sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
Leão XIV revive tradição: Fazer saudações de Natal em diferentes idiomas
Por Victoria Cardiel
25 de dez de 2025 às 12:49
O papa Leão XIV surpreendeu fiéis este ano ao reviver uma tradição que não se via com frequência nos últimos anos: saudações de Natal em vários idiomas, como chinês, árabe, espanhol e latim, na bênção Urbi et orbi, à cidade [de Roma] e ao mundo, a partir da varanda central da basílica de São Pedro, no Vaticano.
A facilidade do papa com idiomas, demonstrada em sua recente visita a Ancara, Turquia, quando cumprimentou soldados em turco, permitiu-lhe retomar saudações em vários idiomas neste Natal, reforçando assim o caráter global da celebração.
A iniciativa lembra costumes do papa são João Paulo II e do papa Bento XVI, que também costumavam dirigir-se aos fiéis em diferentes idiomas.
O primeiro Natal do papa Leão XIV teve várias mudanças. A primeira foi a mudança do horário da missa da Véspera de Natal para as 22h, em vez das habituais 19h, alteração implementada devido à pandemia de COVID-19. Historicamente, a celebração ocorria à meia-noite, embora Bento XVI tenha decidido antecipá-la em duas horas em 2009.
Apesar da cerimônia tardia, o papa também celebrou a missa de Natal às 10h da manhã (6h no horário de Brasília) de hoje (25), algo que não acontecia desde 1994, no pontificado de são João Paulo II.
A manhã de Natal teve uma surpresa para os fiéis: momentos antes de dar a bênção apostólica, Leão XIV percorreu a praça de São Pedro no papamóvel para saudar e felicitar pessoalmente milhares de fiéis que o aguardavam há horas sob a chuva.
Segundo a programação prevista, amanhã (26) o papa viajará para Castel Gandolfo, Itália, para descansar fora de Roma. Ele voltará ao Vaticano para celebrar o tradicional hino Te Deum, no Ano Novo, na basílica de São Pedro, acompanhado por cidadãos romanos, e em seguida visitará o presépio e a árvore de Natal na praça de São Pedro, seguindo outro costume natalino do papado.
Angelus 26 de dezembro de 2025 - Papa Leão XIV
FESTA DE SANTO ESTEVÃO PROTOMÁRTIR
PAPA LEÃO XIV
ANGELUS
Praça de São Pedro
Sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje é o “natal” de Santo Estêvão, como costumavam dizer as primeiras gerações cristãs, certas de que não se nasce apenas uma vez. O martírio é o nascimento para o céu: efetivamente, um olhar de fé, mesmo na morte, não vê apenas escuridão. Viemos ao mundo sem decidir, mas passamos depois por muitas experiências nas quais nos é pedido, cada vez mais conscientemente, que “venhamos à luz”, que escolhamos a luz. O relato dos Atos dos Apóstolos testemunha que quem viu Estêvão caminhar para o martírio ficou surpreendido com a luz do seu rosto e das suas palavras. Está assim escrito: «Todos os membros do Sinédrio tinham os olhos fixos nele e viram que o seu rosto era como o rosto de um Anjo» (Act 6, 15). É o rosto de quem não passa indiferente pela história, mas a enfrenta com amor. Tudo o que Estêvão faz e diz representa o amor divino que se manifestou em Jesus, a Luz que brilhou nas nossas trevas.
Caríssimos, o nascimento do Filho de Deus no meio de nós convida-nos a viver como filhos de Deus, tornando-o possível graças a um movimento de atração experimentado, desde a noite de Belém, por pessoas humildes como Maria, José e os pastores. Porém, aquela beleza de Jesus e de quem vive como Ele é também uma beleza rejeitada: desde o início, a sua força magnética suscitou precisamente a reação de quem teme pela sobrevivência do seu poder, de quem é desmascarado na sua injustiça por uma bondade que revela os pensamentos dos corações (cf. Lc 2, 35). Contudo, até hoje, poder algum prevalece sobre a obra de Deus. Em todo o mundo há quem escolha a justiça, mesmo que isso tenha um custo, quem anteponha a paz aos próprios medos, quem sirva os pobres em vez de se servir a si mesmo. Então, apesar de tudo, brota a esperança e faz sentido estar em festa.
Nas condições de incerteza e sofrimento do mundo atual, a alegria pareceria impossível. Quem hoje acredita na paz e escolheu o caminho desarmado de Jesus e dos mártires é frequentemente ridicularizado, excluído do debate público e, não raro, acusado de favorecer adversários e inimigos. O cristão, porém, não tem inimigos, mas irmãos e irmãs, que continuam a sê-lo mesmo quando não estão de concordo. O Mistério do Natal traz-nos esta alegria: uma alegria motivada pela tenacidade de quem já vive a fraternidade, de quem já reconhece à sua volta, até nos seus adversários, a dignidade indelével das filhas e dos filhos de Deus. Por isso, Estêvão morreu perdoando, tal como Jesus: por cauda de uma força mais verdadeira do que a das armas. É uma força gratuita, já presente no coração de todos, que se reativa e se comunica de forma irresistível quando alguém começa a olhar de modo diverso para o seu próximo, a oferecer-lhe atenção e reconhecimento. Sim, isto é renascer, isto é vir novamente à luz, isto é o nosso Natal!
Rezemos agora a Maria e contemplemo-la, bendita entre todas as mulheres que servem a vida, contrapondo o cuidado à prepotência, a fé à desconfiança. Que Maria nos leve a entrar na sua própria alegria, uma alegria que dissolve todo o medo e toda a ameaça, como a neve derrete ao sol.
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Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs,
Renovo sinceramente os votos de paz e serenidade na luz do Natal do Senhor.
Saúdo todos os fiéis de Roma e os peregrinos vindos de tantos países.
Na memória de Santo Estêvão, o primeiro mártir, invocamos a sua intercessão para que fortaleça a nossa fé e sustente as comunidades que mais sofrem por causa do seu testemunho cristão.
Que o seu exemplo de mansidão, coragem e perdão acompanhe todos aqueles que estão envolvidos em situações de conflito para promover o diálogo, a reconciliação e a paz.
Desejo a todos uma feliz festa!
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
Mensagem de Natal e Bênção “Urbi et Orbi” 25 de dezembro de 2025- Papa L...
MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA LEÃO XIV
NATAL 2025
Balcão central da Basílica Vaticana
Quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
Queridos irmãos e irmãs,
«Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na terra o nosso Salvador. Hoje desceu do Céu sobre nós a verdadeira paz» (Antífona de entrada da Missa da Meia Noite). Assim canta a liturgia na noite de Natal e assim ressoa na Igreja o anúncio de Belém: o Menino que nasceu da Virgem Maria é Cristo Senhor, enviado pelo Pai para nos salvar do pecado e da morte. Ele é a nossa paz: Aquele que venceu o ódio e a inimizade com o amor misericordioso de Deus. Por isso, «o Natal do Senhor é o Natal da paz» (São Leão Magno, Sermão 26).
Porque não havia lugar para Ele na hospedaria, Jesus nasceu num estábulo. Assim que nasceu, a sua mãe Maria «envolveu-o em panos e recostou-o numa manjedoura» (cf. Lc 2, 7). O Filho de Deus, por meio do qual tudo foi criado, não é recebido e o seu berço é uma pobre manjedoura para animais.
