quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Lições dolorosas da morte da bebê Indy Gregory


Bebê britânica Indy Gregory A bebê britânica Indy Gregory morreu em 13 de novembro após a justiça britânica ordenar que seus aparelhos de suporte de vida fossem desligados. | Cortesia da Christian Concern

Por Michael Warsaw


NOTA DO EDITOR: Indi Gregory é mais uma vítima da cultura da morte nas nações ocidentais, onde médicos fazem uso de um teste de “qualidade de vida”, contra a vontade dos pais, para julgar o valor de um ser humano para a continuação da existência terrena.

Poucas coisas mostram mais o profundo amor e a conexão dos pais com seu filho do que quando esse filho está doente. Nesse momento, o instinto humano de proteger, vigiar e fazer qualquer coisa para salvar um filho entra em ação. Lutar contra os limites da medicina e dos recursos já é bastante difícil. Mas lutar contra todo o poder do governo e o peso da burocracia institucional pode devastar o espírito humano. Lamentamos a perda da bebê Indi, mas também devemos aprender com a experiência dos seus pais.

A trágica morte, decretada em 13 de novembro pelo governo, de Indi Gregory, de 8 meses de idade, demonstrou quão profundamente as autoridades públicas no Reino Unido desvalorizaram os direitos dos pais e das crianças e, em última análise, o direito à vida e à própria dignidade humana. Assim como nos casos anteriores de Charlie Gard, Alfie Evans e Alta Fixsler, juízes do Reino Unido ratificaram a decisão de médicos do socializado Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) do país de retirar o apoio médico de suporte à vida da bebê Indi, anulando as clamorosas objeções de sua mãe e de seu pai.

E depois de o governo italiano ter feito uma intervenção dramática de última hora, concedendo a cidadania italiana a Indi na esperança de prolongar a sua vida, o sistema jurídico do Reino Unido também negou impiedosamente à sua mãe, Claire, e ao seu pai, Dean, a oportunidade de levar Indi ao hospital pediátrico Bambino Gesù, administrado pela Santa Sé, em Roma para continuar com os cuidados, assim como antes tinha se recusado a permitir que os pais de Charlie e Alfie levassem seus próprios bebês para tratamento lá.

Vários fatores deram poder às instituições legais e médicas do Reino Unido para tomar decisões que causam a morte. A mentalidade burocrática gerada por décadas de medicina socializada é um elemento central. Sistemas assim estão sempre inclinados a racionar os seus recursos escassos financiados pelos contribuintes, negando tratamentos que os médicos consideram inúteis. Na verdade, esta é uma das principais razões pelas quais o Canadá, com um sistema de saúde socializado semelhante, se tornou rapidamente o pior violador da lei do mundo em termos de funcionários hospitalares iniciarem discussões sobre suicídio medicamente assistido com pacientes que nunca tinham pensado nisso.

Parte dessa mentalidade provavelmente também teve um papel no caso de Indi. Mais diretamente relevante para a decisão de ordenar a sua morte, porém, foi a atitude arrogante de “sabemos sempre o que é melhor” que a medicina socializada engendra. Essa perspectiva inclina fortemente as autoridades médicas britânicas a rejeitar os apelos dos pais amorosos que permitiriam procurar tratamentos de última hora fora do âmbito do NHS. Esses apelos são rejeitados mesmo quando liberar o paciente a pedido dos pais não custará nada ao sistema, como no caso de Indi, porque a Itália se comprometeu publicamente a pagar todos os seus tratamentos no Bambino Gesù.

O sistema de saúde menos socializado dos EUA manteve uma compreensão coletiva mais clara de que os pacientes com doenças terminais, como a doença mitocondrial degenerativa congênita que afligiu Indi, têm o direito de tentar tratamentos em outro local, mesmo que os médicos que os tratem acreditem que esses tratamentos serão inúteis. Os católicos estão sempre inclinados a uma abertura a esta abordagem do “direito de tentar”, dado que sabemos que milagres de cura ocorrem regularmente depois de autoridades médicas concluírem que não há esperança de recuperação.

