domingo, 30 de junho de 2024
Hoje a Igreja celebra os santos protomártires de Roma, vítimas da mentira de Nero
Por Redação central
30 de jun de 2024 às 00:01
“A esses homens que levaram uma vida santa, veio juntar-se uma grande multidão de eleitos que, por causa dos ciúmes, sofreram todo o tipo de maus tratos e suplícios e deram um magnífico exemplo entre nós”, dizia em uma carta aos Coríntios o papa são Clemente I.
Com o anúncio da Boa Nova dos Apóstolos, o número de fiéis foi crescendo cada vez mais. No entanto, o Senado romano rejeitou esta nova religião, que era contrária às tradições de Roma, e a declarou ilegal até o ano 35 d.C.
Mais tarde, para escapar da acusação de ter incendiado Roma, Nero culpou os cristãos, acusando-os de ser uma religião maléfica, que praticava o canibalismo, ao não entender o sentido da Eucaristia, e difamando-os como incestuosos, pelo costume que tinham de chamar-se irmãos e dar o beijo da paz.
Foi assim que desencadeou uma série de perseguições na qual milhares de cristãos deram suas vidas para proclamar e crer no verdadeiro amor de Deus que Jesus Cristo ensinou.
O Martirológio Jeronimiano é o primeiro a comemorar o martírio de mais de 900 pessoas nos tempos de Nero, com data de 29 de junho, o mesmo dia de são Pedro e são Paulo.
Atribui-se a são Pio V a primeira menção no Martirológio Romano desses protomártires com data de 24 de junho. Atualmente, a Igreja os celebra em 30 de junho.
sábado, 29 de junho de 2024
Santa Missa na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Apóstolos 29 de junho...
CAPELA PAPAL
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de São Pedro
Sábado, 29 de junho de 2024
Irmãos e irmãs, nas vésperas do ano jubilar, detenhamo-nos precisamente na imagem da porta. Com efeito, o Jubileu será um tempo de graça no qual abriremos a Porta Santa, para que todos possam atravessar o limiar daquele santuário vivo que é Jesus e, n’Ele, experimentar o amor de Deus que revigora a esperança e renova a alegria. Também na história de Pedro e Paulo há portas que se abrem.
A primeira leitura contou-nos o acontecimento da libertação de Pedro da prisão. Esta narrativa tem muitas imagens que nos recordam a experiência da Páscoa: o episódio ocorre durante a festa dos Ázimos; Herodes recorda a figura do Faraó do Egito; a libertação tem lugar de noite, como aconteceu com os israelitas; o anjo dá a Pedro as mesmas instruções que foram dadas a Israel: levanta-te depressa, põe o cinto, calça as sandálias (cf. At 12, 8; Ex 12, 11). Portanto, o que nos é narrado é um novo êxodo: Deus liberta a sua Igreja, o seu povo acorrentado, e mostra-se mais uma vez como o Deus da misericórdia que sustenta o seu caminho.
Naquela noite de libertação, a princípio abrem-se milagrosamente as portas da prisão; depois diz-se, de Pedro e do anjo que o acompanha, que eles estão diante da «porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma» (At 12, 10). Não são eles que abrem a porta, ela abre-se por si mesma. É Deus que abre as portas, é Ele quem liberta e abre caminhos. A Pedro – como ouvimos no Evangelho – Jesus tinha confiado as chaves do Reino; mas ele experimenta que é o Senhor quem abre primeiro as portas. Ele vai sempre à nossa frente.
Chega a ser curioso: as portas da prisão são abertas pela força do Senhor, mas depois Pedro encontrará dificuldades para entrar na casa da comunidade cristã, aquela que vai à porta pensa que é um fantasma, e não a abre. Quantas vezes as comunidades não aprendem esta sabedoria de “abrir as portas”.
O caminho do apóstolo Paulo é, também e sobretudo, uma experiência pascal. Efetivamente, primeiro ele é transformado pelo Ressuscitado no caminho de Damasco e, depois, na contemplação contínua de Cristo crucificado, descobre a graça da fraqueza: quando somos fracos – afirma – é então que somos realmente fortes, porque já não nos apegamos a nós mesmos, mas a Cristo (cf. 2 Cor 12, 10). Alcançado pelo Senhor e crucificado com Ele, Paulo escreve: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).O objetivo de tudo isto, porém, não é uma religiosidade intimista e consoladora, como hoje nos apresentam alguns movimentos na Igreja, com uma “espiritualidade de salão”; pelo contrário, o encontro com o Senhor acende na vida de Paulo o zelo pela evangelização. Como ouvimos na segunda leitura, no fim da sua vida ele declara: «O Senhor esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem» (2 Tm 4, 17).
Precisamente para contar como o Senhor lhe deu tantas oportunidades de anunciar o Evangelho, Paulo recorre à imagem das portas abertas. Sobre a sua chegada a Antioquia juntamente com Barnabé, diz-se que «assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé» (At 14, 27). Do mesmo modo, dirigindo-se à comunidade de Corinto, diz: «abriu-se ali uma porta larga e propícia» (1 Cor 16, 9); e escrevendo aos Colossenses, exorta-os assim: «orai também por nós, para que Deus abra uma porta à nossa pregação, a fim de que eu anuncie o mistério de Cristo» (Col 4, 3).
Irmãos e irmãs, os dois Apóstolos Pedro e Paulo fizeram esta experiência de graça. Tocaram com as mãos a obra de Deus, que lhes abriu as portas da sua prisão interior e também das prisões reais onde estavam encerrados por causa do Evangelho. E abriu-lhes, igualmente, as portas da evangelização, para que pudessem experimentar a alegria do encontro com os irmãos e irmãs das comunidades nascentes e levar a todos a esperança do Evangelho. E assim, nos preparamos para abrir a Porta Santa, neste ano!
Irmãos e irmãs, hoje os Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano recebem o Pálio. Em comunhão com Pedro e seguindo o exemplo de Cristo, porta das ovelhas (cf. Jo 10, 7), são chamados a ser pastores zelosos, que abrem as portas do Evangelho e que, com o seu ministério, ajudam a construir uma Igreja e uma sociedade de portas abertas.
Saúdo, com afeto fraterno, a Delegação do Patriarcado Ecuménico: obrigado por terem vindo manifestar o desejo comum da plena comunhão entre as nossas Igrejas. Envio uma sentida saudação cordial ao meu irmão, ao meu caro irmão Bartolomeu.
Que os Santos Pedro e Paulo nos ajudem a abrir a porta da nossa vida ao Senhor Jesus, que eles intercedam por nós, pela cidade de Roma e pelo mundo inteiro. Amém.
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Hoje é celebrada solenidade de são Pedro e São Paulo
Por Redação central
29 de jun de 2024 às 00:01
“O dia de hoje é para nós dia sagrado, porque nele celebramos o martírio dos apóstolos são Pedro e são Paulo... Na realidade, os dois eram como um só; embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho”, disse o bispo Santo Agostinho (354-430) em seus sermões sobre a solenidade de são Pedro e são Paulo, celebrada hoje (29). No Brasil, porém, a celebração é transferida para o domingo e, neste ano, será amanhã (30).
Esta celebração recorda que são Pedro foi eleito por Cristo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Humildemente, ele aceitou a missão de ser “a rocha” da Igreja.
O papa por sua parte, como sucessor de Pedro e vigário de Cristo, é o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade, tanto dos bispos como da multidão de fiéis. É pastor de toda a Igreja e tem poder pleno, supremo e universal. Por isso, também é comemorado nesta data o dia do papa.
