sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Hoje é celebrado são Silvestre, Papa
REDAÇÃO CENTRAL, 31 dez. 21 / 05:00 am (ACI).- São Silvestre nasceu em Roma, foi eleito papa em 314, a um ano do edito de Milão, por meio do qual o imperador Constantino concedeu liberdade de culto aos cristãos.
No período do seu pontificado, viu-se aflorar uma perigosa agitação doutrinária, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade.
Diante disso, Constantino convocou bispos para abordar a questão. O papa enviou seus representantes Ósio, bispo de Córdova, e dois presbíteros.
Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra.
Os padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou outorgada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por São Silvestre.
Constantino também doou ao papa Silvestre o palácio imperial de Latrão, que foi a residência papal até Leão XI. Junto a esse palácio, mais tarde, foi construída a Basílica de São João de Latrão.
Foi também em seu pontificado que se ergueu a antiga Basílica de São Pedro.
São Silvestre I morreu em 31 de dezembro de 335 e foi sepultado no cemitério de Priscila. Foi o primeiro papa que não morreu mártir, depois de 32 papas. Os seus restos mortais foram transladados por Paulo I (757-767) para a Igreja erguida em sua memória.
Neste último dia do ano, agradeça a Deus pelo ano que passou e peça pelo que se inicia, por intercessão de são Silvestre, com esta oração.
Deus, nosso Pai, hoje é o último dia do ano. Nós vos agradecemos todas as graças que nos concedestes através dos vossos santos. E hoje pedimos a São Silvestre que interceda a vós por nós! Perdoai as nossas faltas, o nosso pecado e dai-nos a graça da contínua conversão.
Renovai as nossas esperanças, fortalecei a nossa fé, abri a nossa mente e os nossos corações, não nos deixeis acomodar em nossas posições conquistadas, mas, como povo peregrino, caminhemos sem cessar rumo aos Novos Céus e à Nova Terra a nós prometidos. Senhor, Deus nosso Pai, que o Vosso Espírito Santo, o Dom de Jesus Ressuscitado, nos mova e nos faça clamar hoje e sempre “Abba! Pai!”
Venha a nós o vosso Reino de paz e de justiça. Renovai a face da Terra, criai no homem um coração novo! Amém.
(acidigital)
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
O Papa: defender a inocência das crianças dos Herodes de hoje
Hoje, 28 de dezembro, é a memória litúrgica dos Santos Inocentes. Num tuíte, Francisco convida a rezar e defender as crianças dos "novos Herodes" que destroem sua inocência.
Isabella Piro – Vatican News
“Os novos Herodes dos nossos dias destroem a inocência das crianças sob o peso do trabalho escravo, da prostituição e da exploração, das guerras e da emigração forçada. #RezemosJuntos hoje por estas crianças e defendamo-las. #SantosInocentes.
Foi o que tuitou o Papa Francisco em sua conta @Pontifex na memória litúrgica dos Santos Inocentes celebrada nesta terça-feira (28/12), que lembra as crianças de Belém de até dois anos, mortas pelo Rei Herodes a fim de eliminar o Menino Jesus, anunciado pelas profecias como o Messias e novo rei de Israel.
152 milhões os menores obrigados a trabalhar
Hoje, como no passado, os Herodes ainda são muitos e há muitas armas que eles usam para destruir a inocência das crianças. Segundo o último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado em março de 2021, ainda existem 152 milhões de crianças e adolescentes, 64 milhões são meninas e 88 milhões são meninos, vítimas do trabalho infantil. Metade deles, 73 milhões, são obrigados a realizar trabalhos perigosos que põem em risco sua saúde, segurança e desenvolvimento moral. Muitos deles vivem em contextos de guerra e desastres naturais onde lutam para sobreviver, revistando nos destroços ou trabalhando nas ruas. Outros são recrutados como crianças soldados para lutar em guerras travadas por adultos.
Os "comerciantes da morte" devoram a inocência das crianças
Um fenômeno dramático e inaceitável contra o qual o próprio Papa Francisco levantou a voz em 2016, numa Carta aos bispos publicada em 28 de dezembro daquele ano: convidando os prelados a terem a coragem de defender os menores de tudo que "devora" sua inocência, o Pontífice recordou que "milhares de nossas crianças caíram nas mãos de bandidos, máfias, comerciantes da morte que só exploram as suas necessidades". Francisco citou os milhões de crianças sem instrução, vítimas do "tráfico sexual", menores obrigados a "viver fora de seus países por causa do deslocamento forçado", crianças que morrem de desnutrição e vítimas do trabalho escravo.
Nunca mais essas atrocidades!
"Se a situação mundial não mudar", escreveu o Papa, citando estimativas do UNICEF, "em 2030 haverá 167 milhões de crianças que viverão na pobreza extrema, 69 milhões de crianças menores de 5 anos que morrerão até 2030 e 60 milhões de crianças que não poderão frequentar a escola primária". Francisco não esqueceu “o sofrimento, a história e a dor dos menores abusados sexualmente por sacerdotes”: “Um pecado que nos envergonha”, sublinhou, que devemos “deplorar profundamente” e pelo qual “pedimos perdão”. Daí o apelo do Pontífice a "renovar todos os nossos compromissos para que estas atrocidades não aconteçam mais entre nós".
"O nosso silêncio é cúmplice"
As palavras de Francisco de 2016 recordam as da mensagem Urbi et Orbi do Natal de 2014, durante a qual o Pontífice dirigiu um pensamento a "todas as crianças mortas e maltratadas hoje, as que são antes de verem a luz, privadas do amor generoso dos pais e sepultadas no egoísmo de uma cultura que não ama a vida, as crianças deslocadas por guerras e perseguições, abusadas e exploradas diante de nossos olhos e de nosso silêncio cúmplice; e as crianças massacradas sob os bombardeios, inclusive onde nasceu o filho de Deus”. "Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes", sublinhou Francisco. Hoje, a sombra de Herodes está presente sobre o seu sangue. Realmente, há muitas lágrimas neste Natal, junto com as lágrimas do Menino Jesus!”
O recurso da oração
Mas há uma resposta a tudo isso, "à tragédia da matança de seres humanos indefesos, ao horror do poder que despreza e reprime a vida"? A oração é certamente um recurso, como o próprio Papa explicou na Audiência Geral de 4 de janeiro de 2017: "Quando alguém vem a mim e me faz perguntas difíceis, por exemplo: 'Diga-me, Padre: por que as crianças sofrem?', eu realmente não sei o que responder. Eu só digo: 'Olhe para o Crucifixo: Deus nos deu seu Filho, Ele sofreu, e talvez ali você encontrará uma resposta'. (...) Somente olhando para o amor de Deus que dá seu Filho, que oferece sua vida por nós, ele pode indicar alguma forma de consolo; sua Palavra é definitivamente uma palavra de consolo, porque nasce do pranto".
(vaticannews)
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
AUDIÊNCIA GERAL (Texto)
PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira 29 de dezembro de 2021
Catequese sobre São José 5. São José, migrante perseguido e corajoso
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de vos apresentar São José como um migrante perseguido e corajoso. Assim o descreve o Evangelista Mateus. Esta particular vicissitude da vida de Jesus, que vê como protagonistas também José e Maria, é tradicionalmente conhecida como “a fuga para o Egito” (cf. Mt 2, 13-23). A família de Nazaré sofreu tal humilhação e experimentou em primeira pessoa a precariedade, o medo e a dor de ter que deixar a sua terra. Ainda hoje muitos dos nossos irmãos e irmãs são obrigados a viver a mesma injustiça e sofrimento. A causa é quase sempre a prepotência e a violência dos poderosos. Isto aconteceu também com Jesus.
