terça-feira, 31 de março de 2020

A Santa Sé em luto pela Itália e pelo mundo


Adesão do Vaticano à iniciativa dos prefeitos italianos de exibir as bandeiras a meio mastro em memória das vítimas do Covid-19. Uma solidariedade que a Santa Sé estende ao resto do planeta, onde há um total de 700.000 casos e 38.000 vítimas.

Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano

Um meio-dia de luto e a bandeira italiana “tricolor” que se abaixa. Os municípios italianos decidiram recordar as vítimas do coronavírus neste dia 31 de março e "honrar o sacrifício e o compromisso dos trabalhadores da saúde", baixando a bandeira a meio mastro. Um gesto que encontra a proximidade da Santa Sé, pronta a fazer o mesmo com a sua bandeira para expressar "proximidade às vítimas da pandemia na Itália e no mundo, às suas famílias e àqueles que generosamente lutam para pôr fim a ela", como anunciou esta manhã a Sala de Imprensa do Vaticano.

A iniciativa foi lançada pela Anci, a Associação que reúne os Municípios italianos, "para idealmente abraçar a todos", um sinal "de apoio uns aos outros, como nós prefeitos sabemos fazer", disse Antonio Decaro, prefeito de Bari e presidente da Anci. A "centelha" foi desencadeada pelo presidente da Província de Bérgamo, Gianfranco Gafforelli, para os prefeitos de seu território, com Decaro, que então decidiu estendê-la a todo o país.

(vaticannews)

Papa Francisco-Missa Casa Santa Marta 2020.03.31

segunda-feira, 30 de março de 2020

Palavra de Vida – março 2020


 “Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas” (Mt 7, 12).

Quantas vezes, nas escolhas importantes da vida, procurámos uma bússola segura que nos indicasse o caminho a seguir? Quantas vezes nos questionámos, como cristãos, sobre qual seria a síntese do Evangelho, a chave para entrar no coração de Deus e viver como Seus filhos, aqui e agora?
Aqui está uma palavra de Jesus que nos pode ajudar. É uma afirmação clara, que se pode compreender e viver imediatamente. Encontramo-la no Evangelho de Mateus: está contida no extraordinário Sermão da Montanha, onde Jesus ensina como viver plenamente a vida cristã. Ele próprio sintetiza todo o Seu anúncio nesta afirmação lapidar.
No nosso tempo, em que precisamos de mensagens ricas de significado – mas breves e eficazes – poderemos usar esta Palavra como um precioso tweet a ter sempre presente.
Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas”.

Para compreendermos melhor o que podemos fazer pelos outros, Jesus convida-nos a pormo-nos na pele deles. Foi o que Ele fez: para nos amar, assumiu a nossa carne humana.
No fundo, o que é que nós esperamos dos nossos pais, dos nossos filhos, dos colegas de trabalho, das autoridades, dos guias espirituais? Esperamos: compreensão, atenção, inclusão, apoio nas necessidades materiais, mas também sinceridade, perdão, encorajamento, paciência, conselho, orientação, formação… Para Jesus, esta atitude interior, com as ações concretas que dela resultam, sintetiza todo o conteúdo da Lei de Deus e toda a riqueza da vida espiritual.
Esta é a “Regra de Ouro”, uma máxima universal presente em todas as culturas, religiões e tradições que floresceram no caminho da humanidade . É a base de todos os autênticos valores humanos, daqueles que constroem convivências pacíficas, com relacionamentos, quer pessoais quer sociais, justos e solidários.
“Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas”.

Esta palavra incentiva-nos a ser criativos e generosos, a promover iniciativas em favor dos outros, a estabelecer pontes também com os que não são nossos amigos, como Jesus nos ensinou e fez também. É-nos pedida a capacidade de sair de nós mesmos, para podermos ser testemunhas credíveis da nossa fé.
Assim nos encoraja Chiara Lubich: «Experimentemos! Um dia assim vivido, vale a vida inteira. […] Ficaremos cheios de uma alegria nunca antes experimentada. […] Deus estará connosco, porque está com aqueles que amam. […] Pode acontecer, por vezes, que afrouxemos, que sejamos tentados a desanimar, a desistir. […] Mas não! Coragem! Deus concede-nos a Sua graça. Recomecemos sempre. Perseverando, veremos mudar, pouco a pouco, o mundo à nossa volta. Compreenderemos que o Evangelho torna a vida mais fascinante, acende uma luz no mundo, dá sabor à nossa existência, tem em si a capacidade para resolver todos os problemas. Não descansemos enquanto não tivermos comunicado a outros a nossa experiência: aos amigos que nos podem compreender, aos familiares, a todos aqueles a quem nos sentirmos motivados a dá-la. Renascerá a esperança» .

“Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas”.

Ramiro, já com uma longa experiência no seu lugar de trabalho, soube que iam chegar novos colegas.
Questionou-se: “Se eu entrasse pela primeira vez neste escritório, o que gostaria de encontrar? O que me faria sentir à vontade?”. Assim, põe-se em ação para criar espaço, procura outras secretárias, envolve outros colegas. Juntos, preparam uma nova organização dos locais de trabalho, mais acolhedora, e os recém-chegados encontram um ambiente alegre e uma comunidade de trabalho mais unida.
Letizia Magri


1) Alguns exemplos: “O que não queres que te façam a ti, não o faças aos outros. É esta a Torá. O resto é comentário” (Judaísmo); “Nenhum de vós é um fiel enquanto não desejar para seu irmão o que deseja para si mesmo” (Islamismo); “Não causar dano aos outros de um modo que acharias danoso para ti” (Budismo). Cf. http://www.aecna.org/Amicizia_Ebraico_Cristiana_di_Napoli/Regola_doro.htlm e http://livingpeaceinternational.org/br/o-projeto/a-regra-de-ouro.html
2)  Cf. Chiara Lubich, Palavras para Viver, Cidade Nova, 1980, p. 13-14.

