Missa Santa Marta
Cidade
do Vaticano (RV) - O espírito do clericalismo é um mal presente também hoje na
Igreja e a vítima é o povo, que se sente descartado, abusado. Foi o que disse o
Papa na missa celebrada na manhã de terça-feira (13/12) na capela da Casa Santa
Marta. Concelebraram com o Papa os membros do Conselho dos Cardeais (C9).
O povo humilde e pobre que tem
fé no Senhor é a vítima dos intelectuais da religião, os seduzidos pelo
clericalismo, que no Reino dos céus serão precedidos pelos pecadores
arrependidos. O Papa cita o Evangelho do dia, em que Jesus se dirige aos chefes
dos sacerdotes e aos anciãos do povo, para falar justamente sobre o seu papel.
“Tinham a autoridade jurídica, moral e religiosa, decidiam tudo. Anás e
Caifás, por exemplo, explicou Francisco, “julgaram Jesus”, eram os sacerdotes e
os chefes que “decidiram matar Lázaro” ou ainda, “negociaram com Judas”, que
vendeu Jesus. Francisco questionou: mas como chegaram a este “estado de
prepotência e tirania”, instrumentalizando a lei?:
“Mas uma lei que eles refizeram
inúmeras vezes: tantas vezes até chegar a 500 mandamentos. Tudo era regulado,
tudo! Uma lei cientificamente construída, porque essas pessoas eram sábias,
conheciam bem. Faziam todas essas nuances, não? Mas era uma lei sem memória:
tinham esquecido o primeiro mandamento, que Deus deu ao nosso pai Abraão:
“Caminha em minha presença e seja irrepreensível”. Eles não caminhavam: sempre
estiveram parados nas próprias convicções. E não eram irrepreensíveis!
Eles – prossegue o
Papa – “haviam esquecido os Dez Mandamentos de Moisés”: “com a lei feita
somente por eles”, “intelectual, sofisticada, casuística”, “cancelam a lei do
Senhor”. E a vítima, assim como foi Jesus, todos os dias é o “povo humilde e
pobre que confia no Senhor”, “aqueles que são descartados”, destaca o Papa, que
conhecem o arrependimento também se não cumprem a lei, mas sofrem estas
injustiças. Sentem-se “condenados”, “abusados”, sublinha outra vez o Papa por
quem é “presunçoso, orgulhoso, soberbo”. “Um descarte destas pessoas”, observou
o Papa, foi Judas:
“Judas
foi um traidor, pecou fortemente, eh! Pecou com força. Mas então o Evangelho
diz: “Arrependido, foi a eles dar de volta as moedas”. E eles o que fizeram?
“Mas você foi nosso ‘sócio’. Fica tranquilo... Nós temos o poder de perdoar
tudo!”. Não! “Te vira. É um problema teu”. E o deixaram sozinho: descartado! O
pobre Judas traidor e arrependido não foi acolhido pelos ‘pastores’. Porque
eles haviam esquecido o que é ser um pastor. Eram os intelectuais da religião,
aqueles que tinham o poder, que levavam adiante as catequeses do povo com uma
moral feita pela sua inteligência e não a partir da revelação de Deus”.
“Um povo humilde
descartado e surrado por esta gente”: também hoje, é a observação de Francisco,
acontecem estas coisas na Igreja. “Há aquele espírito de clericalismo”,
explica: “os clérigos se sentem superiores, se afastam das pessoas”, não têm
tempo para escutar os pobres, os que sofrem, os presos, os doentes”:
“O
mal do clericalismo é uma coisa muito feia! É uma nova edição desta gente. E a
vítima é a mesma: o povo pobre e humilde, que tem esperança no Senhor. O Pai
sempre procurou se aproximar de nós: enviou seu Filho. Estamos esperando, uma
espera alegre e exultante. Mas o Filho não entrou no jogo desta gente: o Filho
foi com os doentes, os pobres, os descartados, os publicanos, os pecadores – é
escandaloso isso... – as prostitutas. Também hoje Jesus diz a todos nós e
também a quem está seduzido pelo clericalismo: “Os pecadores e as prostitutas
entrarão primeiro no Reino dos Céus”.
(bf/rb)
radiovaticana
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