Se a compaixão é a linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença
é a linguagem humana, disse o Papa Francisco ao celebrar a missa na capela da
Casa Santa Marta.
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
Abrir o coração à
compaixão e não fechar-se na indiferença. Este foi o convite que o Papa
Francisco fez esta manhã (17/09) ao celebrar a missa na Casa Santa Marta. A
compaixão, de fato, nos leva para o caminho da verdadeira justiça”,
salvando-nos assim do fechamento em nós mesmos.
Sentiu
compaixão
Toda a reflexão foi feita
a partir do trecho do Evangelho de Lucas da liturgia de hoje (Lc 7,11-17), em
que é narrado o encontro de Jesus com a viúva de Naim, que chora a morte do seu
único filho, enquanto é levado ao túmulo.
O evangelista diz que
Jesus “sentiu compaixão para com ela”, como se fosse “foi vítima da compaixão”,
explicou o Papa. Havia muita gente que acompanhava aquela mulher, mas Jesus viu
a sua realidade: ficou sozinha hoje e até o final da vida, é viúva, perdeu o
único filho. É propriamente a compaixão que faz compreender profundamente a
realidade:
A compaixão faz ver as
realidades como são; a compaixão é como a lente do coração: nos faz entender
realmente as dimensões. E no Evangelho, Jesus sente muitas vezes compaixão. A
compaixão também é a linguagem de Deus. Não começa, na Bíblia, a aparecer com
Jesus: foi Deus quem disse a Moisés “vi a dor do meu povo” (Ex 3,7); é a
compaixão de Deus, que envia Moisés a salvar o povo. O nosso Deus é um Deus de
compaixão, e a compaixão é – podemos dizer – a fraqueza de Deus, mas também a
sua força. Aquilo que de melhor dá a nós: porque foi a compaixão que o levou a
enviar o Filho a nós. É uma linguagem de Deus, a compaixão.
A compaixão
não é pena
A compaixão “não é um
sentimento de pena” que se sente, por exemplo, quando vemos morrer um cachorro
na rua: “coitadinho, sentimos um pouco de pena”, afirmou Francisco. Mas é
“envolver-se no problema dos outros, é arriscar a vida ali”. O Senhor, de fato,
arrisca a vida e vai.
Outro exemplo feito pelo
Papa Francisco vem do Evangelho da multiplicação dos pães, quando Jesus diz aos
discípulos que deem de comer à multidão que o seguiu, enquanto eles preferiam
que fosse embora. “Os discípulos eram prudentes”, notou o Papa.
”Eu creio que naquele
momento Jesus tenha ficado bravo, no coração”, prosseguiu Francisco,
considerando a resposta que deu: ‘Deem vocês de comer!’”. O seu convite é para
cuidar das pessoas, sem pensar que depois de um dia assim poderiam ir aos
vilarejos para comprar pão. “O Senhor, diz o Evangelho, sentiu compaixão porque
via aquelas pessoas como ovelhas sem pastor”, recordou o Papa. De um lado,
portanto, o gesto de Jesus, a compaixão e, de outro, a atitude egoísta dos
discípulos, que “buscam uma solução sem se comprometer”, sem sujar as mãos,
como dizendo: “que se virem”:
E se a compaixão é a
linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença é a linguagem humana. Cuidar até
certo ponto e não pensar além. A indiferença. Um dos nossos fotógrafos, do
l’Osservatore Romano, tirou uma foto que agora está na Esmolaria, que se chama
“Indiferença”. Já falei outras vezes disto. Uma noite de inverno, diante de um
restaurante de luxo, uma senhora que vive na rua estende a mão a outra senhora
que sai, bem coberta, do restaurante, e esta senhora olha para o outro lado.
Esta é a indiferença. Vejam aquela foto: esta é a indiferença. A nossa
indiferença. Quantas vezes olhamos para o outro lado… E assim fechamos a porta
para a compaixão. Podemos fazer um exame de consciência: eu habitualmente olho
para o outro lado? Ou deixo que o Espírito Santo me leve para o caminho da
compaixão? Que é uma virtude de Deus…
A seguir, o Papa se
dissecomovido com uma palavra do Evangelho de hoje, quando Jesus diz a esta
mãe: “Não chore”. “Uma carícia de compaixão”, afirmou Francisco. Jesus toca no
caixão, ordenando ao jovem que levante. O jovem então fica sentado e começa a
falar. E o Papa ressaltou propriamente o final: “E Jesus o entregou à sua mãe”:
Ele o entregou: um ato de
justiça. Esta palavra se usa na justiça: restituir. A compaixão nos leva para o
caminho da verdadeira justiça. É preciso sempre devolver àqueles que têm certo
direito, e isso nos salva sempre do egoísmo, da indiferença, do fechamento em
nós mesmos. Continuemos a Eucaristia de hoje com esta palavra: “O Senhor sentiu
compaixão”. Que Ele tenha também compaixão de cada um de nós: nós precisamos
disso.
(vaticannews)
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