O Verbo eterno do Pai, que os céus não podem conter, escolheu vir ao mundo desta forma. Por amor, desejou nascer de uma mulher, para partilhar a nossa humanidade; por amor, aceitou a pobreza e a rejeição e identificou-se com quem é descartado e excluído.
No Natal de Jesus, já se perfila a escolha de fundo que orientará toda a vida do Filho de Deus, até à morte na cruz: a escolha de não nos fazer carregar o peso do pecado, mas de o carregar Ele por nós, de assumir sobre Si esse peso. Só Ele o podia fazer. Ao mesmo tempo, porém, mostrou o que só nós podemos fazer, ou seja, assumir cada um a sua parte de responsabilidade. Sim, porque Deus, que nos criou sem nós, não pode salvar-nos sem nós (cf. Santo Agostinho, Discurso 169, 11. 13), isto é, sem a nossa livre vontade de amar. Quem não ama não se salva, está perdido. E quem não ama o irmão que vê, não pode amar Deus que não vê (cf. 1 Jo 4, 20).
Irmãs e irmãos, eis o caminho da paz: a responsabilidade. Se cada um de nós, a todos os níveis, em vez de acusar os outros, reconhecesse em primeiro lugar as próprias falhas, pedisse perdão a Deus e, ao mesmo tempo, se colocasse no lugar dos que sofrem, mostrando-se solidário com os mais fracos e oprimidos, então o mundo mudaria.
Jesus Cristo é a nossa paz porque, em primeiro lugar, nos liberta do pecado e, em segundo lugar, nos indica o caminho a seguir para superar os conflitos, quaisquer que sejam eles, desde os interpessoais aos internacionais. Sem um coração livre do pecado, um coração perdoado, não se pode ser homens e mulheres pacíficos e construtores de paz. Foi por esta razão que Jesus nasceu em Belém e morreu na cruz: para nos libertar do pecado. Ele é o Salvador. Com a sua graça, cada um pode e deve fazer a sua parte para rejeitar o ódio, a violência, a contraposição e para praticar o diálogo, a paz, a reconciliação.
Neste dia de festa, desejo enviar uma calorosa saudação paterna a todos os cristãos, em especial àqueles que vivem no Médio Oriente e que recentemente, na minha primeira viagem apostólica, desejei encontrar. Ouvi os seus receios e conheço bem o seu sentimento de impotência perante dinâmicas de poder que os ultrapassam. O Menino que hoje nasce em Belém é o mesmo Jesus que diz: «Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33).
D’Ele invocamos justiça, paz e estabilidade para o Líbano, a Palestina, Israel e a Síria, ao confiarmos nestas palavras divinas: «A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre» (Is 32, 17).
Ao Príncipe da Paz, entregamos o inteiro Continente Europeu, pedindo-Lhe que continue a inspirar um espírito comunitário e colaborativo, fiel às suas raízes cristãs e à sua história, solidária e acolhedora com quem passa necessidade. Rezemos de modo especial pelo povo ucraniano tão massacrado: que o barulho das armas acabe e que as partes envolvidas, apoiadas pelo empenho da comunidade internacional, encontrem a coragem de dialogar de modo sincero, direto e respeitoso.
Do Menino de Belém, imploramos paz e consolação para as vítimas de todas as guerras em curso no mundo, especialmente as esquecidas; e para quantos sofrem por causa da injustiça, da instabilidade política, da perseguição religiosa e do terrorismo. Recordo de modo particular os irmãos e irmãs do Sudão, do Sudão do Sul, do Mali, do Burquina Faso e da República Democrática do Congo.
Nestes últimos dias do Jubileu da Esperança, rezemos ao Deus feito homem pela querida população do Haiti, para que, cessando toda a forma de violência no país, possa progredir no caminho da paz e da reconciliação.
O Menino Jesus inspire todos os que têm responsabilidades políticas na América Latina, para que, ao enfrentarem os inúmeros desafios, deem espaço ao diálogo pelo bem comum e não a preconceitos ideológicos e de parte.
Ao Príncipe da Paz, pedimos que ilumine Myanmar com a luz de um futuro de reconciliação: devolva a esperança às jovens gerações, guie todo o povo birmanês por vias de paz e acompanhe aqueles que vivem sem casa, segurança ou confiança no futuro.
A Ele pedimos que restaure a antiga amizade entre a Tailândia e o Camboja e que as partes em causa continuem a empenhar-se pela paz e reconciliação.
A Ele confiamos também as populações do Sul asiático e da Oceânia, duramente provadas pelas recentes e devastadoras calamidades naturais, que com gravidade atingiram inteiras populações. Perante tais provações, convido todos a renovar com convicção o nosso empenho comum em socorrer quem sofre.
Queridos irmãos e irmãs,
na escuridão da noite, «o Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9), porém «os seus não o receberam» (Jo 1, 11). Não nos deixemos vencer pela indiferença em relação a quem sofre, porque Deus não é indiferente às nossas misérias.
Fazendo-se homem, Jesus assume a nossa fragilidade, identifica-se com cada um de nós: com aqueles que não têm mais nada e perderam tudo, como os habitantes de Gaza; com quem está a braços com a fome e a pobreza, como o povo do Iémen; com aqueles que fogem da própria terra em busca de um futuro noutro lugar, como os muitos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo ou atravessam o Continente americano; com aqueles que perderam o trabalho e com os que o procuram, como tantos jovens que têm dificuldade em encontrar emprego; com aqueles que são explorados, como muitos trabalhadores mal remunerados; com aqueles que estão na prisão e, muitas vezes, vivem em condições desumanas.
Ao coração de Deus chega a invocação de paz que se eleva de todas as partes da terra, como escreve um poeta:
«Não a paz de um cessar-fogo,
nem a visão do lobo e do cordeiro,
mas antes
como quando no coração a excitação termina
e apenas se pode falar de um grande cansaço.
[...]
Venha de repente,
como as flores selvagens,
porque o campo
precisa dela: paz selvagem». [1]
Neste santo dia, abramos o nosso coração aos irmãos e irmãs que passam necessidades e sofrem. Ao fazê-lo, abrimos o nosso coração ao Menino Jesus, que, com os braços abertos, nos acolhe e revela a sua divindade: «a quantos o receberam, aos que nele creem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12).
Em poucos dias, o Ano Jubilar terminará. As Portas Santas fechar-se-ão, mas Cristo, nossa esperança, permanecerá sempre conosco. Ele é a Porta sempre aberta, que nos introduz na vida divina. É a alegre notícia deste dia: o Menino que nasceu é Deus feito homem; Ele não vem para condenar, mas para salvar; a sua não é uma aparição fugaz; Ele vem para ficar e dar-se a si mesmo. N’Ele, todas as feridas são curadas e todos os corações encontram repouso e paz. «O Natal do Senhor é o Natal da paz».
Desejo a todos, de coração, um feliz e santo Natal.
[1] Y. Amichai, “Wildpeace”, in The Poetry of Yehuda Amichai, Farrar, Straus and Giroux, 2015.
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Natal do Senhor–Santa Missa do dia, 25 de dezembro de 2025- Papa Leão XIV
SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR
SANTA MISSA DO DIA
HOMILIA DO PAPA LEÃO XIV
Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
Irmãs e irmãos caríssimos!