Do mesmo modo, comemora-se são Paulo, o apóstolo dos gentios, que antes de sua conversão foi um perseguidor dos cristãos e passou, com sua vida, a ser um ardoroso evangelizador para todos os católicos, sem reservas no anúncio do Evangelho.
Como o papa Bento XVI disse em 2012, “a tradição cristã tem considerado são Pedro e são Paulo inseparáveis: na verdade, juntos, representam todo o Evangelho de Cristo”.
“Apesar de ser humanamente bastante diferentes e não obstante os conflitos que não faltaram no seu mútuo relacionamento, realizaram um modo novo e autenticamente evangélico de ser irmãos, tornado possível precisamente pela graça do Evangelho de Cristo que neles operava. Só o seguimento de Cristo conduz a uma nova fraternidade”, afirmou.
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Óbolo de São Pedro, vamos ajudar o Papa Francisco em sua missão
VATICAN NEWS
É a oportunidade para ajudar o Papa a se aproximar ainda mais de todos, especialmente daqueles que sofrem. O Dia da Caridade do Papa, que é celebrado no domingo, 30 de junho, oferece às comunidades de todo o mundo a possibilidade de fazer doações para o Óbolo de São Pedro e, assim, apoiar a missão do Bispo de Roma. Missão de paz, de caridade, de proximidade com aqueles que estão em dificuldades.
Com uma oferta, que pode ser doada nesse dia especial, assim como em qualquer outro dia do ano, qualquer pessoa pode colaborar ativamente na missão universal de Francisco, nunca tão necessária como em nossos dias, em um mundo devastado por guerras, pela corrida armamentista, pela injustiça, pelo sofrimento de tantos pobres e por ataques à sacralidade da vida humana e à dignidade da pessoa. Graças às atividades de serviço realizadas pelos dicastérios da Santa Sé que o assistem diariamente, o Papa faz com que sua voz chegue a tantas situações difíceis. Ele apoia obras de caridade em favor de pessoas e famílias em dificuldade, ajuda as populações afetadas por desastres naturais e por guerras.
A mensagem do Sucessor de Pedro é uma
mensagem universal, que brota do Evangelho, e para chegar a todos
precisa do apoio de cada um de nós. Portanto, ajude o Papa a ajudar,
ofereça sua contribuição para colaborar com sua missão, torne possível
sua proximidade a todas as periferias geográficas e existenciais,
coopere para levar sua mensagem e sua voz profética a todo o mundo,
apoie sua incansável ação em favor da paz e da fraternidade.
O Óbolo de São Pedro é uma oferta que pode ser pequena, mas tem grande valor simbólico. É uma maneira concreta de fortalecer nosso senso de pertença à Igreja e nosso amor pelo Bispo de Roma, que preside todas as Igrejas na caridade. Quem doa ao Óbolo não apenas ajuda o Papa a ajudar aqueles que sofrem, mas também participa de sua missão de proclamar o Evangelho e coopera no serviço que o Papa oferece às Igrejas locais por meio dos dicastérios da Santa Sé e da rede de seus representantes no mundo, apoiando a promoção do desenvolvimento humano integral, da educação, da paz, da justiça e da fraternidade.
Faça sua doação agora:
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Todas audiências do Papa ficam suspensas em julho com a pausa de verão
Como é de costume durante o verão na Europa, a partir da próxima terça-feira, 2 de julho, até o final do mês, todas as audiências do Papa Francisco serão suspensas: tanto a Audiência Geral das quartas-feiras como as audiências privadas e especiais. O anúncio foi feito pela Prefeitura da Casa Pontifícia através de um comunicado divulgado nesta sexta-feira (28/06) pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
Todas as audiências serão retomadas em agosto, com a primeira Audiência Geral da quarta-feira, 7 de agosto. Durante esse período, porém, tem seguimento a oração mariana do Angelus aos domingos direto do Palácio Apostólico.
Em julho, Consistório Ordinário Público e visita pastoral
A agenda de celebrações presididas pelo Papa também está confirmada para julho. Antes disso, porém, já neste sábado (29/06), o Pontífice irá presidir a missa com a bênção dos Pálios que serão impostos aos novos arcebispos metropolitanos como sinal de comunhão com o Bispo de Roma. A celebração na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, padroeiros de Roma, começa às 9h30 na Itália, 4h30 no horário de Brasília, na Basílica de São Pedro.
Já em 1° julho, na Sala do Consistório, no Vaticano, Francisco vai presidir o Consistório Ordinário Público para aprovação de algumas Causas de Canonização. A cerimônia começa às 9h na Itália, 4h no horário de Brasília. Conforme o calendário, no dia 7 de julho o Papa parte para a cidada italiana de Trieste para a terceira das três visitas pastorais deste ano no país: a primeira foi para Veneza, em abril, e a segunda para Verona, em maio. Em Trieste, capital da região de Friuli-Venezia Giulia, no nordeste da Itália, Francisco vai participar da 50ª Semana Social dos Católicos.
As celebrações presididas pelo Papa Francisco serão transmitidas ao vivo, com comentários em português, pelos canais da Rádio Vaticano - Vatican News.
Papa Francisco fala das “Igrejas mártires” do Oriente
27 de jun de 2024 às 10:57
O papa Francisco recebeu na manhã de hoje (27) no Palácio Apostólico do Vaticano os participantes da Assembleia “Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais” (ROACO), que termina hoje em Roma. Ele falou do sofrimento dos cristãos orientais por causa dos conflitos armados que devastam as suas terras.
As Igrejas mártires do Oriente
Para o papa Francisco, as Igrejas do Oriente são “Igrejas que devem ser amadas”, porque “preservam tradições espirituais e de sabedoria únicas e têm muito para nos dizer sobre a vida cristã, a sinodalidade e a liturgia”.
No entanto, Francisco lamentou que a sua “beleza esteja ferida”, porque “foram esmagadas por uma pesada cruz e tornaram-se ‘Igrejas mártires’: trazem dentro de si os estigmas de Cristo”.
“Sim, assim como a carne do Senhor foi trespassada pelos pregos e pela lança, tantas comunidades orientais estão feridas e sangrando devido aos conflitos e às violências que sofrem”, disse.
O papa recordou o objetivo da assembleia da ROACO que é “encontrar a melhor maneira de nos unir e aliviar o sofrimento de nossos irmãos e irmãs orientais” e disse que “não podemos ficar indiferentes”.
Ele os exortou a continuar apoiando as Igrejas Orientais Católicas “nestes tempos dramáticos”, para que possam “estar firmemente enraizadas no Evangelho”.
“Sejam um incentivo para que o clero e os religiosos ouçam sempre o clamor do seu povo, admirável pela fé, colocando o Evangelho à frente das divergências ou dos interesses pessoais”, acrescentou.
Também pediu que sejam “semeadores de esperança, testemunhas chamadas, no estilo do Evangelho, a trabalhar com mansidão e sem clamor, cujo trabalho ‘não se destaca aos olhos do mundo, mas agrada aos de Deus’”.
“Obrigado por responder a quem destrói, reconstruindo; aos que se privam da dignidade, restaurando a esperança; às lágrimas das crianças, com o sorriso de quem ama; à lógica maligna do poder, com a lógica cristã do serviço”, continuou ele.
“As sementes que vocês plantam em solos poluídos pelo ódio e pela guerra brotarão, estou certo disso”, continuou o papa.