Somada à atitude autoritária das autoridades médicas britânicas está a arrogância judicial profundamente enraizada no Reino Unido em esmagar a autoridade paterna. Assim como em muitas outras jurisdições internacionais, a norma do Reino Unido é que o tribunal determine o que é “o melhor interesse” de uma criança, menor de idade, se os pais, funcionários do governo e um “tutor” nomeado pelo Estado para representar a criança não conseguirem chegar a um acordo sobre um procedimento. Desde a década de 1980, porém, cada vez mais este padrão de “melhor interesse” tem sido interpretado como significando que o Estado, e não os pais, é a parte mais capaz de salvaguardar os interesses de uma criança. Esta presunção estatista prevalece mesmo quando os pais estão totalmente empenhados em proteger seus filhos, como os juízes britânicos admitiram ser inegavelmente verdadeiro no que diz respeito aos pais de Indi.

Como uma cortesia dessa presunção, os tribunais do Reino Unido administraram um último desgosto cruel à mãe e ao pai de Indi. Mais uma vez, quebrando o vínculo entre pais e filhos numa batalha pela custódia médica, e dando preferência aos prestadores de serviços médicos em detrimento dos seus pais, o sistema legal negou o pedido de levá-la para casa nas últimas horas depois de seu tubo de respiração ser removido. Em vez disso, o tribunal determinou que ela passasse os seus últimos momentos de vida numa clínica para doentes com expectativa de vida menos do que seis meses – uma aplicação final da premissa burocrática de que uma instituição serviria melhor os interesses do bebê moribundo do que a casa de sua família amorosa.

Mais fundamentalmente, porém, Indi é outra vítima proeminente da cultura da morte que envolveu as culturas ocidentais.

Com a erosão progressiva das suas crenças cristãs fundamentais que defendem a santidade e a inviolabilidade de cada vida humana vulnerável, as nações ocidentais dependem cada vez mais de um teste de “qualidade de vida” para julgar a dignidade de um ser humano para a continuação da existência terrena. Quando essa “qualidade” é considerada insuficiente, a conclusão inevitável é que a pessoa estará melhor morta. O Estado conclui então que tem uma responsabilidade solene de propiciar esse resultado do modo mais expedito possível.

Os cristãos veem as coisas de maneira muito diferente. Eles compreendem que a dignidade inata de um ser humano nunca é diminuída, independentemente das deficiências que possa experimentar na sua jornada terrena. Consequentemente, como o papa Francisco sublinha constantemente, o sofrimento humano deve sempre chamar-nos à verdadeira compaixão do acompanhamento amoroso, e não à falsa compaixão de uma morte prematura.

Não existe uma solução fácil ou rápida para substituir a cultura contemporânea da morte por uma cultura renovada da vida. Mas há uma solução política parcial disponível no Reino Unido para casos dolorosos como o de Indi Gregory, Charlie Gard e Alfie Evans, como observou a conferência episcopal da Inglaterra e do País de Gales em sua declaração de luto pela morte de Indi. A conferência pediu apoio a uma alteração à Lei de Saúde e Cuidados de 2022 do Reino Unido, que melhoraria enormemente a posição dos pais quando surgir uma disputa relativa à prestação de cuidados paliativos a uma criança doente.

A declaração também chamou a atenção para a realidade de que a terrível provação legal infligida a Indi e sua família resultou numa eterna vitória espiritual.

O pai de Indi, Dean, um homem antes sem religião, foi levado a pedir que Indi fosse batizada em setembro, depois de experimentar o que descreveu como sendo “arrastado para o inferno” no tribunal. “Pensei que se o diabo existe, então Deus deveria existir”, explicou o pai sobre sua decisão de batizar Indi. O próprio Dean também planeja ser batizado.

“Como filha batizada de Deus, acreditamos que ela agora compartilhará a alegria do céu depois de sua curta vida, que trouxe profunda alegria aos seus pais, que a amaram e a protegeram como um dom precioso de Deus”, comentou a Conferência Episcopal da Inglaterra e do País de Gales em sua declaração.

Os católicos e outros cristãos de todo o mundo podem regozijar-se pelo fato dos pais terem respondido com esse presente final de amor que abriu a porta do céu à pequena Indi, embora isso não diminua o mal da decisão burocrática que encurtou a sua vida física. E juntamente com o nosso profundo pesar pela sua perda, podemos esperar e rezar para que a trágica morte de Indi desperte as consciências no Reino Unido e em outras partes do mundo sobre o valor da vida.

Deus vos abençoe!

(acidigital)

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