação ou nas relações humanas, incluindo a esfera da sexualidade – é
profundamente imoral e exige vigilância rigorosa” [62].
Economia e trabalho
Essa mesma vigilância é exigida no campo econômico-financeiro. Em
particular, no âmbito do trabalho, destaca-se que, se por um lado a IA
tem “potencial” para aumentar competências e produtividade ou criar
novos empregos, por outro, pode “desqualificar os trabalhadores,
submetê-los a uma vigilância automatizada e relegá-los a funções rígidas
e repetitivas” [67], a ponto de “sufocar” toda capacidade inovadora.
“Não se deve buscar substituir cada vez mais o trabalho humano pelo
progresso tecnológico: ao fazê-lo, a humanidade prejudicaria a si
mesma”, ressalta a Nota [70].
Saúde
Amplo espaço é dedicado ao tema da saúde. Embora a IA possua um
enorme potencial em diversas aplicações no campo médico (como o auxílio
em diagnósticos), caso venha a substituir a relação médico-paciente,
deixando a interação apenas para as máquinas, corre o risco de “agravar
aquela solidão que frequentemente acompanha a doença”. Além disso, a
otimização dos recursos não deve “prejudicar os mais vulneráveis” ou
criar “formas de preconceito e discriminação” [75], que reforcem uma
“medicina para os ricos”, em que pessoas com recursos financeiros
usufruem de ferramentas avançadas de prevenção e informações médicas
personalizadas, enquanto outros lutam para ter acesso até mesmo aos
serviços básicos.
Educação
Riscos também são destacados no campo da educação. Se utilizada de
forma prudente, a IA pode melhorar o acesso à educação e oferecer
“respostas imediatas” aos estudantes [80]. O problema é que muitos
programas “se limitam a fornecer respostas em vez de incentivar os
estudantes a buscá-las por conta própria ou a escreverem seus próprios
textos”; isso leva à perda do hábito de acumular informações ou
desenvolver um pensamento crítico [82]. Sem esquecer a quantidade de
“informações distorcidas ou artificiais” ou “conteúdos imprecisos” que
alguns programas podem gerar, legitimando, assim, as fake news [84].
Fake News e Deepfake
Com relação às fake news, o documento destaca o sério risco de
a IA “gerar conteúdos manipulados e informações falsas” [85],
alimentando uma “alucinação” de IA, com conteúdos não verídicos que
aparentam ser reais. Ainda mais preocupante é quando tais conteúdos
fictícios são usados intencionalmente para fins de manipulação. Por
exemplo, quando imagens, vídeos e áudios deepfake (representações
alteradas ou geradas por algoritmos) são divulgados intencionalmente
para “enganar ou prejudicar” [87]. O apelo, portanto, é para que se
tenha sempre o cuidado de “verificar a veracidade” do que é divulgado e
para evitar, em qualquer circunstância, “a disseminação de palavras e
imagens degradantes para o ser humano”, excluindo “o que alimenta o ódio
e a intolerância, desvaloriza a beleza e a intimidade da sexualidade
humana e explora os fracos e indefesos” [89].
Privacidade e controle
Sobre privacidade e controle, a Nota evidencia que alguns tipos de
dados podem chegar a tocar a intimidade da pessoa, “talvez até mesmo sua
consciência” [90]. Atualmente, os dados são adquiridos com uma
quantidade mínima de informações, e o perigo é transformar tudo “em uma
espécie de espetáculo que pode ser espionado, vigiado” [92]. Além disso,
“a vigilância digital pode ser utilizada para exercer controle sobre a
vida dos fiéis e sobre a expressão de sua fé” [90].