Basta! A violência nunca trará paz
O papa falou da guerra na Terra Santa, “onde tudo começou, onde os Apóstolos receberam o mandato de ir ao mundo para anunciar o Evangelho”, e disse que “os fiéis de todo o mundo estão chamados a demonstrar a sua proximidade e a encorajar os cristãos, ali e em todo o Médio Oriente, a serem mais fortes do que a tentação de abandonar as suas terras devastadas pelo conflito”.
“Quanta dor causa a guerra, ainda mais estridente e absurda nos lugares onde o Evangelho da paz foi promulgado! Aos que alimentam a espiral de conflitos e dela obtêm lucros e vantagens, repito: parem! Parem, porque a violência nunca trará paz”, disse.
Para o papa, é “urgente cessar fogo, reunir-se e dialogar para permitir a coexistência de diferentes povos, único caminho possível para um futuro estável”.
“Sendo a guerra, porém, uma aventura sem sentido e inconclusiva, ninguém sairá vitorioso: todos serão derrotados”, continuou.
“Ouçamos também o grito dos jovens, das pessoas comuns e dos povos, que estão cansados da retórica belicosa, de refrões estéreis que culpam sempre os outros, dividindo o mundo entre bons e maus, de líderes que lutam para se sentar à volta de uma mesa para encontrar mediação e encorajar soluções”, disse o papa.
“Que se abram raios de paz para aquela querida população, que os prisioneiros de guerra sejam libertados e as crianças repatriadas. Promover a paz e libertar os presos são sinais distintivos da fé cristã”, disse ele.
O papa Francisco também citou os cristãos deslocados na região de Karabakh e disse que hoje, talvez mais do que nunca, “os cristãos orientais fogem de conflitos ou migram em busca de trabalho e de melhores condições de vida, ou seja, vivem na diáspora".
“Quem já teve que sair da sua terra corre o risco de também ser privado da sua identidade religiosa; e com o passar das gerações perde-se a herança espiritual do Oriente, uma riqueza incontornável para toda a Igreja Católica”, lamentou.
Mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação 2024
Por Papa Francisco
27 de jun de 2024 às 12:28
A mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação que será celebrado no dia 1º de setembro com o tema “Espera e age com a criação” foi publicada hoje (27) pela Santa Sé.
Abaixo, a mensagem completa do papa Francisco:
Queridos irmãos e irmãs!
“Espera e age com a criação”: é este o tema do Dia de Oração pelo Cuidado da Criação, que se realizará no próximo 1 de setembro. Refere-se à Carta de São Paulo aos Romanos 8, 19-25. O Apóstolo, ao esclarecer o significado de viver segundo o Espírito, concentra-se na esperança firme da salvação pela fé, que é vida nova em Cristo.
1. Comecemos, pois, por uma pergunta simples, mas que poderia não ter uma resposta óbvia: quando realmente acreditamos, como é que temos fé? Não é tanto porque “acreditamos” em algo transcendente e incompreensível para a nossa razão, ou seja, o mistério inacessível de um Deus distante e longínquo, invisível e inominável. Antes, é porque o Espírito Santo habita em nós, como diria São Paulo. Sim, somos cristãos porque o próprio Amor de Deus foi «derramado nos nossos corações» ( Rm 5, 5). Por isso, o Espírito é agora, verdadeiramente, a «garantia da nossa herança» ( Ef 1, 14), como uma “pro-vocação” a vivermos sempre inclinados para os bens eternos, segundo a plenitude da humanidade bela e boa de Jesus. O Espírito torna os fiéis criativos, proativos na caridade. Coloca-os num grande caminho de liberdade espiritual, não isento da luta entre a lógica do mundo e a do Espírito, que têm frutos opostos entre si ( Gl 5, 16-17). Como sabemos, o primeiro fruto do Espírito, síntese de todos os outros, é o amor. Assim, guiados pelo Espírito Santo, os que acreditam são filhos de Deus e podem dirigir-se a Ele tal como Jesus, chamando-lhe «Abbá, ó Pai» ( Rm 8, 15), na liberdade de quem já não recai no medo da morte, porque Jesus ressuscitou dos mortos. Eis a grande esperança: o amor de Deus venceu, vence sempre e vencerá de novo. Apesar da morte física, o destino de glória já está garantido para o homem novo que vive no Espírito. Esta esperança não desilude, como também nos recorda a Bula de proclamação do próximo Jubileu.
2. A existência do cristão é vida de fé, laboriosa na caridade e transbordante de esperança, enquanto aguarda o regresso do Senhor na sua glória. E a “demora” da parusia, da sua segunda vinda, não causa qualquer problema. A questão é outra: «quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?» (Lc 18, 8). Sim, a fé é um dom, fruto da presença do Espírito em nós, mas é também uma tarefa, a realizar em liberdade, na obediência ao mandamento do amor de Jesus. Eis, aqui, a feliz esperança que deve ser testemunhada! Onde? Quando? Como? No interior dos dramas da carne humana que sofre. E se alguém sonha, então que sonhe com os olhos abertos, animados por visões de amor, fraternidade, amizade e justiça para todos. A salvação cristã entra no âmago da dor do mundo, que não atinge apenas o ser humano, mas todo o universo, a própria natureza, o oikos do homem, o seu ambiente vital; ela abarca a criação como “paraíso terrestre”, a mãe terra, que deveria ser lugar de alegria e promessa de felicidade para todos. O otimismo cristão baseia-se numa esperança viva: sabe que tudo tende para a glória de Deus, para a consumação final na sua paz, para a ressurreição corporal na justiça, “de glória em glória”. Contudo, no tempo que passa, partilhamos dores e sofrimentos: toda a criação geme (cf. Rm 8, 19-22), os cristãos gemem (cf. vv. 23-25) e o próprio Espírito geme (cf. vv. 26-27). Gemer manifesta inquietação e sofrimento, juntamente com anelo e desejo. O gemido exprime confiança em Deus e abandono à sua companhia amorosa e exigente, tendo em vista a realização do seu desígnio, que é alegria, amor e paz no Espírito Santo.
3. Toda a criação está implicada neste processo de um novo nascimento e, gemendo, espera a libertação: trata-se de um crescimento escondido que amadurece, como “um grão de mostarda que se transforma numa grande árvore” ou “o fermento na massa” (cf. Mt 13, 31-33). Os inícios são minúsculos, mas os resultados esperados podem ser de uma beleza infinita. Enquanto expectativa de um nascimento (a revelação dos filhos de Deus), a esperança é a possibilidade de permanecer firme no meio das adversidades, de não desanimar nos momentos de tribulação ou diante da barbárie humana. A esperança cristã não desilude, mas também não ilude: se o gemido da criação, dos cristãos e do Espírito é antecipação e expectativa da salvação já em ato, São Paulo descreve os numerosos sofrimentos em que estamos imersos como «tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada» (cf. Rm 8, 35). Assim, a esperança é uma leitura alternativa da história e dos acontecimentos humanos: não ilusória, mas realista, do realismo da fé que vê o invisível. Esta esperança é uma espera paciente, como a não visão de Abraão. Gosto de recordar aquele grande crente visionário que foi Joaquim de Fiore, o abade calabrês “dotado de espírito profético”, segundo Dante Alighieri: numa época de lutas sangrentas, conflitos entre o Papado e o Império, Cruzadas, heresias e mundanização da Igreja, ele soube apontar o ideal de um novo espírito de convivência entre os homens, marcado pela fraternidade universal e pela paz cristã, fruto do Evangelho vivido. Foi este espírito de amizade social e de fraternidade universal que propus na Fratelli tutti. E esta harmonia entre os homens deve estender-se também à criação, a partir de um “antropocentrismo situado” (cf. Laudate Deum, 67), na responsabilidade por uma ecologia humana e integral, caminho de salvação da nossa casa comum e dos que nela vivemos.