Papa Francisco-Missa Casa Santa Marta 2020.03.30

sexta-feira, 27 de março de 2020

Resumo escrito da Bênção Urbi et Orbi, com a Indulgência Plenária

Papa Francisco: Abraçar o Senhor para abraçar a esperança
Com o cenário inédito da Praça São Pedro vazia com o Papa Francisco diante da Basílica Vaticana, o Pontífice afirmou que é "diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos povos”. Francisco falou ainda da ilusão de pensar :que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente".

Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano

Abraçar o Senhor para abraçar a esperança: esta é a mensagem do Papa Francisco aos fiéis de todo o mundo que, neste momento, se encontram em meio à tempestade causada pela pandemia do coronavírus.

Diante de uma Praça São Pedro completamente vazia, mas em sintonia com milhões de pessoas através dos meios de comunicação, o trecho escolhido para a oração dos féis foi a tempestade acalmada por Jesus, extraído do Evangelho de Marcos. (4,35+)
E foi esta passagem bíblica que inspirou a homilia do Santo Padre, que começa com o “entardecer…”.

“Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos.”

Estamos todos no mesmo barco

Estes mesmos sentimentos, porém, acrescentou o Papa, nos fizeram entender que estamos todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”.
Neste mesmo barco, seja com os discípulos, seja conosco agora, está Jesus. Em meio à tempestade, Ele dorme – o único relato no Evangelho de Jesus que dorme – notou Francisco. Ao ser despertado, questiona: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).

“A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade.”

A ilusão de pensar que continuaríamos saudáveis num mundo doente

Com a tempestade, afirmou o Papa, cai o nosso “ego” sempre preocupado com a própria imagem e vem à tona a abençoada pertença comum que não podemos ignorar: a pertença como irmãos.

“Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»”

O Senhor então nos dirige um apelo, um apelo à fé. Nos chama a viver este tempo de provação como um tempo de decisão: o tempo de escolher o que conta e o que passa, de separar aquilo que é necessário daquilo que não é. “O tempo de reajustar a rota da vida rumo ao Senhor e aos outros.”  

A heroicidade dos anônimos

Francisco cita o exemplo de pessoas que doaram a sua vida e estão escrevendo hoje os momentos decisivos da nossa história. Não são pessoas famosas, mas são “médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.

“É diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos”, afirmou o Papa, que recordou que a oração e o serviço silencioso são as nossas “armas vencedoras”.

A tempestade nos mostra que não somos autossuficientes, que sozinhos afundamos. Por isso, devemos convidar Jesus a embarcar em nossas vidas. Com Ele a bordo, não naufragamos, porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que nos acontece, inclusive as coisas negativas. Com Deus, a vida jamais morre.

Temos uma esperança

Em meio à tempestade, o Senhor nos interpela e pede que nos despertemos. “Temos uma âncora: na sua cruz fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor.”

Abraçar a sua cruz, explicou o Papa, significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e posse, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. “Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança.” Aqui está a força da fé e que liberta do medo. Francisco então concluiu:

 “Deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo, desça sobre vocês, como um abraço consolador, a bênção de Deus.”

Ao final da homilia, o Pontífice adorou o Santíssimo e concedeu a bênção Urbi et Orbi, com anexa a Indulgência Plenária.


(vaticannews)
27.3.20

Vatican Media Live

Tu Misericordia - Comunicadoras Eucarísticas (Video Oficial)

Papa Francisco-Missa Casa Santa Marta 2020.03.27

Oração de Laudes de Sexta-feira 27 de Março de 2020

quinta-feira, 19 de março de 2020

Esta é a oração que o Papa pede para rezar a São José pelo coronavírus



Vaticano, 19 Mar. 20 / 03:08 pm (ACI).- O Papa Francisco participará de sua residência na Casa Santa Marta na oração do Terço, promovida pela Conferência Episcopal Italiana hoje à noite, às 21h (hora da Itália) para pedir pelo fim da pandemia de coronavírus COVID-19 que afeta muitos países em todo o mundo.
A iniciativa dos bispos italianos de rezar os Mistérios Luminosos do Terço cruzou fronteiras e já conta com o apoio de dioceses em todo o mundo. A proposta da Conferência Episcopal é que, ao rezar o Terço, os fiéis coloquem uma vela ou um lenço branco nas janelas ou varandas de suas casas.
O Santo Padre, através de uma mensagem de vídeo, propôs rezar esta oração a São José, pois hoje se celebra a sua solenidade: “Protegei, Santo Defensor, este nosso País. Iluminai os responsáveis pelo bem comum, para que saibam – como vós – cuidar das pessoas confiadas à responsabilidade deles”.
“Concedei a inteligência da ciência àqueles que procuram meios adequados para a saúde e o bem físico dos irmãos. Sustentai aqueles que se dedicam aos necessitados: os voluntários, os enfermeiros, os médicos, que estão na linha de frente no tratamento dos doentes, mesmo à custa da própria incolumidade”.
“Abençoai, São José, a Igreja: a partir de seus ministros, fazei-a sinal e instrumento da vossa luz e da vossa bondade. Acompanhai, São José, as famílias: com o vosso silêncio orante, construí a harmonia entre os pais e os filhos, de modo particular os mais pequeninos”.
“Preservai os anciãos da solidão: fazei que ninguém seja deixado no desespero do abandono e do desencorajamento. Consolai quem é mais frágil, encorajai quem vacila, intercedei pelos pobres. Com a Virgem Mãe, suplicai ao Senhor para que liberte o mundo de toda forma de pandemia. Amém".
Rezar unidos
Em mensagem de vídeo, o Papa Francisco mostra seu apoio à iniciativa da Conferência Episcopal Italiana e faz um apelo à população para que ajude a "permanecer unidos naquilo que realmente conta" em uma situação inédita "em que tudo parece vacilar".
O Papa recorda que “a oração do Terço é a oração dos humildes e dos santos que, nos seus mistérios, com Maria contemplam a vida de Jesus, rosto misericordioso do Pai. E quanta necessidade todos temos de ser realmente consolados, de nos sentir envolvidos pela sua presença de amor!".
Do mesmo modo, faz um chamado a fortalecer os laços familiares para evitar que o confinamento afunde a moral das pessoas: “Vamos nos aproximar, exercitando nós por primeiro a caridade, a compreensão, a paciência e o perdão".
"Por necessidade, nossos espaços podem ter sido reduzidos às paredes da casa, mas vocês têm um coração maior, onde o outro possa sempre encontrar disponibilidade e acolhimento", afirma.
Por último, pede que nesta tarde, durante o Terço, todos rezem juntos “confiemo-nos à intercessão de São José, Protetor da Sagrada Família, Protetor de todas as nossas famílias. Também o carpinteiro de Nazaré conheceu a precariedade e a amargura, a preocupação pelo amanhã; mas soube caminhar na escuridão de alguns momentos, deixando-se guiar sempre, sem reservas, pela vontade de Deus”.
Dados da epidemia
Desde o início da epidemia, no final de 2019, foram confirmados 207.855 casos diagnosticados de coronavírus COVID-19 e 8.648 mortes. Na Itália, 28.710 pessoas deram positivo e 2.978 morreram.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

