segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Palavra de Vida – novembro 2022




“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)


No Evangelho de Mateus, o Sermão da Montanha situa-se ainda no início da vida pública de Jesus. A montanha aparece como símbolo de um novo Monte Sinai sobre o qual Cristo, novo Moisés, apresenta a sua “Lei”. No capítulo anterior fala-se de grandes multidões que começavam a seguir Jesus, às quais Ele dirigia os seus ensinamentos. Mas este discurso é feito por Jesus aos seus discípulos, à comunidade nascente, àqueles que depois serão chamados cristãos. Ele introduz o “Reino dos Céus” que é o núcleo central da pregação de Jesus[1], do qual as Bem-Aventuranças constituem o manifesto programático, a mensagem da salvação, a “síntese de toda a Boa Nova que é a revelação do amor salvífico de Deus”[2].


“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”


O que é a misericórdia? Quem são os misericordiosos? A frase é introduzida pela palavra “feliz/felizes”[3], que significa bem-aventurado, privilegiado e assume também o significado de ser abençoado por Deus. No texto, entre as nove bem-aventuranças, esta encontra-se no lugar central. Elas não representam apenas comportamentos que merecem ser premiados, mas indicam verdadeiras oportunidades para nos tornarmos um pouco mais semelhantes a Deus. Neste caso, os misericordiosos são aqueles que têm um coração cheio de amor por Ele e pelos irmãos, amor concreto que se inclina sobre os últimos, os esquecidos, os pobres, sobre todos aqueles que precisam deste amor desinteressado. De facto, a Misericórdia é um dos atributos de Deus[4]; o próprio Jesus é misericórdia.


“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”


As Bem-Aventuranças transformam e revolucionam os princípios mais comuns do nosso modo de pensar. Elas não são apenas palavras de consolação, mas têm o poder de mudar o coração, têm a força de criar uma nova humanidade, tornam eficaz o anúncio da Palavra. É necessário viver a bem-aventurança da misericórdia connosco próprios, reconhecendo-nos necessitados daquele amor extraordinário, superabundante e imenso que Deus tem por cada um de nós. 

A palavra misericórdia[5] deriva do hebraico rehem, “regaço” e evoca uma misericórdia divina sem limites, como a compaixão de uma mãe pelo seu menino. É “um amor sem medida, abundante, universal, concreto. Um amor que tende a suscitar reciprocidade, que é o fim último da misericórdia. […] E, então, se sofremos algum tipo de ofensa, alguma injustiça, perdoemos e seremos perdoados. Sejamos os primeiros a usar de piedade, de compaixão! Mesmo se parece difícil e temerário, perguntemo-nos, diante de cada próximo: como se comportaria a sua mãe com ele? É um pensamento que nos ajuda a compreender e a viver de acordo com o coração de Deus” [6].


“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”


“Após dois anos de casados, a nossa filha e o seu marido tomaram a decisão de se separarem. Acolhemo-la de novo na nossa casa e, nos momentos de tensão, procurámos amá-la, com paciência, com perdão e compreensão, mantendo um relacionamento de abertura com ela e com o seu marido. Procurávamos sobretudo não julgar. Depois de três meses de escuta, de ajuda discreta e de muita oração, eles voltaram a estar juntos com renovada consciência, confiança e esperança”[7].

Ser misericordiosos, de facto, é mais do que perdoar. É ter um coração grande, desejar ardentemente cancelar todo o negativo, queimar completamente tudo aquilo que possa tornar-se um obstáculo ao nosso relacionamento com os outros. O convite de Jesus a sermos misericordiosos oferece-nos um caminho para nos reaproximarmos do projeto original, para que possamos realizar aquilo para que fomos criados: ser à imagem e semelhança de Deus.

Letizia Magri


[1] Ver Mt 4,23 e 5,19-20. [2] C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 2000, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5); Città Nuova, Roma 2017, p. 633. [3] Em grego makarios,i que é utilizado quer para descrever uma condição de sorte, de felicidade dos seres humanos, quer para indicar a condição privilegiada dos deuses relativamente à dos seres humanos. [4] Em hebraico hesed, isto é, amor desinteressado e acolhedor, pronto a perdoar. [5] Rahamim em hebraico. [6] Cit., C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 2000, pp. 633-634. [7] Experiência recolhida no site www.focolare.org.


(focolares)


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