domingo, 14 de julho de 2019

Papa: de forma tradicional ou tecnológica, o importante é ler a Palavra de Deus



A correria do dia a dia não é desculpa para não rezar: com o Evangelho de bolso ou os aplicativos no celular, qualquer hora é boa para santificar o dia.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Santificar a nossa vida abrindo um celular... pode parecer heresia, mas é a realidade para milhares de fiéis, religiosos, religiosas e sacerdotes. Com um ritmo de vida frenético, às vezes é no metrô ou no ônibus que se encontra tempo para rezar. O brasileiro, em média, passa 1h20 no trânsito todos os dias. O paulistano, por exemplo, dobra este tempo, gastando duas horas e 43 minutos para se deslocar pela cidade.

A boa semente dá fruto

Hoje, aplicativos dos mais diversos tipos e funções não faltam... O importante é ler a Palavra de Deus, como disse o próprio Papa Francisco no Angelus de 6 de abril de 2014:

“ Hoje podemos ler o Evangelho também com muitos instrumentos tecnológicos. Pode-se levar conosco a Bíblia inteira num celular, num tablet. Importante é ler a Palavra de Deus, com todos os meios, mas ler a Palavra de Deus: é Jesus que nela nos fala! E aceitá-la de coração aberto. Assim o boa semente dá fruto! ”

Difícil imaginar o Papa rezando com um celular na mão, certamente sua geração é outra. Por isso, também em suas homilias matinais na Casa Santa Marta o Papa várias vezes recomendou um Evangelho de bolso:

"Como devemos receber a palavra de Deus?" A resposta é clara: "Como se recebe Jesus Cristo. A Igreja diz-nos que Jesus está presente na Escritura, na sua palavra". Por isso, "aconselho muitas vezes que se tenha sempre um pequeno Evangelho na bolsa, no bolso, para ler um trecho durante o dia". Um conselho prático, disse, não tanto para "aprender" algo, mas sobretudo "para encontrar Jesus, porque Jesus se encontra precisamente na sua palavra, no seu Evangelho".

Os aplicativos entraram no dia a dia de muitos sacerdotes. Padre Arnaldo Rodrigues, colaborador do Vatican News, comentou a utilidade seja para a consulta, seja para rezar ou para encontrar o horário da missa mais perto de onde estiver. O objetivo: estar sempre em sintonia com a palavra de Deus:

Padre Bruno Viana é pároco da paróquia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, no Rio de Janeiro. Para ele, os aplicativos facilitam as atividades pastorais, como por exemplo para preparar roteiros homeléticos durante a semana:

Em tempo: o Vatican News também está desenvolvendo o seu aplicativo. Com ele, você pode ouvir as transmissões ao vivo do Papa com a tradução em português!

(vaticannews)

sábado, 13 de julho de 2019

Palavra de Vida – julho 2019





«Recebestes de graça, dai de graça»(Mt10, 8).

No Evangelho de Mateus, Jesus dirige este forte convite aos seus discípulos, àqueles que Ele iria “enviar”. Ele próprio tinha encontrado, pessoalmente, uma humanidade desanimada e sofredora, e teve compaixão dela.
Por isso mesmo, quer multiplicar a sua obra de salvação, de cura e de libertação, através dos Apóstolos. Estes reúnem-se em redor de Jesus, ouvem as suas palavras e recebem uma missão, um objetivo para as suas vidas. Depois, põem-se a caminho, para testemunhar o amor de Deus por cada pessoa.
«Recebestes de graça, dai de graça».

O que foi que os Apóstolos receberam “gratuitamente”, que devessem dá-lo também de graça?
Através das palavras, dos gestos e das escolhas de Jesus e de toda a Sua vida, os Apóstolos experimentaram a misericórdia de Deus. Apesar das suas fraquezas e dos seus limites, receberam a nova Lei do amor, do acolhimento recíproco.
Muito especialmente, receberam o tesouro que Deus quer dar a todos os homens: a sua presença, a sua companhia pelos caminhos da vida, a sua luz para iluminar as escolhas de cada um. São dádivas preciosas, sem preço. Ultrapassam toda a nossa capacidade de retribuição, são dádivas “gratuitas”, precisamente.
Estes tesouros foram confiados aos Apóstolos e a todos os cristãos, para que se tornem, por sua vez, canais de distribuição destes bens para todos aqueles com que se encontrarem diariamente.
«Recebestes de graça, dai de graça».