«Irrompei em cânticos de alegria» (Is 52, 9), brada o mensageiro da paz a todos aqueles que se encontram entre as ruínas de uma cidade inteiramente por reconstruir. Embora empoeirados e feridos, os seus pés são formosos – escreve o profeta (cf. Is 52, 7) –, porque, por estradas longas e irregulares, trouxeram uma alegre notícia, na qual tudo agora renasce. É um novo dia! Também nós participamos nesta mudança, na qual ninguém parece ainda acreditar: a paz existe e já está no meio de nós.
«Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou» (Jo 14, 27). Assim disse Jesus aos discípulos, a quem acabara de lavar os pés, mensageiros da paz que, a partir daquele momento, deveriam percorrer o mundo, sem se cansar, para revelar a todos «o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Hoje, portanto, não só nos surpreendemos com a paz que já está aqui, mas celebramos como este dom nos foi dado. Com efeito, a partir deste como brilha a diferença divina que nos faz irromper em cânticos de alegria. Por isso, em todo o mundo, o Natal é, por excelência, uma festa de músicas e cânticos.
O prólogo do quarto Evangelho também é um hino e tem como protagonista o Verbo de Deus. O “verbo” é uma palavra que age. Esta é uma caraterística da Palavra de Deus: nunca é ineficaz. Olhando bem, muitas das nossas palavras também produzem efeitos, por vezes indesejados. Sim, as palavras agem. Mas eis a surpresa que a liturgia do Natal coloca diante de nós: o Verbo de Deus aparece e não sabe falar, vem até nós como um recém-nascido que apenas chora e dá vagidos. «Fez-se carne» (cf. Jo 1, 14) e, embora crescerá e um dia aprenderá a língua do seu povo, agora fala apenas a sua presença simples e frágil. «Carne» é a nudez radical à qual, em Belém e no Calvário, falta até a palavra; como a não têm muitos irmãos e irmãs despojados da sua dignidade e reduzidos ao silêncio. A carne humana pede cuidados, invoca acolhimento e reconhecimento, procura mãos capazes de ternura e mentes dispostas à atenção, deseja palavras bonitas.
«Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele creem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 11-12). Eis a forma paradoxal segundo a qual a paz já está entre nós: o dom de Deus envolve-nos, procura acolhimento e mobiliza a dedicação. Surpreende-nos porque se expõe à rejeição, encanta-nos porque nos arranca da indiferença. É um verdadeiro poder o de nos tornarmos filhos de Deus: um poder que permanece enterrado enquanto estivermos distantes do choro das crianças e da fragilidade dos idosos, do silêncio impotente das vítimas e da melancolia resignada de quem faz o mal que não quer.
Como escreveu o amado Papa Francisco, para nos convocar à alegria do Evangelho: «Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 270).
Queridos irmãos e irmãs, uma vez que o Verbo se fez carne, agora a carne fala, brada o desejo divino de nos encontrar. O Verbo ergueu no meio de nós a sua frágil tenda. E como não pensar nas tendas de Gaza, expostas durante semanas à chuva, ao vento e ao frio, e nas tendas de tantos outros deslocados e refugiados em todos os continentes; ou nos refúgios improvisados de milhares de pessoas sem-abrigo dentro das nossas cidades? Fragilizada se encontra a carne das populações indefesas, provadas por tantas guerras em curso ou concluídas, deixando escombros e feridas abertas. Fragilizadas estão as mentes e as vidas dos jovens obrigados a pegar em armas, que precisamente na frente de batalha percebem a insensatez do que lhes é exigido e a mentira de que estão embebidos os discursos inflamados daqueles que os enviam para a morte.
Quando a fraqueza dos outros penetra o nosso coração, quando a dor alheia despedaça as nossas certezas graníticas, então já começa a paz. A paz de Deus nasce de um choro de criança acolhido, de um pranto ouvido: nasce entre ruínas que invocam solidariedades renovadas, nasce de sonhos e visões que, como profecias, invertem o curso da história. Sim, tudo isso existe, porque Jesus é o Logos, o sentido a partir do qual tudo tomou forma. «Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência» (Jo 1, 3). Este mistério interpela-nos a partir dos presépios que construímos, abre-nos os olhos para um mundo em que a Palavra ainda ressoa, «muitas vezes e de variados modos» (cf. Heb 1, 1), e continua a chamar-nos à conversão.
Certamente, o Evangelho não esconde a resistência das trevas à luz, descreve o caminho da Palavra de Deus como uma estrada intransitável, repleta de obstáculos. Até hoje, os autênticos mensageiros da paz seguem o Verbo neste caminho, que finalmente alcança os corações: corações inquietos, que muitas vezes desejam justamente aquilo a que resistem. Assim, o Natal motiva novamente uma Igreja missionária, impelindo-a pelos caminhos que a Palavra de Deus traçou para ela. Não estamos ao serviço de uma palavra prepotente – já ressoam por toda parte –, mas uma presença que suscita o bem, conhece a sua eficácia e não reivindica o seu monopólio.
Eis o caminho da missão: um caminho em direção ao outro. Em Deus, cada palavra é uma palavra dirigida, é um convite à conversação, uma palavra que nunca é igual a si mesma. É a renovação que o Concílio Vaticano II promoveu e que veremos florescer apenas caminhando juntos com toda a humanidade, sem nunca nos separarmos dela. O contrário é mundano: ter-se a si mesmo como centro. O movimento da Encarnação é um dinamismo de conversação. Haverá paz quando os nossos monólogos se interromperem e, fecundados pela escuta, cairmos de joelhos diante da carne despojada do outro. Precisamente nisto, a Virgem Maria é a Mãe da Igreja, a Estrela da evangelização, a Rainha da paz. Nela compreendemos que nada nasce da exibição da força e tudo renasce a partir do poder silencioso da vida acolhida.
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
Belém, está de volta a Marcha pela paz das crianças
Giordano Contu – Belém
A esperança nasce de um pequeno passo. Na segunda-feira, 22 de dezembro, esse passo começou com as crianças de Belém. A Marcha pela paz das crianças voltou às ruas da cidade onde Jesus nasceu. Essa caminhada, promovida pela Custódia da Terra Santa, é uma oração por todo o planeta, assolado por mais de 50 conflitos, muitos dos quais esquecidos por serem distantes e menos divulgados pela mídia. Os passos dessas crianças e jovens palestinos, cristãos e muçulmanos, são um apelo aos líderes mundiais: "Vamos espalhar a paz, proteger a inocência" e "Uma criança sem guerra... um futuro cheio de esperança", diziam algumas das faixas.
Um sinal de esperança
"Todos os anos, antes do Natal, organizamos esta Marcha pela paz. Nos últimos dois anos, não a realizamos devido à guerra. Em 2025, decidimos retomá-la. Por isso, ela assume um significado ainda mais forte: é um sinal de esperança", disse o padre Ibrahim Faltas, franciscano da Custódia da Terra Santa, à mídia vaticana. "Depois de dois anos sem árvores de Natal, sem festas, queríamos trazer de volta o sorriso às crianças. Nossas crianças não sofreram tanto quanto as de Gaza, mas sofreram da mesma forma: viram a guerra, viram seus pais sem trabalho e muitas famílias deixaram Belém. Não queremos desistir. Queremos que a vida recomece, que os peregrinos voltem, que o mundo não se esqueça de Belém e da Terra Santa."