Através dos Magos, o rei Herodes toma conhecimento do nascimento do “rei dos Judeus”, e a notícia perturba-o. Sente-se inseguro, sente-se ameaçado no seu poder. Assim reúne todas as autoridades de Jerusalém para se informar sobre o lugar do nascimento, e pede aos Magos para lho comunicarem com exatidão, a fim de que - diz falsamente - também ele possa ir adorá-lo. No entanto, compreendendo que os Magos tinham partido por outro caminho, concebeu um propósito nefasto: matar todas as crianças de Belém até aos dois anos, pois de acordo com o cálculo dos Magos, tal era a época em que Jesus tinha nascido.
Entretanto, um anjo ordena a José: « Levanta-te, toma o Menino e Sua Mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o Menino para O matar» (Mt 2, 13). Pensemos em tantas pessoas que hoje sentem esta inspiração dentro: “Fujamos, escapemos, porque aqui é perigoso”. O plano de Herodes evoca o do Faraó, de lançar ao Nilo todos os meninos do povo de Israel (cf. Êx 1, 22). E a fuga para o Egito recorda toda a história de Israel, a partir de Abraão, que também viveu ali (cf. Gn 12, 10), até José, filho de Jacob, vendido pelos irmãos (cf. Gn 37, 36), tornando-se depois “chefe do país” (cf. Gn 41, 37-57); e a Moisés, que libertou o seu povo da escravidão dos egípcios (cf. Êx 1, 18).
A fuga da Sagrada Família para o Egito salva Jesus, mas infelizmente não impede que Herodes leve a cabo o seu massacre. Assim, encontramo-nos diante de duas personalidades opostas: por um lado, Herodes com a sua ferocidade e, por outro, José com o seu esmero e a sua coragem. Herodes quer defender o seu poder, a sua “pele” com uma crueldade impiedosa, como atestam também as execuções de uma das suas esposas, de alguns dos seus filhos e de centenas de adversários. Era um homem cruel, para resolver os problemas só tinha uma receita: “eliminar”. Ele é o símbolo de muitos tiranos de ontem e de hoje. E para eles, para estes tiranos, as pessoas não contam: conta o poder, e quando precisam de espaço de poder, eliminam as pessoas. E isto acontece ainda hoje: não temos que ir à história antiga, acontece hoje. É o homem que se torna “lobo” para os outros homens. A história está cheia de personalidades que, vivendo à mercê dos seus temores, procuram vencê-los, exercendo o poder de forma despótica e praticando gestos de violência desumanos. Mas não devemos pensar que só viveremos na perspetiva de Herodes se nos tornarmos tiranos, não! Na realidade, é uma atitude em que todos nós podemos cair, sempre que procuramos afugentar os nossos medos com a prepotência, ainda que seja apenas verbal ou feita de pequenos abusos cometidos para mortificar quem está ao nosso lado. Também nós temos no coração a possibilidade de ser pequenos Herodes.
José é o oposto de Herodes: em primeiro lugar, é «um homem justo» (Mt 1, 19), enquanto Herodes é um ditador; além disso, demonstra-se corajoso ao cumprir a ordem do Anjo. Podemos imaginar as peripécias que teve de enfrentar durante a longa e perigosa viagem, e as dificuldades que enfrentou durante a permanência num país estrangeiro, com outra língua: inúmeras dificuldades! A sua coragem sobressai também na hora do regresso quando, tranquilizado pelo Anjo, supera os seus compreensíveis receios, estabelecendo-se com Maria e Jesus em Nazaré (cf. Mt 2, 19-23). Herodes e José são dois personagens opostos, que refletem as duas faces da humanidade de sempre. É um lugar-comum errado considerar a coragem como virtude exclusiva do herói. Na realidade, a vida quotidiana de cada pessoa – a tua, a minha, de todos nós – exige coragem: não é possível viver sem a coragem! A coragem para enfrentar as dificuldades de cada dia. Em todos os tempos e culturas encontramos homens e mulheres corajosos que, para ser coerentes com a sua crença, superaram toda a espécie de dificuldades, suportando injustiças, condenações e até a morte. Coragem é sinónimo de fortaleza que, com a justiça, a prudência e a temperança, faz parte do grupo de virtudes humanas chamadas “cardeais”.
A lição que José nos deixa hoje é a seguinte: é verdade, a vida apresenta-nos sempre adversidades, perante as quais podemos sentir-nos também ameaçados, amedrontados, mas não é mostrando o pior de nós, como faz Herodes, que podemos superar certos momentos, mas agindo como José, que reage ao medo com a coragem da confiança na Providência de Deus. Hoje acho que é necessária uma oração por todos os migrantes, por todos os perseguidos, por todos aqueles que são vítimas de circunstâncias adversas: quer sejam circunstâncias políticas, históricas ou pessoais. Mas, pensemos em tantas pessoas vítimas das guerras que querem fugir da sua pátria e não conseguem; pensemos nos migrantes que empreendem este caminho para ser livres e muitos morrem ao longo da estrada ou no mar; pensemos em Jesus nos braços de José e Maria, em fuga, e vejamos n’Ele cada um dos migrantes de hoje. A migração de hoje é uma realidade diante da qual não podemos fechar os olhos. É um escândalo social da humanidade!
São José,
vós que experimentastes o sofrimento de quem deve fugir
vós que fostes obrigado a fugir
para salvar a vida dos entes mais queridos,
amparai todos aqueles que fogem por causa da guerra,
do ódio e da fome.
Ajudai-os nas suas dificuldades,
fortalecei-os na esperança e fazei com que encontrem acolhimento e solidariedade.
Guiai os seus passos e abri o coração de quantos os podem ajudar. Amém!
Saudações:
Queridos irmãos e irmãs de língua portuguesa, a minha cordial saudação para todos vós. Desejo a cada um que sempre resplandeça, no vosso coração, família e comunidade, a luz do Salvador, que nos revela o rosto terno e misericordioso do Pai do Céu. Abracemos o Deus Menino, colocando-nos ao seu serviço: Ele é fonte de amor e serenidade. Ele vos abençoe com um Ano Novo sereno e feliz!
Resumo da catequese do Santo Padre:
São José teve de fugir com a família para o Egito, a fim de livrar Jesus das mãos do rei Herodes, que, imaginando n’Ele uma ameaça ao trono, decide matá-Lo. Aquela fuga salvou Jesus, mas infelizmente não impede o massacre dos restantes meninos de Belém com menos de dois anos de idade. Hoje vemos em São José o emigrante perseguido e corajoso, que nos deixa esta lição: a vida sempre nos reserva contrariedades e, à vista delas, podemos sentir-nos ameaçados, amedrontados, mas não é tirando fora o pior de nós mesmos – como fez Herodes – que podemos superar tais momentos, mas comportando-nos como José que reage ao medo com a coragem de se abandonar confiadamente à Providência de Deus. José demonstra ser um homem corajoso ao cumprir a ordem do Anjo, que ordenou a fuga; não é difícil imaginar os sustos e percalços que teve de vencer, bem como as dificuldades que comportou a permanência num país estrangeiro. E a coragem de José vê-se também no regresso depois de tranquilizado pelo Anjo a propósito da morte de Herodes: supera compreensíveis temores e vai, com Maria e Jesus, estabelecer-se em Nazaré. Herodes e José são duas figuras opostas que refletem as duas faces da humanidade de sempre. É ideia comum, mas errada, considerar a coragem como virtude exclusiva dos heróis com as suas façanhas, quando, na realidade, a vida quotidiana duma pessoa requer tanta coragem para enfrentar as dificuldades do dia a dia. E como não lembrar inúmeros homens e mulheres corajosos que, para permanecer coerentes com a sua fé, enfrentaram todo o género de dificuldades, suportando injustiças, derisão pública e até a morte? A coragem é sinónimo de fortaleza, a qual, juntamente com a prudência, a justiça e a temperança, forma o grupo das chamadas «virtudes cardiais», necessárias a todo o homem e mulher sobre a terra.