Sugestão para as Refeições

Papa Francisco - Missa Casa Santa Marta 2020.03.19

Comunhão espiritual: o convite do Papa Francisco

Oração de Laudes Quinta-feira 19 de Março 2020

terça-feira, 17 de março de 2020

Oração de Laudes Terça-feira 17 de Março de 2020

O Papa: rezo pelos anciãos que se encontram sozinhos e no medo


Que o Senhor esteja próximo e dê força aos nossos avôs e avós. Francisco ofereceu por esta intenção a Missa da manhã desta terça-feira /17/03) celebrada via streaming da Casa Santa Marta. E convidou a saber perdoar sempre, de coração

VATICAN NEWS

O coração do Papa é um coração que olha para todos, a cada dia para alguém de modo particular. Francisco dedicou a Missa na Casa Santa Marta, na manhã desta terça-feira (17/03), aos anciãos que em tempo de restrições devido ao coronavírus estão entre aqueles que mais do que outros sofrem a distância dos entes queridos.

Gostaria que hoje rezássemos pelos anciãos que sofrem este momento de modo particular, com uma solidão interna (interior) muito grande e por vezes com tanto medo. Peçamos ao Senhor que esteja próximo dos nossos avôs, nossas avós, de todos os anciãos e lhes dê a força. Eles nos deram a sabedoria, a vida, a história. Também nós nos fazemos próximos deles com a oração.

A homilia é inspirada no Evangelho e no tema do perdão que leva Pedro a perguntar a Jesus quantas vezes é lícito perdoar os outros. Não é fácil, reconheceu Francisco, que recordou que tem “pessoas que vivem condenando pessoas”. Mas aquilo que Deus almeja, afirmou, é a “ser magnânimos” a “perdoar, perdoar de coração”. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Jesus vem fazer uma catequese sobre a unidade dos irmãos e acaba por fazer uma bonita palavra: Asseguro-lhes que se dois, dois ou três de vocês, chegarem a um acordo e pedirem uma graça, lhes será concedida”. A unidade, a amizade, a paz entre os irmãos atrai a benevolência de Deus. E Pedro fez a pergunta: “Sim, mas o que devemos fazer com as pessoas que nos ofendem? Se meu irmão comete culpas contra mim, me ofende, quantas vezes deverei perdoá-lo? Sete vezes?” E Jesus responde com aquela palavra que significa, no idioma deles, “sempre”: “Setenta vezes sete”. Sempre se deve perdoar. E não é fácil perdoar. Porque o nosso coração egoísta é sempre apegado ao ódio, às vinganças, aos rancores. Todos vimos famílias destruídas pelos ódios familiares que passam de geração em geração. Irmãos que, diante do caixão de um dos pais, não se saúdam porque levam adiante rancores antigos. Parece que o apegar-se ao ódio seja mais forte do que o apegar-se ao amor e este é propriamente o tesouro – digamos assim – do diabo. Ele se agacha sempre entre nossos rancores, entre nossos ódios e os faz crescer, os mantém ali para destruir. Destrói tudo. E muitas vezes, por coisas pequenas, destrói. E também se destrói este Deus que não veio para condenar, mas para perdoar. Este Deus que é capaz de fazer festa por um pecador que se aproxima e esquece tudo. Quando Deus perdoa, esquece todo o mal que fizemos. Alguém dirá: “É a doença de Deus”. Não tem memória, é capaz de perder a memória, nestes casos. Deus perde a memória das histórias feias de tantos pecadores, dos nossos pecados. Perdoa-nos e segue adiante. Pede-nos apenas: “Faça o mesmo: aprenda a perdoar”, não levar adiante esta cruz não fecunda do ódio, do rancor, do “você vai me pagar”. Essa palavra não é nem cristã nem humana. A generosidade de Jesus que nos ensina que para entrar no céu devemos perdoar. Aliás, nos diz: “Você vai à Missa?” – “Sim” – “Mas se quando vai à Missa você se recorda que seu irmão tem algo contra você, primeiro, não venha a mim com o amor por mim numa mão e o ódio ao o irmão na outra”. Coerência de amor. Perdoar. Perdoar de coração. Tem pessoas que vivem condenado pessoas, falando mal das pessoas, continuamente difamando seus companheiros de trabalho, difamando os vizinhos, os parentes, porque não perdoam uma coisa que lhe fizeram, ou não perdoam uma coisa que não lhe agradou. Parece que a riqueza própria do diabo seja esta: semear o amor ao não-perdoar, viver apegados ao não-perdoar. E o perdão é condição para entrar no céu.

