“Nunca afastes de algum pobre o teu olhar”, é o tema da Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres na qual apela à prática da justiça e da caridade todos os dias.
Rui Saraiva – Portugal
Foi sob a inspiração criadora da Capela Sistina que o Papa Francisco encontrou na passada sexta-feira 23 de junho cerca de duzentos artistas e figuras da área cultural vindas de todo o mundo. Uma iniciativa no âmbito dos 50 anos da inauguração da Coleção de Arte Moderna dos Museus Vaticanos.
Na ocasião o Santo Padre fez uma exortação concreta sobre os pobres, pedindo aos presentes para serem “intérpretes” do seu “grito silencioso”.
“Queria pedir que não se esqueçam dos pobres, que são os preferidos de Cristo. Também os pobres necessitam de arte e de beleza. Alguns experimentam formas duras de privação da vida e, por isso, necessitam ainda mais de arte. Normalmente não têm voz e vocês podem ser intérpretes do seu grito silencioso”, disse Francisco.
Esta citação do Papa Francisco cria espaço para refletirmos aqui sobre a Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial dos Pobres neste ano de 2023 que tem lugar no Domingo que antecede a Solenidade de Cristo Rei.
Dar aos pobres justiça e caridade
“Empenhamo-nos todos os dias no acolhimento dos pobres, mas não basta; a pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte”, escreve o Papa no início da sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres.
“Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” é o tema de uma Mensagem baseada numa passagem do Livro de Tobias na qual Tobit, pede ao filho Tobias, antes de uma longa viagem, para lembrar-se sempre de Deus e recomenda-lhe a pratica da justiça todos os dias.
“Lembra-te sempre, filho, do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça”, pode-se ler na Mensagem do Papa citando o texto bíblico.
A exortação deste pai preocupado “torna-se ainda mais específica” e o Santo Padre cita de novo o texto sagrado: “Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus”.
“Muito surpreendem as palavras deste velho sábio”, sublinha o Papa. “Não esqueçamos, de facto, que Tobit perdeu a vista precisamente depois de ter praticado um ato de misericórdia. Como ele próprio conta, desde a juventude que se dedicou a obras de caridade”. Ele dava “muitas esmolas”, fornecia “pão aos esfomeados”, vestia “os nus” e dava sepultura a quem encontrava morto.
Na sua Mensagem, Francisco saliente que Tobit “por causa deste seu testemunho de caridade, viu-se privado de todos os seus bens pelo rei, ficando na pobreza completa”. No entanto, escreve o Papa, “o Senhor precisava ainda dele! Foi-lhe devolvido o seu lugar de administrador e ele não teve medo de continuar o seu estilo de vida”.
Não pôr silenciador a quem vive na pobreza
Para o Papa “vivemos um momento histórico que não favorece a atenção aos mais pobres. O volume sonoro do apelo ao bem-estar é cada vez mais alto, enquanto se põe o silenciador relativamente às vozes de quem vive na pobreza”.
O Santo Padre alerta para as novas formas de pobreza e lança um especial olhar para as vítimas da guerra. “Penso de modo particular nas populações que vivem em cenários de guerra, especialmente nas crianças privadas dum presente sereno e dum futuro digno. Ninguém poderá jamais habituar-se a esta situação; mantenhamos viva toda a tentativa para que a paz se afirme como dom do Senhor Ressuscitado e fruto do empenho pela justiça e o diálogo”, escreve o Papa.
Francisco lamenta “as especulações” que levam “a um aumento dramático dos preços deixando muitas famílias numa indigência ainda maior”. Refere também os problemas do mundo laboral como a precariedade do trabalho e “a remuneração não equivalente ao trabalho realizado”.
O Papa conclui a sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres exortando os cristãos a uma partilha dos bens que corresponda “às necessidades concretas do outro”.
“Também aqui é preciso discernimento, sob a guia do Espírito Santo, para distinguir as verdadeiras exigências dos irmãos do que constitui as nossas aspirações. Aquilo de que seguramente têm urgente necessidade é da nossa humanidade, do nosso coração aberto ao amor”, declara o Papa Francisco.
Laudetur Iesus Christus
(vaticannews)
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