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terça-feira, 28 de dezembro de 2021
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
domingo, 26 de dezembro de 2021
Santo Estêvão
DIÁCONO, PRIMEIRO MÁRTIR, SÉC. I
Celebrado A 26 De Dezembro
Depois do Pentecostes, os apóstolos dirigiam o anúncio da mensagem cristã aos mais próximos, aos hebreus, aguçando o conflito apenas acalmado da parte das autoridades religiosas do judaísmo. Como Cristo, os apóstolos conheceram logo as humilhações dos flagelos e da prisão, mas apenas libertados das correntes retomam a pregação do Evangelho. A primeira comunidade cristã, para viver integralmente o preceito da caridade fraterna, colocou tudo em comum, repartindo diariamente o que era suficiente para o seu sustento. Com o crescimento da comunidade, os apóstolos confiaram o serviço da assistência diária a sete ministros da caridade, chamados diáconos.
Entre eles sobressaía o jovem Estêvão, que além de exercer as funções de administrador dos bens comuns, não renunciava ao anúncio da Boa Nova, e o fez com tanto sucesso que os judeus “apareceram de surpresa, agarraram Estêvão e levaram-no ao tribunal. Apresentaram falsas testemunhas, que declararam: "Este homem não faz outra coisa senão falar contra o nosso santo templo e contra a Lei de Moisés. Nós até o ouvimos afirmar que esse Jesus de Nazaré vai destruir o templo e mudar as tradições que Moisés nos deixou."
Estêvão, como se lê nos Actos dos Apóstolos, cheio de graça e de força, como pretexto de sua autodefesa, aproveitou para iluminar as mentes de seus adversários. Primeiro, resumiu a história hebraica de Abraão até Salomão, em seguida afirmou não ter falado contra Deus, nem contra Moisés, nem contra a Lei, nem fora do Templo. Demonstrou, de facto, que Deus se revelava também fora do Templo e se propunha a revelar a doutrina universal de Jesus como última manifestação de Deus, mas os seus adversários não o deixaram prosseguir no discurso, "taparam os ouvidos e atiraram-se todos contra ele, em altos gritos. Expulsaram-no da cidade e apedrejaram-no."
Dobrando os joelhos debaixo de uma tremenda chuva de pedra, o primeiro mártir cristão repetiu as mesmas palavras de perdão pronunciadas por Cristo sobre a Cruz: "Senhor, não os condenes por causa deste pecado." Em 415 a descoberta das suas relíquias suscitou grande emoção na cristandade. A festa do primeiro mártir foi sempre celebrada imediatamente após a festividade do Natal.
(evangelhoquotidiano)
CARTA DO SANTO PADRE FRANCISCO
AOS ESPOSOS
POR OCASIÃO DOANO «FAMÍLIA AMORIS LÆTITIA»
Queridos maridos e esposas do mundo inteiro!
Por ocasião do Ano «Família Amoris lætitia», dirijo-me a vós para vos manifestar a minha estima e proximidade neste tempo tão especial que estamos a viver. Sempre tive presente as famílias nas minhas orações, mas mais ainda durante a pandemia que colocou todos duramente à prova, sobretudo os mais vulneráveis. O momento que estamos a atravessar leva-me a aproximar, com humildade, estima e compreensão, de toda a pessoa, casal e família na sua situação concreta.
Este contexto particular convida-nos a viver as palavras com que o Senhor chama Abraão para partir da sua terra e da casa do seu pai rumo a uma terra desconhecida que Ele próprio lhe indicará (cf. Gn 12, 1). Também nós vivemos enormemente a incerteza, a solidão, a perda de entes queridos e fomos impelidos a sair das nossas seguranças, dos nossos espaços de «controle», da nossa forma de fazer as coisas, das nossas ambições, para nos interessarmos não apenas pelo bem da nossa família, mas também pelo da sociedade, que depende igualmente do nosso comportamento pessoal.
A relação com Deus molda-nos, acompanha-nos e coloca-nos em movimento como pessoas e, em última instância, ajuda-nos a «sair da nossa terra», em muitos casos com um certo receio e até medo do desconhecido, mas sabemos, pela nossa fé cristã, que não estamos sozinhos porque Deus está em nós, connosco e no meio de nós: na família, na vizinhança, no local de trabalho ou de estudo, na cidade onde habitamos.
À semelhança de Abraão, cada um dos esposos sai da sua terra desde o momento em que, tendo ouvido a chamada ao amor conjugal, decide dar-se ao outro sem reservas. Assim, o noivado já implica a saída da própria terra, porque exige percorrer juntos o caminho que conduz ao casamento. As diferentes situações da vida – a idade que vai passando, a chegada dos filhos, o trabalho, as doenças – são circunstâncias em que o compromisso mutuamente assumido obriga cada um a abandonar a própria inércia, as certezas, os espaços de tranquilidade para sair rumo à terra que Deus promete: ser dois em Cristo, dois num só, formando uma única vida, um «nós» na comunhão de amor com Jesus, vivo e presente em cada momento da vossa existência. Deus acompanha-vos, ama-vos incondicionalmente. Não estais sozinhos!
Queridos esposos, sabei que os vossos filhos – especialmente os mais novos– vos observam com atenção e procuram em vós o testemunho dum amor forte e fidedigno. «Como é importante, para os jovens, ver com os próprios olhos o amor de Cristo vivo e presente no amor dos esposos, que testemunham com a sua vida concreta que o amor para sempre é possível» [1]. Os filhos são um dom, sempre; mudam a história de cada família. Têm sede de amor, reconhecimento, estima e confiança. A paternidade e a maternidade convidam-vos a ser progenitores para dar aos vossos filhos a alegria de se descobrirem filhos de Deus, filhos dum Pai que os amou ternamente, desde o primeiro instante, e todos os dias os leva pela mão. Esta descoberta pode dar aos vossos filhos a fé e a capacidade de confiar em Deus.
Claro, educar os filhos não é nada fácil. Mas não esqueçamos que também eles nos educam. O primeiro ambiente educativo continua sempre a ser a família, nos pequenos gestos que são mais eloquentes do que as palavras. Educar é, antes de tudo, acompanhar os processos de crescimento, estar presente de várias formas para que os filhos possam contar com os pais em cada momento. O educador é uma pessoa que «gera» em sentido espiritual e sobretudo que «se dá» ao colocar-se em relação. Como pai e mãe, é importante relacionar-se com os filhos partindo duma autoridade conquistada dia após dia. Eles precisam duma segurança que os ajude a sentir confiança em vós, na beleza da vossa vida, na certeza de nunca estarem sozinhos, aconteça o que acontecer.
Por outro lado, como tenho já assinalado, cresceu a consciência da identidade e missão dos leigos na Igreja e na sociedade. Vós tendes a missão de transformar a sociedade com a vossa presença no mundo do trabalho e fazer com que as necessidades das famílias sejam tidas em conta. Também os cônjuges devem “primeirear” [2] no seio da comunidade paroquial e diocesana com as suas iniciativas e criatividade, buscando a complementaridade dos carismas e das vocações como expressão da comunhão eclesial, em particular a comunhão dos «cônjuges ao lado de pastores, para caminhar com outras famílias, para ajudar os mais fracos, para anunciar que, até nas dificuldades, Cristo Se faz presente» [3].
Por isso vos exorto, queridos esposos, a colaborar na Igreja, especialmente na pastoral familiar. Com efeito, «a corresponsabilidade pela missão chama os cônjuges e os ministros ordenados, especialmente os bispos, a cooperar de forma fecunda no cuidado e na tutela das igrejas domésticas» [4]. Lembrai-vos que a família é a «célula fundamental da sociedade» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). O casamento é realmente um projeto de construção da «cultura do encontro» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 216). Por isso, compete às famílias o desafio de lançar pontes entre as gerações para a transmissão dos valores que constroem a humanidade. É necessária uma nova criatividade para expressar, nos desafios atuais, os valores que nos constituem como povo nas nossas sociedades, e como Povo de Deus na Igreja.
