quinta-feira, 24 de setembro de 2020

“O grito da selva": carta dos povos amazônicos à 75ª Assembleia da ONU



“Na Amazônia, também não podemos respirar”, assim inicia a carta enviada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) aos líderes presentes na 75ª Assembleia Geral da ONU. Um “Grito da Selva”, para que sejam tomadas medidas concretas para a proteção da Casa Comum


                                                                                                                    Jane Nogara – Vatican News


No dia 22 de setembro foi realizado um encontro da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) para lançar o “Grito da Selva”. O evento contou com a participação do cardeal Cláudio Hummes presidente da REPAM com a coordenação de José Gregório Diaz Mirabal. A temática do encontro: “A Amazônia diante da sua pior crise: Covid-19, incêndio, violências e mudanças climáticas”.


Carta aberta à ONU


No final do encontro foi apresentada uma Carta aberta a todos os líderes reunidos na 75ª Assembleia Geral da ONU: “Na Amazônia, também não podemos respirar”.

A carta apela fundamentalmente para que as decisões a serem tomadas não sejam em vão e principalmente que os povos nativos sejam consultados. Os povos amazônicos recordam à 75ª Assembleia da ONU: “Estamos aqui, quase sem poder respirar devido à fumaça dos incêndios em nossas florestas ou pela intensidade da Covid-19 em nossos corpos. Apesar disso, estamos fazendo todo o possível para conter simultaneamente o avanço do fogo, do vírus e das invasões, em uma batalha desigual para sobreviver e garantir a sobrevivência de toda a humanidade”.


Uso de recursos naturais


Ao comentar as decisões que poderão ser tomadas em relação ao meio ambiente na Amazônia, a Coordenação pede aos líderes da ONU “para se comprometam em respeitar e incorporar nossas práticas de uso sustentável dos recursos naturais, se quisermos sobreviver. Omitir isto seria cair num discurso desonesto e vazio, porque não haverá outra maneira de recuperar nossas economias se não estivermos levando a sério a recuperação de nossos ecossistemas naturais”.


Desmatamento zero


Segue uma reflexão sobre a atual situação que deve ser considerada pelos líderes:


“Pedimos que se comprometam a manter pelo menos 80% da Amazônia intacta e que nossos territórios sejam reconhecidos para que possamos salvaguardar pelo menos metade da terra na próxima década. Temos apenas 10 anos para reflorestar e, ao mesmo tempo, atingir o desmatamento zero. Será difícil, mas não impossível”


Ações concretas


Por fim a Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica recorda aos líderes que “diante de uma Amazônia em um ponto sem retorno e suas sérias implicações para o clima e a segurança alimentar global, exigimos responsabilidade, onde o discurso seja apoiado por ações concretas”, com as seguintes medidas fundamentais para a sobrevivência: “precisamos reavivar o Acordo de Paris e evitar acordos comerciais extrativos, e que os bancos deixem de financiar projetos prejudiciais à Amazônia”.


Concluindo o grupo de Coordenação da COICA recorda ao mundo, "é irônico que na Amazônia estejamos usando máscaras para lidar com a fumaça enquanto procuramos controlá-la ou procurando tubos de oxigênio para que nosso povo sobreviva à cruel Covid-19. Porque temos que dizê-lo: na Amazônia, também não podemos respirar”.

A Carta é assinada pela Coordenação e pelos representantes de mais de 3 milhões de habitantes indígenas que compõem mais de 500 povos originários da bacia e do bioma amazônico.



(vaticannews)


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