4. Por que há tanto mal no mundo? Porquê tanta injustiça, tantas guerras fratricidas que provocam a morte de crianças, destroem cidades, poluem o ambiente em que vive o homem, a mãe terra, violada e devastada? Referindo-se implicitamente ao pecado de Adão, São Paulo diz: «Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente» (Rm 8, 22). A luta moral dos cristãos está ligada ao “gemido” da criação, porque ela «foi sujeita à destruição» (v. 20). Todo o cosmos e cada criatura gemem e anseiam “impacientemente”, para que a condição atual possa ser superada e a original restabelecida: efetivamente, a libertação do homem implica também a das outras criaturas que, solidárias com a condição humana, foram colocadas sob o jugo da escravidão. Tal como a humanidade, a criação – sem culpa sua – é escrava e vê-se incapaz de fazer aquilo para que foi concebida, isto é, ter um significado e um propósito duradouros; está sujeita à dissolução e à morte, agravadas pelos abusos humanos sobre a natureza. Mas, em sentido contrário, a salvação do homem em Cristo é esperança segura inclusive para a criação: com efeito, «também ela será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus» (Rm 8, 21). Portanto, na redenção de Cristo, é possível contemplar na esperança o vínculo de solidariedade entre o ser humano e todas as outras criaturas.
(acidigital)
Hoje é celebrado santo Irineu, bispo de Lyon e padre da Igreja
Por Redação central
28 de jun de 2024 às 00:01
Santo Irineu foi bispo da cidade francesa de Lyon, padre da Igreja e é recordado por ter escrito muitas obras que forjaram as bases da teologia cristã e que confrontaram erros e heresias provenientes do gnosticismo do século II.
Irineu foi discípulo de são Policarpo, bispo daquela cidade, o qual, por sua vez, foi discípulo do apóstolo são João.
Sua principal obra é chamada “Contra as Heresias”, um escrito que consta de 5 volumes que refutam os ensinamentos de vários grupos gnósticos dos primeiros séculos da era cristã.
O gnosticismo é uma heresia muito antiga que defende que só se alcança a salvação da alma com um conhecimento quase intuitivo dos mistérios do universo e em umas fórmulas mágicas que esse conhecimento indica, o que hoje faria parte do new age.
Santo Irineu nasceu na Ásia Menor na primeira metade do século II; sua data de nascimento é desconhecida, mas diz-se que poderia ser por volta do ano 125.
Recebeu uma boa educação, pois tinha profundos conhecimentos das Sagradas Escrituras, da literatura e da filosofia. Além disso, em várias ocasiões viu e escutou o bispo são Policarpo em Esmirna.
Durante a perseguição de Marco Aurélio, Irineu era sacerdote da Igreja de Lyon. Tempos mais tarde, sucedeu o mártir são Policarpo como bispo da mesma cidade.
Durante a paz religiosa após a perseguição de Marco Aurélio, o novo bispo dividiu suas atividades entre os deveres de um pastor, missionário, e seus escritos, os quais quase todos eram dirigidos contra o gnosticismo, a heresia que se propagava entre os gauleses e outros lugares.
O ano de sua morte é desconhecido. Segundo uma tradição posterior, afirma-se que foi martirizado. Sua festa é celebrada em 28 de junho.
quinta-feira, 27 de junho de 2024
A oração de são Carlos de Foucauld para pedir a proteção do Perpétuo Socorro
Por Abel Camasca
27 de jun de 2024 às 02:00
Hoje (27) é celebrada Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, devoção mariana muito querida a são Carlos de Foucauld (1858-1916). Ele fez uma reflexão sobre a devoção e compôs uma oração para pedir sua proteção.
Depois de vários anos afastado da fé, converter-se e passar pelos trapistas, são Carlos, que era membro da nobreza francesa, deixou tudo e foi a pé para a Terra Santa. Ele ficou em Nazaré por cerca de três anos, ajudado pelo convento das Clarissas, onde era jardineiro e criava objetos para peregrinos.
Segundo a "Família Espiritual Charles de Foucauld", numa meditação em 30 de junho de 1897, o santo eremita refletiu em Nazaré sobre a Visitação de Maria. Segundo são Carlos, esse mistério Nossa Senhora ensina a iluminar, consolar e cuidar.
Ele pediu à "Mãe do Perpétuo Socorro": Concede-me a graça "de usar a minha existência de forma a que faça o maior bem possível a Jesus, para glorificá-lo o máximo possível, para fazer comigo o que Ele queira".
Segundo os Missionários Redentoristas, divulgadores da devoção mariana do Perpétuo Socorro, são Carlos compôs uma oração na qual diz que se consagrou a esta devoção.
No texto, são Carlos recorda como Nossa Senhora o ajudou e guiou. Por isso, como uma criança, ele pede sua proteção e compartilhar seu amor para sempre.
A seguir, a oração escrita por são Carlos de Foucauld.
Minha boa Mãe, Mãe do Perpétuo Socorro:
Tu, a quem me confiei e me consagrei
há alguns anos,
e que tão bem me socorreste
e tão fielmente me guardaste e me guiaste,
minha boa Mãe, mantém-me perto de ti.
Eu me coloco em tuas mãos como uma criança.
Eu me abandono a ti como uma criança em suas cobertas.
Guarda-me, guarda o meu coração!
Permita que nesta noite, neste dia e sempre
eu e todos aqueles que Jesus quer ver junto a Ele,
possamos compartilhar incessantemente teu amor,
teu olhar, tua adoração de Nosso Senhor.
quarta-feira, 26 de junho de 2024
Audiência Geral 26 de junho de 2024 Papa Francisco
PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro
Quarta-feira, 26 de junho de 2024
Catequese por ocasião da Jornada Mundial contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas
Locutor:
Hoje comemoramos a Jornada Mundial contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, estabelecida pela ONU em 1987. O tema deste ano ressalta a evidente necessidade de investir na prevenção. São João Paulo II alertou que o uso indevido de drogas empobrece a sociedade, enfraquecendo sua força humana e moral. Contudo, cada pessoa dependente possui uma história única que deve ser ouvida e tratada com amor e dignidade. Não podemos ignorar as ações nefastas dos traficantes, cuja ganância causa imenso sofrimento. Por outro lado, a redução da dependência das drogas não se resolve com a liberalização das mesmas. Precisamos de uma prevenção focada na justiça, educação e esperança. O Senhor Jesus, ao compartilhar da nossa condição, curou nossas feridas; assim também nós, como cristãos, somos chamados a agir e não devemos ser indiferentes a essas situações.
* * *
Santo Padre:
Cari pellegrini di lingua portoghese, in particolare quelli provenienti dal Portogallo e dal Brasile, vi rivolgo un caloroso saluto. Continuate a nutrire la vostra fede e a condividere con gioia l'amore di Cristo nelle vostre comunità. Il vostro entusiasmo sia ispirato dai Santi Pietro e Paolo, che celebreremo prossimamente. Che il Signore vi colmi di benedizioni e vi guidi sempre nel vostro cammino.