A parábola que Jesus nos conta é muito clara: perdoar. Que o Senhor nos ensine esta sabedoria do perdão que não é fácil. E façamos uma coisa: quando formos confessar, formos receber o sacramento da reconciliação, antes perguntemo-nos: “Eu perdoo?” Se eu sinto que não perdoo, não faça finta de pedir perdão, porque não será perdoado. Pedir perdão significa perdoar. Ambos estão juntos. Não podem separar-se. E aqueles que pedem perdão para si como este senhor, a quem o patrão perdoa tudo, mas não perdoam os outros, acabarão como este senhor. “Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração”.

Que o Senhor nos ajude a entender isto e a abaixar a cabeça, a não ser soberbos, a ser magnânimos no perdão. Ao menos a perdoar “por interesse”. Como é possível? Sim: perdoar, porque se eu não perdoo, não serei perdoado. Ao menos isso. Mas sempre o perdão.

(vaticannews)

segunda-feira, 16 de março de 2020

Deus ajude as famílias a reencontrar verdadeiros afetos neste tempo difícil

Missa em Santa Marta
Na Missa na Casa Santa Marta, esta segunda-feira (16/03), Francisco continua rezando pelos doentes e dirige um novo pensamento às famílias nesta situação caracterizada pela doença do coronavírus. Na homilia ressalta a necessidade de acolher a simplicidade de Deus para não cair na soberba

VATICAN NEWS

O Papa Francisco celebra a missa via streaming da Casa Santa Marta também esta semana para manifestar a sua proximidade aos fiéis que não podem participar da Eucaristia devido à emergência coronavírus. Na manhã desta segunda-feira (16/03), introduzindo a celebração, continuou rezando pelos doentes e as famílias.

“Continuemos rezando pelos doentes. Penso nas famílias, fechadas em casa, as crianças que não vão à escola, os pais que talvez não possam sair; alguns estarão em quarentena. Que o Senhor os ajude a descobrir novos modos, novas expressões de amor, de convivência nesta nova situação. É uma ocasião bela para reencontrar os verdadeiros afetos com uma criatividade na família. Rezemos pela família, para que as relações na família neste momento floresçam sempre para o bem.”

Na homilia, Francisco comentou as leituras do dia, extraídas do segundo Livro dos Reis (2 Re 5, 1-15) e do Evangelho de Lucas (Lc 4, 24-30). A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Em ambos os textos que hoje a Liturgia nos leva a meditar, há uma atitude que chama a atenção, uma atitude humana, mas não de bom espírito: a indignação. Este povo de Nazaré começou a ouvir Jesus, gostava de como Ele falava, mas depois alguém disse: “Mas este aí estudou em qual universidade? Este é o filho de Maria e José, este é o carpinteiro! O que vem nos dizer?” E o povo se indignou. Entram nesta indignação. E essa indignação os leva à violência. E aquele Jesus que admiravam no início da pregação é lançado fora da cidade, para jogá-lo do alto do monte. Também Naamã, que era um homem bom, inclusive aberto à fé, mas quando o profeta lhe manda banhar-se no Jordão, se indigna. Mas como é possível? “Eu pensava que ele viria em pessoa, e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar infectado e me curaria da lepra. Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar limpo? E, voltando-se, retirou-se encolerizado”. Com indignação.
Também em Nazaré há pessoas boas; mas o que há por trás destas boas pessoas que as leva a essa atitude de indignação? E em Nazaré pior: a violência. Quer as pessoas da Sinagoga de Nazaré, quer Naamã pensavam que Deus se manifestasse somente no extraordinário, nas coisas fora do comum; que Deus não podia agir nas coisas comuns da vida, na simplicidade. Indignavam-se do simples. Eles se indignavam, desprezavam as coisas simples. E o nosso Deus nos faz entender que ele age sempre na simplicidade: na simplicidade, na casa de Nazaré, na simplicidade do trabalho de todos os dias, na simplicidade da oração... As coisas simples. Ao invés, o espírito mundano nos leva à vaidade, às aparências e ambas acabam na violência: Naamã era muito educado, mas bate a porta diante do profeta e vai embora. A violência, um gesto de violência. O povo da sinagoga começa a esquentar-se, a esquentar-se, e toma a decisão de assassinar Jesus, mas inconscientemente, e o expulsam para jogá-lo do monte abaixo. A indignação é uma tentação feia que leva à violência.

Dias atrás, me mostraram num celular, um vídeo da porta de um prédio em quarentena. Havia uma pessoa, um senhor jovem, que queria sair. E o guarda lhe disse que não podia. E ele reagiu com socos, com uma indignação, com um desprezo. “Mas quem é você, ‘negro’, para impedir que eu saia?” A indignação é a atitude dos soberbos, mas dos soberbos pobres, dos soberbos com uma pobreza de espírito feia, dos soberbos que vivem somente com a ilusão de ser mais do que aquilo que são. É uma estratificação espiritual, o povo que se indigna: aliás, muitas vezes essa gente precisa indignar-se, indignar-se para se sentir pessoa.

Isso pode acontecer também conosco: “o escândalo farisaico”, chamam-no os teólogos, escandalizar-me de coisas que são a simplicidade de Deus, a simplicidade dos pobres, a simplicidade dos cristãos como, para dizer: “Mas isso não é Deus. Não, não. O nosso deus é mais culto, é mais sábio, é mais importante. Deus não pode agir nesta simplicidade”. E sempre a indignação leva-o à violência; quer à violência física, quer à violência das fofocas, que mata como a violência física.

Pensemos nessas duas passagens: a indignação do povo na sinagoga de Nazaré e a indignação de Naamã, porque não entendiam a simplicidade do nosso Deus.

(vaticannews)

Missa desde a Basílica da Santíssima Nossa Senhora do Rosario de Fátima ...