Chiara Lubich escreveu, em outubro de 2006:
«Ao longo de todo o Evangelho, Jesus convida a dar: dar aos pobres, dar a quem pede, dar a quem precisa de um empréstimo; dar de comer a quem tem fome, dar também a capa a quem nos pedir a túnica; dar gratuitamente… Ele próprio foi o primeiro a dar: a saúde aos enfermos, o perdão aos pecadores, a vida a todos nós. Ao instinto egoísta de açambarcar, opõe a generosidade. À tendência de nos concentrarmos só naquilo de que precisamos, opõe o dar atenção aos outros. À cultura do possuir, opõe a cultura do dar. (…) A Palavra de Vida deste mês poderá ajudar-nos a redescobrir o valor de cada uma das nossas ações: desde os trabalhos em casa ou no campo e na oficina, à resolução dos assuntos do escritório, aos deveres da escola, assim como as responsabilidades no âmbito civil, político e religioso. Tudo se pode transformar em serviço atento e solícito. O amor dar-nos-á olhos novos para intuir aquilo de que os outros têm necessidade e para ir ao seu encontro, com criatividade e generosidade. E qual o fruto? Haverá uma circulação de bens, porque o amor atrai amor. A alegria multiplicar-se-á, porque “há mais alegria em dar do que em receber”(At20, 35)»(1).
É uma experiência deste género que nos conta a Vergence, uma adolescente do Congo: «Um dia, ia para a escola cheia de fome. Pelo caminho encontrei um tio meu que me deu dinheiro para comprar um pão, só que, um pouco mais à frente, vi um homem muito pobre. Pensei imediatamente em dar-lhe o dinheiro que levava. A amiga que ia comigo disse-me para não o fazer, pois tinha que pensar em mim! Mas eu pensei: amanhã arranjarei comida, mas ele? Portanto, dei-lhe o dinheiro do meu pão. Imediatamente senti uma grande alegria no coração».
«Recebestes de graça, dai de graça».

A lógica de Jesus e do Evangelho é sempre a de receber para partilhar, nunca para acumular para nós próprios. É um convite a todos nós para que reconheçamos aquilo que recebemos: energias, talentos, capacidades, bens materiais, e os coloquemos ao serviço dos outros.
De acordo com o economista Luigino Bruni, «a gratuidade é (…) uma dimensão que pode acompanhar qualquer ação. Por isso ela não é o “grátis” que conhecemos, mas precisamente o seu oposto. Porque a gratuidade não é um preço igual a zero, mas um preço infinito, a que só se pode responder com um outro ato de gratuidade»(2).
A gratuidade supera, portanto, as lógicas do mercado, do consumismo e do individualismo, abrindo-nos à partilha, à sociabilidade, à fraternidade, à nova cultura do dar.
A experiência confirma que o amor desinteressado é uma verdadeira provocação, com consequências positivas e inesperadas, que se difundem como uma mancha de óleo por toda a sociedade.
Foi precisamente o que aconteceu nas Filipinas, com uma iniciativa que teve início em 1983.
Naquela altura, a situação política e social do país era muito difícil, mas havia muita gente interessada em encontrar uma solução positiva. Um grupo de jovens decidiu também contribuir para essa solução, de uma maneira original: abriram os armários com as suas coisas, tiraram tudo aquilo que não lhes fazia falta. Venderam tudo numa feira de coisas usadas. Com o pequeno capital obtido, deram início, a partir do nada, a um pequeno centro social, a que chamaram Bukas Palad, que na língua local significa “de mãos abertas”. A frase do Evangelho que os inspirou foi: “Recebestes de graça, dai também de graça”. Desde então, ela tornou-se o mote daquela pequena atividade.
A esta iniciativa juntaram-se alguns médicos, que ofereceram desinteressadamente o seu contributo profissional. E muitas outras pessoas abriram o coração, os braços, as portas das suas casas.
Assim nasceu e se desenvolveu uma ampla ação social em favor dos mais pobres, que ainda hoje oferece os seus serviços em várias cidades das Filipinas. Mas o objetivo mais importante, que foi atingido e se consolidou durante estes anos, foi o de fazer com que os destinatários do projeto se tornassem, eles próprios, protagonistas da sua libertação.
De facto, eles encontraram a sua dignidade como pessoas, tendo construído entre eles relacionamentos de estima e solidariedade. Com o seu exemplo e a sua dedicação, acompanham, atualmente, muitos outros a sair da pobreza e a assumir a responsabilidade de uma nova convivência para si próprios e para as suas famílias, para os seus bairros e comunidades, enfim, para o mundo (3).
Letizia Magri