Casa comum
No que diz respeito à Criação, as aplicações da IA são consideradas
“promissoras” para melhorar a relação com a casa comum. Basta pensar nos
modelos para a previsão de eventos climáticos extremos, na gestão de
operações de socorro ou no suporte à agricultura sustentável [95]. Ao
mesmo tempo, os modelos atuais de IA e os sistemas de hardware que os
sustentam requerem “enormes quantidades de energia e água e contribuem
de forma significativa para as emissões de CO₂, além de consumir
recursos de forma intensiva”. É, portanto, um tributo “pesado” que se
exige do meio ambiente: “O desenvolvimento de soluções sustentáveis é
vital para reduzir seu impacto sobre a casa comum”.
O relacionamento com Deus
“A presunção de substituir Deus por uma obra de suas próprias mãos é
idolatria”: a Nota cita as Sagradas Escrituras para alertar que a IA
pode se revelar “mais sedutora do que os ídolos tradicionais” [105].
Lembra, portanto, que ela não é nada mais do que “um pálido reflexo” da
humanidade: “Não é a IA que será divinizada e adorada, mas sim o ser
humano, que, dessa forma, torna-se escravo de sua própria criação”.
Daqui deriva uma recomendação final: “A IA deve ser utilizada apenas
como um instrumento complementar à inteligência humana e não para
substituir sua riqueza” [112].
É providencial que católicos e ortodoxos celebrem juntos a Páscoa de 2025, diz papa
Papa Francisco
celebra as vésperas na basílica de São Paulo Fora dos Muros, acompanhado
por mestres de cerimônias, marcando a conclusão da Semana de Oração
pela Unidade dos Cristãos, no último sábado (25). | Daniel Ibáñez/CNA
O papa Francisco fez a profunda
pergunta de Jesus: "Crês nisto?", a cristãos do mundo todo num culto
ecumênico de vésperas no último sábado (25) no momento em que católicos e
ortodoxos se preparam celebrar a Páscoa na mesma data neste ano.
Ao falar na basílica de São Paulo
Fora dos Muros na conclusão da 58ª Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos, o papa refletiu sobre o encontro de Cristo com Marta depois da
morte de Lázaro, ao dizer que a esperança “ressurge das cinzas da
morte”.
“Este terno encontro entre Jesus e
Marta, que escutamos no Evangelho, ensina-nos que, mesmo nos momentos de
desolação, não estamos sós e podemos continuar a ter esperança”, disse
Francisco em sua homilia, centrada no tema da semana "Crês nisto?" (cf. Jo 11:26).
Francisco vinculou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano ao Jubileu 2025.
“Esta mensagem de
esperança está no centro do Jubileu que iniciamos. O apóstolo Paulo,
cuja conversão a Cristo recordamos hoje, dizia aos cristãos de Roma: ‘A
esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’ ” (cf. Rm 5, 5).
Na cerimônia das vésperas, o papa
disse que o foco de todo este ano jubilar está na esperança e coincide
“providencialmente” com o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia.
Francisco disse que a profissão de
fé do concílio “vai para além de todas as divisões que feriram o Corpo
de Cristo ao longo dos séculos”.
O prefeito do
Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos da Santa Sé, o
cardeal Kurt Koch, falou ao papa Francisco antes da bênção apostólica.
Ele citou a visita do papa em 2014 ao patriarca ecumênico Bartolomeu I
em Constantinopla, em que Francisco disse que “a Igreja Católica não
pretende impor quaisquer requisitos, exceto a profissão de fé comum”
para alcançar a unidade plena.
Essa esperança pela unidade ganhou
força nos últimos meses. Em novembro do ano passado, o patriarca
ecumênico Bartolomeu de Constantinopla confirmou conversas em andamento
entre representantes da Igreja sobre o estabelecimento de uma data comum
para a Páscoa, potencialmente começando em 2025.
“Nesta Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos, também podemos viver o aniversário do Concílio de
Niceia como um convite a perseverar no caminho rumo à unidade. De modo
providencial, este ano, precisamente durante o aniversário ecumênico, a
Páscoa será celebrada no mesmo dia tanto no calendário gregoriano como
no juliano. Renovo o meu apelo para que esta coincidência sirva de
estímulo a todos os cristãos para darem resolutamente um passo rumo à
unidade, em torno duma data comum, uma data para a Páscoa”, disse o papa
Francisco.