* * *
Locutor:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, especialmente os que vieram de Portugal e do Brasil, envio-vos uma calorosa saudação. Continuem a nutrir a vossa fé e a partilhar com alegria o amor de Cristo nas vossas comunidades. O vosso entusiasmo seja inspirado pelos Santos Pedro e Paulo, que celebraremos proximamente. Que o Senhor vos encha de bênçãos e vos guie sempre no vosso caminho.
Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana
Hoje é celebrado são Josemaria Escrivá, “o santo do ordinário”
Por Redação central
26 de jun de 2024 às 00:01
“Deus não te arranca do teu ambiente, não te retira do mundo, nem do teu estado de vida, nem das tuas ambições humanas nobres, nem do teu trabalho profissional... mas, aí, te quer santo!”, dizia são Josemaria Escrivá , fundador do Opus Dei e conhecido como “o santo do ordinário”.
São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em Barbastro (Espanha – 1902) em uma família profundamente cristã. Quando criança, teve uma infância muito difícil. Três irmãs mais novas que ele morreram ainda meninas, o negócio de seu pai faliu e a família teve que se mudar para Logroño.
Certo dia, viu pegadas na neve dos pés descalços de um religioso e sentiu que Deus desejava algo dele. Pouco a pouco, foi aumentando sua inquietude vocacional e ingressou no seminário. Mais tarde, estudou Direito na Universidade de Saragoça.
Caracterizava-se por um caráter generoso e alegre, enquanto sua simplicidade e serenidade o fizessem muito querido entre seus companheiros. Tinha muito esmero na piedade, disciplina e estudo, tornando-se um exemplo para seus colegas.
Foi ordenado sacerdote em 28 de março de 1925. Anos mais tarde, com a permissão de seu Bispo, mudou-se para Madri para obter seu doutorado em Direito. Em 2 de outubro de 1928, Deus lhe fez ver o que queria dele e fundou o Opus Dei.
Na ocasião, são Josemaria definiu o Opus Dei como “uma mobilização de cristãos que soubessem sacrificar-se gostosamente pelos outros, que tornassem divinos os caminhos humanos da terra (todos!), santificando qualquer trabalho nobre, qualquer trabalho limpo”.
Em 1933, o santo promoveu uma academia universitária compreendendo que o mundo da cultura e da ciência é um ponto importante para a evangelização de toda a sociedade. Com a eclosão da guerra civil em 1936, teve início a perseguição religiosa e são Josemaria se viu obrigado a refugiar-se em vários lugares até chegar a Burgos.
Com o fim da guerra, em 1939, retornou para Madri e terminou seus estudos de doutorado em direito. Sua fama de santidade foi se estendendo e dirigiu muitos exercícios espirituais a pedido de vários bispos e superiores religiosos. Em 1946, mudou-se para Roma e obteve da Santa Sé a aprovação definitiva do Opus Dei.
Aos poucos, foi-lhe sendo confiados cargos importantes no Vaticano e seguiu com atenção o Concílio Vaticano II, relacionando-se com muitos padres conciliares. Viajou por vários países da Europa e América, impulsionando e consolidando o trabalho apostólico do Opus Dei. É autor do livro ‘Caminho’, que se converteu em um clássico moderno da espiritualidade católica.
“Ali onde estão vossas aspirações, vosso trabalho, vossos amores, ali está o lugar de seu encontro cotidiano com Cristo”, incentivava são Josemaria.
Partiu para a Casa do Pai em 26 de junho de 1975, por causa de uma parada cardíaca, e aos pés de um quadro da Santíssima Virgem de Guadalupe. Foi canonizado por João Paulo II em 2002.
terça-feira, 25 de junho de 2024
SANTO DO DIA : São Guilherme de Vercelli, padroeiro da Irpínia
Adolescente decidido
Às vezes, 14 anos são suficientes para escolher a vida que se quer viver, renunciando àquela que se tem. Assim foi Guilherme, um adolescente de Vercelli. Com 14 anos, fez uma coisa semelhante àquela que Francesco faria em Assis, mais de cem anos depois. Deixou a vida de opulenta riqueza da sua família, renunciou ao título nobiliário, vestiu uma túnica rude e partiu descalço e sozinho.
Uma experiência de peregrinação
Guilherme tinha os pés torturados de tanto andar. Seu destino era Santiago de Compostela e, depois, um dia, a Terra Santa. Compostela torna-se uma etapa obrigatória de peregrinação para o homem do primeiro milênio. Por volta do ano 1099, Guilherme partiu para o Santuário espanhol: fez cinco anos de caminhada, de pão e água, de cilício, dormindo no chão, de colóquio íntimo com Deus e de ardente anúncio do Evangelho ao longo do caminho. A outra etapa de qualquer peregrinação, na época, era a Terra de Jesus. Então, Guilherme voltou para a Itália com o objetivo de partir para Jerusalém. Porém, o homem que planeja se defronta com as surpresas de Deus. O jovem encaminhou-se para o sul da Itália em busca de um navio. Mas, nas proximidades de Brindes, foi agredido por alguns ladrões. Naquele pobre peregrino nada havia para roubar; decepcionados, a agressão se transformou em violência. Guilherme foi espancado e obrigado a interromper sua viagem. Ao recuperar suas forças, encontrou-se com João de Matera, o futuro santo, que havia conhecido antes, que lhe disse, com decisão, que, por detrás da agressão sofrida, poderia estar oculto um sinal maior: dedicar a sua missão de apóstolo na Itália.
Vida Eremítica
Guilherme refletiu e se convenceu. Em 1118, volta novamente para Irpínia, aos pés do Montevergine, que o escalou até encontrar uma pequena bacia, onde se deteve. Ali, o peregrino se tornou eremita. O eremita pensava ser feito para a solidão, mas a solidão não era feita para ele: sua fama de homem de Deus se espalhou rápido como o vento gelado que penetrava nos bosques do Monte Partênio. Dezenas de pessoas chegavam ao lugar onde se encontrava a cela do monge Guilherme.
Abade de Montevergine
Assim, o eremita torna-se abade. Foram poucas as regras escritas, ditadas e mostradas com seu exemplo: penitência rigorosa, oração, prática da caridade com os pobres. Este foi o broto da sua congregação dedicada a Maria, oficialmente reconhecida em 1126. No entanto, os pés do eremita queimavam.
A mística do Peregrino
Certo dia, o Santo peregrino confiou a um discípulo a recém-nascida Abadia de Montevergine e retomou sua estrada, indo de Irpínia a Sânio, da Lucânia à Apúlia e Sicília. Os príncipes normandos e as pessoas paupérrimas que o encontravam permaneciam fascinados. Notou-se aí uma verdadeira espiritualidade peregrina, daquele que se encontrou com Jesus através dessas experiências de viajante, recordando que todos nós somos passageiros neste mundo.
Padroeiro da Irpínia
A abadia de Montevergine prosperou graças às contínuas doações conspícuas. Entre os amigos reinantes, mas, sobretudo, sinceros de Guilherme, destaca-se Rogério II, um rei normando. Foi ele quem visitou, pela última vez, o peregrino, que se tornou eremita e abade, debilitado e quase sem força. Em 1142, São Guilherme entregou seu espírito em um de seus mosteiros da Irpínia, em Goleto. 800 anos depois da sua morte, em 1942, Pio XII o proclamou Padroeiro principal da Irpínia.
A minha oração
“Vosso anseio de peregrino demonstra que tudo nessa vida é passageiro, por isso, ensina-nos a viver em desapego e disposição para as coisas do alto. Mostra-nos o caminho correto para o céu e guia-nos nessa estrada desafiante da vida. Amém!”