A vocação ao casamento é uma chamada para guiar um barco instável – mas seguro, pela realidade do sacramento – em mar às vezes agitado. Quantas vezes tendes vontade de dizer ou, melhor, de gritar como os apóstolos: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (Mc 4, 38). Não esqueçamos que, graças ao sacramento do Matrimónio, Jesus está presente neste barco; olha por vós, permanece convosco a todo o momento, no sobe e desce do barco agitado pelas águas. Noutra passagem do Evangelho, lê-se que os discípulos, encontrando-se em dificuldade, veem Jesus aproximar-Se no meio da tempestade e acolhem-No no barco; assim também vós, quando enfurecer a tempestade, deixai Jesus subir para o barco, porque então, quando «subiu para o barco, para junto deles, o vento amainou» (Mc 6, 51). É importante que, juntos, mantenhais o olhar fixo em Jesus. Só assim tereis a paz, superareis os conflitos e encontrareis soluções para muitos dos vossos problemas: não porque estes tenham desaparecido, mas por serdes capazes de os ver doutra perspetiva.
Só abandonando-se nas mãos do Senhor é que podereis viver o que parece impossível. O caminho é reconhecer a própria fragilidade e impotência que experimentais perante tantas situações ao vosso redor, mas ao mesmo tempo ter a certeza de que assim a força de Cristo se manifesta na vossa fraqueza (cf. 2 Cor 12, 9). Foi precisamente no meio duma tempestade que os apóstolos chegaram a reconhecer a realeza e divindade de Jesus (cf. Mt 14, 33) e aprenderam a confiar n’Ele.
À luz destas referências bíblicas, quero aproveitar a ocasião para refletir sobre algumas dificuldades e oportunidades que as famílias têm vivido neste tempo de pandemia. Por exemplo, aumentou o tempo para estarem juntos, proporcionando uma oportunidade única para cultivar o diálogo em família. Obviamente isto requer um exercício especial de paciência; não é fácil estar juntos o dia todo, quando se tem que trabalhar, estudar, divertir-se e descansar na mesma casa. Que o cansaço não vos vença; possa a força do amor tornar-vos capazes de vos preocupardes mais com o outro – o cônjuge, os filhos – do que com o próprio cansaço. Recordai o que escrevi na Exortação Amoris lætitia (cf. nn. 90-119), ao comentar o hino paulino da caridade (cf. 1 Cor 13, 1-13). Pedi, com insistência, este dom à Sagrada Família; lede uma vez e outra o elogio da caridade, para que seja ela a inspirar as vossas decisões e ações (cf. Rm 8, 15; Gl 4, 6).
Assim, o estar juntos não será uma penitência, mas um refúgio no meio das tempestades. Que a família seja um lugar de acolhimento e compreensão. Guardai no coração o conselho, que dei aos esposos, de usarem estas três palavras: «com licença, obrigado, desculpa» [5]. E, se surgir algum conflito, «nunca termineis o dia sem fazer as pazes» [6]. Não vos envergonheis de ajoelhar, juntos, diante de Jesus na Eucaristia para encontrar momentos de paz e um olhar recíproco feito de ternura e bondade; ou de pegar na mão do outro, quando está um pouco zangado, para lhe arrancar a cumplicidade dum sorriso. Fazei, talvez, uma breve oração, rezada conjuntamente em voz alta à noite antes de adormecerdes com Jesus presente no meio de vós.
Entretanto, para alguns casais, a convivência a que foram forçados durante a quarentena revelou-se particularmente difícil. Os problemas, que já existiam, agravaram-se, gerando conflitos que se tornaram muitas vezes quase insuportáveis. E vários chegaram até à rutura da sua relação, sobre a qual gravava uma crise que não souberam ou não puderam superar. A estas pessoas, desejo manifestar-lhes também a minha proximidade e afeto.
A rutura duma relação conjugal gera muito sofrimento por causa de tantas aspirações malogradas; a falta de entendimento provoca discussões e feridas que não são fáceis de remediar. Nem sequer é possível poupar aos filhos a amargura de ver que os seus pais já não estão juntos. Mesmo assim, não cesseis de buscar ajuda para que se possa dalguma forma superar os conflitos, a fim de que estes não provoquem ainda mais sofrimento entre vós e aos vossos filhos. O Senhor Jesus, na sua infinita misericórdia, inspirar-vos-á o modo de avançar no meio de tantas dificuldades e dissabores. Não deixeis de O invocar e procurar n’Ele um refúgio, uma luz para o caminho e, na comunidade, uma «casa paterna onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 47).
Não esqueçais que o perdão cura todas as feridas. O perdão mútuo é o resultado duma decisão interior que amadurece na oração, na relação com Deus, como um dom que brota da graça com que Cristo cumula o casal quando os dois se voltam para Ele e O deixam agir. Cristo «habita» no vosso casamento e espera que Lhe abrais os vossos corações, para vos apoiar com a força do seu amor, como aos discípulos no barco. O nosso amor humano é frágil, precisa da força do amor fiel de Jesus. Com Ele, podeis verdadeiramente construir a «casa sobre a rocha» (Mt 7, 24).
A propósito, permiti que dirija uma palavra aos jovens que se preparam para o casamento. Se antes da pandemia já era complicado, para os noivos, projetar um futuro pela dificuldade de encontrar um emprego estável, agora aumenta ainda mais a incerteza laboral. Apesar disso convido os noivos a não desanimarem, a terem a «coragem criativa» que teve São José, cuja memória quis honrar neste Ano a ele dedicado. Assim também vós, quando vos virdes com poucos meios para enfrentar o caminho do casamento, mantende viva confiança na Providência divina, porque, «às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter» (Francisco, Carta ap. Patris corde, 5). Não hesiteis em procurar apoio nas vossas famílias e nas vossas amizades, na comunidade eclesial, na paróquia, para viverdes a futura vida conjugal e familiar, aprendendo de quantos já passaram pelo caminho que estais a começar.
Antes de concluir, desejo enviar uma saudação especial aos avôs e às avós que se viram impossibilitados, durante o período de isolamento, de ver os netos e estar com eles, às pessoas idosas que sofreram de maneira ainda mais dura a solidão. A família não pode prescindir dos avós, pois são a memória viva da humanidade; «esta memória pode ajudar a construir um mundo mais humano, mais acolhedor» [7].
São José inspire a todas as famílias a coragem criativa, tão necessária nesta mudança de época que estamos a viver, e Nossa Senhora acompanhe na vossa vida conjugal a gestação da cultura do encontro, tão urgente para superar as adversidades e os contrastes que obscurecem o nosso tempo. Os numerosos desafios não podem roubar a alegria a quantos sabem que estão a caminhar com o Senhor. Vivei intensamente a vossa vocação. Não deixeis ensombrar os vossos rostos com uma fisionomia triste; o vosso marido ou a vossa esposa tem necessidade do vosso sorriso; os vossos filhos precisam de olhares dos pais que os encorajem. Os pastores e as outras famílias necessitam da vossa presença e da vossa alegria – a alegria que vem do Senhor!
Com afeto, vos saúdo, exortando-vos a prosseguir na vivência da missão que Jesus nos confiou, perseverando na oração e na «fração do pão» (At 2, 42). E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim; todos os dias, o faço por vós.
Fraternamente,
Francisco
Roma, São João de Latrão, na Festa da Sagrada Família, 26 de dezembro de 2021.
[1] Mensagem-vídeo aos participantes no Fórum «A que ponto estamos com a aplicação da Amoris lætitia» (09/VI/2021).
[2] Cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 24.
[3] Mensagem-vídeo aos participantes no Fórum «A que ponto estamos com a aplicação da Amoris lætitia» (09/VI/2021).