Ao destacar o momento
“providencial”, o papa disse que a Páscoa cairá na mesma data nos
calendários gregoriano e juliano este ano.
“Recuperemos as raízes comuns da fé, preservemos a unidade”, exortou Francisco.
Representantes de várias igrejas
cristãs e comunidades eclesiais presentes em Roma participaram da
celebração noturna, incluindo o metropolita Policarpo, representando o
Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, e o arcebispo Ian Ernest, da
Comunhão Anglicana, que está concluindo seu serviço.
A Igreja Católica recorda hoje (28) santo Tomás de Aquino, filósofo,
teólogo e doutor da Igreja, dotado de grande humildade e autor da famosa
“Suma Teológica”. É o santo padroeiro da educação, das universidades e
escolas católicas.
Tomás nasceu em Roccasecca, perto de Aquino, em Nápoles, em meio a uma
família aristocrática, entre 1225 e 1227. Morreu cedo, em 7 de março de
1274, na abadia cisterciense de Fossanova, onde foi descansar depois de
se sentir mal durante viagem para participar do Concílio de Lyon, a
convite do papa Gregório X.
Quando tinha cinco anos, recebeu seu primeiro treinamento com os monges
beneditinos de Montecassino. Diz-se que, ao ouvir os monges cantando
louvores a Deus, perguntou: “Quem é Deus?”. Ele era muito estudioso e
tinha vontade de oração e meditação.
Em 1236, ingressou na Universidade de Nápoles. Captava os estudos com maior profundidade e lucidez que seus mestres.
Mais tarde, quando decidiu ingressar na Ordem de São Domingos, teve que
enfrentar a resistência de sua família. Chegou a fugir para a Alemanha,
mas foi pego no caminho por seus irmãos que o prenderam no castelo.
Entretanto, nem mesmo isso o dissuadiu de seu desejo de seguir a vida
religiosa. Seguiu para Colônia, na Alemanha, onde foi instruído por
santo Alberto Magno.
Seu jeito silencioso e aparência robusta lhe renderam o apelido de “boi mudo” pelos companheiros que zombavam dele.
Mas, Tomás se tornou conselheiro dos papas Urbano IV, Clemente IV e
Gregório X. Até mesmo o rei são Luís, da França o consultava sobre os
assuntos importantes. Lecionou em grandes universidades, como de Paris,
Roma, Bologna e Nápoles.
Embora santo Tomás tenha vivido menos de cinquenta anos, escreveu mais
de sessenta obras, algumas curtas, outras muito longas. Isso não
significa que toda a produção real foi escrita diretamente à mão;
secretários o ajudaram, e seus biógrafos asseguram que ele poderia ditar
a vários escribas ao mesmo tempo.
Sua obra “Suma Teológica” imortalizou o santo. Ele próprio a
considerava simplesmente um manual de doutrina cristã para estudantes.
Na verdade, é uma exposição completa, ordenada por critérios científicos
da teologia e também um resumo da filosofia cristã.
Foi canonizado por João XXII, em 18 julho de 1323. No dia 28 de janeiro
de 1567, foi declarado doutor da Igreja por são Pio V. Logo passou,
então, a ser chamado “doutor angélico”.
Seus restos mortais estão em Toulouse, na França, mas a relíquia de seu
braço direito, com o qual escrevia suas obras, se encontra em Roma.
Santo Tomás de Aquino é representado com o Espírito Santo, um livro, uma estrela ou raios de luz sobre seu peito e a Igreja.
Divulgada a mensagem de Francisco
para o 33º Dia Mundial do Enfermo, celebrado em 11 de fevereiro. A
solene celebração trienal do Dia foi adiada devido à sua coincidência
com o Jubileu e se realizará em 11 de fevereiro de 2026, no Peru, no
Santuário Mariano da Virgem de Chapi, em Arequipa.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
Foi divulgada, nesta segunda-feira (27/01), a mensagem do Papa
Francisco para o XXXIII Dia Mundial do Enfermo que será celebrado em 11
de fevereiro.
