Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"Entre as sete "lâmpadas da santificação", a segunda era, para o Papa João, a esperança. Falo-vos hoje desta virtude, que é obrigatória para cada cristão. Dante, no seu Paraíso (Cantos 24, 25 e 26), imaginou apresentar-se a um exame sobre o cristianismo. Funcionava uma comissão categorizada. "Tens fé?", pergunta-lhe, primeiro, São Pedro. "Tens esperança?", continua São Tiago. "Tens caridade?", termina São João. "Sim — responde Dante — tenho fé, tenho esperança, tenho caridade". Demonstra-o e fica aprovado por unanimidade".
Assim começa a catequese do Papa João Paulo I, em 1978, dedicada à esperança, a "segunda lâmpada" da santificação, pois a esperança é inseparável da vida cristã e Cristo, é a nossa esperança.
Dando sequência a sua série de reflexões no contexto deste ano jubilar sobre os "Papas e a Esperança", Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje "João Paulo I e sua catequese sobre a Esperança – Parte II":
"O Papa Albino Luciani, que escolheu o nome de João Paulo, conseguiu apenas realizar 4 catequeses de quartas-feiras antes de morrer inesperadamente, depois de tão somente 33 dias de Pontificado. Numa dessas catequeses, falou sobre a Virtude da Esperança, que nesse ano Jubilar estamos aprofundando e tomando como lema “Peregrinos de Esperança”. Por isso, nosso aprofundamento sobre essa rica catequese, da Audiência Geral, de 20 de setembro de 1978, intitulada “A virtude da esperança”, que já damos inicio na semana anterior.
O Papa João Paulo I dizia assim em sua audiência catequética: “Têm surgido de vez em quando no decurso dos séculos afirmações e tendências de cristãos demasiado pessimistas quanto ao homem. Mas tais afirmações foram desaprovadas pela Igreja e esquecidas graças a uma falange de santos alegres e ativos, graças ao humanismo cristão, aos mestres de ascética que Saint-Beuve chamou "les doux" e graças ainda a uma teologia compreensiva. São Tomás de Aquino, por exemplo, coloca entre as virtudes a ‘iucunditas’, ou seja, a capacidade de converter num sorriso alegre - na medida e no modo conveniente - as coisas ouvidas e vistas (Cf. 2.2ae, q. 168, a. 2). Jucundo explicava assim aos meus alunos de um pedreiro irlandês, que caiu do andaime e quebrou as pernas. Levado ao hospital, vieram o médico e a Irmã enfermeira. "Pobrezinho, disse a irmã, feriu-se muito caindo". Replicou o ferido: "Madre, não foi precisamente caindo, mas chegando ao chão é que me feri". Declarando ser virtude gracejar e fazer sorrir, São Tomás encontrava-se de acordo com a "alegre nova" pregada por Cristo, com a hilaritas recomendada por Santo Agostinho. Vencia o pessimismo, revestia de alegria a vida cristã, convidava-nos a tomar "animo também com os gozos sãos e puros que se nos deparam no caminho”. Esse modo hilárico e sereno aqui expresso pelo Papa sorriso diante dos problemas e desafios o tornaram o Papa simpático e esperançoso.
Conclui assim o Papa João Paulo I sua catequese: “Para terminar, desejava aludir a uma esperança, por alguns chamada cristã, mas que só é cristã até certo ponto. Explico-me: no Concílio também eu votei a "Mensagem ao Mundo" dos Padres Conciliares. Dizíamos nela: o cargo principal de divinizar não exime a Igreja do cargo de humanizar. Votei a Gaudium et Spes; comovi-me e entusiasmei-me quando saiu a Populorum Progressio. Julgo que o Magistério da Igreja nunca insistirá demais em apresentar e recomendar a solução dos grandes problemas da liberdade, da justiça, da paz e do desenvolvimento; e os leigos católicos nunca se baterão suficientemente para resolver estes problemas. É, porém, erro afirmar que a libertação política, económica e social coincide com a salvação em Jesus Cristo, afirmar que o Regnum Dei se identifica com o Regnum hominis, que Ubi Lenin ibi Jerusalem. Em Friburgo, no 85° Katholikentag foi tratado, nestes últimos dias, o tema "o futuro da esperança". Falava-se do "mundo" que é preciso melhorar, e a palavra "futuro" vinha a propósito. Mas se dá esperança para o "mundo" se passa à esperança para cada alma, então é necessário falar também de "eternidade". Em Ostia, à beira-mar, numa famosa conversa, Agostinho e Mônica, "esquecidos do passado e voltados para o futuro, perguntavam-se que viria a ser a vida eterna" (Confissões IX, n. 10.). Tal é a esperança cristã; a esta se referia o Papa João XIII e a esta nos referimos nós, quando, com o catecismo, oramos: "Meu Deus, espero da vossa bondade... a vida eterna e as graças necessárias para a merecer com as boas obras, que eu devo e quero fazer. Meu Deus, não fique eu confundido eternamente".
Vejam que, segundo o Papa Luciani, “o cargo principal de divinizar não exime a Igreja do cargo de humanizar”. Ele diz que votou na aprovação da Constituição Pastoral Gaudium et Spes que retrata a Missão da Igreja no Mundo. Comoveu-se e entusiasmou-se quando saiu a Populorum Progressio - CARTA ENCÍCLICA DE SUA SANTIDADE O PAPA PAULO VI SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS. “Julgo que o Magistério da Igreja nunca insistirá demais em apresentar e recomendar a solução dos grandes problemas da liberdade, da justiça, da paz e do desenvolvimento; e os leigos católicos nunca se baterão suficientemente para resolver estes problemas”, afirmou ele.
Pois, estamos vivendo o rico tempo Pascal. É do mistério pascal que emerge e aflora o sentido supremo da esperança cristã que não nos fixa simplesmente para o futuro, mas a dar sentido ao tempo presente. É também ao mesmo tempo um compromisso histórico e abertura ao porvir escatológico como dom do poder de Deus, não simplesmente uma obra humana. É o poder da Vitória de Cristo a dar um novo sentido aos desafios concretos de nossa história."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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