Reacender o sorriso das crianças
A Marcha pela paz é uma tradição que se mantém há mais de 25 anos. A iniciativa surgiu do projeto "Crianças sem fronteiras", criado para educar crianças palestinas e israelenses, judias, cristãs e muçulmanas sobre esportes, convívio e respeito. Hoje, aproximadamente 600 jovens participam nas regiões de Belém, Jericó, Taybeh, Beit Sahour e Beit Jala, cristãos e muçulmanos, fiéis e leigos. "Desde o início, foi um projeto aberto a todas as crianças, pois nasceu sob a bandeira da esperança", reiterou o franciscano. O objetivo desta iniciativa é fortalecer nos jovens a perspectiva de que a paz nesta Terra é possível. Olhando para essas crianças, o padre Faltas falou com clareza e paixão: "A mensagem desta marcha é ainda mais forte hoje, porque reacende o sorriso onde ele se extinguiu por muito tempo."
Uma promessa a ser cumprida
A paz não é uma palavra abstrata; é o pedido de uma promessa a ser cumprida, uma necessidade concreta. Esta é a mensagem de Belém para o mundo. Com a conclusão do Jubileu da Esperança, esta promessa assume um significado ainda maior. O padre Raffaele Tayem, pároco da Igreja Latina em Belém, explica: "A esperança não decepciona, e Deus continua a agir na história mesmo quando a história parece contradizê-Lo. Para nós, no Oriente Médio, o sofrimento não é um tema para se discutir; é uma realidade que molda as pessoas, famílias e jovens. E precisamente aqui, o Jubileu se torna um forte apelo à consciência global: não se acostumar com o mal, não normalizar a guerra, não considerar inevitável o que destrói. O Jubileu nos convida a ações concretas: proximidade, reconciliação possível, cura de feridas internas, educação dos jovens, apoio às famílias."
No caminho da reconciliação
A Marcha pela paz das crianças de Belém, irredutível a um slogan, clama pela retomada de um caminho de conciliação. "Hoje", continua Tayem, "falar de paz significa, antes de tudo, dizer a verdade: paz não é apenas a ausência de tiros. A guerra pode até parar, mas isso não significa que haja paz. O mal ainda está presente: crianças sem casa, corações oprimidos, feridas profundas difíceis de cicatrizar, pessoas sofrendo, lares com camas vazias devido à emigração de jovens, a pobreza e a desestruturação das famílias." De onde a reconciliação pode recomeçar? "Eu diria que a partir da fragilidade de um Menino deitado numa manjedoura. De Belém, continua sendo feito um apelo ao mundo: a paz só é possível quando colocamos a dignidade humana e o valor da vida no centro. A paz nasce quando o outro deixa de ser uma ideia ou um inimigo abstrato e volta a ser uma pessoa, com nome, história, dignidade, e quando eu paro de usar a pessoa e amar as coisas, e passo a amar a pessoa e usar as coisas."
(vaticannews)
terça-feira, 23 de dezembro de 2025
Pope Leo XIV answers journalists’ questions in Castel Gandolfo, December...
Leão XIV: no Natal, 24 horas de paz em todo o mundo
Vatican News
“Faço mais uma vez este pedido a todas as pessoas de boa vontade para que respeitem, ao menos na festa do nascimento do Salvador, um dia de paz.” Este foi o apelo de Leão XIV às vésperas das festividades natalinas, lançado nesta noite de 23 de dezembro, a poucos dias do Natal, a partir de Castel Gandolfo.
Como todas as semanas, o Pontífice passou ali o seu dia de descanso e trabalho. Os fiéis, com canções natalinas, além da música da banda municipal de Castel Gandolfo, acolheram sua saída da Villa Barberini. O pároco, padre Tadeusz Rozmus, da Paróquia Pontifícia de São Tomás de Villanova, dirigiu ao Papa os votos de Feliz Natal em nome de todos e lhe entregou o presente de alguns produtos típicos.
Um dia de paz em todo o mundo
Como já é costume, Leão XIV deteve-se com um grupo de jornalistas para responder às suas perguntas. Oriente Médio e Ucrânia estiveram entre os temas abordados. Sobre a Ucrânia, onde nas últimas horas intensos ataques russos atingiram diversas regiões, o Papa Leão afirmou: “Realmente, entre as coisas que me causam muita tristeza nestes dias está o fato de que, aparentemente, a Rússia recusou o pedido de uma trégua de Natal”. O Bispo de Roma reiterou então o seu apelo para que no Natal seja respeitado um momento de trégua: “Quem sabe nos escutem e haja 24 horas, um dia de paz em todo o mundo”.
Que o acordo de paz no Oriente Médio siga adiante
Ainda voltando o olhar para a guerra, desta vez do Oriente Médio, onde se discute a Fase 2 do cessar-fogo, o Papa recordou a “belíssima visita” realizada nestes dias a Gaza pelo cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém. “Há uma hora estive em contato com o pároco”, ou seja, o padre Gabriel Romanelli, pastor da igreja da Sagrada Família, na Cidade de Gaza. “Eles estão tentando celebrar uma festa em meio a uma situação ainda muito precária. Esperamos — acrescentou Leão — que o acordo de paz siga adiante”.
Decepção com a lei sobre suicídio assistido em Illinois
Voltando a atenção para os Estados Unidos, o Papa comentou a recente aprovação, em seu estado de origem, Illinois, de uma lei que permite o suicídio assistido para adultos com doenças terminais e prognóstico de seis meses ou menos, a partir de setembro de 2026. Leão XIV explicou que já havia tratado do tema “de forma muito explícita” com o governador JB Pritzker durante a audiência no Vaticano, em novembro passado: “Naquela época, o projeto de lei já estava sobre a mesa dele”. “Fomos muito claros quanto à necessidade de respeitar a sacralidade da vida, do início ao fim. E, infelizmente, por diversas razões, ele decidiu assinar aquele projeto de lei. Estou muito decepcionado com isso”, sublinhou o Pontífice.
Em seguida, convidou “a todos, especialmente nesta festa de Natal, a refletirem sobre a natureza da vida humana, sobre o valor da vida humana. Deus se fez humano como nós para nos mostrar o que significa verdadeiramente viver a vida humana”. A esperança e a oração do Pontífice são para que “o respeito pela vida volte a crescer em todos os momentos da existência humana, da concepção até a morte natural”.
Leão XIV publica carta apostólica sobre a formação e a vida dos sacerdotes
23 de dez de 2025 às 09:29
O papa Leão XIV escreveu a carta apostólica Uma Fidelidade que Gera o Futuro, por ocasião do 60º aniversário de dois decretos do concílio Vaticano II sobre a renovação da Igreja e do ministério sacerdotal. A carta, a oitava do pontificado de Leão XIV, foi divulgada ontem pela Santa Sé.
O decretos Optatam totius, sobre a renovação da Igreja por meio da formação sacerdotal, e Presbyterorum ordinis, sobre a definição do ministério e da vida dos sacerdotes, foram promulgados em 1965, ano da última sessão do Concílio Vaticano II. No documento — com cerca de oito páginas divididas em 29 pontos — Leão XIV fala sobre a relevância de ambos os decretos, instando a que se tornem “uma memória viva”, sendo estudados sobretudo nos seminários.
À luz desses documentos, o papa exorta a reconsiderar “a identidade e a função do ministério ordenado à luz do que o Senhor pede à Igreja hoje, estendendo a grande obra de atualização do concílio Vaticano II” pela perspectiva da fidelidade e da conversão.