Oração de Laudes Segunda-feira 16 de Março de 2020

domingo, 15 de março de 2020

Papa reza pelas pessoas que garantem o funcionamento da sociedade


Missa em Santa Marta
Na Missa na Santa Marta, Francisco continua a rezar pelos doentes e dirige e um agradecimento àqueles que, com seu trabalho, permitem que a sociedade continue funcionando neste momento de emergência. Em sua homilia, comenta o Evangelho de domingo: o diálogo de Jesus com a samaritana, que confessa seus pecados. O Senhor quer um diálogo sincero e transparente conosco.

Cidade do Vaticano

O Papa continua a celebrar a Missa na Casa Santa Marta, com transmissão ao vivo. Também o fará nesta semana, em face da emergência de coronavírus que levou à suspensão, na Itália, das Celebrações Eucarísticas com a participação dos fiéis, para evitar qualquer risco de contágio. Na manhã deste domingo, Francisco presidiu a Missa no terceiro domingo da Quaresma. Introduzindo a celebração, rezou pelos doentes e por aqueles que, neste momento difícil, garantem os serviços essenciais com seu trabalho:

Neste domingo da Quaresma, rezemos todos juntos pelos doentes, pelas pessoas que sofrem. E hoje eu gostaria de fazer com todos vocês uma oração especial pelas pessoas que, com seu trabalho, garantem o funcionamento da sociedade: os trabalhadores das farmácias, dos supermercados, do transporte, os policiais.

Rezemos por todos aqueles que estão trabalhando para que a vida social, a vida na cidade, possam seguir em frente neste momento.

O Papa, então, lê a antífona:

Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, porque livra os meus pés da armadilha. Olhai para mim, tende piedade, pois vivo sozinho e infeliz (Sl 24,15s).

Na homilia, Francisco comentou o Evangelho deste domingo, que narra a conversa entre Jesus e a mulher samaritana (Jo 4, 5-15.19b-26.39a.40-42).

A seguir, o texto da homilia de acordo com nossa transcrição:

O Evangelho nos faz conhecer um diálogo, um diálogo histórico - não é uma parábola, isso aconteceu - de um encontro de Jesus com uma mulher, com uma pecadora. É a primeira vez no Evangelho que Jesus declara sua identidade. E a declara a uma pecadora que teve a coragem de lhe dizer a verdade ... E depois, com o mesmo argumento, foi anunciar Jesus: "Venha, talvez seja o Messias, porque ele me contou tudo o que eu fiz". Não vai com argumentos teológicos - como talvez quisesse no diálogo com Jesus: "Neste monte, o outro monte" – mas vai com a sua verdade. E a sua verdade é aquilo que a santifica, a justifica, é o que o Senhor usa, a sua verdade, para anunciar o Evangelho: não se pode ser um discípulo de Jesus sem a própria verdade, o que somos.

Não se pode ser discípulo de Jesus somente com argumentações: "Sobre este monte, sobre aquele outro". Essa mulher teve a coragem de dialogar com Jesus, porque esses dois povos não dialogavam entre eles. Teve a coragem de se interessar pela proposta de Jesus, aquela água, porque sabia que tinha sede. Teve a coragem de confessar suas fraquezas, seus pecados; antes, a coragem de usar a própria história como garantia que aquele era um profeta. "Ele me disse tudo o que eu fiz."

O Senhor sempre quer dialogar com transparência, sem esconder coisas, sem duplas intenções: "Sou assim". E assim falo com o Senhor, como sou, com a minha verdade.

 E assim, da minha verdade, pela força do Espírito Santo, encontro a verdade: que o Senhor é o Salvador, aquele que veio para me salvar e nos salvar. Esse diálogo assim transparente entre Jesus e a mulher termina com aquela confissão da realidade messiânica de Jesus e com a conversão daquele povo (aquele campo) que o Senhor viu branquear, que vinha a ele, porque era a época da colheita.

Que o Senhor nos dê a graça de sempre rezar com a verdade, de dirigir-se ao Senhor com a minha verdade, não com a verdade dos outros, nem com verdades destiladas em argumentações ...

(vaticannews)

sábado, 14 de março de 2020

Coronavírus em Portugal

Há 169 infectados em Portugal. Dez pessoas estão nos cuidados intensivos

Balanço feito este sábado pela Direcção-Geral da Saúde. 
São mais 57 casos do que na sexta-feira.

Há 169 infectados pelo novo coronavírus em Portugal, anunciou a Direcção-Geral da Saúde (DGS) este sábado. Dez pessoas estão internadas em unidades de cuidados intensivos.

Aguardam resultado laboratorial 126 casos. Há 5011 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde, acrescenta a actualização feita pela DGS. Há um doente recuperado.

A maioria (77) dos casos confirmados regista-se no Norte do país. Segue-se a região de Lisboa e Vale do Tejo (73 casos). Há oito infectados no Centro, sete no Algarve e quatro no estrangeiro.

O boletim da DGS dá conta de 11 cadeias de transmissão activas, o mesmo número do último boletim epidemiológico, divulgado na sexta-feira pela DGS.

Trinta e nove dos casos foram importados, a maioria de Itália (13 casos) e de Espanha (12). Cinco casos tiveram a Suíça como origem.

O último balanço, de sexta-feira, dava conta de 112 casos confirmados, mais 34 do que na quinta-feira. 

Desde o início do surto já houve 1704 casos suspeitos.

PÚBLICO 
14 de Março de 2020, 11:51

O Papa na Casa Santa Marta reza pela paz nas famílias neste momento difícil

Missa em Santa Marta
Na missa de Santa Marta, Francisco rezou de modo especial pelas famílias para que, neste momento difícil conservem a paz, a alegria e a coragem. Uma oração especial também pelas pessoas com deficiência. Na homilia comenta a parábola do filho pródigo.

