sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Singapura, Encontro inter-religioso com os Jovens, 13 de setembro de 202...

 
 
VIAGEM APOSTÓLICA DE SUA SANTIDADE FRANCISCO
à INDONÉSIA, PAPUA NOVA GUINÉ,
TIMOR LESTE E SINGAPURA
(2 - 13 de setembro de 2024
)

ENCONTRO INTER-RELIGIOSO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE

     “Catholic Junior College” (Singapura)
Sexta-feira, 13 de setembro de 2024


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Sinto-me feliz por passar esta última manhã da minha visita a Singapura no meio de tantos jovens, congregados na unidade e na amizade. Este é um momento precioso para o diálogo inter-religioso: obrigado!

Agradeço ao Cardeal William Goh o seu acolhimento fraterno e o trabalho pastoral que desenvolve; e agradeço ao Ministro Edwin Tong por nos ter recordado que os fundamentos da sociedade singapurense residem na harmonia e na unidade entre as diversas religiões. Saúdo cordialmente os líderes religiosos presentes: obrigado pelo vosso empenho em prol da unidade, que testemunha a rica diversidade de credos neste País e favorece o caminho para uma harmonia religiosa cada vez maior. É bom ver que caminhais juntos!

O magnífico lugar onde nos encontramos tem uma história que recorda a unidade na diversidade. Com efeito, Singapura apresenta-se hoje como uma realidade particularmente diversificada, um povo multicultural, uma mistura de culturas, línguas e religiões que vivem lado a lado. Trata-se de uma grande riqueza e, simultaneamente, de um grande desafio que convoca todos, especialmente as várias tradições religiosas, para um trabalho contínuo e paciente de encontro, diálogo e intercâmbio.

É precisamente por esta razão que é importante refletir sobre o valor do diálogo inter-religioso e é bom que vós, jovens, sejais os protagonistas deste sonho. Precisamos de uma nova geração humana fundada na fraternidade e sobretudo vós, que sois jovens, podeis construí-la juntos. E, como não faltam dificuldades e obstáculos, vós fizestes-me algumas perguntas a este respeito. Gostaria de vos responder indicando três palavras que podem acompanhar-nos a todos neste caminho rumo à unidade: coragem, partilha, discernimento.

Em primeiro lugar, o diálogo inter-religioso e o empenho na construção de uma sociedade fraterna pressupõem coragem. Através do seu testemunho, Raaj fez-nos compreender bem este aspecto: comprometer-se e trabalhar para o crescimento de boas relações entre as diferentes religiões nem sempre é fácil, sobretudo quando nos damos conta de que esta realidade não se estende facilmente a outros jovens, nem consegue apelar à responsabilidade geral e nem todos a consideram importante. É por isso que Raaj nos apelou a fazermos tudo o que for possível “para manter uma atitude corajosa e promover um espaço onde os jovens possam entrar e dialogar”. É o que precisamos! E o que vos peço que cultiveis dentro de vós é uma atitude corajosa: a coragem de vos comprometerdes, a coragem de escolherdes o caminho da amizade e do diálogo. Gostaria de dizer: a coragem do amor. Sim, porque é preciso muita coragem para amar verdadeiramente, sobretudo para amar aqueles que estão longe da nossa maneira de pensar e são diferentes de nós em termos de proveniência, cultura ou tradição religiosa. É muito mais fácil fecharmo-nos no nosso pequeno mundo, cuidarmos das nossas coisas, vivermos tranquilamente, divertirmo-nos e não pensarmos muito nisso. Mas se quisermos alargar o espaço do nosso coração e ser um fermento de unidade no mundo em que vivemos, então é necessária a coragem do amor.

Querido Raaj e queridos jovens, para criardes espaços de encontro e diálogo cada vez mais atrativos para outros jovens como vós, muni-vos de coragem; sede corajosos sobretudo pelo testemunho de vida que dais, mostrai sem vos envergonhardes que o caminho para o futuro é amarmo-nos uns aos outros e sermos “todos irmãos”, procurai novos modos de envolver outros jovens como vós. Dizei não à preguiça, não vos deixeis abater por críticas estéreis: tende a coragem de avançar na senda do diálogo e tende a audácia de explorar novos caminhos, de os propor nos lugares que frequentais, na sociedade, nos locais de culto. A coragem é uma palavra-chave!