Maturidade e uma vida espiritual sólida para prevenir abusos
O papa começa falando sobre a vocação sacerdotal, à qual os sacerdotes respondem com uma “escolha corajosa de vida”. Para permanecer fiel a essa vocação, Leão XIV fala sobre a necessidade de lembrar, especialmente nos momentos de provação e tentação, “o som da voz do Senhor que nos ama, nos escolhe e nos chama”.
É preciso lembrar-se também que esse chamado é “um dom livre e gratuito” de Deus e uma proposta amorosa de um projeto de salvação, que “deve ser fielmente guardado” numa dinâmica de conversão e formação permanente.
Depois, Leão XIV voltou sua atenção para a “crise de confiança” na Igreja causada pelos abusos cometidos por membros do clero, “que nos enchem de vergonha e nos chamam à humildade”. Essa realidade, disse o papa, “nos tornou ainda mais conscientes da urgência de uma formação integral que assegure o crescimento e a maturidade humana dos candidatos ao sacerdócio, junto com uma vida espiritual rica e sólida”.
Assim, ele exorta os seminaristas a fazer um trabalho interior sobre suas motivações, dizendo que só “sacerdotes e consagrados humanamente maduros e espiritualmente sólidos podem assumir o compromisso do celibato e proclamar com credibilidade o Evangelho do Ressuscitado”.
Assim, o papa exorta os fiéis a “proteger e nutrir nossa vocação num caminho constante de conversão e fidelidade renovada, que nunca é meramente uma jornada individual, mas nos compromete a cuidar uns dos outros”.
A fraternidade como parte da identidade dos sacerdotes
Leão XIV fala sobre a fraternidade sacerdotal, que ele diz ser um “dom inerente à graça da Ordenação” e um “elemento constitutivo da identidade dos ministros”, que deve ser retribuído superando a “tentação do individualismo”.
O papa exorta à criação e promoção de “modos possíveis de vida comunitária”, alertando para a solidão sofrida por muitos sacerdotes. Ele diz também que “muito ainda precisa ser feito” sobre isso, começando pela “paridade financeira entre aqueles que servem em paróquias pobres e aqueles que atuam em comunidades abastadas”.
Leão XIV diz que a comunhão “nunca pode ser definida como uma homogeneização dos indivíduos, carismas ou talentos que o Senhor derramou na vida de cada um”.
Sinodalidade, uma oportunidade para os sacerdotes do futuro
Citando a sinodalidade, tema que lhe “interessa particularmente”, o papa citou especificamente o decreto Presbyterorum ordinis, que enfatiza a ligação entre o sacerdócio e a missão de Jesus Cristo. Esse decreto, disse Leão XIV, aponta para três aspectos fundamentais: a relação com o bispo, a fraternidade com os outros sacerdotes e a relação com os fiéis leigos.
O papa diz que “muito ainda precisa ser feito” nesse campo, ao mesmo tempo que diz que o processo sinodal “é um forte convite do Espírito Santo para darmos passos decisivos nessa direção”.
Ele encoraja os sacerdotes a familiarizarem-se com as diretrizes do documento final do Sínodo da Sinodalidade e diz que "o desafio da sinodalidade — que não elimina as diferenças, mas sim as valoriza — continua sendo uma das principais oportunidades para os sacerdotes do futuro".
(acidigital)
Fazer um bom trabalho glorifica a Deus, diz Leão XIV a funcionários da Santa Sé
23 de dez de 2025 às 10:39
O papa Leão XIV disse aos funcionários do Vaticano e da Santa Sé para encarar seu trabalho diário como parte da missão da Igreja, dizendo que fazer bem o seu trabalho "glorifica o Senhor".
Encontrando-se ontem (22) com os funcionários para uma saudação de Natal, o papa disse que ainda está conhecendo a Santa Sé e a percebe como “um grande mosaico” composto por muitos escritórios e serviços. Ele disse esperar, com a ajuda de Deus, conhecer funcionários à medida que visita diferentes locais de trabalho.
Refletindo sobre o presépio, o papa Leão XIV falou sobre as muitas figuras representadas em atividade — cada uma desempenhando uma tarefa — como um lembrete de que as atividades cotidianas encontram seu pleno significado no plano de Deus, centrado em Jesus Cristo. Ele disse que é como se o Menino Jesus abençoasse a todos desde a manjedoura, dando propósito e unidade ao trabalho de cada pessoa.
Mesmo quando algumas figuras do presépio parecem distantes do evento central, disse ele, elas participam precisamente por serem elas mesmas, permanecendo em seu lugar e fazendo o que são chamadas a fazer. O papa aplicou essa imagem à vida no Vaticano, dizendo que cada pessoa pode louvar a Deus cumprindo suas responsabilidades com empenho e cuidado.
Leão XIV relacionou a dedicação profissional à vida familiar, dizendo aos funcionários leigos que se esforçar para dar o melhor de si no trabalho — e amar a família e os filhos — honra a Deus.
Ele exortou os funcionários da Santa Sé a fazer desse espírito uma marca registrada da Igreja "em todas as suas expressões" e pediu-lhes que transmitam suas saudações aos seus familiares em casa, dizendo-lhes que o papa está rezando por eles.
Depois de dar sua bênção, o papa Leão XIV cumprimentou individualmente algumas das pessoas presentes.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Angelus 21 de dezembro de 2025 - Papa Leão XIV
PAPA LEÃO XIV
ANGELUS
Praça de São Pedro
IV Domingo do Advento, 21 de dezembro de 2025
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, no quarto domingo do Advento, a Liturgia convida-nos a meditar sobre a figura de São José, apresentando-no-lo, em particular, no momento em que Deus lhe revela, em sonho, a sua missão (cf. Mt 1, 18-24). Propõe-se-nos, assim, uma página muito bonita da história da salvação, cujo protagonista é um homem frágil e falível como nós, mas, ao mesmo tempo, corajoso e forte na fé.
O evangelista Mateus chama-o de “homem justo” (cf. Mt 1, 19), o que o caracteriza como um piedoso israelita, cumpridor da Lei e assíduo da sinagoga. Além disso, porém, José de Nazaré aparece-nos também como uma pessoa extremamente sensível e humana.
Verificamo-lo quando, diante de uma situação difícil de compreender e aceitar em relação à sua futura esposa, antes mesmo de o Anjo lhe revelar o mistério que se está a realizar em Maria, ele não opta pelo escândalo e pela condenação pública, mas escolhe o caminho discreto e benevolente do repúdio secreto (cf. Mt 1, 19). Mostra, deste modo, compreender o sentido mais profundo da sua própria observância religiosa: o da misericórdia.
Todavia, a pureza e a nobreza dos seus sentimentos tornam-se ainda mais evidentes quando o Senhor, num sonho, lhe revela o seu plano de salvação, indicando o papel inesperado que deverá assumir: ser o esposo da Virgem Mãe do Messias. Aqui, com um grande ato de fé, José abandona também a última margem das suas certezas e faz-se ao largo rumo a um futuro que está agora totalmente nas mãos de Deus. Santo Agostinho descreve desta forma o seu consentimento: «À piedade e caridade de José nasceu da Virgem Maria um filho, e precisamente o Filho de Deus» (Sermão 51, 20.30).
Piedade e caridade, misericórdia e abandono: eis as virtudes do homem de Nazaré que a Liturgia hoje nos propõe, para que nos acompanhem nestes últimos dias do Advento, rumo ao Santo Natal. São atitudes importantes, que educam o coração para o encontro com Cristo e com os irmãos, e que podem ajudar-nos a ser, uns para os outros, presépio acolhedor, casa hospitaleira, sinal da presença de Deus. Neste tempo de graça, não percamos a oportunidade de as praticar: perdoando, encorajando, dando um pouco de esperança às pessoas com quem vivemos e àquelas que encontramos; e renovando na oração o nosso abandono filial ao Senhor e à sua Providência, entregando-lhe tudo com confiança.