Cidade do Vaticano - Vatican News

Na sexta Missa ao vivo via streaming da Capela da Casa Santa Marta, Francisco continuou na manhã deste sábado a rezar pelos doentes do Covid-19, dirigindo um pensamento especial às famílias, especialmente às pessoas com deficiência. Estas foram as suas palavras no início da celebração:

Nós continuamos a rezar pelos doentes desta pandemia. Hoje gostaria de pedir uma oração especial pelas famílias, famílias que de um dia para o outro se encontram com os seus filhos em casa, porque as escolas estão fechadas por razões de segurança e devem gerir uma situação difícil e geri-la bem, com paz e também com alegria. De modo especial, penso naquelas famílias que tem algum membro com deficiência. Os centros de acolhida diurnos para pessoas com deficiência estão fechados e a pessoa permanece em família. Rezemos pelas famílias para que não percam a paz neste momento e sejam capazes de levar avante toda a família com coragem e alegria.

Em sua homilia, Francisco comentou o Evangelho do filho pródigo e do pai misericordioso, proposto pela liturgia do dia (Lc 15,1-3. 11-32). Em seguida o texto da homilia de acordo com a nossa transcrição:

Muitas vezes ouvimos esta passagem do Evangelho. Esta parábola, Jesus a diz em um contexto especial: "Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar". Os fariseus e escribas murmuravam dizendo: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles”. E Jesus respondeu-lhes com esta parábola. O que eles dizem? As pessoas, os pecadores se aproximam em silêncio, não sabem como dizer, mas sua presença diz muitas coisas, eles queriam escutar. O que dizem os doutores da lei? Eles criticam. "Murmuravam", diz o Evangelho, tentando cancelar a autoridade que Jesus tinha com o povo. Esta é a grande acusação: "Ele come com pecadores, ele é um impuro".

Então a parábola é um pouco a explicação deste drama, deste problema. O que é que estas pessoas sentem? As pessoas sentem a necessidade de salvação. As pessoas não sabem distinguir bem, intelectualmente: "Preciso encontrar meu Senhor, para que Ele me encha", precisam de um guia, de um pastor. E as pessoas se aproximam de Jesus porque vêem n’Ele um pastor, precisam ser ajudadas a caminhar na vida. Elas sentem esta necessidade. Os outros, os doutores sentem suficiência: "Fomos à universidade, eu fiz um doutorado, não…, dois doutorados. Eu sei bem, muito bem, o que diz a lei; melhor, conheço todas, todas as explicações, todos os casos, todas as atitudes casuísticas". E eles se sentem suficientes e desprezam as pessoas, desprezam os pecadores: o desprezo pelos pecadores. Na parábola, o que é que diz? O filho diz ao Pai: "Dá-me o dinheiro e eu vou-me embora." O pai dá, mas não diz nada porque é pai, talvez tenha tido alguma recordação de alguma bobagem feita quando era jovem, mas não diz nada.

Um pai sabe sofrer em silêncio. Um pai olha para o tempo. Deixa passar os maus momentos. Muitas vezes a atitude de um pai é "fazer o bobo" diante das falhas de seus filhos. O outro filho repreende o pai: "O senhor foi injusto", disse ele. O que sentem as pessoas da parábola? O jovem sente o desejo de comer o mundo, de ir além, de sair de casa, e talvez viva a casa como uma prisão, e também tem a suficiência de dizer ao pai: "Dá-me o que é meu". Ele sente coragem, força. O que é que o pai sente? O pai sente dor, ternura e muito amor. Então, quando o filho diz aquela outra palavra: "Vou me levantar - quando ele cai em si – vou me levantar e irei ter com o meu pai", ele encontra o pai à sua espera, ele o vê de longe. Um pai que sabe esperar o tempo dos seus filhos.

O que é que o filho mais velho sente? Diz o Evangelho: "Ele ficou indignado", ele sente esse desprezo. E tantas vezes ficar indignado, tantas vezes, é a única maneira de se sentir digno para essas pessoas. Estas são as coisas que são ditas nesta passagem do Evangelho, as coisas que se sentem. Mas qual é o problema? O problema - vamos começar pelo filho mais velho - o problema é que ele estava em casa, mas nunca percebeu o que significava viver em casa: ele fazia as suas tarefas, fazia o seu trabalho, mas não entendia o que era uma relação de amor com o seu pai. "O filho mais velho ficou indignado e não quis entrar." "Mas esta já não é a minha casa?" ... ele pensou. O mesmo que os doutores da lei. "Não há ordem. Veio esse pecador aqui e lhe fizeram uma festa. E eu?" O pai diz a palavra clara: "Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu". E disso, o filho não se deu conta, viveu em casa como num hotel, sem sentir aquela paternidade... Tantos "hoteleiros" na casa da Igreja que acreditam ser os patrões.

É interessante, o pai não diz uma palavra ao filho que volta do pecado, apenas o beija, o abraça e lhe faz um banquete; a ele deve explicar, para entrar em seu coração: ele tinha o coração blindado pelas suas concepções de paternidade, de filiação, do modo de viver. Lembro-me uma vez que um idoso sacerdote sábio, um grande confessor, era um missionário, um homem que amava tanto a Igreja, e falando de um sacerdote jovem que era muito seguro de si mesmo, muito crente... que ele era um valor, que tinha direitos na Igreja, ele disse: "Eu rezo para isso, para que o Senhor lhe coloque uma casca de banana no seu caminho e o faça deslizar, isso lhe fará bem". Como se ele dissesse, parece blasfêmia: "Fará bem a ele pecar porque precisará pedir perdão e encontrará o Pai".

Tantas coisas esta parábola do Senhor nos diz, que é a resposta para aqueles que o criticavam porque ele andava com os pecadores. Mas também muitos hoje criticam, pessoas da Igreja, aqueles que se aproximam de pessoas necessitadas, de pessoas humildes, de pessoas que trabalham, mesmo aqueles que trabalham para nós. Que o Senhor nos dê a graça de entender qual é o problema. O problema é viver em casa, mas não se sentir em casa, porque não há relação de paternidade, de fraternidade, apenas a relação de companheiros de trabalho.

