Papa Francisco na Missa da festa da Apresentação do Senhor
e do Dia Mundial da Vida Consagrada.
Por Walter Sánchez Silva
Na missa que rezou na Basílica de São Pedro hoje (2), festa da Apresentação do Senhor e 28º Dia Mundial da Vida Consagrada, o papa Francisco exortou todas as pessoas consagradas a não descuidarem da vida interior e a não se adaptar ao estilo do mundo.
A missa na basílica vaticana começou com o acendimento de velas para os presentes e uma longa procissão. A primeira leitura do livro de Hebreus foi lida em espanhol, o Salmo 23 foi entoado em italiano; e o Evangelho de Lucas 2,22-40, sobre a Apresentação do Senhor no templo, foi cantado em italiano.
Na homilia, o papa falou dos velhos Simeão e Ana como exemplo de espera, porque embora tenham vivido “dificuldades e decepções”, “não cederam ao derrotismo: não 'aposentaram' a esperança” e foram capazes de ver no templo o Messias prometido.
O papa alertou contra o perigo de deixar de esperar ou de deixar “adormecer o coração, anestesiar a alma, arquivar a esperança nos cantos escuros das desilusões e resignações”.
Depois de alertar para os perigos do ativismo e “o risco de programar a vida pessoal e a vida comunitária com base no cálculo das possibilidades de sucesso, em vez de cultivar com alegria e humildade a pequena semente que nos foi confiada”, o papa Francisco disse que a esperança pode ser perdida devido a vários obstáculos, dentre os quais destacou dois:
1. A negligência da vida interior
“A primeira é a negligência da vida interior. Acontece quando o cansaço prevalece sobre o encanto, quando o hábito ocupa o lugar do entusiasmo, quando perdemos a perseverança no caminho espiritual, quando as experiências negativas, os conflitos ou a demora no aparecimento dos frutos nos transformam em pessoas amargas e amarguradas”, disse o papa.
“Não nos faz bem ruminar a amargura, porque, numa família religiosa – como em qualquer comunidade e família –, as pessoas amarguradas e de «cara triste» tornam a atmosfera pesada; são pessoas que parecem ter vinagre no coração. Então é necessário recuperar a graça perdida: voltar atrás e, através duma vida interior intensa, regressar ao espírito de humildade jubilosa, de silenciosa gratidão”.
E isto, continuou o papa Francisco, “alimenta-se com a adoração, com o trabalho rezado e feito de coração, com a oração concreta que luta e intercede, capaz de despertar o desejo de Deus, o amor de outrora, o encanto do primeiro dia, o gosto da expectativa”.
2. Adaptação ao estilo do mundo
Francisco disse que este obstáculo faz com que o mundo acaba “por ocupar o lugar do Evangelho. E o nosso é um mundo que frequentemente corre a grande velocidade, que exalta o «tudo e já», que se consome no ativismo e procura exorcizar os medos e as angústias da vida nos templos pagãos do consumismo ou da diversão a todo o custo”.
“Em tal contexto, onde é banido e se perdeu o silêncio, esperar não é fácil, porque exige um comportamento de sadia passividade, a coragem de abrandar o passo, de não nos deixarmos dominar pelas atividades, de criar espaço dentro de nós para a ação de Deus, como ensina a mística cristã”, continuou.
O papa Francisco pediu que “estejamos atentos, para que o espírito do mundo não entre em nossas comunidades religiosas, não entre na vida da Igreja e na caminhada de cada um de nós, caso contrário não produziremos frutos”.
Oração e fidelidade
O papa disse ainda que “a vida cristã e a missão apostólica precisam que a espera, amadurecida na oração e na fidelidade cotidiana, nos liberte do mito da eficiência, da obsessão pelo rendimento e, sobretudo, da pretensão de fechar Deus em nossas categorias, porque Ele sempre vem de maneira imprevisível, Ele sempre vem em tempos que não são os nossos e de maneiras que não são aquelas que esperamos”.
Por isso, exortou-nos a cultivar “na oração a expectativa do Senhor e aprendamos a ‘passividade boa do Espírito’: assim seremos capazes de nos abrir à novidade de Deus”.
“Como Simeão, tomemos nos braços, também nós, o Menino, o Deus da novidade e das surpresas. Acolhendo o Senhor, o passado abre-se ao futuro, o velho que sobrevive em nós abre-se ao novo que Ele gera”.
Depois de reconhecer que isto “não é fácil”, o papa Francisco finalmente encorajou as pessoas a se deixarem “desafiar, desafiar”.
“Deixemo-nos mover pelo Espírito, como Simeão e Ana. Se vivermos, como eles, a expetativa salvaguardando a vida interior e permanecendo coerentes com o estilo do Evangelho, se vivermos, como eles, a expetativa, abraçaremos Jesus, que é luz e esperança da vida”.
(acidigital)
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