quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Palavra de Vida – novembro 2019




 “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12, 15).

O apóstolo Paulo, depois de ter apresentado aos cristãos de Roma os grandes tesouros que Deus concedeu à humanidade com Jesus e com o dom do Espírito Santo, explica como corresponder a esta graça recebida, especialmente nos relacionamentos entre eles e com todos.
O apóstolo convida todos a passar do amor simplesmente para com aqueles que partilham a mesma fé, ao amor evangélico, para com todos os seres humanos. Porque, para os crentes, o amor não tem fronteiras, nem se pode limitar só a alguns.
Um pormenor interessante: em primeiro lugar, encontramos a partilha da alegria com os irmãos. De facto, de acordo com o grande Padre da Igreja, João Crisóstomo, a inveja torna muito mais difícil partilhar a alegria dos outros do que os seus sofrimentos.
Viver assim poderá parecer uma montanha de tal maneira inacessível que não poderemos escalá-la, ou um cume tão alto que não vamos conseguir atingi-lo. No entanto isto pode tornar-se possível para os crentes, porque são apoiados pelo amor de Cristo, do qual nada, nem ninguém os poderá jamais separar (cf Rom 8,35).

“Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram”

Comentando esta frase de Paulo, Chiara Lubich escreveu: «Para amar cristãmente, é preciso “fazer-se um” com cada irmão […], entrar o mais profundamente possível no espírito do outro. Compreender realmente os seus problemas e as suas exigências. Partilhar os seus sofrimentos e as suas alegrias. Dedicar-se a cada irmão. Tornar-se, de certa maneira, o outro, ser o outro. O cristianismo é isto: Jesus fez-se homem, fez-se um de nós, para nos tornar Deus. Deste modo, o próximo sente-se compreendido e aliviado» (1) .
É um convite a pôr-se “na pele do outro”, como expressão concreta de uma verdadeira caridade. Talvez o amor de uma mãe seja o melhor exemplo para ilustrar esta Palavra posta em prática: a mãe sabe partilhar a alegria de um filho que está alegre, bem como o choro daquele que sofre, e faz isto sem julgar, livre de quaisquer preconceitos.
“Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram “

Para viver o amor nesta dimensão, sem nos fecharmos só nas nossas preocupações, nos nossos interesses, no nosso mundo, há um segredo: reforçar a união com Deus, o relacionamento com Aquele que é a própria fonte do Amor. Com efeito, diz-se que a copa de uma árvore corresponde, em muitos casos, ao diâmetro das suas raízes.
Assim acontecerá connosco: se fizermos com que a nossa relação com Deus cresça em profundidade todos os dias, crescerá também em nós o desejo de partilhar a alegria e levar os pesos daqueles que estão ao nosso redor. O nosso coração abrir-se-á e tornar-se-á cada vez mais capaz de abraçar tudo aquilo que o irmão, que está ao nosso lado, está a viver no momento presente. Por sua vez, o amor ao irmão far-nos-á entrar mais ainda na intimidade com Deus.
Vivendo assim, veremos uma mudança nos ambientes onde estamos, começando pelos relacionamentos dentro da nossa família, na escola, no local de trabalho, na comunidade, e experimentaremos, cheios de gratidão, que o amor sincero e gratuito, mais cedo ou mais tarde, é correspondido, tornando-se recíproco.
É esta a experiência forte de duas famílias: uma cristã e outra muçulmana que partilharam dificuldades e momentos de esperança. Quando o Ben adoeceu gravemente e esteve no hospital, a Tatiana e o Paulo acompanharam a sua mulher, Basma, e os seus dois filhos, até ao fim. Na dor da perda do marido, a Basma agora reza, com os seus amigos cristãos, por uma outra pessoa gravemente doente, com o seu tapete voltado para Meca.
A Basma confidenciou-nos «A maior alegria é sentir que somos parte de um corpo, em que cada um deseja profundamente o bem do outro».
Letizia Magri

1) C. Lubich, O amor recíproco: núcleo fundamental da espiritualidade da unidade – encontro dos ortodoxos, Castel Gandolfo, 30 de março 1989, p. 4.

(focolares)

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Audiência: Papa denuncia a hipocrisia de falar de paz e construir armas



A lembrança das etapas na Tailândia e no Japão marcou a Audiência Geral do Papa Francisco na Praça São Pedro. “Para proteger a vida, é preciso amá-la, e hoje a grave ameaça nos países mais desenvolvidos é a perda do sentido de viver", alertou.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Recém-chegado de sua 32° viagem apostólica, o Papa Francisco recebeu milhares de fiéis e peregrinos para a Audiência Geral esta quarta-feira (27/11) e dedicou sua catequese aos principais momentos vividos na Tailândia e no Japão.