(vaticannews)

sexta-feira, 13 de março de 2020

O Papa: pastores próximos do povo, nem sempre medidas drásticas são boas

Missa em Santa Marta
Na missa na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, esta sexta-feira (13/03), Francisco rezou pelos doentes, mas também pelos pastores a fim de que tomem medidas que não deixem o povo de Deus sozinho e o acompanhem com o conforto da Palavra de Deus, dos sacramentos e da oração

VATICAN NEWS

Na quinta missa (VÍDEO INTEGRAL) via streaming da Capela da Casa Santa Marta no Vaticano, esta sexta-feira (13/03), no dia da sua eleição à Cátedra de Pedro, Francisco convidou mais uma vez a rezar pelos doentes de coronavírus, mas em particular rezou pelos pastores.

Nestes dias nos unimos aos doentes, às famílias, que sofrem esta pandemia. E gostaria também de rezar hoje pelos pastores que devem acompanhar o povo de Deus nesta crise: que o Senhor lhes dê a força e também a capacidade de escolher os meios melhores para ajudar. Nem sempre as medidas drásticas são boas, por isso rezemos: para que o Espírito Santo dê aos pastores a capacidade e o discernimento pastoral a fim de que providenciem medidas que não deixem sozinho o santo povo fiel de Deus. Que o povo de Deus se sinta acompanhado pelos pastores e pelo conforto da Palavra de Deus, dos sacramentos e da oração.

Obviamente, o Papa não se refere às medidas adotadas pelo governo italiano para contrastar os contágios evitando aglomeração de pessoas, mas se dirige aos pastores a fim de que considerem as exigências dos fiéis que precisam ser acompanhados espiritualmente num momento tão dramático.

Na homilia, comentando as leituras do dia, e em particular a parábola dos vinhateiros homicidas, falou da infidelidade à aliança por parte de quem se apropria do dom de Deus que é riqueza, abertura e bênção, e o aprisiona numa doutrina (Mt 21, 33-43.45). A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Ambas as leituras são uma profecia da Paixão do Senhor. José vendido como escravo por 20 ciclos de prata, entregue aos pagãos. E a parábola de Jesus, que claramente fala simbolicamente do assassinato do Filho. Esta história de “um homem que possuía um terreno, plantou nele uma vinha – o cuidado com o qual a fizera –, cercou-a com uma sebe, abriu nela um lugar para a prensa e construiu uma torre – tinha feito isso muito bem. Depois, a arrendou a vinhateiros e partiu para longe”.

Este é o povo de Deus. O Senhor escolheu aquele povo, há uma eleição daquele povo. É o povo da eleição. Também há uma promessa: “Ide avante. Vós sois o meu povo”, uma promessa feita a Abraão. E também há uma aliança feita com o povo no Sinai. O povo deve sempre guardar a eleição na memória, que é um povo eleito, a promessa para olhar para frente com esperança e a aliança para viver a fidelidade a cada dia.

Mas nessa parábola se dá que quando chegou o tempo para colher o frutos esse povo tinha se esquecido que eles não eram os proprietários: “Os lavradores pegaram os servos, bateram num deles, mataram o outro, lapidaram outro. Depois mandou outros servos, mais numerosos, mas o trataram do mesmo modo”. Certamente Jesus mostra aí – está falando aos doutores da lei – como os doutores da lei trataram os profetas. “Por último mandou-lhes o próprio filho”, pensando que respeitariam o filho. “Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre eles: ‘Este é o herdeiro. Vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança!”

Roubaram a herança, que era outra. Uma história de infidelidade, de infidelidade à eleição, de infidelidade à promessa, de infidelidade à aliança, que é um dom. A eleição, a promessa e a aliança são um dom de Deus. Infidelidade ao dom de Deus. Não entender que era um dom e tomá-lo como propriedade. Esse povo se apropriou do dom e tirou esse dom para transformá-lo em “minha “ propriedade. E o dom que é riqueza, é abertura, é bênção, foi trancafiado, aprisionado numa doutrina de leis, muitas. Foi ideologizado. E assim o dom perdeu a sua natureza de dom, acabou numa ideologia. Sobretudo numa ideologia moralista repleta de preceitos, inclusive ridícula porque passa à casuística para cada coisa. Apropriaram-se do dom.
Este é o grande pecado. É o pecado de esquecer que Deus se fez dom Ele mesmo para nós, que Deus nos doou isso como dom e, esquecendo isso, tornar-se proprietários. E a promessa já não é promessa, a eleição já não é eleição: “A aliança deve ser interpretada segundo o meu parecer, ideologizado”. Aí, nessa atitude, eu vejo talvez o início, no Evangelho, do clericalismo, que é uma perversão, que renega sempre a eleição gratuita de Deus, a aliança gratuita de Deus, a promessa de Deus. Esquece a gratuidade da revelação, esquece que Deus se manifestou como dom, se fez dom para nós e nós devemos dá-lo, mostrá-lo aos outros como dom, não como nossa posse.

O clericalismo não é uma coisa somente destes dias, a rigidez não é uma coisa destes dias, já havia no tempo de Jesus. E depois Jesus seguirá adiante na explicação das parábolas -  esse é o capítulo 21 –, seguirá adiante até chegar ao capítulo 23 com a condenação, onde se vê a ira de Deus contra aqueles que tomam o dom para si como propriedade e reduzem a sua riqueza aos caprichos ideológicos da mente deles.

Peçamos ao Senhor a graça de receber o dom como dom e transmiti-lo como dom, não como propriedade, não de um modo sectário, de modo rígido, de modo “clericalista”.

(vaticannews)

quinta-feira, 12 de março de 2020

Papa: rezar pelas autoridades e não ser indiferente

Missa em Santa Marta
Na missa matutina, Francisco convidou a rezar pelas pessoas que têm a responsabilidade de tomar decisões diante da pandemia de coronavírus. Comentando o Evangelho, falou que a indiferença não pode deixar que nos esqueçamos de quem vive na dificuldade.