"«A esperança não engana» e fortalece-nos nas tribulações" é o tema
da mensagem deste ano na qual a Igreja convida a tornarmo-nos
“peregrinos da esperança” neste Ano Jubilar de 2025.
Doença, oportunidade para um encontro que nos transforma
Extraído da carta de São Paulo aos Romanos, o tema da mensagem é
composto por "expressões reconfortantes, mas que podem levantar algumas
questões, sobretudo em quem sofre". Então, o Papa reflete "sobre a
presença de Deus junto dos que sofrem, particularmente nos três aspectos
que a caracterizam: o encontro, o dom e a partilha".
O encontro. "Quando Jesus envia os setenta e dois discípulos
em missão, exorta-os a dizer aos doentes: «O Reino de Deus já está
próximo de vós». Ou seja, pede-lhes que os ajudem a aproveitar a
oportunidade de encontro com o Senhor, mesmo na doença, por muito que
seja dolorosa e difícil de compreender", escreve Francisco. "Com
efeito, no momento da doença, se por um lado sentimos toda a nossa
fragilidade – física, psíquica e espiritual – de criaturas, por outro
lado experimentamos a proximidade e a compaixão de Deus, que em Jesus
participou do nosso sofrimento", ressalta o Papa.
“A doença torna-se então a oportunidade para um encontro que nos
transforma, a descoberta de uma rocha firme na qual descobrimos que
podemos ancorar-nos para enfrentar as tempestades da vida: uma
experiência que, mesmo no sacrifício, nos torna mais fortes, porque mais
conscientes de não estarmos sós.”
Esperança, dom a ser acolhido e cultivado
O dom. "Efetivamente, em nenhuma outra ocasião como no sofrimento, nos damos conta de que toda a esperança vem do Senhor e que, assim sendo, é primeiramente um dom a ser acolhido e cultivado
permanecendo «fiéis à fidelidade de Deus», segundo a linda expressão de
Madeleine Delbrêl", escreve o Pontífice no texto. "Além disso, só na
ressurreição de Cristo é que cada um dos nossos destinos encontra o seu
lugar no horizonte infinito da eternidade. O Ressuscitado caminha
conosco, fazendo-se nosso companheiro de viagem, como aconteceu com os
discípulos de Emaús. À semelhança destes, também nós podemos partilhar
com Ele as nossas perturbações, preocupações e desilusões, podemos
escutar a sua Palavra que nos ilumina e faz arder o coração, e
reconhecê-Lo presente ao partir o Pão, recolhendo do seu estar conosco,
apesar dos limites do tempo presente, aquele “mais além” que, ao
aproximar-se, nos restitui a coragem e a confiança", destaca o Papa.
Saber captar a beleza e o alcance destes encontros de graça
Por fim o terceiro aspecto, a partilha. "Os lugares onde se sofre são frequentemente espaços de partilha, nos quais nos enriquecemos uns aos outros.
Quantas vezes se aprende a esperar junto ao leito de um doente! Quantas
vezes se aprende a crer ao lado de quem sofre! Quantas vezes
descobrimos o amor inclinando-nos sobre quem tem necessidade! Ou seja,
percebemos de que todos juntos somos “anjos” de esperança, mensageiros
de Deus, uns para os outros: enfermos, médicos, enfermeiros, familiares,
amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. E isto, onde quer que
estejamos: nas famílias, nos ambulatórios, nos postos de saúde, nos
hospitais e nas clínicas", ressalta Francisco.
"É importante saber captar a beleza e o alcance destes encontros de graça, e aprender a anotá-los na alma para não os esquecer:
guardar no coração o sorriso amável de um profissional de saúde, o
olhar agradecido e confiante de um doente, o rosto compreensivo e
atencioso de um médico ou de um voluntário, o rosto expectante e
trepidante de um cônjuge, de um filho, de um neto, de um querido amigo",
escreve o Papa na mensagem.