São Guilherme , rogai por nós!
(cançaonova)
segunda-feira, 24 de junho de 2024
Hoje a Igreja celebra a natividade de são João Batista, o “profeta do Altíssimo”
Por Redação central
24 de jun de 2024 às 00:01
“A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente”, disse o bispo santo Agostinho (354-430) em seus sermões nos primeiros séculos do cristianismo, sobre a natividade de são João Batista, que é celebrada hoje (24).
“João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O próprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas até João Batista”, acrescentou o santo doutor da Igreja.
São João Batista nasceu seis meses antes de Jesus Cristo. No primeiro capítulo de Lucas narra-se que Zacarias era um sacerdote judeu casado com santa Isabel e não tinha filhos, porque ela era estéril. Estando já com a idade muito avançada, o anjo Gabriel apareceu a ele e comunicou que sua esposa teria um filho que seria o precursor do Messias, a quem daria o nome João. Zacarias duvidou desta notícia e Gabriel lhe disse que ficaria mudo até que tudo fosse cumprido.
Meses depois, quando Maria recebeu o anúncio de que seria a Mãe do Salvador, a Virgem foi ver sua prima Isabel e permaneceu ajudando-a até o nascimento de são João.
Assim, como o nascimento do Senhor é celebrado todo 25 de dezembro, perto do solstício de inverno no hemisfério norte (o dia mais curto do ano), o nascimento de São João é em 24 de junho, próximo do solstício de verão no hemisfério norte (o dia mais longo). Dessa forma, depois de Jesus, os dias vão aumentando, e depois de João, os dias vão diminuindo, até que se volte “a nascer o sol”.
A Igreja assinalou essas datas no século IV, com a finalidade de que se sobrepusessem às duas festas importantes do calendário greco-romano: o “dia do sol” (25 de dezembro) e o “dia de Diana” no verão, cuja festa comemorava a fertilidade. O martírio de são João Batista é comemorado em 29 de agosto.
Em 24 de junho de 2012, por ocasião desta festa, o papa Bento XVI afirmou que o exemplo de são João Batista chama os cristãos “converter-nos, a testemunhar Cristo e anunciá-lo todo o tempo”.
Em suas palavras prévias à oração mariana do Ângelus, recordou a vida de são João Batista e indicou que “com exceção da Virgem Maria, João Batista é o único santo do qual a liturgia festeja o nascimento, e isto porque ele está estreitamente relacionado com o mistério da Encarnação do Filho de Deus”.
“Desde o seio materno João é o precursor de Jesus: a sua concepção prodigiosa é anunciada pelo Anjo a Maria como sinal de que ‘nada é impossível a Deus’”.
Bento XVI recordou que o “pai de João, Zacarias — marido de Isabel, parente de Maria — era sacerdote do culto judaico. Ele não acreditou imediatamente no anúncio de uma paternidade já inesperada, e por isso ficou mudo até ao dia da circuncisão do menino, ao qual ele e a esposa deram o nome indicado por Deus, ou seja, João, que significa ‘o Senhor concede graças’”.
“Animado pelo Espírito Santo, Zacarias falou assim da missão do filho: ‘E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás adiante do Senhor a preparar os seus caminhos. Para dar a conhecer ao Seu povo a Sua salvação pela remissão dos pecados’”.
Ele disse que “tudo isso se manifestou 30 anos depois, quando João começou a batizar no rio Jordão, chamando as pessoas para se preparar, com aquele gesto de penitência, à eminente vinda do Messias, que Deus lhe havia revelado durante sua permanência no deserto da Judeia”.
“Quando um dia veio de Nazaré o próprio Jesus para se fazer batizar, João inicialmente recusou-se, mas depois consentiu, e viu o Espírito Santo pairar sobre Jesus e ouviu a voz do Pai celeste que o proclamava seu Filho”, disse.
O papa disse que a missão de são João Batista ainda não estava cumprida, porque “pouco tempo mais tarde, foi-lhe pedido que precedesse Jesus também na morte violenta: João foi decapitado na prisão do rei Herodes, e assim deu pleno testemunho do Cordeiro de Deus, que ele foi o primeiro a reconhecer e a indicar publicamente”.
Bento XVI também recordou que “a Virgem Maria ajudou a idosa prima Isabel a levar até ao fim a gravidez de João”. “Ela ajude todos a seguir Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, que o Batista anunciou com grande humildade e fervor profético”, disse.
domingo, 23 de junho de 2024
Angelus 23 de junho de 2024 Papa Francisco
PAPA FRANCISCO
ANGELUS
Praça São Pedro
Domingo, 23 de junho de 2024
Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus no barco com os discípulos, no lago de Tiberíades. De repente, chega uma forte tempestade e o barco corre o risco de se afundar. Jesus, que estava a dormir, acorda, ameaça o vento e tudo volta à calma (cf. Mc 4, 35-41).
Mas, na realidade, não acorda, acordam-no! Com tanto medo, são os discípulos que acordam Jesus. Na noite anterior, tinha sido o próprio Jesus a dizer aos discípulos que entrassem no barco e atravessassem o lago. Eles são experientes, são pescadores, e aquele é o seu ambiente de vida; mas uma tempestade podia pô-los em apuros. Parece que Jesus quer pô-los à prova. No entanto, não os deixa sozinhos, fica com eles no barco, em silêncio, até a dormir. E quando a tempestade se desencadeia, com a sua presença tranquiliza-os, encoraja-os, incita-os a ter mais fé e acompanha-os para além do perigo. Mas podemos fazer esta pergunta: porque se comporta assim Jesus?
Para reforçar a fé dos discípulos e para os tornar mais corajosos. De facto, eles saem desta experiência mais conscientes do poder de Jesus e da sua presença no meio deles e, por isso, mais fortes e mais dispostos a enfrentar os obstáculos e as dificuldades, incluindo o medo de se aventurarem a anunciar o Evangelho. Tendo superado esta prova com Ele, serão capazes de enfrentar muitas outras, até à cruz e ao martírio, para levar o Evangelho a todas as nações.
E Jesus faz o mesmo connosco, em particular na Eucaristia: reúne-nos à sua volta, dá-nos a sua Palavra, alimenta-nos com o seu Corpo e Sangue, e depois convida-nos a fazer-nos ao largo, para transmitir o que ouvimos e partilhar com todos o que recebemos, na vida de todos os dias, mesmo quando é difícil. Jesus não nos poupa das dificuldades, mas, sem nunca nos abandonar, ajuda-nos a enfrentá-las. Ele torna-nos corajosos. Assim, também nós, superando-as com a sua ajuda, aprendemos cada vez mais a estreitar-nos a Ele, a confiar no seu poder, que vai muito além das nossas capacidades, a superar incertezas e hesitações, fechamentos e preconceitos, com coragem e grandeza de coração, para dizer a todos que o Reino dos Céus está presente, está aqui, e que com Jesus ao nosso lado podemos fazê-lo crescer juntos para além de todas as barreiras.
Perguntemo-nos então: nos momentos de provação, sei recordar as vezes que na minha vida experimentei a presença e a ajuda do Senhor? Pensemos: quando chega alguma tempestade, deixo-me dominar pelo tumulto ou estreito-me a Ele - há tantas tempestades interiores - para encontrar a calma e a paz, na oração, no silêncio, na escuta da Palavra, na adoração e na partilha fraterna da fé?
A Virgem Maria, que aceitou a vontade de Deus com humildade e coragem, nos conceda, nos momentos difíceis, a serenidade do abandono n’Ele.
