1 de Julho de 2019
Falando dos
Santos Pedro e Paulo, no sábado passado o Papa deu continuidade ao seu
trabalho, que já dura mais de seis anos, de apresentação do rosto de Jesus. De
resto, esta é a principal atividade do vigário de Cristo: representá-lo,
mostrar-nos a sua face. E sábado disse-nos que Cristo, ou seja, o Messias, «é
uma palavra que não indica o passado, mas o futuro: o Messias é o esperado, a
novidade, aquele que traz ao mundo a unção de Deus. Jesus não é o passado, mas
o presente e o futuro. Não é um personagem distante para lembrar, mas alguém a
quem Pedro trata por tu: Tu és Cristo. Para a testemunha, mais do que um
personagem da história, Jesus é a pessoa da vida: é o novo, não o já visto; a
novidade do futuro, não uma lembrança do passado. Por isso, não é testemunha
quem conhece a história de Jesus, mas quem vive uma história de amor com
Jesus». Tratar Deus por “tu”. É o sentido último do cristianismo. São Paulo
di-lo à sua maneira na carta aos Romanos: nós, homens, recebemos «o Espírito
que nos torna filhos adotivos, por meio do qual bradamos: “Abá, Pai!”»; pai,
mas seria melhor traduzir “papá”. Na audiência geral de 22 de maio, falando do
Pai-Nosso o Papa afirmou que a oração nasce da audácia de chamar Deus com o
nome de Pai: «Não se trata tanto de uma fórmula, quanto de uma intimidade
filial na qual somos introduzidos pela graça [...] Jesus é o revelador do Pai e
doa-nos a familiaridade com Ele». No Antigo Testamento os Hebreus não têm esta
audácia, o nome de Deus é sagrado, intangível e impronunciável, não obstante
haja várias antecipações desta intimidade, como por exemplo naquele adjetivo
possessivo que acompanha a primeira afirmação do Decálogo: “Eu sou o Senhor teu
Deus”.
Intimidade,
ternura, confiança. Três temáticas sobre as quais o Papa insiste frequentemente
na sua pregação, três caraterísticas do estilo de Francisco que cada evento
público, até quando está imerso na multidão, procura transformá-lo num face a
face, num encontro pessoal, direto, com um “tu” a fitar nos olhos. Então,
entende-se a insistência do Papa sobre a dimensão popular da fé, um fenómeno da
piedade popular, que na Itália muitas vezes revela como que uma esquizofrenia:
há quem rejeita tudo aquilo que parece demasiado “devocional” em nome de uma
abordagem intelectual da religião, “madura”, à religião, contudo interrompendo
todas as formas de vínculo e de dimensão comunitária, e privatizando a fé, e
quem, por outro lado, se imerge profundamente nesta dimensão popular, a ponto
de a transformar em ideologia, talvez em nome de um equivocado sentido da
identidade. Em síntese, precisamente como diz o Papa, há quem pensa que é
testemunha só porque «conhece a história de Jesus» (contudo sem viver «uma
história de amor com Jesus») e que, ao contrário, não conhece ou esqueceu a
essência daquela história e empunha-a contra alguém ou algo, como um talismã
que o possa tranquilizar dos receios verdadeiros ou presumíveis que o
angustiam. À evidente contradição desta última atitude, fez alusão no sábado o
próprio Papa antes do Angelus, afirmando que sem dúvida os católicos podem
dizer “a minha Igreja” mas «não o digamos com um sentido de pertença exclusivo,
mas com um amor inclusivo. Não para nos diferenciarmos dos outros, mas para
aprender a beleza de estar com os outros, porque Jesus nos quer unidos e
abertos. Com efeito, a Igreja não é “minha” porque corresponde ao meu eu, às
minhas vontades, mas para que eu derrame nela o meu afeto». O afeto é o ponto
nevrálgico, a chave: entre as duas posições opostas, no meio estão os cristãos
que, como Pedro e Paulo (e Francisco), se reconhecem pecadores e necessitados
de perdão para os quais, mais simplesmente, «Jesus é a pessoa da vida».
Andrea Monda
(osservatoreromano)
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