Paulo Alves
O mês de agosto é, ainda hoje, tradicionalmente associado às férias, que acompanham a costumeira subida das temperaturas e, com ela, momentos em que apetece sobretudo descansar. As férias, no entanto, representam, antes de mais, uma mudança na nossa maneira de gerir o tempo. Continuamos a ter as mesmas 24 horas em cada dia, mas passamos a ser responsáveis pela gestão de um maior número delas, dada a ausência das obrigações típicas do resto do ano – escola ou trabalho. Assim, se temos mais tempo entre mãos, também temos maior responsabilidade sobre o modo como o gastamos. Se o tempo é uma moeda que dificilmente adquirimos – lá diz o salmo que a vida do homem anda pelos setenta anos, se robustos por uns oitenta – então a maior questão de todas é onde é que a investimos. O tempo pode ser o nosso maior inimigo, tão mau que às vezes até o matamos, ou queremos matar, mas também pode ser o nosso maior aliado e amigo, sobretudo naqueles momentos que não queríamos que passassem, nunca.
É por isso que o lugar de Deus no descanso é sempre uma questão séria. Se Deus é sobretudo mais uma caixa no meio das outras caixas das nossas ocupações, então é natural que a deixemos de lado juntamente com as outras que não cabem na nossa bagagem de férias. Até podemos querer deixar de lado as obrigações pastorais, que também consomem tempo, mas o perigo está em deitar o bebé fora com a água do banho, e descurarmos tudo – desde a missa dominical à oração diária, ou esquecermo-nos que estamos sempre chamados a ser um outro Cristo, seja em que situação for. Fica por isso a interrogação: nestas férias, Deus é só mais uma caixa que deixo em casa, ou é aquela pessoa especial que vem comigo, e com a qual quero fazer férias, porque, juntos, passamos sempre os melhores momentos?
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