Ariccia (RV) - Ouço a voz do Senhor, que fala
de modo humilde, ou coloco meu interesse pessoal acima do Reino de Deus? Na
manhã desta segunda-feira (06/03), na primeira meditação dos Exercícios
espirituais proposta ao Papa Francisco e à Cúria Romana, Pe. Giulio Michelini
exortou os 74 presentes a se fazerem algumas perguntas sobre a própria vida
espiritua
“A confissão de Pedro e o
caminho de Jesus para Jerusalém” no Evangelho segundo São Mateus são o ponto de
partida da meditação desta segunda-feira. Na tarde de domingo foi feita a
introdução dos Exercícios espirituais, que se realizam até esta sexta-feira
(10/06) na localidade de Ariccia, nas proximidades de Roma.
Os Exercícios espirituais são
marcados pela Liturgia das Horas e pelas duas meditações diárias, que passam da
interpretação dos textos ao desdobramento existencial. Jesus tomava suas
decisões na oração, não através de sonhos ou magos, como, ao invés, fazia
Alexandre Magno, segundo nos relata Plutarco. Pe. Michelini exortou os
presentes a se perguntarem como tomam as decisões importantes da própria vida:
“Faço discernimento
baseado em qual critério? Decido impulsivamente, deixo-me levar por aquilo que
é habitual, coloco a mim mesmo e meu interesse pessoal acima do Reino de Deus?
Ouço a voz de Deus, que fala de modo humilde?”
Pedro
e a tradição rabínica sobre a voz de Deus através dos pequenos: a humildade de
ouvir-nos
Em seguida, Pe.
Michelini se concentrou na figura de Pedro e na tradição rabínica. Mediante
revelação, Pedro reconhece que Jesus é o Messias. Daí, o religioso franciscano
sugere que o Pai tenha falado não somente por meio do Filho, mas tenha falado
ao Filho, Jesus, também através de Pedro. É Jesus que revela pouco a pouco a
sua vocação, mas realiza gestos também porque é solicitado por outros.
Na vida de Jesus de
Nazaré é deixado muito espaço aos encontros, que incidem na sua missão. Segundo
a tradição rabínica, com o fim da grande profecia, se considerava que Deus
continuasse falando de modos muito humildes, como por exemplo mediante a voz
das crianças e dos loucos.
Com uma comunicação
parecida com o sussurro de um vento leve como se deu com o profeta Elias no
monte Horebe. E Pe. Michelini ofereceu aos presentes outra ocasião de reflexão:
“Tenho a humildade
de ouvir Pedro? Temos a humildade de ouvir-nos uns aos outros, estando atentos
aos preconceitos ou às pré-leituras que certamente temos, mas atentos a colher
aquilo que Deus quer dizer apesar – talvez – dos meus fechamentos? Ouvir a voz
dos outros, talvez frágil, ou escuto somente a minha voz?”
Aceitar
seguir Jesus e carregar a própria cruz
Em seguida, o
pregador dos Exercícios espirituais deteve-se sobre a interpretação daqueles
estudiosos que consideram que Jesus soubesse o que estava para acontecer. No
Evangelho segundo Mateus se diz que Jesus se retirava, um verbo que no grego
antigo indicava a retirada dos exércitos diante de uma derrota ou de um perigo.
Também Jesus parece
retirar-se diante da notícia da prisão do Batista e quando sabe que os fariseus
querem matá-lo, mas todas essas retiradas são estratégicas, ressaltou Pe.
Michelini, não são para deter-se: após ter-se retirado, Jesus faz coisas
concretas, isto é, começa a anunciar o Reino e a curar os doentes.
Entre as muitas
referências que enriqueceram a meditação do frade menor, encontra-se a que fez
a Hanna Arendt, que falava da banalidade do mal, em referência a como os
hierarcas nazistas falavam das atrocidades por eles cometidas.
Tal alusão foi
feita para referir-se à ferocidade com a qual foi perpetrado o assassinato de
João Batista após o pedido de Herodíades.
Aludiu também ao
rabino Hillel, para ressaltar que Jesus continua a missão assumindo sempre
novas responsabilidade até a que o levará a Jerusalém. Daí, o ponto de agarra
para a última reflexão:
“Pergunto-me se
tenho a coragem de caminhar até o fim para seguir Jesus Cristo, levando em
consideração que isso comporta levar a cruz, como Ele disse, anunciando a
ressurreição, a alegria, mas também a provação: ‘Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’.”
(RL/ DD)
radiovaticana
Sem comentários:
Enviar um comentário