[4] Ibidem.
[5] Discurso às famílias do mundo inteiro por ocasião da sua peregrinação a Roma no Ano da Fé (26/X/2013); cf. Idem,Exort. ap. pós-sinodal Amoris lætitia, 133.
[6] Catequese no dia 13/V/2015; cf. Exort. ap. pós-sinodal Amoris lætitia, 104.
[7] Mensagem para o I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos «Eu estou contigo todos os dias» (31/V/2021).
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ANGELUS (Texto)
FESTA DA SANTA FAMÍLIA DE NAZARÉ
PAPA FRANCESCO
ANGELUS
Praça de São Pedro
Domingo, 26 de dezembro de 2021
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebramos a Sagrada Família de Nazaré. Deus escolheu uma família humilde e simples para vir entre nós. Contemplamos a beleza deste mistério, sublinhando também dois aspectos concretos para as nossas famílias.
A primeira: família é a história de onde viemos . Cada um de nós tem sua própria história, ninguém nasceu magicamente, com uma varinha mágica, cada um de nós tem uma história e a família é a história de onde viemos. O Evangelho da liturgia de hoje nos lembra que Jesus também é filho de uma história familiar. Nós o vemos viajando para Jerusalém com Maria e José para a Páscoa; então ele preocupa a mãe e o pai, que não conseguem encontrá-lo; encontrado novamente, ele volta para casa com eles ( cf.Lk2,41-52). É lindo ver Jesus inserido na teia dos afetos familiares, que nasce e cresce no abraço e na solicitude dos pais. Isso também é importante para nós: viemos de uma história entrelaçada por laços de amor e a pessoa que somos hoje não nasce tanto dos bens materiais que usufruímos, mas do amor que recebemos do amor no seio de a família. Talvez não tenhamos nascido numa família excepcional e sem problemas, mas é a nossa história - todos têm que pensar: é a minha história -, são as nossas raízes: se as cortarmos, a vida seca! Deus não nos criou para sermos líderes solitários, mas para caminharmos juntos. Vamos agradecer e orar por nossas famílias. Deus pensa em nós e nos quer juntos: gratos, unidos, capazes de preservar as raízes. E temos que pensar nisso, na nossa própria história.
O segundo aspecto: ser uma família você aprende todos os dias. No Evangelho vemos que também na Sagrada Família nem tudo está bem: existem problemas inesperados, angústias, sofrimentos. Não existe uma Sagrada Família de pequenas imagens. Maria e José perdoam Jesus e angustiados o procuram, apenas para encontrá-lo depois de três dias. E quando, sentado entre os mestres do Templo, ele responde que deve cuidar das coisas de seu Pai, eles não entendem. Eles precisam de tempo para conhecer seu filho. O mesmo vale para nós: todos os dias, em família, devemos aprender a ouvir e a compreender-nos, a caminhar juntos, a enfrentar os conflitos e as dificuldades. É o desafio diário, e é vencido com a atitude certa, com pequenas atenções, com gestos simples, cuidando dos detalhes das nossas relações. E isso também nos ajuda muito a conversar em família, a conversar à mesa, o diálogo entre pais e filhos, o diálogo entre irmãos nos ajuda a viver essa raiz familiar que vem dos avós. Diálogo com os avós!
E como isso é feito? Olhemos para Maria, que no Evangelho de hoje diz a Jesus: «Teu pai e eu te procuramos» (v. 48). Seu pai e eu , não diga eu e seu pai: antes do mim existe o você! Vamos aprender isso: antes do eu existe o você. Na minha língua existe um adjetivo para quem diz primeiro o eu e depois o você: "Eu, eu e comigo e para mim e para meu proveito". Pessoas que são assim, primeiro o eu depois o você. Não, na Sagrada Família, antes de você e depois de mim. Para preservar a harmonia na família, a ditadura de si mesmo deve ser combatida, quando o ego incha. É perigoso quando, em vez de nos ouvirmos, nos culpamos por erros; quando, em vez de fazermos gestos de cuidado com os outros, nos fixamos em nossas necessidades; quando, em vez de conversar, nos isolamos com o celular - é triste ver uma família almoçando, cada um com seu celular sem falar um com o outro, todos falam ao celular; quando nos acusamos, sempre repetindo as frases de costume, encenando uma comédia já vista em que todos querem estar certos e no final cai um silêncio frio. Aquele silêncio agudo e frio, depois de uma discussão em família, que é ruim, muito ruim! Repito um conselho: à noite, afinal, faça as pazes, sempre. Nunca durma sem ter feito as pazes, senão no dia seguinte haverá uma "guerra fria"! E isso é perigoso porque uma história de censuras vai começar, uma história de ressentimentos. Quantas vezes, infelizmente, os conflitos surgem e crescem no lar devido a longos silêncios e ao egoísmo não tratado! Às vezes, chega até a violência física e moral. Isso rasga a harmonia e mata a família. Vamos converter do eu para o você. O que deve ser mais importante na família é você. E todos os dias, por favor, rezem um pouco juntos, se puderem, para pedir a Deus o dom da paz na família. E vamos todos nos comprometer - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e cuidar da família que é o nosso tesouro! Isso rasga a harmonia e mata a família. Vamos converter do eu para o você. O que deve ser mais importante na família é você. E todos os dias, por favor, rezem um pouco juntos, se puderem, para pedir a Deus o dom da paz na família. E vamos todos nos comprometer - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e cuidar da família que é o nosso tesouro! Isso rasga a harmonia e mata a família. Vamos converter do eu para o você. O que deve ser mais importante na família é você. E todos os dias, por favor, orem um pouco juntos, se puderem, para pedir a Deus o dom da paz na família. E vamos todos nos comprometer - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e cuidar da família que é o nosso tesouro!
A Virgem Maria, esposa de José e mãe de Jesus, proteja as nossas famílias.
___________________________________
Depois do Angelus
Agora me dirijo a recém-casados de todo o mundo.
Hoje, na festa da Sagrada Família, publica-se uma Carta que escrevi a pensar em ti . Quer ser o meu presente de Natal para vocês, esposos: um encorajamento, um sinal de proximidade e também uma oportunidade de meditação. É importante refletir e experimentar a bondade e a ternura de Deus que guia os passos dos esposos no caminho do bem com a mão paterna. O Senhor dê a todos os cônjuges a força e a alegria para continuar o caminho empreendido. Quero também lembrar que nos aproximamos do Encontro Mundial das Famílias: convido-os a se preparar para este evento, especialmente com a oração, e a vivê-lo em suas dioceses, junto com outras famílias.
E por falar em família, tenho uma preocupação, uma preocupação real, pelo menos aqui na Itália: o inverno demográfico. Parece que muitos perderam a aspiração de seguir em frente com filhos e muitos casais preferem ficar sem ou com apenas um filho. Pense nisso, é uma tragédia. Há poucos minutos vi no programa “In His Image” como falavam deste grave problema, o inverno demográfico. Vamos todos fazer o possível para recuperar a consciência, para vencer este inverno demográfico que vai contra nossas famílias contra nossa pátria, até mesmo contra nosso futuro.
Saúdo agora todos vós, peregrinos vindos da Itália e de vários países: - Vejo aqui polacos, brasileiros e também colombianos lá - famílias, grupos paroquiais, associações. Renovo os meus votos de que a contemplação do Menino Jesus, coração e centro das festividades do Natal, suscite atitudes de fraternidade e de partilha nas famílias e nas comunidades. E para festejar um pouco o Natal, convém fazer uma visita ao presépio aqui na praça e aos 100 presépios que estão debaixo da colunata, isso também nos ajudará.