Para além da virtude da coragem, há uma outra coisa que podeis fazer juntos e que não deveis perder de vista: a partilha. Por vezes, fala-se muito de diálogo inter-religioso e fazem-se esforços, nem sempre bem-sucedidos, para encontrar pontos comuns a todo o custo. No entanto, o que derruba os muros e reduz as distâncias não são tanto as palavras, os ideais e as teorias, mas, acima de tudo, a experiência humana da amizade, do encontro, do olhar nos olhos.

Preet falou-nos precisamente sobre isso: “partilhar com os outros”. E acrescento uma coisa, pensando sobretudo em vós, jovens, que tanto frequentais o mundo digital: por vezes, as diferenças culturais e religiosas são utilizadas de forma polarizada e ideológica, e sentimo-nos divididos e distantes daqueles que são diferentes, simplesmente porque somos influenciados por lugares comuns e por certos preconceitos que encontram espaço também nas redes sociais. Mas, quando nos encontramos pessoalmente, apercebemo-nos de que o outro, apesar de ser diferente, não é como o imaginávamos! Por isso, procurai ocasiões para encontrar quem é diferente, criai redes de amizade, gerai oportunidades de encontro e intercâmbio. Isto quebra barreiras.

Por fim, o discernimento. Trata-se de uma “arte espiritual” que nos ajuda lermo-nos interiormente, a compreender quem somos e a descobrir a vocação última da nossa vida. Face aos desafios da inteligência artificial, o discernimento é mais necessário do que nunca. Nicole falou-nos disso, lembrando que a tecnologia “nos aproximou”, mas “também trouxe desafios”. E no tempo da inteligência artificial, disse ela, precisamos de ser capazes de distinguir o que é real do que é uma mera construção artificial. Pois o discernimento é precisamente a arte de saber distinguir: saber captar a verdade escondida, por vezes mascarada por tantas ilusões ou fake news. É certo que o progresso tecnológico e a inteligência artificial representam uma revolução em tantos domínios da vida e da sociedade; mas, ao mesmo tempo, somos chamados a permanecer vigilantes e a discernir, para que o predomínio dos instrumentos tecnológicos, sobretudo, não esmague a dignidade da pessoa humana e não crie situações sociais de desigualdade e injustiça

Por isso, a cada um de vós de modo especial, gostaria de recomendar: aprendei a discernir! Usai os instrumentos, servi-vos deles para o bem e aprendei também a discernir. Num mundo de inteligências artificiais, temos de ser autênticos, verdadeiros, sem máscaras nem fingimentos. Só assim poderemos integrar a corrente do progresso humano, utilizando todos os instrumentos, sem sermos usados por nada nem por ninguém.

Queridos jovens, estou muito feliz por este encontro! Vejo nos vossos olhos o reflexo da juventude, mas também a beleza das diferentes tradições religiosas a que estais ligados, dos vossos mestres espirituais, da espiritualidade que vos guia. Obrigado por esta beleza e, sobretudo, obrigado por caminhardes juntos, na unidade e no diálogo!

Segui em frente neste caminho, continuai a sonhar e a construir um mundo fraterno, cultivai a unidade, inspirando-vos na riqueza das vossas religiões. Aos jovens cristãos, quero recordar o seguinte: o Evangelho centra-se no amor de Deus por cada um de nós, um amor que nos convida a reconhecer no rosto de cada pessoa um irmão para amar.

Desejo que sejais verdadeiramente, tal como o declarastes em conjunto, “um farol de unidade e de esperança” para as religiões e para o mundo inteiro.

Caríssimos, em breve deixarei Singapura para regressar a Roma. O meu sincero agradecimento às Autoridades civis e ao senhor Cardeal, bem como a quantos colaboraram para acolher o Papa. Obrigado a todos! Juntamente com os outros povos que encontrei nesta viagem apostólica, levo-vos na minha oração. Por favor, lembrai-vos também vós de rezar por mim. Obrigado!



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