sexta-feira, 31 de março de 2017

500 anos da Reforma são ocasião para purificar a memória


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência esta sexta-feira (31/03), no Vaticano, aos participantes do Congresso “Lutero 500 anos depois”, promovido pelo Pontifício Comitê de Ciências Históricas.

“Não muito tempo atrás, um Congresso do gênero seria impensável”, disse o Papa, manifestando sua gratidão aos organizadores e também o seu estupor.

“Falar de Lutero, católicos e protestantes juntos, por iniciativa de um organismo da Santa Sé: realmente tocamos com as mãos os frutos da ação do Espírito Santo, que ultrapassa toda barreira e transforma os conflitos em ocasiões de crescimento na comunhão.”

A comemoração dos 500 anos da Reforma, disse ainda Francisco, deu a oportunidade de olhar o passado juntos, livre de preconceitos e polêmicas ideológicas, discernindo o que de positivo e legítimo aconteceu e se distanciando de erros, exageros e falências.

“Hoje, depois de 50 anos de diálogo ecumênico entre católicos e protestantes, é possível realizar uma ‘purificação da memória’, que não consiste em realizar uma impraticável correção do que aconteceu 500 anos atrás, mas em ‘narrar esta história de modo diferente’, sem vestígios daquele rancor pelas feridas sofridas, que deforma a visão que temos uns dos outros.”

Como cristãos, concluiu o Papa, hoje somos todos chamados a nos libertar dos preconceitos pela fé que os outros professam, a oferecer mutuamente o perdão pelas culpas cometidas e a invocar de Deus o dom da reconciliação e da unidade.


(radiovaticana)

Portugal, uma aldeia Grande...


          

ANTÓNIO BARRETO, a partidarite e os canais de Televisão... artº de opinião 

É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir OS serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O Tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia.
A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.
Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são OS partidos, OS ministros e OS treinadores de futebol. Quem estabelece OS horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e OS jogadores de futebol.
Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio DA guerra civil, a fim de Dar emoção e fazer humano.
Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para Dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino DA preguiça e DA estupidez.
É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro DA dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.
Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em Nome DA informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.
A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.
Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.
A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!...
 
Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com OS outros. Como OS canais de televisão.

 


Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico...



quinta-feira, 30 de março de 2017

Os ídolos nos escravizam, só Deus nos ama

Missa Santa Marta

Cidade do Vaticano (RV) – É preciso estar atento para não se afastar do Senhor em busca de falsos ídolos e da mundanidade: esta foi a advertência feita pelo Papa na homilia da missa celebrada na quinta-feira (30/03) na capela da Casa Santa Marta.

O Pontífice se inspirou no Livro do Êxodo para refletir sobre o “sonho e as desilusões de Deus”. O povo, disse ele, é o “sonho de Deus. Sonhava porque amava”. Aquele povo, porém, trai os sonhos do Pai e Deus “começa a se sentir desiludido” e pede a Moisés para que desça da montanha onde subiu para receber a Lei. O povo “não teve a paciência de esperar Deus” por 40 dias. Eles fizeram um bezerro de ouro. Um deus “para se divertir” e se esqueceram do “Deus que os salvou”.

O profeta Baruc, acrescentou Francisco, “tem uma frase que define bem este povo: ‘Vocês se esqueceram de quem os criou’”:

“Esquecer Deus que nos criou, que nos fez crescer, que nos acompanhou na vida: esta é a desilusão de Deus. E muitas vezes no Evangelho, nas Parábolas, Jesus fala daquele homem que faz um vinha e depois faliu, porque os operários a queriam para si. No coração do homem, há sempre esta inquietação! Não está satisfeito com Deus, com o amor fiel. O coração do homem está sempre orientado para a infidelidade. Esta é a tentação.”

Deus, portanto, “por meio de um profeta, repreende este povo” que “não tem constância, não sabe esperar, se perverteu”, se afasta do verdadeiro Deus e busca outro deus:

“E há a desilusão de Deus: a infidelidade do povo… E também nós somos povo de Deus e conhecemos bem como é o nosso coração e todos os dias devemos retomar o caminho para não escorregar lentamente em direção aos ídolos, às fantasias, à mundanidade, à infidelidade. Creio que hoje nos fará bem pensar no Senhor desiludido: ‘Diga-me, Senhor, está desiludido comigo?’. Com certeza sim, por algum motivo. Mas pensar e fazer esta pergunta”.

Francisco recordou que Deus tem “um coração terno, um coração de pai”. E lembrou quando Jesus chorou sobre Jerusalém. Por isso, devemos nos perguntar se “Deus chora por mim?”, se “está desiludido comigo?”, se “me afastei do Senhor?”.

