TÓKIO,
06 Nov. 19 / 06:00 pm (ACI).-
Os esforços da Igreja Católica para evangelizar a
população japonesa chocaram muitas vezes com obstáculos, segundo o Arcebispo de
Tóquio, Dom Isao Kikuchi, mas a Igreja ainda continua encontrando algumas
formas de proclamar o Evangelho.
Dom
Kikuchi, em entrevista à CNA, agência em inglês do Grupo ACI,
falou sobre o Japão, a evangelização e por que encontrar espaço na sociedade
japonesa convencional é tão difícil para uma religião que sobreviveu à
perseguição e genocídio no país desde 1549.
Segundo
os dados disponíveis mais recentes, aproximadamente 35% dos japoneses afirmam
ser budistas, enquanto cerca de 3-4% reconhecem fazer parte do xintoísmo ou de
religiões populares japonesas associadas. Apenas 1-2% dos japoneses se
identificam como cristãos, e apenas metade deles são católicos.
"Na
sociedade japonesa, é difícil encontrar um sucesso tangível nas atividades
missionárias", comentou o Prelado. “No passado, missionários estrangeiros
conseguiram abrir cursos, reunindo pessoas através de aulas culturais e de
inglês. No entanto, estes foram substituídos por iniciativas das empresas
comerciais”.
A
educação em idiomas estrangeiros demonstrou ser uma ferramenta poderosa para a
interculturalidade depois da Segunda Guerra Mundial, pois era exigido para os
cargos bem remunerados nos negócios e na política internacional, embora apenas
uma fração da população o falasse nativamente.
No
entanto, a educação em inglês se tornou obrigatória na maioria das escolas. As
aulas de inglês geralmente começam no ensino fundamental ou mesmo antes e
continuam até o ensino médio.
Além disso, o Japão agora está repleto de escolas para praticar idiomas
estrangeiros com falantes nativos, conhecidos como "eikaiwa", os
quais, em combinação com o aumento da educação obrigatória em inglês, mataram
em grande parte a comunidade que oferece aulas amadoras de língua estrangeira,
alguma vez um elemento básico da atividade missionária católica.
"As
escolas católicas podem ser um local para conhecer muitos jovens, mas,
infelizmente, com exceção de algumas, não é mais um local para atividades
missionárias", disse o Prelado.
Historicamente,
as escolas foram vistas como o último ponto forte do catolicismo para
evangelizar os japoneses. Enquanto as paróquias estão diminuindo com o resto da
população e a escassez de clérigos está se tornando um problema crescente, o
prestígio do ensino médio e da universidade católica persiste e até se
fortalece no Japão desde a Restauração Meiji.
Apreciadas
anteriormente por seu acesso à educação de estilo ocidental e pelos instrutores
estrangeiros, em uma época em que o país estava apenas começando a interagir
com o mundo exterior, hoje as universidades católicas ainda são muito
respeitadas.
"Embora
as escolas devessem ser independentes da política nacional, infelizmente estão
vinculadas por subsídios do país e, portanto, estão gradualmente perdendo sua
particularidade e tendo apenas o nome de 'católico'", disse Dom Kikuchi,
referindo-se ao alto custo que as instituições católicas tiveram que pagar para
se destacar.
Nos
últimos anos, a Igreja no Japão também investe muito tempo em projetos de ajuda
em casos de desastres.
Através
desses esforços, o Arcebispo comentou que “a Igreja dá prioridade ao testemunho
do Evangelho de maneira visível através dessas firmes obras de misericórdia.
Certamente, essas atividades podem não levar imediatamente à recepção do batismo,
mas existe a esperança de que muitas pessoas que foram tocadas pelo espírito do
Evangelho sejam levadas à Igreja”.
A segunda
ferramenta mais poderosa de evangelização, disse Dom Kikuchi, é a população
católica que veio do exterior para o Japão e se estabeleceu no país.
“Em
segundo lugar, o Evangelho é pregado pela presença de católicos estrangeiros
que vieram para o Japão. Em particular, aqueles que se casaram e construíram
seus lares em áreas rurais tornam possível que o Evangelho seja levado para
áreas onde a Igreja nunca teve a oportunidade de se envolver”.
Os
imigrantes das Filipinas compõem uma grande parte dos novos estrangeiros nos
últimos anos, sendo a quarta maior comunidade do Japão. Estima-se que cerca de
250 mil filipinos moram e trabalham em todo o Japão.
A
população das Filipinas é aproximadamente 90% cristã e 86% especificamente
católica, constituindo uma grande porcentagem de leigos no Japão, participando
de Missas e integrando-se em comunidades religiosas, tanto em áreas rurais como
urbanas.
"Portanto,
uma tarefa importante que deve ter prioridade é incentivar os estrangeiros que
se estabeleceram no Japão a tomarem consciência de sua vocação missionária como
católicos".
Dom
Kikuchi acredita que o clero tem a responsabilidade de inculcar esse senso de
espiritualidade missionária nos estrangeiros.
"O
cuidado pastoral de cidadãos estrangeiros na Igreja japonesa não é simplesmente
um serviço de boas-vindas [aos convidados], mas também é um dever de tornar
conhecida sua vocação como missionários".
Esta
entrevista foi realizada semanas antes da visita do Papa Francisco ao Japão, de
23 a 26 de novembro.
(acidigital)
Sem comentários:
Enviar um comentário