12 de ago de 2024 às 14:23
Por todo o país muçulmano mais populoso do mundo, a Indonésia, os católicos podem encontrar oásis de oração e devoção. A fé católica, através de procissões e rituais de oração, existe no país há mais de 500 anos.
Registros que datam do século XVI indicam que as primeiras tradições católicas na Indonésia foram estabelecidas depois da primeira aparição registrada de Nossa Senhora no país.
A primeira procissão da "Mãe Maria" na ilha de Flores
A história católica na Indonésia começa em Flores, ilha na parte oriental do país, com a história de um menino chamado Resiona que teria testemunhado uma aparição da Rainha do Rosário na praia de Larantuka em 1510, pouco antes de encontrar uma estátua de Nossa Senhora trazida à praia pelo mar, provavelmente de um navio português naufragado.
“Resiona estava procurando caracóis quando viu uma linda senhora parada na sua frente. Ele perguntou o nome dela e de onde ela vinha, mas ela não respondeu”, disse à CNA, agência em inglês da EWTN News, o padre Fidelis Bolo Wotan, doutor em teologia dogmática com especialização em mariologia.
“A mulher escreveu três palavras na areia que o menino não entendeu. As três palavras eram 'Akulah Reinha Rosari' ['Eu sou a Rainha do Rosário']. Depois de algum tempo, quando ele levantou a cabeça, viu uma linda estátua de madeira”.
Quando os missionários dominicanos portugueses chegaram a Flores, cerca de 50 anos depois da aparição, ficaram surpresos ao encontrar a estátua de madeira de Nossa Senhora colocada em um “korkay” (templo local) e recebendo ofertas do povo de Larantuka durante a época da colheita.
Os irmãos dominicanos passaram a falar sobre o significado da estátua e ensinaram a oração do rosário ao povo. Junto com os Larantukas locais, os dominicanos organizaram as primeiras procissões de Tuan Ma (Mãe Maria) durante a Semana Santa, que, até hoje, é uma tradição realizada em Flores, na diocese de Larantuka.
“No passado, os missionários buscavam uma maneira simples de anunciar o Evangelho do Senhor, então o instrumento que eles usavam era a procissão da estátua da Santíssima Virgem Maria durante a Semana Santa”, disse Wotan. “O rosário era a principal ferramenta que os missionários usavam para ensinar as pessoas a viver sua fé”.
O Anuário Pontifício 2019 (relatório anual da Santa Sé) diz que 80% da população de Flores é católica, um número significativo considerando que os católicos são apenas 3% da população total da Indonésia (cerca de 87% dos indonésios são muçulmanos).
Segundo Wotan, a harmonização da religião e da piedade com as culturas locais na Indonésia foi, e continua sendo, fundamental para o crescimento da Igreja num país com cerca de 280 milhões de habitantes espalhados por 17,5 mil ilhas.
A Caverna de Santa Maria em Java
Java, a ilha central onde fica a capital da Indonésia, Jacarta, também abriga o renomado local de peregrinação católica Gua Maria Sendangsono (a Caverna de Santa Maria) em Yogyakarta.
Católicos de todo o país são atraídos para esse local de peregrinação, especialmente em maio e outubro, pois acredita-se que a caverna, que fica dentro do complexo religioso e é marcada por uma grande estátua de Nossa Senhora, seja um lugar de cura física e de paz e oração, segundo um site de turismo indonésio.
Enquanto os missionários dominicanos portugueses eram evangelizadores proeminentes na parte oriental do país, o padre missionário jesuíta holandês Frans van Lith é considerado o fundador da missão católica de Java. Ele chegou ao país na virada do século XIX para o XX e batizou os primeiros católicos javaneses.
Segundo os historiadores Karel Steenbrink e Jan S. Aritonang em seu livro A History of Christianity in Indonesia (Uma História do Cristianismo na Indonésia, em tradução livre), publicado em 2008, van Lith foi um forte defensor da sociedade e cultura javanesas e acreditava que os indonésios deveriam ter a capacidade de ser líderes religiosos, educacionais e políticos em seu país, independentemente do domínio colonial.
A influência de Van Lith entre os javaneses também levou à construção de Gua Maria Sendangsono, que foi concluído em 1929 e inaugurado em 8 de dezembro do mesmo ano. As principais características desse local de peregrinação são a estátua de Nossa Senhora, que foi um presente da rainha da Espanha, e a fonte de água fresca dentro da caverna, que alguns dizem ser capaz de curar doenças.
Santuário de Nossa Senhora da Boa Saúde em Sumatra do Norte
Em Sumatra do Norte, província no lado ocidental da Indonésia, o santuário Graha Maria Annai Velangkanni (dedicado a Nossa Senhora da Boa Saúde) foi construído entre 2001 e 2005 para dar suporte à comunidade católica tâmil que vive em Medan. O design “Indo-Mughal” do santuário faz com que ele pareça uma “igreja, templo e mesquita, tudo em um”.
Segundo o site do santuário, o padre James Bharataputra, jesuíta da Índia que serviu na Indonésia por mais de 50 anos, queria que o santuário fosse um lugar único “onde os católicos pudessem reforçar sua fé e os não católicos pudessem vivenciar e aprender sobre outra fé em um ambiente onde sua respectiva fé também fosse representada nas características do edifício”.
Dois franciscanos capuchinhos - o então arcebispo de Medan, dom Alfred Gonti Pius Datubura, e o então arcebispo coadjutor Anicetus Antonius Sinaga - inauguraram o santuário em outubro de 2005.
“Mais de 3 mil pessoas de vários grupos étnicos compareceram às celebrações e entre elas estavam 200 peregrinos estrangeiros da Malásia, Singapura e Índia”, disse à CNA a irmã Angelina, membro da Kongrasi Suster Santu Yosef (Congregação das Irmãs de São José) em Medan.
(acidigital)
Sem comentários:
Enviar um comentário