Ao agradecer às autoridades governamentais e eclesiásticas dos dois países, o Pontífice afirmou que a visita aumentou a sua proximidade e o seu afeto por aqueles povos: “Deus os abençoe com abundância de prosperidade e de paz”.

Povo thai: povo do belo sorriso

Começando pela primeira etapa, Francisco recordou que a Tailândia é um antigo Reino que se modernizou fortemente. O povo “thai” é o “povo do belo sorriso. As pessoas ali sorriem. Encorajei o empenho pela harmonia entre os diversos membros da nação e para que o desenvolvimento econômico possa ir em benefício de todos e sejam sanadas as chagas da exploração, especialmente das mulheres e dos menores.”
Sobre a religião budista, parte integrante da história e da vida do povo tailandês, o Papa citou o encontro com o Patriarca Supremo e com os líderes ecumênicos e inter-religiosos.

Com a comunidade católica local, o Pontífice viveu momentos de convívio com os sacerdotes, os consagrados, os bispos, os jesuítas. Celebrou duas missas e conheceu de perto o trabalho do Hospital São Luís em prol dos últimos. “Ali experimentamos que na nova família formada por Jesus Cristo existem também os rostos e as vozes do povo Thai.”

Japão: capacidade extraordinária de lutar pela vida

Depois, foi a vez do Japão, cujo lema “Proteger cada vida” acompanhou a sua visita. O país, afirmou, “carrega impressas as chagas do bombardeio atômico e é em todo o mundo porta-voz dos direitos fundamentais à vida e à paz”.

Em Nagasaki e Hiroshima, o Papa rezou, encontrou sobreviventes e familiares das vítimas. “Reiterei a firme condenação das armas nucleares e da hipocrisia de falar de paz construindo e vendendo artilharia bélica.”

Depois daquela tragédia, prosseguiu, o Japão demonstrou uma extraordinária capacidade de lutar pela vida e o fez inclusive recentemente depois do tríplice desastre de 2011: terremoto, tsunami e acidente na central nuclear.

“ Para proteger a vida, é preciso amá-la, e hoje a grave ameaça nos países mais desenvolvidos é a perda do sentido de viver. ”

As primeiras vítimas do vazio de sentido, apontou Francisco, são os jovens. Por isso, dedicou um encontro a eles em Tóquio, aos quais encorajou a se opor a toda forma de bullying, e a vencer o medo e o fechamento abrindo-se ao amor de Deus.

“Auspiciei uma cultura de encontro e diálogo, caracterizada pela sabedoria e amplidão de horizonte. Permanecendo fiel aos seus valores religiosos e morais, e aberto à mensagem evangélica, o Japão poderá ser um país condutor por um mundo mais justo e pacífico e pela harmonia entre homem e meio ambiente.”
Queridos irmãos e irmãs, finalizou o Papa, “confiemos à bondade e à providência de Deus os povos da Tailândia e do Japão”. 

Fundação Nizami Ganjavi

Antes da Audiência Geral, o Papa Francisco recebeu os membros da Fundação Nizami Ganjavi. Trata-se de uma organização dedicada à memória do grande poeta do Azerbaijão do século XII, com a finalidade de promover a paz no diálogo e no respeito mútuo.

Francisco encorajou a Fundação a prosseguir neste caminho, sobretudo no que diz respeito ao desafio das mudanças climáticas, convencidos de que a cultura do diálogo é a via mestra, a colaboração é a conduta mais eficaz e conhecimento recíproco é o método para crescer na fraternidade entre as pessoas e os povos.

(vaticannews)

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Papa Francisco-Tóquio-Visita à Sophia University 2019-11-26

Papa Francisco despede-se do Japão



Dias intensos vividos em países com minoria católica e com uma cultura milenar. O calor na acolhida e a mensagem de paz e proteção da vida marcou esta que foi a 32ª Viagem Apostólica de seu Pontificado.

Cidade do Vaticano

“Agradeço a todo o povo japonês a gentil recepção e as boas-vindas que me foram concedidas durante minha Visita Apostólica. Terei todos vocês em minhas orações”, escreveu o Papa Francisco em um twitter em inglês e japonês, publicado pouco antes de despedir-se do País do Sol Nascente.

“Minha estada neste país foi breve, mas intensa. Agradeço a Deus e a todo o povo japonês pela oportunidade de visitar este país, que marcou fortemente a vida de São Francisco Xavier e no qual tantos mártires deram testemunho da sua fé cristã. Embora os cristãos sejam uma minoria, sente-se a sua presença”, disse em seu discurso na Sophia University, último compromisso em terras japonesas.