Que a Virgem Maria e São José nos ajudem, eles que foram os primeiros a acolher Jesus, o Salvador do mundo, com fé e grande amor.
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Depois do Angelus:
Queridos irmãos e irmãs!
Saúdo com carinho todos vós, romanos e peregrinos da Itália e de outras partes do mundo, em particular os que vieram de Jumilla, em Espanha, e o grupo de professores do Our Lady College, de Hong Kong. Saúdo também os fiéis de Chieti Scalo e de Voghera, os professores e alunos do Liceu Científico “Banzi Bazoli”, de Lecce, e os membros da “Fundação Agostinianos no Mundo”, por ocasião do seu aniversário.
Hoje, dirijo uma saudação especial às crianças e aos jovens de Roma! Caríssimos, viestes com os vossos familiares e catequistas para a bênção das pequenas imagens do Menino Jesus, que serão colocadas nos presépios das vossas casas, escolas e oratórios. Agradeço ao Centro Oratórios Romanos por ter organizado este evento e abençoo de coração todas as imagens do Menino Deus. Queridos jovens, diante do presépio, rogai a Jesus também pelas intenções do Papa. Em particular, rezemos juntos para que todas as crianças do mundo possam viver em paz. Muito obrigado!
E com estas pequenas imagens e todas as expressões da nossa fé no Menino Jesus, sempre vos abençoe Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo.
Desejo a todos um bom domingo e um santo e sereno Natal!
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domingo, 21 de dezembro de 2025
sábado, 20 de dezembro de 2025
sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
Contagem regressiva para o fim do Jubileu: Quando e quem fechará as portas santas em Roma
Por Victoria Cardiel
18 de dez de 2025 às 15:38
Falta menos de um mês para o fim do Ano Santo, inaugurado pelo papa Francisco em 24 de dezembro do ano passado. O papa Leão XIV será o responsável por fechar a grande porta de bronze da basílica de São Pedro, no Vaticano, por onde passaram cerca de 30 milhões de peregrinos por 12 meses em busca de indulgência plenária. O evento acontecerá no dia 6 de janeiro, solenidade da Epifania do Senhor.
A porta santa será reaberta em 2033, quando a Igreja celebrará o Ano Santo Extraordinário da Redenção.
A primeira porta santa a ser fechada — e que permanecerá selada até o próximo Jubileu — é a da basílica de Santa Maria Maior. O rito ocorrerá em 25 de dezembro, Natal do Senhor, segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé. A celebração, seguida da santa missa, será celebrada às 18h (horário local) pelo arcipreste cardeal da Basílica, Rolandas Makrickas.
Dois dias depois, em 27 de dezembro, às 11h (7h no horário de Brasília), será celebrada a cerimônia de fechamento da catedral de São João de Latrão. A cerimônia e a missa serão celebradas pelo cardeal vigário de Roma, Baldo Reina, terão a participação do coro diocesano, dirigido por Marco Frisina.
Em 28 de dezembro, às 10h (6h no horário de Brasília), a porta santa da basílica de São Paulo Fora dos Muros será fechada. A solenidade da cerimônia será presidida pelo cardeal arcipreste James Michael Harvey.
Por fim, na Solenidade da Epifania, o papa Leão XIV fechará a porta santa da basílica de São Pedro, antes de celebrar a missa que marcará o ato final do Jubileu 2025. Nessa ocasião, o papa convidará os peregrinos a se encontrarem novamente em Roma em 2033, para o Ano Santo Extraordinário da Redenção.
As portas santas, como manda a tradição, eram só as das quatro basílicas papais em Roma: basílica de São Pedro, basílica de São João de Latrão, basílica de Santa Maria Maior e basílica de São Paulo Fora dos Muros. Em 26 de dezembro, dois dias depois da inauguração oficial do Ano Santo, Francisco abriu uma exceção: foi à prisão de Rebibbia, em Roma, para repetir o gesto em outra porta, como símbolo de esperança.
O papa argentino quis estender esse gesto de graça aos prisioneiros, abrindo as portas dessa penitenciária na capital italiana.
Até o momento, não há nenhum anúncio oficial sobre a data em que ocorrerá o rito de encerramento da quinta porta santa.
Dignidade da pessoa e das famílias deve estar no centro do sistema de trabalho, diz Leão XIV
19 de dez de 2025 às 09:19
O papa Leão XIV defendeu um sistema de trabalho a serviço dos indivíduos e das famílias, para que a dignidade de cada trabalhador seja reconhecida e suas reais necessidades sejam atendidas.
Numa audiência ontem (18) no Vaticano com membros da Ordem dos Consultores do Trabalho da Itália, o papa falou sobre três aspectos que considera particularmente importantes no mundo dos negócios: a dignidade da pessoa, a mediação e a promoção da segurança.
No início de seu discurso no palácio Apostólico, no Vaticano, Leão XIV disse que no centro de qualquer dinâmica de trabalho "não devem estar nem o capital, nem as leis do mercado, nem o lucro, mas a pessoa, a família e o seu bem, em relação aos quais tudo o mais funciona".
Assim, ele disse que os trabalhadores devem “ser reconhecidos em sua dignidade” e receber respostas concretas às suas reais necessidades, especialmente as das jovens famílias, dos pais com filhos pequenos e daqueles que cuidam de idosos e doentes”.
“Essas são necessidades”, disse ele, “que nenhuma sociedade verdadeiramente civilizada pode se dar ao luxo de esquecer ou negligenciar”. Especialmente hoje, quando a inteligência artificial (IA) e a tecnologia “gerenciam e moldam cada vez mais nossas atividades”. Assim, o papa falou sobre a necessidade urgente de as pessoas se comprometerem a garantir que as empresas sejam caracterizadas “como comunidades humanas e fraternas”.
Leão XIV defendeu o estabelecimento de uma mediação justa entre gestores e funcionários, evitando a "burocratização excessiva das relações" e o "distanciamento e o afastamento da realidade".
Ele exortou os conselheiros trabalhistas a “manter sempre os olhos bem abertos para as pessoas à sua frente, especialmente aquelas que estão em dificuldade e têm menos oportunidades de expressar suas necessidades e reivindicar seus direitos”, um “grande ato de justiça e caridade”, segundo o papa.
Por fim, Leão XIV falou sobre a importância de promover a segurança no local de trabalho e lamentou os vários acidentes que ocorrem no ambiente profissional. "Prevenir é melhor que remediar", disse ele.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
Hoje é celebrada Nossa Senhora do Ó, a expectativa pelo nascimento de Jesus
Nossa Senhora do ÓPor Redação central
18 de dez de 2025 às 00:01
Diz o Evangelho que “Maria guardava todas as coisas em seu coração” (Lc 2,19). E este mesmo coração guardou as aspirações santas da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. É isto o que o Igreja celebra hoje,18 de dezembro, com a festa da Expectação do parto de Nossa Senhora, popularmente chamada de Nossa Senhora do Ó.
Esta devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, na época do X Concílio, presidido pelo Arcebispo Santo Eugênio, quando se estipulou que a festa da Anunciação fosse transferida para o dia 18 de dezembro.