VATICAN NEWS

O Papa Francisco continua a nos acompanhar neste momento difícil com a missa na capela da Casa Santa Marta dedicada ao Espírito Santo. É a quarta celebração eucarística via streaming (VÍDEO INTEGRAL). Esta manhã, na sua introdução, convidou a rezar em especial pelas autoridades.

Continuamos a rezar juntos, neste momento de pandemia, pelos doentes, pelos familiares, pelos pais com as crianças em casa… mas, sobretudo, eu gostaria de pedir a vocês que rezem pelas autoridades: eles devem decidir e muitas vezes decidir medidas que não agradam o povo. Mas é pelo nosso bem. E muitas vezes, a autoridade se sente sozinha. Rezemos pelos nossos governantes que devem tomar a decisão sobre esses medidas: que se sintam acompanhados pela oração do povo.

Comentando o Evangelho do dia do rico opulente e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31), o Papa exortou a não ser indiferente ao drama daqueles que, sobretudo as crianças, sofrem a fome ou fogem das guerras e encontram diante de si somente muros. Eis o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Esta narração de Jesus é muito clara; pode parecer uma narração para crianças: é muito simples. Jesus quer nos indicar com isso não só uma história, mas a possibilidade de que toda a humanidade viva assim, que todos nós vivamos assim. Dois homens, um satisfeito, que sabia se vestir bem, talvez buscasse os grandes estilistas da época para se vestir; usava roupas de púrpura e linho finíssimo. E depois vivia bem, pois todos os dias oferecia esplêndidos banquetes. Ele era feliz assim. Não tinha preocupações, tomava precauções, talvez alguma pílula contra o colesterol para os banquetes, mas assim a vida ia bem. Estava tranquilo.
À sua porta havia um pobre: se chamava Lázaro. Ele sabia que o pobre estava ali: ele o sabia. Mas lhe parecia natural: “Eu vivo bem e ele… mas assim é a vida, que se vire”. No máximo, talvez – o Evangelho não diz – às vezes dava alguma coisa, algumas migalhas. E assim a vida dessas duas pessoas passou. Ambos passaram pela Lei de todos nós: morrer. Morreu o rico e morreu Lázaro. O Evangelho diz que Lázaro foi levado ao Céu, ao lado de Abraão… Do rico diz somente: foi enterrado. Ponto. E acaba.
Há duas coisas que impressionam: o fato de que o rico soubesse que havia este pobre e que soubesse o seu nome, Lázaro. Mas não importava, lhe parecia natural. O rico talvez fizesse também os seus negócios que, no final, iam contra os pobres. Conhecia bem claramente, era informado sobre esta realidade. E a segunda coisa que me impressiona muito é a palavra “grande abismo” que Abraão diz ao rico. “Entre nós há um grande abismo, não podemos comunicar; não podemos passar de uma parte a outra”. É o mesmo abismo que na vida havia entre o rico e Lázaro: o abismo não começou lá, o abismo começou aqui.
Pensei no qual seria o drama deste homem: o drama de ser muito, muito informado, mas com o coração fechado. As informações deste homem rico não chegavam ao coração, não sabia se comover, não podia se comover diante do drama dos outros. Nem mesmo chamar um dos jovens que serviam o banquete e dizer “leve isto, aquilo a ele…”. O drama da informação que não chega ao coração. Isso acontece também a nós. Todos nós o sabemos, porque vimos no telejornal, vimos nos jornais quantas crianças sofrem a fome hoje no mundo; quantas crianças não têm os remédios necessários; quantas crianças não podem ir à escola. Continentes com este drama: nós o sabemos. Pobrezinhos….e continuamos. Esta informação não chega ao coração e muitos de nós, muitos grupos de homens e mulheres vivem este distanciamento entre aquilo que pensam, aquilo que sabem e aquilo que ouvem: o coração está separado da mente. São indiferentes. Assim como o rico era indiferente à dor do Lázaro. Há um abismo da indiferença.
Em Lampedusa, quando fui pela primeira vez, me veio esta palavra: a globalização da indiferença. Talvez nós hoje aqui em Roma estamos preocupados porque “parece que as lojas estão fechadas, eu tenho que comprar isto, e parece que não posso passear todos os dias, e parece que…”: preocupados com as minhas coisas. E esquecemos das crianças famintas, esquecemos daquela pobre gente que nos confins dos países buscam a liberdade, aqueles migrantes forçados que fogem da fome e da guerra e encontram somente um muro, um muro feito de ferro, um muro de arame farpado, mas um muro que não os deixa passar. Sabemos que isto existe, mas não chega ao coração… Nós vivemos na indiferença: a indiferença é este drama de estar bem informado, mas não sentir a realidade dos outros. Este é o abismo: o abismo da indiferença.
Depois há outra coisa que impressiona. Aqui sabemos o nome do pobre. A gente sabe. Lázaro. Também o rico sabia, porque quando estava nos ínfernos pede a Abraão que envie Lázaro. Ali o reconheceu: “Manda-me ele”. Mas não sabemos o nome do rico. O Evangelho não diz como se chamava este senhor. Não tinha nome. Tinha perdido o nome: havia somente os adjetivos da sua vida. Rico, poderoso… muitos adjetivos. Isso é o que o egoísmo provoca em nós: faz perder a nossa identidade real, o nosso nome, e somente nos leva a avaliar os adjetivos. A mundanidade nos ajuda nisto. Caímos na cultura dos adjetivos, onde o seu valor é aquilo que possui, aquilo que pode… Mas não “qual o seu nome?”: perdeu o nome. A indiferença leva a isto. Perder o nome. Somos somente os ricos, somos isto, somos aquilo. Somos os adjetivos.
Peçamos hoje ao Senhor a graça de não cair na indiferença, a graça de que todas as informações das dores humanas que temos cheguem ao coração e nos movam a fazer algo pelos outros.

(vaticannews)