(focolares)

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Papa: religião não leva à guerra; a fraternidade une



O Papa Francisco recorda os 25 anos do atentado antissemita em Buenos Aires com uma mensagem à Associação Mutual Israelita Argentina.

Cidade do Vaticano

O Papa Francisco enviou uma mensagem por ocasião dos 25 anos do atentado contra o centro judaico “AMIA” de Buenos Aires.

Em 18 de julho de 1994, a Associação Mutual Israelita Argentina foi atacada e 85 pessoas morreram e centenas ficaram feridas.

Ao presidente da Associação, Jorge Knoblovits, o Pontífice expressa seu apoio às famílias das vítimas e repudiou os ataques terroristas que são cometidos em nome da religião.

"Passaram-se 25 anos da tragédia da AMIA. Como no primeiro dia, a cada 18 de julho meu coração acompanha os familiares das vítimas, sejam judias ou cristãs. E desde o primeiro dia, peço a Deus pelo descanso eterno de quem perdeu a vida neste ato de loucura", assim tem início a carta de Francisco.

O Papa recorda também quem sobreviveu ao atentado. "Peço também por quem sobreviveu à explosão, levando desde então a feridas em seus corpos e em suas almas".

Guerra Mundial em pedaços
Nos parágrafos sucessivos, Francisco condena o terrorismo "em nome da religião", reiterando que estamos atravessando uma "terceira guerra mundial em pedaços", devido à proliferação de ataques terroristas em várias partes do mundo nos últimos 25 anos.
"Demasiadas vezes nesses 25 anos vimos vidas e esperanças truncadas em nome da religião", lê-se ainda na carta. "Bem sabemos que não é a religião que incita e leva à guerra, mas a obscuridade nos corações de quem comete atos irracionais. Deus nos chamou para viver como irmãos", escreve ainda o Papa.

Fraternidade não tem limites ideológicos
Por fim, Francisco enfatiza que a fraternidade "une a humanidade" e atravessa "limites geográficos e ideológicos".
"Nesta recordação dos 25 anos, estou com vocês e rezo com vocês. Que o Deus de nossos pais os abençoe e os proteja”, conclui o Pontífice.

O atentado
Ocorrido no bairro portenho de Once, o bombardeio do prédio AMIA foi o ataque mais mortal da Argentina. Até hoje, ninguém foi condenado. Em 2005, o então arcebispo, cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, foi a primeira personalidade pública a assinar uma petição pedindo Justiça.

(vaticannews)

Andre Rieu Melissa Venema Amsterdam Arena

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Papa: a relação de gratuidade com Deus nos ajuda a servir os outros


Missa em Santa Marta
Não há relação com Deus fora da gratuidade. Foi o que recordou o Papa nesta manhã exortando a alargar o coração para receber a graça e, na vida espiritual, a não escorregar "no pagamento".