Nestes dias recebi muitas saudações de Roma e de outras partes do mundo. Infelizmente, não tenho como responder a todos, mas oro por cada um e agradeço especialmente pelas orações que tantos de vocês prometeram fazer. Ore por mim, não se esqueça. Muito obrigado e feliz festa da Sagrada Família. Bom almoço e adeus!
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sábado, 25 de dezembro de 2021
MENSAGEM URBI ET ORBI (Texto)
DO PAPA FRANCISCO
NATAL 2021
Balcão central da Basílica Vaticana
Sábado, 25 de dezembro de 2021
Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
A Palavra de Deus, que criou o mundo e dá sentido à história e ao caminho do homem, fez-Se carne e veio habitar entre nós. Apareceu como um sussurro, como o murmúrio duma brisa ligeira, deixando cheio de maravilha o coração de todo o homem e mulher que se abre ao mistério.
O Verbo fez-Se carne para dialogar connosco. Deus não quer construir um monólogo, mas um diálogo. Pois o próprio Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, é diálogo, comunhão eterna e infinita de amor e de vida.
Quando veio ao mundo, na pessoa do Verbo encarnado, Deus mostrou-nos o caminho do encontro e do diálogo. Mais, Ele próprio encarnou em Si mesmo este Caminho para nós podermos conhecê-lo e percorrê-lo com confiança e esperança.
Irmãs e irmãos, «como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades» (Francisco, Carta enc.
, 198)? Apercebemo-nos ainda melhor disso neste tempo de pandemia. A nossa capacidade de relações sociais é duramente posta à prova; aumenta a tendência para fechar-se, arranjar-se sozinho, renunciar a sair, a encontrar-se, a fazer as coisas juntos. E, mesmo a nível internacional, corre-se o risco de não querer dialogar, o risco de que a complexidade da crise induza a optar por atalhos em vez dos caminhos mais longos do diálogo; mas, na realidade, só estes conduzem à solução dos conflitos e a benefícios partilhados e duradouros.
Com efeito, ao mesmo tempo que ressoa, à nossa volta e por todo o mundo, o anúncio do nascimento do Salvador, fonte da verdadeira paz, vemos ainda tantos conflitos, crises e contradições. Parecem não ter fim, e já quase não os notamos. De tal maneira nos habituamos, que há tragédias imensas das quais já nem se fala; corremos o risco de não ouvir o grito de dor e desespero de tantos irmãos e irmãs nossos.
Pensemos no povo sírio, que, há mais duma década, vive uma guerra que já causou muitas vítimas e um número incalculável de refugiados. Olhemos para o Iraque, que luta ainda para se levantar depois dum longo conflito. Ouçamos o grito das crianças que se levanta do Iémen, onde uma tragédia enorme, esquecida por todos, se consuma há anos em silêncio, provocando mortes todos os dias.
Lembremos as contínuas tensões entre israelitas e palestinenses, que se arrastam sem solução, com consequências sociais e políticas cada vez mais graves. Não nos esqueçamos de Belém, o lugar onde Jesus viu a luz e que vive tempos difíceis inclusivamente pelas dificuldades económicas devidas à pandemia que impede os peregrinos de chegarem à Terra Santa, com consequências negativas na vida da população. Pensemos no Líbano, que padece uma crise sem precedentes, com condições económicas e sociais muito preocupantes.
Mas, no coração da noite, eis o sinal de esperança: hoje, «o amor que move o sol e as mais estrelas» (Dante, Paraíso, XXXIII, 145), faz-Se carne. Veio em forma humana, partilhou os nossos dramas e rompeu o muro da nossa indiferença. No frio da noite, estende os seus bracinhos para nós: tem necessidade de tudo, mas vem para nos dar tudo. A Ele pedimos a força de nos abrirmos ao diálogo. Neste dia de festa, imploramos-Lhe que suscite, no coração de todos, anseios de reconciliação e fraternidade. A Ele, dirijamos a nossa súplica.
Menino Jesus, dai paz e concórdia ao Médio Oriente e ao mundo inteiro. Amparai a quantos se encontram empenhados em prestar assistência humanitária às populações forçadas a fugir da sua pátria; confortai o povo afegão que, há mais de quarenta anos, está submetido a dura prova por conflitos que impeliram muitos a deixar o país.
Rei dos povos, ajudai as autoridades políticas a pacificar as sociedades abaladas por tensões e contrastes. Sustentai o povo da Myanmar, onde intolerância e violência se abatem, não raro, também sobre a comunidade cristã e os locais de culto, e turbam o rosto pacífico daquela população.
Sede luz e amparo para quem, mesmo indo contracorrente, crê e trabalha em prol do encontro e do diálogo, e não permitais que se espalhem na Ucrânia as metástases dum conflito gangrenado.
Príncipe da Paz, assisti a Etiópia na descoberta do caminho da reconciliação e da paz, através duma discussão sincera que coloque em primeiro lugar as necessidades da população. Escutai o clamor das populações da região do Sahel, que sofrem a violência do terrorismo internacional. Voltai o olhar para os povos dos países do Norte de África que são atribulados pelas divisões, o desemprego e o desnível económico; e aliviai os sofrimentos dos inúmeros irmãos e irmãs que padecem com os conflitos internos no Sudão e no Sudão do Sul.
Fazei que, nos corações dos povos do continente americano, prevaleçam os valores da solidariedade, reconciliação e convivência pacífica, através do diálogo, do respeito mútuo e do reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os seres humanos.
Filho de Deus, confortai as vítimas da violência contra as mulheres que grassa neste tempo de pandemia. Concedei esperança às crianças e adolescentes que são vítimas do bullying e de abusos. Dai consolação e carinho aos idosos, sobretudo aos mais abandonados. Proporcionai serenidade e unidade às famílias, lugar primário da educação e base do tecido social.
Deus-connosco, concedei saúde aos doentes e inspirai todas as pessoas de boa vontade a encontrar as soluções mais adequadas para superar a crise sanitária e as suas consequências. Tornai generosos os corações, para fazerem chegar os tratamentos necessários, especialmente as vacinas, às populações mais necessitadas. Recompensai todos aqueles que mostram solicitude e dedicação no cuidado dos familiares, dos doentes e dos mais fragilizados.
Menino de Belém, tornai possível em breve o regresso a casa de tantos prisioneiros de guerra, civis e militares, dos conflitos recentes, e daqueles que estão presos por razões políticas. Não nos deixeis indiferentes à vista do drama dos migrantes, deslocados e refugiados. Os seus olhos pedem-nos para não voltarmos o rosto para o outro lado, para não renegarmos a humanidade que nos une, para assumirmos as suas histórias e não nos esquecermos dos seus dramas. [1]
Verbo eterno encarnado, tornai-nos solícitos pela nossa Casa comum, também ela enferma pelo descuido com que frequentemente a tratamos, e incitai as autoridades políticas a encontrarem acordos de tal modo eficazes que as próximas gerações possam viver num ambiente respeitoso da vida.
Queridos irmãos e irmãs, muitas são as dificuldades do nosso tempo, mas a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós» (Is 9, 5). Ele é a Palavra de Deus que Se fez “in-fante”, capaz apenas de chorar e necessitado de tudo. Quis aprender a falar, como qualquer criança, para que nós aprendêssemos a escutar Deus, nosso Pai, a escutar-nos uns aos outros e a dialogar como irmãos e irmãs. Ó Cristo, nascido para nós, ensinai-nos a caminhar convosco pelas sendas da paz.
Feliz Natal para todos!
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
Nesta noite, a Igreja canta a alegria do nascimento de Jesus
REDAÇÃO CENTRAL, 24 dez. 21 / 05:00 am (ACI).- “Ó Noite Santa, tão esperada, que uniste para sempre Deus e o homem! Tu nos renovas a esperança. Tu nos enches de assombro extasiante. Tu nos garantes o triunfo do amor sobre o ódio, da vida sobre a morte”. Essas foram palavras ditas pelo papa João Paulo II, na celebração da missa da Noite de Natal, em 24 de dezembro de 2003.
