A morte não é um salto no vazio, mas para os braços de Deus:
é o encontro pessoal com Ele, para habitar com Ele no amor e na alegria da sua amizade.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
- Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
No dia 2 de novembro a Igreja nos convida, com insistência, a rezar e oferecer sufrágios pelos fiéis defuntos do Purgatório. Com esses nossos irmãos, que “também, participaram da fragilidade própria de todo o ser humano, sentimos o dever – que é ao mesmo tempo uma necessidade do coração – de oferecer-lhes a ajuda afetuosa da nossa oração, a fim de que qualquer eventual resíduo de debilidade humana, que ainda possa adiar o seu encontro feliz com Deus, seja definitivamente apagado” (São João Paulo II, no Cemitério em Madri, 2/11/1982).
Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11, 24). Em outra passagem Ele disse: “Todo aquele que crê em mim não morrerá para sempre” (Jo 11, 26). Na verdade, Jesus está dizendo que não nascemos para morrer. Mas sim, morremos para viver. A morte, para os que têm fé, não interrompe a vida. Não é ‘passageira ilusão’. Não é a destruição da vida, mas é o encontro com a plenitude da vida que está em Deus.
Deus nos criou para a vida plena e não para a morte. Na verdade, as pessoas que morrem no Senhor vão para um lugar bem melhor do que o nosso. Elas descansam para sempre na paz, na alegria, no convívio dos anjos, dos santos, na plena e eterna felicidade que só encontramos na comunhão com Deus.
O que perpassa todos os textos bíblicos da Comemoração dos Fiéis Defuntos é a esperança da vida que nasce da morte, a partir do mistério pascal de Cristo Jesus. Em Cristo Jesus abre-se uma nova perspectiva, em que a morte já não é mais o fim fatídico e desesperador, mas a passagem para uma realidade nova de plenitude de vida em Deus.
A fé no Cristo ressuscitado transforma a vida do cristão. A morte já não é mais o fim de todas as coisas. Ela é, antes, uma porta, uma passagem para uma realidade nova. O Cristo vivo garante a vida para sempre (Cf. Jó 19, 1.23-27; Rm 5, 5-11; Jo 6, 37-40). A morte será eliminada definitivamente em Cristo Jesus (Cf. Is 25, 6-9; Rm 8, 14-23; Mt 25, 31-46). A Igreja vive a esperança da glória em Cristo Jesus (Cf. Sb 3, 1-9; Ap 21, 1-7; Mt 5, 1-12).
A morte não é um salto no vazio, mas para os braços de Deus: é o encontro pessoal com Ele, para habitar com Ele no amor e na alegria da sua amizade.
O cristão autêntico não teme, por isso, a morte; pelo contrário: considerando que, enquanto vivemos na terra “vivemos longe do Senhor”, repete São Paulo: “desejamos sair deste corpo para habitar com o Senhor” (2Cor 5, 6.8). Não se trata de exaltar a morte, mas considerá-la como realmente é no projeto de Deus: o nascimento para a vida eterna.
Devemos lembrar que a vida eterna começa aqui e agora. Quem vive com Deus neste mundo viverá com Ele eternamente. Quem tem Cristo na sua vida, vai tê-lo na outra vida. Quem vive no amor e na harmonia com seus irmãos, continuará na outra vida na plenitude do amor. Quem vive uma vida reconciliada e pacificada com seus irmãos, também continuará na outra vida na perfeita reconciliação. Por isso, a hora de amar, de perdoar, de servir, de espalhar o bem é agora. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje, pois o amanhã pode não acontecer!
No momento do encontro final com Deus, de nada vale o dinheiro, o sucesso, o prestígio, a beleza, a fama e tantas outras coisas. Porém, o que conta são nossas boas obras e a retidão do agir. Levaremos, em nossa bagagem, o bem que realizamos ao longo da vida, sobretudo para os mais pobres.
Pois assim nos diz a divina sentença: “Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Estive nu e me vestistes” (Mt 25, 34). Esta passagem bíblica nos revela que o critério para o nosso julgamento será o exercício do amor e da caridade para o próximo, sobretudo os excluídos, que são os mais pobres entre os pobres.
Nesse dia da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos devemos – com grande fé e devoção na vida eterna – visitar os túmulos de nossos parentes, amigos e benfeitores. Rezando o rosário pelos cemitérios, vamos meditando sobre os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Finados – e todo o período de 1º a 8 de novembro – é momento de união da Igreja Militante com a Igreja Padecente, oferecendo os sufrágios necessários para aliviar as almas que estão no Purgatório.
Nestes dias de recolhimento e de repensar a nossa própria vida devemos valorizar o exame de consciência para abandonar o pecado e viver uma vida na graça de Deus, porque vivermos e sermos santos é a nossa vocação.
Para nós, cristãos, a morte, que era como uma caverna escura, sem saída, tornou-se um túnel, cujo final é luminoso. Isto mesmo: Cristo arrombou as portas da morte! Ela se tornou apenas uma passagem, um caminho para a nossa Páscoa, nossa passagem deste mundo para o Pai: “Ainda que eu passe pelo vale da morte, nenhum mal temerei, porque está comigo”. Assim, o Dia de Finados é uma excelente data para rezar pelos nossos irmãos já falecidos, mas também para pensarmos na nossa morte e na nossa vida, pois ‘tal vida, tal morte’.
(vaticannews)
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