19 de nov de 2025 às 10:38
Cristãos e muçulmanos foram massacrados na Nigéria, onde há atividade terrorista por questões econômicas, disse o papa Leão XIV a jornalistas ao sair ontem (18) à noite de sua residência em Castel Gandolfo, Itália.
“Acho que na Nigéria, em certas áreas, certamente existe um perigo para os cristãos, mas para todas as pessoas”, disse o papa, respondendo ontem a uma pergunta da EWTN News sobre a segurança dos cristãos nigerianos. “Cristãos e muçulmanos têm sido massacrados”.
“Há uma questão de terrorismo. Há uma questão que tem muito a ver com economia, por assim dizer, e com o controle das terras que eles possuem”, disse Leão XIV. “Infelizmente, muitos cristãos morreram, e eu acho muito importante que o governo, junto a todos os povos, busque um modo de promover a verdadeira liberdade religiosa”.
O papa respondeu a perguntas de jornalistas ao sair de sua residência em Castel Gandolfo, a Villa Barberini, para voltar ao Vaticano depois de passar o dia no retiro papal, que fica a 29 km ao sul de Roma.
Em 3 de novembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, colocou a Nigéria na lista de países de preocupação especial. O governo americano concede essa designação a países identificados como tendo ou tolerando violações particularmente graves da liberdade religiosa.
Depois da designação, o governo da Nigéria negou que a violência em curso no país seja baseada em afiliação religiosa ou que os cristãos estejam sendo alvos específicos.
“Retratar os desafios de segurança da Nigéria como uma campanha direcionada contra um único grupo religioso é uma grave distorção da realidade”, disseram as autoridades num comunicado publicado na rede social X em 28 de setembro.
“Os terroristas atacam todos aqueles que rejeitam sua ideologia assassina — muçulmanos, cristãos e pessoas sem religião”, disse o comunicado. “O cristianismo não está em perigo nem marginalizado na Nigéria”.
O secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, foi criticado no mês passado por dizer a jornalistas que a violência na Nigéria “não era um conflito religioso, mas sim um conflito social, por exemplo, entre pastores e agricultores”.
As declarações de Parolin foram feitas à margem de uma conferência para o lançamento do Relatório de Liberdade Religiosa 2025 da organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.
“Não podemos esquecer que muitos muçulmanos que vão para a Nigéria são vítimas dessa intolerância”, disse ele. “Portanto, esses grupos extremistas, esses grupos que não fazem distinções para alcançar seus objetivos, usam a violência contra qualquer pessoa que considerem um oponente”.
Os comentários de Parolin repetem “os argumentos do governo nigeriano que obscurecem e minimizam a perseguição aos fiéis católicos e outros cristãos no Cinturão Médio da Nigéria”, disse Nina Shea, comissária da Comissão Americana para a Liberdade Religiosa, ao jornal National Catholic Register, da EWTN.
O relatório sobre liberdade religiosa da organização Ajuda à Igreja que Sofre constatou "uma onda de violência grave e crescente, impulsionada principalmente por grupos extremistas islâmicos como o Boko Haram e o Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP, na sigla em inglês)" no período de dois anos analisado.
O relatório diz que a filiação religiosa tem um papel importante na violência em curso na Nigéria, junto com outras causas sociais, como a pobreza, a violência étnica e intercomunitária preexistente e os conflitos por terras e água entre pastores fulani e agricultores não-fulani. Os fulani, uma das etnias da Nigéria, são muçulmanos e mantêm milícias islâmicas.
“Embora seja difícil avaliar os números exatos, os cristãos têm sido alvo de execuções extrajudiciais e sequestros por grupos insurgentes e gangues criminosas”, diz o relatório.
“É importante notar também que, embora os cristãos sejam os que mais sofrem com a violência extremista, o fato de os grupos terroristas operarem em Estados com população predominantemente muçulmana significa que a violência afetou não só os cristãos, mas também os muçulmanos”, diz o texto.
(acidigital)
Sem comentários:
Enviar um comentário