É esta noite, descrita em poucas palavras pelo agora santo, que a Igreja vive hoje. Os cristãos se preparam para, à meia-noite, cantar a alegria do nascimento de Jesus, Deus que se faz homem e vem ao mundo trazer a salvação a todos.
“O Verbo se fez carne”, diz o Evangelho de João (Jo 1,14). E, conforme afirmou são João Paulo II em 2003, “nesta noite extraordinária o Verbo eterno, o ‘Príncipe da paz’, nasce na fria e miserável gruta de Belém”. O Menino Deus se fez “pobre entre os pobres”.
Após o Seu nascimento, relata o evangelho desta noite (Lc 2,1-14), Ele foi colocado em uma manjedoura. Pastores que tomavam conta de seu rebanho receberam o anúncio do anjo de que havia nascido o Salvador. A Boa-Nova foi seguida pelo louvor do coro celeste: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.
Ao comentar este trecho do Evangelho, na noite de Natal de 2012, o papa Bento XVI, ressaltou que “onde não se dá glória a Deus, onde Ele é esquecido ou até mesmo negado, também não há paz”.
Nesse sentido, Bento XVI expressou um pedido ao Menino Jesus, que se faz atual nos dias de hoje, onde são crescentes os casos de violência.
“Sim, Senhor, anunciai a paz também hoje a nós, tanto aos que estão longe como aos que estão perto. Fazei que também hoje das espadas se forjem foices, que, em vez dos armamentos para a guerra, apareçam ajudas para os enfermos. Iluminai a quantos acreditam que devem praticar violência em vosso nome, para que aprendam a compreender o absurdo da violência e a reconhecer o vosso verdadeiro rosto. Ajudai a tornarmo-nos homens ‘do vosso agrado’: homens segundo a vossa imagem e, por conseguinte, homens de paz”.
(acidigital)
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
Papa recebe no Vaticano menino afegão que conheceu em Lesbos
Vaticano, 22 dez. 21 / 03:53 pm (ACI).- O papa Francisco saudou e abençoou no Vaticano uma criança doente acompanhada de sua família, todos refugiados do Afeganistão que chegaram à Itália para que a criança receba tratamento médico. Francisco conheceu-os em sua visita à ilha grega de Lesbos no mês passado. O encontro aconteceu hoje, 22 de dezembro, na Aula Paulo VI no final da Audiência Geral.
Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, o papa saudou a criança “que encontrou no campo de Mavrovouni de Lesbos, junto com sua família, que chegou a Roma para receber tratamento graças à intervenção do Santo Padre e aos esforços da Comunidade de Sant’Egídio”.
Trata-se de "uma família afegã e a criança tem 18 meses", disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, a Comunidade de Sant’Egídio.
A criança será atendida no hospital pediátrico “Bambino Gesù”.
Depois da catequese semanal, o papa disse que durante sua viagem ao Chipre e à Grécia pôde “tocar com a mão, mais uma vez, a humanidade ferida dos refugiados e migrantes”.
Segundo o papa “só alguns países europeus estão suportando a maior parte das consequências do fenômeno migratório na zona mediterrânea, quando na realidade exige-se uma responsabilidade partilhada por todos, da qual nenhum país se pode eximir, porque é um problema de humanidade”.
“Em particular, graças à generosa abertura das autoridades italianas, pude trazer para Roma um grupo de pessoas que conheci durante a minha viagem: hoje, alguns estão aqui entre nós. Bem-vindos! Ocupar-nos-emos deles, como Igreja, nos próximos meses. É um pequeno sinal, espero que sirva de estímulo para os outros países europeus, de modo a permitir que as realidades eclesiais locais se encarreguem de outros irmãos e irmãs que precisam urgentemente de ser recolocados, acompanhados, promovidos e integrados”, afirmou Francisco. “De fato, são muitas as Igrejas locais, as congregações religiosas e as organizações católicas que estão prontas para os acolher e acompanhar para uma fecunda integração”.
“Basta apenas abrir uma porta, a porta do coração! Não deixemos de o fazer neste Natal”, disse o papa.
No seu aniversário em 17 de dezembro, Francisco recebeu um primeiro grupo de refugiados que chegaram do Chipre. Nesse encontro, o papa ouviu suas histórias. As pessoas vieram do Congo Brazzaville, República Democrática do Congo, Camarões, Somália e Síria.
Naquela ocasião, o papa foi informado sobre esta criança que conheceu no campo de Mavrouni, em Lesbos, e soube que estava prestes a viajar à Itália com sua família para receber tratamento médico no hospital pediátrico “Bambino Gesù”.
(acidigital)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
AUDIÊNCIA GERAL (Texto)
PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala
Paulo VI
Quarta-feira 22 de dezembro de 2021
O nascimento de Jesus
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, poucos dias antes do Natal, gostaria de recordar convosco o acontecimento do qual a história não pode prescindir: o nascimento de Jesus.
A fim de cumprir o decreto do Imperador César Augusto que ordenava que todos se recenseassem na própria cidade de origem, José e Maria foram de Nazaré a Belém. Assim que chegaram, procuraram imediatamente uma hospedaria, porque o parto era iminente; mas infelizmente não a encontraram, e assim Maria foi obrigada a dar à luz numa manjedoura (cf. Lc 2, 1-7).
Pensemos: ao Criador do universo… a Ele não foi concedido um lugar para nascer! Talvez fosse uma antecipação do que o evangelista João diz: «Veio entre os seus, e os seus não o receberam» (1, 11); e do que o próprio Jesus dirá: «As raposas têm os seus covis e as aves do ar os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (Lc 9, 58).
Um anjo anunciou a simples pastores o nascimento de Jesus. E foi uma estrela que indicou aos Magos o caminho para Belém (cf. Mt 2, 1, 9-10). O anjo é um mensageiro de Deus. A estrela recorda-nos que Deus criou a luz (Gn 1, 3) e que aquele Menino será “a luz do mundo”, como Ele mesmo se autodefinirá (cf. Jo 8, 12.46), a «verdadeira luz [...] que ilumina todo o homem» (Jo 1, 9), que «resplandece nas trevas, mas as trevas não a admitiram» (v. 5).
Os pastores personificam os pobres de Israel, pessoas humildes que interiormente vivem com a consciência da própria falta, e precisamente por isto confiam mais do que os outros em Deus. Eles foram os primeiros a ver o Filho de Deus feito homem, e este encontro muda-os profundamente. O Evangelho observa que voltaram «glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto» (Lc 2, 20).
Os Magos estão também em volta de Jesus que acabou de nascer (cf. Mt 2, 1-12). Os Evangelhos não nos dizem que eles eram reis, nem o número, nem os nomes. Com certeza, sabe-se apenas que de um país distante do Oriente (pode-se pensar na Babilónia, na Arábia do Sul ou na Pérsia daquele tempo) partiram em busca do Rei dos Judeus, que nos seus corações identificaram com Deus, pois disseram que o queriam adorar. Os Magos representam os povos pagãos, em particular todos aqueles que ao longo dos séculos procuraram Deus e se propuseram encontrá-lo. Representam também os ricos e os poderosos, mas só aqueles que não são escravos da posse, que não estão “possuídos” pelas coisas que pensam possuir.
A mensagem dos Evangelhos é clara: o nascimento de Jesus é um acontecimento universal que diz respeito a todos os homens.
Amados irmãos e amadas irmãs, só a humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, precisamente porque nos conduz a Ele, leva-nos também ao essencial da vida, ao seu verdadeiro significado, à razão mais fiável pela qual vale a pena viver a vida.