Da universidade dos jesuítas o Papa deslocou-se até o Aeroporto de Tóquio-Haneda, distante 20,3 km, onde saudou os bispos japoneses e as delegações presentes. Não houve discursos nem cerimônias oficiais. O voo 8787-9 da All Nippon Airways decolou às 11h43, horário local, com destino a Roma.

Depois de sobrevoar Japão, Rússia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Áustria, Eslovênia e Croácia, em 10.516 km percorridos em 13h30min, o voo deverá aterrissar no Aeroporto Fiumicino, por volta das 17 horas, horário local.

Durante o voo, esperado o já tradicional encontro do Santo Padre com os jornalistas, quando responde a seus questionamentos de maneira franca e aberta, e os telegramas enviados aos Chefes de Estado dos países sobrevoados.

O Papa  Francisco chegou a Bangcoc, capital da Tailândia, na quarta-feira, 20 de novembro, tendo se transferido para o Japão no sábado, 23. Nos dois países de minoria católica, cumpriu intensa agenda, levando uma mensagem de paz e esperança, e reiterando a necessidade do diálogo e do respeito, também para a manutenção da paz. Em particular, no Japão, a mensagem contra as armas nucleares teve destaque em seus diversos encontros.

(vaticannews)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O Papa em Hiroshima: imoral o uso e a posse de armas nucleares



“Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!” São as palavras conclusivas do Papa Francisco no Encontro pela Paz, realizado em Hiroshima, no Memorial da Paz, neste domingo (24)

Jane Nogara - Cidade do Vaticano

Depois de Nagasaki, o Papa Francisco foi até Hiroshima, a outra cidade japonesa devastada pela bomba atômica em 1945 para o Encontro pela Paz. O Encontro realizou-se no Memorial da Paz, e foi o último compromisso deste domingo 24 de novembro.

Em seu discurso, depois de recordar do trágico instante em que tudo “foi devorado por um buraco negro de destruição e morte”, o Papa disse:

“ Aqui, faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que continuaram a consumir a sua energia vital ”

Em seguida explica a sua presença:
Senti o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz, trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz”.

Francisco declarou que “humildemente, [quereria] ser a voz daqueles cuja voz não é escutada” pois crescem as tensões e as injustiças que ameaçam a convivência e o cuidado da casa comum para garantir um futuro de paz.

Energia atômica para fins de guerra é imoral

“Desejo reiterar – afirma - com convicção, que o uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum”. E afirma também: “O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral, assim como é imoral a posse de armas nucleares, como eu já disse há dois anos. Seremos julgados por isso”.

Predecessores

Depois recorda algumas palavras de seus predecessores sobre este tema, como o Papa São João XXIII que exortou “Estou convencido de que a paz não passa de um ‘som de palavras’, se não se fundar na verdade, se não se construir segundo a justiça, se não se animar e consumar no amor, e se não se realizar na liberdade”. Assim como São Paulo VI: “Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos”.
O Santo Padre pondera: “Quando nos rendemos à lógica das armas e afastamos da prática do diálogo, esquecemo-nos tragicamente que as armas, antes mesmo de causar vítimas e ruínas, têm a capacidade de provocar pesadelos”.

Caminho de paz

Então Francisco observa aos presentes que:

“ Recordar, caminhar juntos e proteger: são três imperativos morais que adquirem, precisamente aqui em Hiroshima, um significado ainda mais forte e universal e são capazes de abrir um verdadeiro caminho de paz ”

Memória

Mas para isso, “não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”. Temos que manter a memória viva, que ajude a dizer de geração em geração: nunca mais!”
Por fim o Papa exorta a todos “Por isso mesmo, somos chamados a caminhar unidos, com um olhar de compreensão e perdão” e acrescenta: “Abramo-nos à esperança, tornando-nos instrumentos de reconciliação e de paz. Isto será possível sempre, se formos capazes de nos proteger e reconhecer como irmãos em um destino comum”.
E acrescenta: “Que sejam suplantados os interesses exclusivos de certos grupos, a fim de se atingir a grandeza daqueles que lutam corresponsavelmente para garantir um futuro comum”.

Conclui seu discurso evocando: "Em uma única súplica, aberta a Deus e a todos os homens e mulheres de boa vontade, em nome de todas as vítimas dos bombardeios, das experimentações atômicas e de todos os conflitos, elevemos juntos um grito:

“ Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento! ”

(vaticannews)