Santo Eugênio foi sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, que determinou que a festa fosse celebrada neste mesmo dia, mas com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria.
Esta festa ressalta não apenas os anseios da Virgem Maria por ter o Menino Jesus em seus braços, mas também as expectativas de milhares de gerações que suspiram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva. Todo esse ardoroso desejo da humanidade se recolhe e concentra no coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos.
A denominação de Nossa Senhora do Ó se deu em razão das antífonas cantadas entre os dias 17 e 23 de dezembro antes e depois da recitação do Magnificat na oração das vésperas. Todas elas começam por uma invocação a Jesus, que, no entanto, nunca é chamado pelo nome, e todas incluem o apelo “Vinde”.
Essas antífonas começam sempre pela interjeição exclamativa Ó, como expoente altíssimo do fervor e ardente desejo da Igreja, que suspira pela vinda pronta de Jesus. Isso inspirou o povo espanhol a este título de Nossa Senhora.
Tais antífonas são inspiradas pelos textos do Antigo Testamento que anunciam o Messias. Desde a primeira à última, Jesus é invocado como Sabedoria, Senhor, Raiz, Chave, Estrela, Rei e Emanuel.
Em latim, essas palavras são Sapientia, Adonai, Radix, Clavis, Oriens, Rex, Emmanuel. Ao ler apenas as suas iniciais da última para a primeira, forma-se o acróstico “Ero Cras”, que pode ser traduzido como “Virei amanhã”. É a proclamação do Senhor que vem.
No Brasil, o culto e a devoção a Nossa senhora do Ó chegou por meio dos portugueses, tendo se popularizado com a freguesia de Nossa Senhora do Ó, em São Paulo (SP).
A imagem de Nossa Senhor do Ó, geralmente, é representada com Maria tendo a mão esquerda espalmada sobre o ventre sagrado desenvolvido; a mão direita pode também aparecer em simetria à outra ou levantada.
Para celebrar esta data, trazemos a seguir a oração de Nossa Senhora do Ó:
Doce Virgem Maria, cujo coração foi por Deus preparado para morada do Verbo feito carne, pelas inefáveis alegrias da expectação de vosso santíssimo parto, ensinai-nos as disposições perfeitas de uma íntegra pureza no corpo e na alma, de uma humildade profunda no espírito e no coração, de um ardente e sincero desejo de união com Deus, para que o meigo fruto de vossas benditas entranhas, venha a nascer misericordiosamente em nossos corações, a eles trazendo a abundância dos dons divinos, para redenção dos nossos pecados, santificação de nossa vida e obtenção de nossa coroa no Paraíso, em vossa companhia. Assim seja. Amém.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
December 17, 2025 General Audience- Pope Leo XIV
LEÃO XIV
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo, Nossa Esperança. IV. A Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo de hoje. 8. A Páscoa como refúgio do coração inquieto
Saudação na Sala Paulo VI
Bom dia a todos! Good morning! Welcome!
Faço uma breve saudação e uma bênção a cada um de vós.
Hoje, quisemos proteger-vos um pouco das intempéries, sobretudo do frio... Não está a chover, mas talvez assim estejais um pouco mais confortáveis. Depois, podeis acompanhar a Audiência nos ecrãs ou, se preferirem, podeis até sair. No entanto, aproveitemos este pequeno encontro mais pessoal para vos cumprimentar, oferecer-vos a bênção do Senhor e também bons votos. Já nos aproximamos das festas de Natal e queremos pedir ao Senhor que a alegria desta época natalícia vos acompanhe a todos: às vossas famílias, aos vossos entes queridos, e que estejais sempre nas mãos do Senhor, com a confiança e o amor que só Deus nos pode dar.
Ofereço a minha bênção a todos agora e então passo para cumprimentar-vos.
Bênção
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Estimados irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
A vida humana é caraterizada por um movimento constante que nos impele a fazer, a agir. Hoje, em toda a parte, exige-se rapidez no alcance de resultados ótimos nos âmbitos mais diversificados. De que modo a ressurreição de Jesus ilumina este traço da nossa experiência? Quando participarmos na sua vitória sobre a morte, descansaremos? A fé diz-nos: sim, descansaremos! Não ficaremos inativos, mas entraremos no descanso de Deus, que é paz e júbilo! Bem, devemos apenas esperar, ou isto pode mudar-nos desde já?
Estamos absorvidos por muitas atividades, que nem sempre nos satisfazem. Muitas das nossas ações têm a ver com coisas práticas, concretas. Devemos assumir a responsabilidade de muitos compromissos, resolver problemas, enfrentar dificuldades. Também Jesus se envolveu com as pessoas e com a vida, sem se poupar, mas entregando-se até ao fim. No entanto, muitas vezes compreendemos que fazer demasiado, em vez de nos dar plenitude, torna-se um turbilhão que nos atordoa, que nos priva da serenidade, que nos impede de viver da melhor forma o que é realmente importante para a nossa vida. Então, sentimo-nos cansados, insatisfeitos: o tempo parece dispersar-se em mil coisas práticas que, contudo, não resolvem o derradeiro significado da nossa existência. Às vezes, no final de dias cheios de atividades, sentimo-nos vazios. Porquê? Porque não somos máquinas, temos um “coração”, ou melhor, podemos dizer que somos um coração.
O coração é o símbolo de toda a nossa humanidade, síntese de pensamentos, sentimentos e desejos, o centro invisível da nossa pessoa. O evangelista Mateus convida-nos a refletir sobre a importância do coração, citando esta maravilhosa frase de Jesus: «Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração» (Mt 6, 21).
Portanto, é no coração que se conserva o verdadeiro tesouro, não nos cofres da terra, não nos grandes investimentos financeiros, hoje mais do que nunca enlouquecidos e injustamente concentrados, idolatrados ao preço sangrento de milhões de vidas humanas e da devastação da criação de Deus.
É importante refletir sobre estes aspetos, pois nos inúmeros compromissos que enfrentamos continuamente sobressai cada vez mais o risco da dispersão, por vezes do desespero, da falta de sentido, até em pessoas aparentemente bem-sucedidas. Pelo contrário, ler a vida sob o sinal da Páscoa, olhar para ela com Jesus Ressuscitado, significa encontrar o acesso à essência da pessoa humana, ao nosso coração: cor inquietum. Com este adjetivo “inquieto”, Santo Agostinho leva-nos a compreender o impulso do ser humano orientado para a sua plena realização. A frase integral remete para o início das Confissões, onde Agostinho escreve: «Senhor, criaste-nos para ti e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansar em ti» (I, 1, 1).
A inquietação é o sinal de que o nosso coração não se move por acaso, de modo desordenado, sem um fim nem uma meta, mas está orientado para o seu destino último, o “regresso a casa”. E o verdadeiro destino do coração não consiste na posse dos bens deste mundo, mas em alcançar aquilo que pode preenchê-lo plenamente, ou seja, o amor de Deus, ou melhor, Deus-Amor. No entanto, este tesouro só se acha amando o próximo que se encontra ao longo do caminho: irmãos e irmãs em carne e osso, cuja presença interpela e questiona o nosso coração, chamando-o a abrir-se e a doar-se. O próximo pede-nos para ir mais devagar, para o fitar nos olhos, às vezes para mudar de programa, talvez até para mudar de direção.
