Amados irmãos e irmãs!
Há muito tempo que vos trago no pensamento, rezando por vós todos os dias. Mas agora, nas vésperas desta Páscoa que para vós sabe muito de Paixão e ainda pouco de Ressurreição, sinto necessidade de vos escrever para dizer que vos trago no coração. Sinto-me próximo de todos vós, nos vossos variados ritos, amados fiéis católicos espalhados por todo o território da Terra Santa, mas de modo particular daqueles que, nestes momentos, estão a sofrer mais dolorosamente o drama absurdo da guerra; sinto-me próximo das crianças a quem é negado um futuro, de quantos choram e sofrem, de todos aqueles que sentem angústia e desânimo.
A Páscoa, coração da nossa fé, é ainda mais significativa para vós que a celebrais nos Lugares onde o Senhor viveu, morreu e ressuscitou: nem a história, nem mesmo a geografia da salvação existiriam sem a Terra que há séculos habitais e onde quereis permanecer e será bom que o possais fazer. Obrigado pelo vosso testemunho de fé, obrigado pela caridade que frutifica entre vós, obrigado por saberdes esperar contra toda a esperança.
Desejo que cada um de vós possa sentir o meu afeto de pai, que conhece os vossos sofrimentos e canseiras, nomeadamente os destes últimos meses. E juntamente com o meu afeto, possais sentir o de todos os católicos do mundo! Como Bom Samaritano, o Senhor Jesus, nossa Vida, derrame sobre as vossas feridas do corpo e da alma o óleo da consolação e o vinho da esperança.
Ao pensar em vós, vem-me à memória a peregrinação que fiz convosco há dez anos; e faço minhas as palavras que há cinquenta anos São Paulo VI, o primeiro Sucessor de Pedro peregrino na Terra Santa, dirigiu a todos os crentes: «O prolongar-se do estado de tensão no Médio Oriente, sem que se realizem passos decisivos para a paz, constitui um grave e constante perigo, que ameaça não só a tranquilidade e a segurança daquelas populações – e a paz do mundo inteiro –, mas também certos valores que são sumamente caros, por diferentes motivos, a grande parte da humanidade» (Exort. ap. Nobis in animo).
Amados irmãos e irmãs, a comunidade cristã da Terra Santa não se limitou a ser, ao longo dos séculos, guardiã dos Lugares da salvação, mas testemunhou constantemente, através das próprias tribulações, o mistério da Paixão do Senhor. E, com a sua capacidade de se erguer e avançar, anunciou, e continua a anunciar, que o Crucificado ressuscitou; com os sinais da Paixão, apareceu aos discípulos e subiu ao Céu, levando para o Pai a nossa humanidade atormentada mas redimida. Nestes tempos sombrios, em que as trevas da Sexta-Feira Santa parecem cobrir a vossa Terra e demasiadas partes do mundo desfiguradas pela loucura inútil da guerra, que é sempre e para todos uma sanguinosa derrota, vós sois tochas acesas na noite; sois sementes de bem numa terra dilacerada por conflitos.
Rezo por vós e convosco: «Senhor, Vós que sois a nossa paz (cf. Ef 2, 14-22), Vós que proclamastes bem-aventurados os obreiros da paz (cf. Mt 5, 9), libertai o coração do homem do ódio, da violência e da vingança. Nós Vos seguimos com os olhos postos em Vós que perdoais e sois manso e humilde de coração (cf. Mt 11, 29). Não deixeis que ninguém nos roube do coração a esperança de nos levantar e ressurgir convosco, fazei que não nos cansemos de afirmar a dignidade de todo o homem, sem distinção de religião, etnia ou nacionalidade, a começar pelos mais frágeis: as mulheres, os idosos, os pequeninos e os pobres».
Irmãos, irmãs, quero dizer-vos: Não estais só, nem vos deixaremos sozinhos; permaneceremos solidários convosco através da oração e da caridade operosa, esperando poder voltar em breve, peregrino, até junto de vós, para vos ver e abraçar, partir o pão da fraternidade e contemplar aqueles rebentos de esperança que brotaram das sementes por vós espalhadas no sofrimento e cultivadas com paciência.
Sei que os vossos Pastores, os religiosos e as religiosas estão unidos a vós: de coração lhes agradeço por tudo o que fizeram, e continuam a fazer. Cresça e brilhe, no cadinho do sofrimento, o ouro da unidade com os irmãos e as irmãs das outras Confissões cristãs, a quem desejo também manifestar solidariedade espiritual e exprimir o meu encorajamento. A todos recordo na oração.
Abençoo-vos e sobre vós invoco a proteção da Bem-Aventurada Virgem Maria, filha da vossa Terra. A todos os cristãos do mundo, renovo o convite a fazer-vos sentir o seu apoio concreto e rezar incansavelmente para que a população inteira da vossa querida Terra possa finalmente estar em paz.
Fraternamente,
Roma, São João de Latrão, Semana Santa de 2024.
FRANCISCO
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