Debora Donnini, Silvonei José - Cidade do Vaticano

Dê de graça o que você recebeu de Deus de graça. A homilia do Papa Francisco nesta manhã na Casa Santa Marta é toda sobre a gratuidade de Deus e, portanto, sobre a gratuidade a ter com os outros, seja com o testemunho seja com o serviço. O convite é, portanto, a alargar o coração para que a graça venha. A graça, de fato, não se compra. E a servir o povo de Deus, não usá-lo.

A vocação é servir, não para “usar”

A reflexão do Papa Francisco parte da passagem do Evangelho de hoje (Mt 10,7-13) sobre a missão dos apóstolos, a missão de cada um dos cristãos, ser enviado. Um cristão não pode ficar parado", a vida cristã é "abrir caminho, sempre", recorda o Papa comentando as palavras de Jesus no Evangelho: "No vosso caminho, pro­clamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. Cu­rai doentes, ressuscitai mortos, puri­ficai leprosos, expulsai demônios”. Esta é, portanto, a missão e se trata de uma "vida de serviço".

A vida cristã é para servir. É muito triste quando encontramos cristãos que, no início da sua conversão ou da sua consciência de serem cristãos, servem, estão abertos a servir, servem o povo de Deus, e depois acabam usando o povo de Deus. Isto faz tanto mal, tanto mal ao povo de Deus. A vocação é para "servir", não para "usar".

Alargar o coração

A vida cristã é então "uma vida de gratuidade". Ainda na passagem evangélica proposta pela Liturgia de hoje, o Senhor vai ao coração da salvação: "De graça re­ce­bestes, de graça deveis dar”. A salvação, "não se compra", "é-nos dada gratuitamente", recorda-nos o Papa, sublinhando que Deus, de fato, "nos salva gratuitamente", "não nos faz pagar". E como Deus fez conosco, assim "devemos fazer com os outros". E precisamente esta gratuidade de Deus "é uma das coisas mais belas".

Saber que o Senhor é cheio de dons para nos dar. Somente, pede uma coisa: que o nosso coração se abra. Quando dizemos "Pai nosso" e rezamos, abrimos o coração para que esta gratuidade venha. Não há relação com Deus fora da gratuidade. Às vezes, quando precisamos de algo espiritual ou de uma graça, dizemos: "Bem, agora vou jejuar, vou fazer uma penitência, vou fazer uma novena...". Certo, mas tenham cuidado: isto não é para "pagar pela graça, para "adquirir" graça; isto é para ampliar seu coração para que a graça possa vir. A graça é gratuita.

Todos os bens de Deus são gratuitos - continua o Papa Francisco - mas adverte que o problema é que "o coração se encolhe, se fecha" e não é capaz de receber "tanto amor gratuito". Não devemos negociar com Deus, recorda o Papa, "com Deus não se negocia".

Dar gratuitamente

Depois o convite para dar de graça. E isto, sublinha o Papa, é especialmente "para nós, pastores da Igreja", "para não vender a graça". “Dói muito, disse, quando há pastores" que fazem negócios com a graça de Deus: "Eu faço isto, mas isto custa tanto, tanto...". A graça do Senhor é gratuita e "você - disse - deve dá-la gratuitamente".

Na nossa vida espiritual temos sempre o perigo de escorregar no pagamento, sempre, mesmo falando com o Senhor, como se quiséssemos dar um suborno ao Senhor. Não! A coisa não vai por ali! Não vai por esse caminho. "Senhor, se me fizeres isto, eu dou-te isto," não. Eu faço essa promessa, mas isso alarga meu coração para receber o que está lá, gratuito para nós. Esta relação de gratuidade com Deus é a que nos ajudará depois a tê-la com os outros, seja no nosso testemunho cristão seja no serviço cristão e na vida pastoral daqueles que são pastores do povo de Deus. No caminho. A vida cristã é caminhar. Pregar, servir, não "fazer uso de". Sirvam e deem de graça o que receberam de graça. Que a nossa vida de santidade seja este ampliar o coração, para que a gratuidade de Deus, as graças de Deus que estão ali, gratuitas, que Ele quer nos dar, possam chegar ao nosso coração. Que assim seja.

(vaticannews)