“Quantos ídolos tenho dos quais não sou capaz de me desfazer, que me escravizam? Esta idolatria que temos dentro de nós… E Deus chora por mim. Pensemos hoje nesta desilusão de Deus que nos fez por amor e nós vamos em busca de amor, de bem-estar, de conforto em outro lugar e não em Seu amor. Nós nos afastamos deste Deus que nos criou. E esta é uma reflexão de Quaresma. Isso nos fará bem. E isso, fazê-lo todos os dias; um pequeno exame de consciência: ‘Senhor, que teve tantos sonhos para mim, eu sei que me afastei, mas me diga onde, como voltar...’. E a surpresa será que Ele sempre nos espera, como o pai do filho pródigo, que o viu chegar de longe porque o aguardava”.


(radiovaticana)

quarta-feira, 29 de março de 2017

Palavra de Vida – março 2017


“Reconciliai–vos com Deus”
(2 Cor 5, 20).

Em muitos lugares do Planeta, há guerras sangrentas que parecem intermináveis, e atingem famílias, tribos e povos. A Glória, de 20 anos, conta-nos: «Recebemos a notícia de que uma aldeia tinha sido queimada e muitas pessoas tinham ficado sem nada. Com os meus amigos, iniciámos imediatamente uma recolha de coisas indispensáveis: colchões, roupas, víveres… Partimos. Após oito horas de viagem, encontrámos pessoas completamente desoladas. Ouvimos os seus lamentos, enxugámos as suas lágrimas, abraçámos, consolámos… Uma família confidenciou-nos: “A nossa menina estava dentro da casa que nos queimaram e foi como se morrêssemos com ela. Agora, no vosso amor, encontrámos a força para perdoar àqueles que nos fizeram isto!”».
Também o apóstolo Paulo fez uma experiência semelhante: precisamente ele, o perseguidor dos cristãos (1), encontrou no seu caminho, de maneira totalmente inesperada, o amor gratuito de Deus. E Deus enviou-o como embaixador da reconciliação, em Seu nome (2).
Deste modo, ele tornou-se a testemunha apaixonada e credível do mistério de Jesus, morto e ressuscitado. Jesus que reconciliou em si o mundo, a fim de que todos pudessem conhecer e experimentar a vida de comunhão com Ele e com os irmãos (3). E, mediante a acção de Paulo, a mensagem evangélica propagou-se e fascinou os pagãos, considerados os mais afastados da salvação: deixai-vos reconciliar com Deus!
Também nós, apesar dos erros que nos desencorajam ou das falsas certezas que nos levam a crer que não precisamos de nada, podemos permitir que a misericórdia de Deus – um amor exagerado! – nos cure o coração e nos torne finalmente livres de partilhar este tesouro com os outros. Contribuiremos assim para o projecto de paz, que Deus tem sobre toda a humanidade e também sobre toda a Criação. Este projecto supera as contradições da História, como sugere Chiara Lubich num seu escrito:
«(…) Sobre a cruz, na morte do seu Filho, Deus deu-nos a prova suprema do seu amor. Por meio da cruz de Cristo, Ele reconciliou-nos consigo. Esta verdade fundamental da nossa fé mantém ainda hoje toda a sua atualidade. É a revelação que toda a humanidade esperava: sim, Deus está próximo de todos com o seu amor e ama apaixonadamente cada um. O mundo atual tem necessidade deste anúncio. Mas só o podemos fazer se antes o anunciarmos, uma e muitas vezes, a nós próprios, de tal maneira que nos sintamos circundados por este amor, mesmo quando tudo nos leve a pensar o contrário. (…) Todo o nosso comportamento deveria tornar credível a verdade que anunciamos. Jesus disse claramente que, antes de levarmos a oferta ao altar, deveríamos reconciliar-nos com cada irmão ou irmã que tenha algo contra nós (cf. Mt 5, 23-24) (…) Amemo-nos como Ele nos amou, sem reservas nem preconceitos. Pelo contrário, estejamos abertos a aceitar e a apreciar os valores positivos do nosso próximo, e prontos a dar a vida uns pelos outros. Este é o mandamento por excelência de Jesus, o distintivo dos cristãos, tão válido hoje, como o foi no tempo dos primeiros seguidores de Cristo. Viver esta Palavra significa tornar-nos reconciliadores» (4).
Se vivermos assim, enriqueceremos os nossos dias com gestos de amizade e de reconciliação, na nossa família e entre as famílias, na nossa Igreja e entre as Igrejas, em cada comunidade civil e religiosa a que pertencemos.
Letizia Magri