Só a humildade nos abre à experiência da verdade, da alegria genuína, do conhecimento que conta. Sem humildade, estamos “desligados”, somos excluídos da compreensão de Deus, da compreensão de nós mesmos. É preciso ser humilde para nos compreendermos a nós mesmos, e mais ainda para compreender Deus. Os Magos podiam ter sido grandes de acordo com a lógica do mundo, mas tornam-se pequenos, humildes, e por esta mesma razão conseguem encontrar Jesus e reconhecê-lo. Aceitam a humildade de procurar, de se pôr a caminho, de perguntar, de arriscar, de cometer erros...
Cada homem, no íntimo do seu coração, é chamado a procurar Deus: todos nós, temos aquela inquietação e o nosso trabalho consiste em não apagar aquela inquietação, mas deixá-la crescer, pois é a inquietação de procurar Deus; e, com a sua própria graça, pode encontrá-lo. Façamos nossa a oração de Santo Anselmo (1033-1109): «Senhor, ensinai-me a procurar-vos. Mostrai-vos, quando vos procuro. Não posso procurar-vos se não me ensinardes; nem encontrar-vos se não vos mostrardes. Que eu vos procure, desejando-vos e vos deseje procurando-vos! Que eu vos encontre, procurando-vos e vos ame, encontrando-vos! (Proslogion, 1).
Queridos irmãos e irmãs, gostaria de convidar todos os homens e mulheres a ir à gruta de Belém para adorar o Filho de Deus feito homem. Cada um de nós se aproxime do presépio que tem em casa ou na igreja, ou noutro lugar, e procure fazer um ato de adoração, intimamente: “Creio que tu és Deus, que este menino é Deus. Por favor, concede-me a graça da humildade para poder compreender isto”.
Em primeiro lugar, aproximando-nos do presépio e rezando, gostaria de colocar os pobres, que – como exortava São Paulo VI – «devemos amar, porque de certa forma eles são sacramento de Cristo; neles – nos famintos, nos sedentos, nos exilados, nos nus, nos doentes, nos encarcerados – Ele quis identificar-se misticamente. Devemos ajudá-los, devemos sofrer com eles, e também devemos segui-los, porque a pobreza é o caminho mais seguro para a plena posse do Reino de Deus» (Homilia, 1 de maio de 1969). Por isso devemos pedir a humildade como uma graça: “Senhor, que eu não seja soberbo, que não seja autossuficiente, que não me considere o centro do universo. Faz-me humilde. Dá-me a graça da humildade. E com esta humildade que eu possa encontrar-te. É o único caminho, sem humildade nunca encontraremos Deus: encontraremos nós mesmos. Pois uma pessoa sem humildade não tem horizontes diante de si, tem apenas um espelho: olha para si mesmo. Peçamos ao Senhor que quebre o espelho para que possamos olhar além, para o horizonte, onde Ele está. Mas isto deve ser feito por Ele: conceder-nos a graça e a alegria da humildade para percorrer este caminho.
Depois, irmãos e irmãs, gostaria de acompanhar a Belém, como fez a estrela com os Magos, todos aqueles que não têm uma inquietação religiosa, que não se colocam o problema de Deus, ou até lutam contra a religião, todos aqueles que são inadequadamente denominados ateus. Gostaria de lhes repetir a mensagem do Concílio Vaticano II: «A Igreja defende que o reconhecimento de Deus de modo algum se opõe à dignidade do homem, uma vez que esta dignidade se funda e se realiza no próprio Deus [...] a Igreja sabe perfeitamente que a sua mensagem está de acordo com os desejos mais profundos do coração humano» (Gaudium et spes, 21).
Voltemos para casa com o desejo dos anjos: «Paz na terra aos homens por Ele amados». Lembremo-nos sempre: «Não fomos nós que amámos Deus, mas foi ele que nos amou [...]. Ele amou-nos primeiro» (1 Jo 4, 10.19), procurou-nos. Não nos esqueçamos disto.
Esta é a razão da nossa alegria: fomos amados, fomos procurados, o Senhor procura-nos para nos encontrar, para nos amar ainda mais. Este é o motivo da alegria: saber que fomos amados sem qualquer mérito, somos sempre precedidos por Deus no amor, um amor tão concreto que se tornou carne e veio habitar entre nós, naquele Menino que vemos no presépio. Este amor tem um nome e um rosto: Jesus é o nome e o rosto do amor que é o fundamento da nossa alegria. Irmãos e irmãs, desejo-vos um feliz Natal, um bom e santo Natal. E gostaria que – sim, haverá os bons votos, as reuniões de família, isto é muito bonito, sempre – mas que haja também a consciência de que Deus vem “para mim”. Cada um diga: Deus vem para mim. A consciência de que para procurar Deus, para encontrar Deus, para aceitar Deus é necessária a humildade: olhar com humildade para a graça de quebrar o espelho da vaidade, da soberba, de olhar para nós mesmos. Olhar para Jesus, olhar para o horizonte, olhar para Deus que vem até nós e que toca o coração com aquela inquietação que nos conduz à esperança. Feliz e santo Natal!
Saudações:
Queridos fiéis de língua portuguesa, voltemos para casa guardando no coração este anseio formulado pelos anjos: paz na terra aos homens que Deus ama. Recordemo-nos sempre disto: não fomos nós que primeiramente amámos Deus, mas foi Ele que nos amou primeiro. É este o motivo da nossa alegria. Desejo a cada um de vós e respetiva família, Feliz e Santo Natal.
APELO
Durante a minha viagem a Chipre e à Grécia, pude experimentar mais uma vez a humanidade ferida dos refugiados e migrantes. Constatei também que só alguns países europeus estão a suportar a maior parte das consequências do fenómeno migratório na zona mediterrânea, quando na realidade exige uma responsabilidade partilhada por todos, da qual nenhum país se pode eximir, porque é um problema de humanidade.
Em particular, graças à generosa abertura das autoridades italianas, pude trazer para Roma um grupo de pessoas que conheci durante a minha viagem: hoje, alguns estão aqui entre nós. Bem-vindos! Ocupar-nos-emos deles, como Igreja, nos próximos meses. É um pequeno sinal, espero que sirva de estímulo para os outros países europeus, de modo a permitir que as realidades eclesiais locais se encarreguem de outros irmãos e irmãs que precisam urgentemente de ser recolocados, acompanhados, promovidos e integrados.
De facto, são muitas as Igrejas locais, as congregações religiosas e as organizações católicas que estão prontas para os acolher e acompanhar para uma fecunda integração. Serve apenas abrir uma porta, a porta do coração! Não deixemos de o fazer neste Natal!
Resumo da catequese do Santo Padre:
Um decreto do imperador César Augusto que ordenava o recenseamento geral na localidade de nascimento, leva de Nazaré até Belém José e Maria, que se encontrava grávida. Procuram alojamento, mas não encontram, e têm de se abrigar num estábulo. É aqui que nasce o Criador do universo! O Natal é um grande apelo à humildade, caminho que nos conduz a Deus; e precisamente porque nos conduz a Deus, leva-nos também ao essencial da vida. O Menino nasce e um anjo foi anunciá-l’O aos pastores, pessoas humildes que no seu íntimo são conscientes da própria insuficiência e, por isso mesmo, confiam em Deus. São eles os primeiros a ver Deus feito homem e este encontro muda-os completamente. Dirigem-se ao presépio também os Magos, representando todos os que na história procuram Deus e se põem a caminho para O encontrar. Os Magos podiam até ser grandes, segundo a lógica do mundo, mas fazem-se pequenos, humildes, e assim conseguiram encontrar Jesus e adorá-l’O, reconhecendo n’Ele o seu Deus. Queridos irmãos e irmãs, o nascimento de Jesus é um acontecimento universal. Convido todos os homens e mulheres a virem à gruta de Belém, para adorar o Filho de Deus humanado. Os lugares da primeira fila pertencem aos pobres. Porém, há espaço para todos, incluindo os que não têm fé ou são contrários à religião. Ressoa lá o anúncio da paz.
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