“Todos eles são raios de luz que é preciso valorizar e que, mesmo
durante a escuridão das provações, não só dão força, mas dão o
verdadeiro sabor da vida, no amor e na proximidade.”
"Queridos doentes, queridos irmãos e irmãs que cuidam de quem sofre, neste Jubileu,
mais do que nunca, vocês desempenham um papel especial. O caminhar
juntos de vocês é um sinal para todos, «um hino à dignidade humana, um
canto de esperança», capaz de levar luz e calor aonde é mais
necessário", conclui Francisco.
Adiada celebração do Dia Mundial do Enfermo para 2026
Num comunicado conjunto, divulgado nesta segunda-feira (27/01), o
Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e o
Dicastério para a Evangelização, Seção para Questões Fundamentais da
Evangelização no Mundo, informam que por causa do Ano Jubilar de 2025, o
Papa Francisco ordenou que a celebração do Dia Mundial do Enfermo deste
ano, seja realizada em 11 de fevereiro de 2026, no Santuário Mariano da
Virgem de Chapi, em Arequipa, no Peru. O arcebispo de Arequipa, dom
Javier Del Rio Alba, acolheu com grande entusiasmo a decisão do Santo
Padre.
O Dia Mundial do Enfermo é celebrado anualmente em 11 de fevereiro,
memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes. A cada três anos, a
celebração do Dia se realiza de forma solene num santuário mariano.
No Ano Jubilar, a Igreja celebrará o Dia Mundial do Enfermo na forma
ordinária, no âmbito diocesano, no dia 11 de fevereiro. O Jubileu dos
Enfermos e do Mundo da Saúde se realizará nos dias 5 e 6 de abril, e o
Jubileu das Pessoas com Deficiência nos dias 28 e 29 de abril.
O evangelista Lucas, neste domingo, apresenta-nos Jesus na sinagoga
de Nazaré, a cidade onde ele cresceu. Jesus lê o trecho do profeta
Isaías que anuncia a missão evangelizadora e libertadora do Messias e
depois, no silêncio geral, diz: “Hoje cumpriu-se esta Escritura” (cf. Lc 4, 21).
Imaginemos a surpresa e a perplexidade dos concidadãos de Jesus, que o
conheciam como o filho do carpinteiro, José, e nunca teriam imaginado
que ele pudesse apresentar-se como o Messias. Foi uma perplexidade. Mas é
de facto assim: Jesus proclama que, com a sua presença, chegou «o ano
da graça do Senhor» (v. 19). É a boa nova para todos e de modo especial
para os pobres, os presos, os cegos, os oprimidos, diz o Evangelho (cf.
v. 18).
Naquele dia, em Nazaré, Jesus confronta os seus interlocutores com
uma escolha sobre a sua identidade e a sua missão. Na sinagoga, ninguém
podia deixar de se interrogar: será apenas o filho do carpinteiro que se
arroga um papel que não lhe pertence, ou será verdadeiramente o
Messias, enviado para salvar o povo do pecado?
O evangelista conta-nos que os nazarenos não reconheceram em Jesus o
ungido do Senhor. Pensavam que o conheciam demasiado bem e isso, em vez
de facilitar a abertura das suas mentes e dos seus corações,
bloqueava-os, como um véu que obscurece a luz.
Irmãs e irmãos, este acontecimento, com as devidas analogias, também
se verifica connosco hoje. Também nós somos interpelados pela presença e
pelas palavras de Jesus; também nós somos chamados a reconhecer n’Ele o
Filho de Deus, o nosso Salvador. Mas pode acontecer-nos, como aconteceu
aos seus conterrâneos, pensar que já o conhecemos, que já sabemos tudo
sobre ele, que crescemos com ele, na escola, na paróquia, na catequese,
num país de cultura católica... E assim, para nós, ele é uma Pessoa
próxima, ou melhor, “demasiado” próxima.
