quinta-feira, 9 de julho de 2020

Transmissão do vírus pelo ar

 é a “mais provável” de todas. 
Especialista põe em causa recomendações da DGS e OMS

Um grupo de 239 cientistas pediu em carta aberta à Organização Mundial de Saúde que reconheça que o vírus da covid-19 também pode ser transmitido pelo ar e Manuel Gameiro da Silva, do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, foi um deles. O tom que utiliza em entrevista é o mesmo da carta: o uso de máscara deve ser obrigatório mesmo na rua e as autoridades devem ter equipas mais multidisciplinares, “caso contrário vamos continuar a ter recomendações que estão maioritariamente incorretas”.
Manuel Gameiro da Silva, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, foi um dos 239 especialistas que alertaram, numa carta aberta dirigida à Organização Mundial da Saúde (OMS), para a possibilidade de o vírus da covid-19 poder transmitir-se através do ar, por aerossóis - isto é, pequenas partículas que, quando expelidas, ficam suspensas no ar.
Os signatários querem que o organismo internacional altere as suas recomendações e assuma que nem manter uma distância de segurança nem lavar as mãos muitas vezes pode ser suficiente para que se evite a contaminação com o vírus.
Crucial é mesmo o uso de máscara e garantir uma boa ventilação, seja nas nossas casas, seja em locais e transportes públicos, com particular atenção aos autocarros, “que têm taxas de renovação de ar relativamente modestas” e “valores preocupantes de concentração de CO2”, diz o também vice-presidente da Federação Europeia das Associações de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado, em entrevista ao Expresso.
Porque é que decidiram enviar esta carta à Organização Mundial de Saúde?

A razão principal é a seguinte: a OMS tem definido as suas políticas e medidas de prevenção com base num pressuposto que consideramos que está errado. Há três modos transmissão do vírus: através de aerossóis, de gotículas e através do contacto. Os três modos estão associados a gotas de dimensões diferentes, que podem ser divididas em classes. Há desde logo as pequenas, que vão desde 0 até 10 mícrones (unidade de comprimento) de diâmetro, e que são aquelas que, se num dia de inverno expirarmos, vemos aquilo a que chamamos o nosso bafo, uma pequena nuvem. O que acontece com estas partículas muito pequenas é que, devido à relação entre as forças da gravidade e as forças aerodinâmicas, a seguir às correntes que existem numa sala não caem e formam aquilo a que chamamos partículas em suspensão, os tais aerossóis.


(Jornal Expresso)

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