Caríssimos, eis o segredo do movimento do coração humano: voltar à nascente do seu ser, desfrutar do júbilo que não esmorece, que não desilude. Ninguém pode viver sem um significado que vá além do contingente, além daquilo que passa. O coração humano não pode viver sem esperar, sem saber que foi feito para a plenitude, não para a falta.
Com a sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus Cristo deu um fundamento sólido a esta esperança. O coração inquieto não ficará desiludido, se entrar no dinamismo do amor para o qual é criado. O destino é certo, a vida venceu e, em Cristo, continuará a vencer em cada morte do dia a dia. Eis a esperança cristã: bendigamos e demos graças sempre ao Senhor que no-la concedeu!
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Saudações:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, bem-vindos! Estamos na novena de Natal que, rica de tradições em algumas das vossas comunidades, se torna para todos uma renovada oportunidade de aliviar o coração, preparando-o ao iminente nascimento do Filho de Deus. Que Nossa Senhora da Esperança vos acompanhe neste empenho espiritual e vos proteja sempre, a vós e às vossas famílias. O Senhor vos abençoe!
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Resumo da catequese do Santo Padre:
A nossa vida é caracterizada por constante movimento: assumimos inúmeros encargos, temos de enfrentar muitas dificuldades. Também Jesus o fez, envolvendo-se com os nossos problemas e dando-se até ao fim. Porém, por vezes, toda esta atividade não nos realiza, antes nos dispersa, cansa e impede de valorizar o que é mais importante. Isto diz-nos que nós não somos máquinas: somos um coração inquieto. Tal inquietude revela-nos que o coração não se move ao acaso; ele tem um fim, que não está nos bens terrenos, mas no amor de Deus, o único capaz de o preencher. Compreender isto à luz da Páscoa e viver com Jesus Ressuscitado, permite-nos aceder à essência da vocação de cada pessoa humana.
Copyright © Dicastério para a Comunicação - Libreria Editrice Vaticana
Presos vão a Roma com autorização especial para o Jubileu
16 de dez de 2025 às 13:04
O último grande evento do Jubileu da Esperança foi dedicado a detentos de todo o mundo, que, ao longo do último fim de semana, estiveram perto do papa Leão XIV.
Víctor Aguado, diretor do ministério penitenciário de Valência, Espanha, acompanhou um grupo de presos a Roma, muitos dos quais estão presos há mais de 12 anos.
Uma autorização especial
O grupo era composto por 13 pessoas da cidade de Valência, entre elas presos, voluntários e o capelão. Seis deles estavam detidos na segunda e terceira etapas do sistema prisional — regimes que combinam confinamento com liberdade supervisionada — e, por isso, tiveram que obter uma série de autorizações da Junta de Tratamento, da Secretaria Geral e das Instituições de Supervisão. “Foi um longo processo burocrático, mas não tivemos nenhum problema”, disse Aguado.
Ele diz que escolheram presos que conhecem há muito tempo. Os que estão na terceira etapa do sistema prisional estão num regime de semiliberdade e vivem em casas de acolhimento, enquanto os da segunda etapa geralmente participam de oficinas e colaboram com tudo o que a equipe pastoral propõe. "São pessoas de fé que frequentam a missa, e sabíamos que, dada a sua situação e atitude, eles precisavam disso e não recusariam", diz ela.
“Eles queriam estar muito bem preparados, livres de fardos, e participar da missa de domingo completamente purificados e em paz consigo mesmos”, diz Aguado, que falou sobre a passagem pela porta santa como um dos momentos mais comoventes do Jubileu. “Com a peregrinação, os detentos assumiram uma nova responsabilidade e um novo caminho, uma nova vida, e a sensação de que agora precisam fazer as coisas direito”.
A esperança que derruba muros
Aguado falou sobre a alegria deles ao ver o papa, já que para eles “ele é a representação do Senhor na Terra”. Ele disse que a missa de domingo com o papa foi “muito simples e, embora tenha sido em italiano, foi perfeitamente compreensível”.
“A esperança transcende tudo, derruba as barreiras de qualquer lugar, e a dignidade das pessoas é inabalável, e foi isso que elas nos transmitiram nos três dias que passamos em Roma”, disse ele. “Foram sentimentos muito íntimos, e elas dividiram sua alegria conosco; todos tinham um semblante de paz”.
Para Aguado — que trabalha com detentos há 14 anos — o fato de esse evento ter encerrado o Jubileu não é mera coincidência. “O mundo das prisões é invisível, e precisamos começar a considerar que as pessoas que foram julgadas são libertadas e precisam se reintegrar à vida normal, e isso depende da sociedade”, diz ele.
“Sabemos que o Senhor perdoa tudo, então quem somos nós para não perdoar essas pessoas e estigmatizá-las?”, diz Aguado. “Elas são chamadas de ex-presidiários, mas não são nada mais do que pessoas, com toda a sua dignidade e liberdade”.
Embora tenha dito que o Senhor “sempre os acompanha e caminha com eles”, ele falou sobre a urgência de ver os prisioneiros como membros vivos da Igreja e apelou para a responsabilidade de cada cristão:
“Às vezes, consideramos as obras de misericórdia como garantidas, mas nem sempre as colocamos em prática. O Senhor nos desafia: Eu estive na prisão, e a pergunta permanece a mesma: Vocês vieram me visitar?”
Há muitas vidas que precisam ser resgatadas
O padre italiano Raffaele Grimaldi, que deixou a capelania na prisão de Secondigliano, em Nápoles, Itália — onde serviu a detentos por 23 anos — para coordenar 230 padres que cuidam dos cerca de 62 mil detentos em toda a Itália, também participou do Jubileu.
Ele disse à ACI Prensa que esse evento “é um forte lembrete de que a Igreja deseja levar o amor e a misericórdia de Deus às prisões, indo em busca do que está perdido”.
Segundo o padre Grimaldi, o Jubileu “trouxe à luz as situações mais difíceis que vivemos em nossas prisões e o drama dos presos: superlotação, falta de recursos, suicídios, a pobreza que se alastra em nossas prisões, abandono, falta de trabalho e, sobretudo, a falta de aceitação por parte da sociedade”.
O padre levou vários detentos de diferentes prisões italianas, especialmente jovens e um detento que cumpria pena de prisão perpétua, diante do papa Leão XIV. "Foi um momento de grande alegria para eles", disse ele.
“Todo prisioneiro precisa ouvir continuamente uma palavra de misericórdia: pessoas que não julgam, que não apontam o dedo, que não condenam, mas que acolhem”, diz Grimaldi.
O padre diz que esse Jubileu não foi um evento isolado, pois ao longo do ano houve preparação espiritual nos centros penitenciários, onde "anunciar a esperança é uma grande palavra que ressoa profundamente no coração de todos".
O padre Grimaldi diz que essas pessoas “cometeram erros” e estão cumprindo pena por isso, mas, ele exorta os fiéis a “estender a mão a elas para que possam retomar suas vidas e mudá-las”, com uma justiça acompanhada de misericórdia, “para que a própria justiça não se torne vingança”.
Em seus anos de serviço em prisões, ele diz ter conhecido muitas pessoas que trilharam um belo caminho espiritual, “como um jovem albanês que, precisamente no dia 12 de dezembro, recebeu o sacramento do Batismo”.
“Isso nos faz entender que em nossas prisões existem muitas vidas que precisam ser resgatadas e ajudadas, porque se essas possibilidades não existirem, o prisioneiro morre por dentro, e nós também matamos a esperança que existe em seu coração”, diz o padre italiano.