Mas procuremos interrogar-nos: sentimos a autoridade única com que
Jesus de Nazaré fala? Reconhecemos que Ele é portador de um anúncio de
salvação que mais ninguém nos pode dar? E eu, sinto-me necessitado dessa
salvação? Sinto que também eu sou, de alguma forma, pobre, preso, cego,
oprimido? Então, só então, o “ano de graça” será para mim!
Dirijamo-nos com confiança a Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, para que nos ajude a reconhecer Jesus.
________________________
Depois do Ângelus
Queridos irmãos e irmãs!
O conflito em curso no Sudão, que começou em abril de 2023, está a
provocar a mais grave crise humanitária do mundo, com consequências
dramáticas também no Sudão do Sul. Estou próximo dos povos dos dois
países e convido-os à fraternidade, à solidariedade, a evitar qualquer
tipo de violência e a não se deixarem instrumentalizar. Renovo o meu
apelo às partes em conflito no Sudão para que cessem as hostilidades e
aceitem sentar-se à mesa das negociações. Exorto a comunidade
internacional a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que a ajuda
humanitária necessária chegue às pessoas deslocadas e para ajudar os
beligerantes a encontrarem rapidamente o caminho da paz.
Vejo com preocupação a situação na Colômbia, em especial na região de
Catatumbo, onde os confrontos entre grupos armados causaram a morte de
muitos civis e a deslocação de mais de trinta mil pessoas. Expresso-lhes
a minha proximidade e rezo.
Hoje é o Dia Mundial da Lepra. Encorajo todos aqueles que trabalham
em prol dos atingidos por esta doença a prosseguirem os seus esforços,
ajudando também quantos estão curados a reintegrar-se na sociedade. Que
não sejam marginalizados!
Amanhã é o Dia Internacional de Comemoração em memória das vítimas do
Holocausto: oitenta anos depois da libertação do Campo de concentração
de Auschwitz. O horror do extermínio de milhões de judeus e de pessoas
de outras religiões durante aqueles anos não pode ser esquecido nem
negado. Lembro-me da talentosa poetisa húngara Edith Bruck, que vive em
Roma. Ela sofreu tudo isto. Hoje, se quiserem, podem ouvi-la no programa
“Che tempo che fa”. É uma boa mulher. Recordemos também muitos
cristãos, entre eles muitos mártires. Renovo o meu apelo para que todos
trabalhem em conjunto para erradicar o flagelo do antissemitismo,
juntamente com todas as formas de discriminação e perseguição religiosa.
Construamos juntos um mundo mais fraterno e justo, educando os jovens a
ter um coração aberto a todos, na lógica da fraternidade, do perdão e
da paz.
E saúdo todos vós de Itália e de muitas partes do mundo, em
particular saúdo os jornalistas e os trabalhadores dos meios de
comunicação social que nestes dias viveram o seu Jubileu: exorto-os a
serem sempre narradores de esperança.
Saúdo depois os polacos, especialmente os de Zabno; os alunos do
Instituto “Zurbará” de Badajoz (Espanha), os fiéis de Siquirres (Costa
Rica), o grupo de meninas quinceañeras do Panamá.
Saúdo os peregrinos da Unidade Pastoral de Busto Garolfo e Olcella, Arquidiocese de Milão.
E acolho com alegria vós, jovens da Ação Católica, das paróquias e
das escolas católicas de Roma. Chegastes no final da “Caravana da Paz”,
durante a qual refletistes sobre a presença de Jesus na vossa vida,
testemunhando aos vossos colegas a beleza do acolhimento e da
fraternidade. E agora escutemos estes bons jovens, que nos querem dizer
alguma coisa... Vamos lá! Em voz alta!
[leitura da mensagem]
Agora ele [o menino que lê] disse uma palavra muito bonita [o menino
relê: “Assim conseguiriam silenciar as armas”]. O menino é bom!
Saudações a todos os meninos e meninas.
Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!