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Depois do Angelus
Amados irmãos e irmãs!
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de vários países.
Saúdo em particular os fiéis de Sant Boi de Llobregat (Barcelona) e os de Bari. Saúdo os participantes no evento “Escolhamos a vida”, o coro “Edelweiss” da Secção Alpina de Bassano del Grappa e os ciclistas de Bollate que vieram de bicicleta.
Continuemos a rezar pela paz, sobretudo na Ucrânia, na Palestina e em Israel. Olho para a bandeira de Israel. Hoje vi-a ao voltar da Igreja dos Santos Quarenta Mártires, é um apelo à paz! Rezemos pela paz! Palestina, Gaza, Norte do Congo... Rezemos pela paz! E paz na Ucrânia, que sofre tanto, que haja paz! Que o Espírito Santo ilumine as mentes dos governantes, lhes incuta sabedoria e sentido de responsabilidade, para que evitem qualquer ação ou palavra que alimente o confronto e, em vez disso, procurem decididamente uma solução pacífica para os conflitos. A negociação é necessária.
Anteontem faleceu o Padre Manuel Blanco, um franciscano que viveu quarenta e quatro anos na Igreja Santos Quarenta Mártires e São Pasquale Baylon, em Roma. Era superior, confessor, homem de conselho. Ao recordá-lo, gostaria de lembrar tantos irmãos franciscanos, confessores, pregadores, que honraram e honram a Igreja de Roma. Obrigado a todos eles!
E desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!
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Hoje é celebrado são José Cafasso, padroeiro das prisões e modelo de confessor
Por Redação central
23 de jun de 2024 às 00:01
“Não será morte, mas um doce sonho para ti, minha alma, se ao morrer te assiste Jesus e te recebe a Virgem Maria”, escreveu pouco tempo antes de morrer são José Cafasso, padroeiro das prisões italianas e modelo de sacerdote comprometido com a confissão e direção espiritual. São João Bosco se formou sob sua orientação.
São José Cafasso nasceu na Itália, em 1811. Desde pequeno, sua família e as pessoas do povoado o estimavam como um “santinho”. Foi ordenado sacerdote em 1833 e, meses depois, estabeleceu-se no Colégio Eclesiástico para aperfeiçoar sua formação sacerdotal.
São José Cafasso acompanhou à forca muitos condenados à morte e todos morreram confessados, arrependidos e assistidos por sua paternal presença, porque lhe recordavam Cristo prisioneiro.
São José Cafasso ajudou são João Bosco no seminário e, mais tarde, no colégio. No apostolado das prisões, Bosco presenciou os horrores que a juventude sofre por não ter quem os oriente na fé e na educação. Assim, foi surgindo a inquietude de criar obras que previnam os jovens de parar nesses lugares.
Apesar das críticas, são José Cafasso sempre defendeu o serviço juvenil de seu discípulo e tornou-se um benfeitor da nascente comunidade salesiana.
Todos os tipos de pessoas necessitadas até o padre Cafasso. Ele se caracterizava por sua amabilidade e uma alegria contagiante. Costumava incutir em seus alunos uma grande devoção ao Santíssimo Sacramento e à Virgem Maria.
“Toda santidade, perfeição e proveito de uma pessoa está em fazer perfeitamente a vontade de Deus... querer o que Deus quer, querê-lo no modo, no tempo e nas circunstâncias que Ele quer, e querer tudo isso unicamente porque Deus assim o quer”, dizia são José Cafasso.
Certo dia, em um sermão, expressou: “Como é belo morrer em um sábado, dia da Virgem, para ser levado por Ela para o céu”. Assim aconteceu, partiu para a casa do Pai no sábado, 23 de junho de 1860.
São João Bosco, na oração fúnebre, recordou seu diretor espiritual e confessor como mestre do clero, um seguro conselheiro, consolo dos moribundos e grande amigo.
sábado, 22 de junho de 2024
"Pedro está aqui": como se chegou à identificação do túmulo e ossos do Apóstolo
Maria Milvia Morciano - Cidade do Vaticano
Do vértice da cúpula de Michelangelo um fio invisível desce e atravessa a luz, mergulha na escuridão subterrânea, percorrendo assim séculos de história e fases de construção. No fundo, na terra nua, foram sepultados os restos mortais de Pedro, depois de o apóstolo ter sido descido da cruz onde morrera não muito distante, na área do Circo de Nero. Foi sepultado em uma necrópole do Ager Vaticanus em meio a tantas pessoas desconhecidas e pobres como ele.
No entanto, a memória foi mais forte. Aquele local tornou-se imediatamente meta de peregrinações. Ao longo dos séculos, precisame naquele fosso, sucedeu-se uma sequência de fases, com monumentos cada vez mais majestosos: uma simples edícula, o chamado Troféu de Gaio, incorporado mais tarde pelo monumento de Constantino e então a grande reorganização do espaço de Gregório Magno (590-604) e novamente o nicho com o mosaico de Cristo do século IX, o altar de Calisto II (1123) e por fim o de Clemente VIII em 1549, sombreado pelo grande baldaquino de Borromini.
Do esplendor dourado do Barroco ao esplendor resplandecente da Idade Média, da severidade essencial do século IV a uma edícula esbelta e simples sobre a mais extrema pobreza de uma fossa escavada na terra. Ao redor da sepultura forma-se ao longo dos séculos a basílica ad corpus, único caso no mundo cristão de uma construção sagrada nascida diretamente sobre a sepultura de um mártir, mas neste caso trata-se de Pedro, o primeiro bispo da Igreja de Roma .
É uma história complexa aquela envolve o túmulo de Pedro. Com o tempo, a memória resistiu e tornou-se fé, até que Pio XII, em 1939, decidiu realizar escavações arqueológicas, difíceis quer por se tratar de tempo de guerra como pelas condições objetivas.
O túmulo de Pedro é reconhecido. Durante a mensagem radiofônica de Natal de 23 de dezembro de 1950, no final do Ano Santo, o Papa Pacelli anuncia que o túmulo havia sido encontrado: «Mas a questão essencial é a seguinte: o túmulo de São Pedro foi realmente encontrado? A tal pergunta, a conclusão final dos trabalhos e dos estudos responde com um sim muito claro. O túmulo do Príncipe dos Apóstolos foi encontrado».
Reconstituamos com o professor Vincenzo Fiocchi Nicolai, professor de Topografia dos cemitérios cristãos do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, os acontecimentos destas descobertas, entre as mais sensacionais da história da arqueologia.
«A presença do túmulo de Pedro é demonstrada a partir de toda uma série de elementos - explica o professor - porque precisamente abaixo do altar do final do século XVI foram encontrados alinhados com o altar e, portanto, sob a cúpula, um altar medieval, depois um belo monumento de mármore, que é a caixa que Constantino quis construir para incorporar uma edícula indicando um túmulo que ainda se encontra por baixo. Uma verdadeira série de caixas chinesas. Este túmulo encontra-se em um contexto sepulcral, portanto com outros túmulos que são susceptíveis de datação entre as últimas décadas do século I d.C. e os inícios do II, que confirmam que aquele é, com base neste elemento e em outros, como os grafites, que aquele é o túmulo do apóstolo”.
