Arquivista e bibliotecário da Santa Sé comentou a encíclica do Papa Francisco «Fratelli tutti» na primeira sessão do curso “Filosofia, Literatura e Espiritualidade”, promovido pela Capela do Rato, do Patriarcado de Lisboa.
Domingos Pinto – Lisboa
“A fraternidade não é um automatismo, uma inevitabilidade da nossa espécie, não é simplesmente ouvir o arquétipo da nossa natureza, é uma construção ética, é uma decisão”.
É a perspetiva defendida pelo cardeal D. José Tolentino Mendonça no comentário por vídeo conferência no passado dia 11 de janeiro à encíclica do Papa Francisco ‘Fratelli Tutti’ na primeira sessão do curso “Filosofia, Literatura e Espiritualidade”, promovido pela Capela do Rato, no Patriarcado de Lisboa.
Um texto que ajuda aperceber “a visão, o legado, o projeto que o Papa Francisco oferece ao nosso tempo e àquele que virá”, nomeadamente no que diz respeito ao exercício da atividade política, diz o cardeal português.
“Uma política que semeia divisão, inimizade ou um ceticismo desolador, uma política que é incapaz de um projeto comum, inclusivo, é uma política condenada ao fracasso”, afirmou o prelado que desafia “os atores políticos a reencontrarem a nobreza da atividade política como a grande expressão do amor comum”.
O bibliotecário e arquivista da Santa Sé assinalou a “visão crítica” de Francisco em relação aos “populismos e neoliberalismos exacerbados”, que “pensam que o mercado aberto é suficiente para regular todas as assimetrias sociais”.
“Um governante tem de olhar para o futuro! Não pode viver da agenda do imediato, da aparência, do marketing, das diferentes formas de maquilhagem mediática, mas tem de governar para um futuro que provavelmente ele não verá, mas constituirá o seu verdadeiro contributo”, sublinhou.
‘Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado?’ são “as grandes perguntas que acabam por julgar a qualidade da atividade política pública”, explicou.
O cardeal oriundo da Madeira afirmou que a modernidade “persistirá como um projeto incompleto” se esquecer a fraternidade, considerando que “lógicas de xenofobismo são indesculpáveis”.
O prelado lembrou ainda que o Papa reconheceu a demora da Igreja Católica a condenar a escravatura e “tantas outras formas de violência”, acrescentado que, hoje, não há desculpas para continuar “dentro de lógicas de violência, de xenofobia ou de desprezo pelos outros seres humanos”.
(vaticannews)
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