Fontes escritas
Os grafites são extremamente importantes, porque demonstram claramente a atividade devocional, todo um movimento dos primeiros fiéis da comunidade de Roma que se dirigiram a esta edícula, o famoso tropayon, relatado por Eusébio de Cesareia nas Historiae ecclesiasticae (II 25, 5 –7) fala de Gaio - provavelmente um eclesiástico e com certeza um romano - que, para contrapor a presença dos túmulos de Pedro e Paulo em Roma com as declarações de um herege montanista chamado Proclo, diz: «Posso mostrar-te os troféus dos apóstolos que fundaram esta Igreja, portanto a Igreja de Roma. Se quiseres ir ao Vaticano ou no caminho de Ostia, eu te mostrarei esses troféus."
Trata-se de claras indicações topográficas, que também reaparecem no Liber Pontificalis, que além de recordar, para Pedro, monumentos considerados famosos da época imperial, situam o cemitério entre a Via Aurelia e a Via Trionfale.
O Troféu de Gaio
A edícula a que se refere o professor Fiocchi Nicolai é o Troféu de Gaio, uma estrutura leve com colunas, coroada por um tímpano sob o qual, de fato, estava a sepultura de barro com os restos mortais de Pedro.
«Os troféus – explica o professor – são os elementos monumentais triunfalistas e vitoriosos que assinalam o túmulo de um apóstolo mártir que venceu a morte graças ao martírio. Portanto, podemos datar esta edícula - explica Fiocchi Nicolai - com base na passagem de Eusébio que situa Gaio na época do Papa Zefirino, portanto entre 198 e 217. Esta edícula já existia naquela época e com base arqueológica podemos data-o por volta dos anos 60 do século II. Certamente esta é a edícula que marcou o túmulo”, conclui o professor.
“Pedro está aqui”
«Os grafites se encontram na parede rebocada de vermelho, a famosa parede vermelha. Sobre um fragmento isolado lê-se um conhecido grafite fragmentário que leva o nome de Petros, e na linha seguinte, em grego, um epsilon, um ni e depois um iota. A leitura do fragmento deu origem a muitas interpretações. A mais cativante - recorda o arqueólogo - foi proposta pelo professor Guarducci: Petros eni, ou seja “Pedro está aqui” ou “Pedro está aqui dentro” referindo-se não ao túmulo mas à deposição secundária dos ossos em uma caixa colocada em um nicho na época de Constantino. Uma terceira interpretação seria uma invocação a Pedro caso se interprete as duas letras como parte da palavra eirene, paz em grego: “Pedro em paz”. Pode-se deduzir, conclui Fiocchi Nicolai, que o nome de Pedro nessa posição pode ser atribuído ao do Apóstolo».
Centenas de grafites, testemunho de fé
«Na “parede G”, ou seja, a parede que fecha um dos lados da edícula em um momento posterior, existem centenas de grafites muito difíceis de serem decifrados, mas certamente com nomes, com invocações, com sinais cristológicos que indicam em qualquer forma e em todos os casos que havia uma frequência devocional daquele túmulo que mais tarde se torna então o fulcro de todos os outros rearranjos até o atual altar papal e o baldaquino», observa o professor Nicolai.
São realmente os ossos de Pedro?
Como expressou o Papa Pio XII, à primeira interrogação relativa à identificação do túmulo de Pedro segue-se uma segunda: foram encontrados os ossos de Pedro?
Tem início assim um dos acontecimentos mais marcantes da história da arqueologia e a protagonista foi uma mulher, nascida no início do século XX, arqueóloga e epígrafe florentina, Margherita Guarducci, a quem se deve a decifração dos grafites, sobretudo aquele relativo a Pedro.
As escavações entre 1939 e 1958, promovidas pelo Papa Pacelli, descobriram o túmulo de Pedro, mas sob a edícula de Gaio não havia ossos. «Também foi encontrada uma caixa inseridaem nicho escavado na parede dos grafites em época indeterminada, mas de qualquer forma anterior à de Constantino que envolveu a edícula com uma grande urna de mármore decorada com precioso pórfiro vermelho e que ainda pode ser vista na Capela Clementina. Uma caixa que deve ter tido um significado importante tanto pela sua preciosidade intrínseca como pela sua posição. Os quatro exploradores escreveram no relatório oficial que aquela caixa foi encontrada essencialmente vazia», observa Fiocchi Nicolai.
Um mistério arqueológico
Cerca de dez anos depois, Margherita Guarducci, conduzindo uma investigação de detetive, teria recuperado os ossos por meio do depoimento de um dos trabalhadores que havia escavado durante os primeiros anos de exploração. O trabalhador alegou que em uma caixa de madeira que se encontrava nos depósitos havia ossos que tinham sido retirados durante os trabalhos normais de limpeza sem o conhecimento dos quatro arqueólogos encarregados de acompanhar as escavações.
«Então um operário teria recuperado estes ossos da caixa e colocado-os em uma caixa de madeira que depois foi parar nos depósitos», afirma o professor do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, que acrescenta: «Estes ossos foram, portanto, atribuídos a posteriori à caixa inserida na parede G também porque havia um pedaço de papel indicando sua origem. Trata-se de fragmentos ósseos que não equivalem a um corpo inteiro. Foi conduzida uma investigação antropológica que, embora genérica, os atribui a um homem maduro que possivelmente seria contemporâneo de Pedro. As investigações não fornecem sequer resultados exatos, mas pode-se dizer que são compatíveis com aquelas do Apóstolo”, conclui Fiocchi Nicolai que assim reconstrói o caso: «Teria acontecido que no momento da criação da cápsula Constantiniana teriam tirado do túmulo o que restava de alguns ossos de Pedro e os teriam colocado na caixa da parede G para protegê-los para sempre."
Um “anúncio feliz”
Durante a Audiência Geral de 26 de junho de 1968, São Paulo VI, recordando as investigações e estudos realizados, ao mesmo tempo que afirmava que «não se esgostariam com isso as pesquisas, as verificações, as discussões e as controvérsias», faz um «anúncio feliz»: «Tanto mais solícitos e exultantes devemos ser, quando tivermos motivos para acreditar que tenham sido encontrados os poucos, mas sacrossantos restos mortais do Príncipe dos Apóstolos, de Simão, filho de Jonas, do Pescador chamado Pedro por Cristo, daquele que foi eleito pelo Senhor como fundamento da sua Igreja, e a quem o Senhor confiou as chaves supremas do seu reino, com a missão de pastorear e reunir o seu rebanho, a humanidade redimida, até ao seu retorno final e glorioso».
As relíquias doadas como símbolo da unidade da Igreja
No relicário de bronze com nove fragmentos ósseos, que pertenceu ao Papa Montini, doados em 2019 pelo Papa Francisco ao Patriarca de Constantinopla, por ocasião da festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, está escrito com prudência o verbo putantur, ou seja, que «são considerados de Pedro», observa por fim o professor Vincenzo Fiocchi Nicolai. De fato, a inscrição diz: Ex ossibus quae in Arcibasilicae Vaticanae hypogeo inventi Beati Petri Apostoli esse putantur, «Dos ossos encontrados no hipogeu da Basílica Vaticana, que se acredita pertencerem ao Beato Pedro Apóstolo».
Um fio que não se rompe
A arqueologia é uma ciência que aspira basear-se em evidências, mas são as deduções que muitas vezes conseguem reconstruir a história. No caso do túmulo e dos ossos de Pedro, os elementos que convergem em torno do espaço da Confissão restituem um quadro de verdade porque, além dos vestígios materiais, o que é decisivo é a fé. A fé estratificada ao longo dos séculos por milhares e milhares de peregrinos, papas e santos que entrelaçaram o fio da memória tornando-a indestrutível.
(vaticannews)