O Papa assina o prefácio do livro "Rimas à surpresa" do jovem autor italiano, Luca Milanese, e afirma que se hoje há pobreza de poesia, não é porque há menos beleza, mas porque há menos capacidade de ouvir. A poesia, continua Francisco, precisa da disposição de alguém para ouvir, e o jovem autor nos faz entender que a escuta é "a primeira forma de ternura".
Adriana Masotti e Andressa Collet - Vatican News
O livro de poesias do jovem romano de 18 anos, Luca Milanese, intitulado "Rimas à surpresa" (na tradução literal) e publicado pela Editora Tau, ganhou um leitor especial: o Papa Francisco. Foi o que escreveu o Padre Antonio Spadaro, diretor da revista dos jesuítas "La Civiltà Cattolica" no posfácio da obra, ao se referir ao prefácio assinado pelo próprio Pontífice e ao qual Francisco aceitou com alegria.
Francisco: a poesia é um exercício gratuito de escuta
A beleza é uma experiência, escreve o Papa na sua participação no livro, e "a beleza da qual Luca se faz portador, não nasce de um trabalho cansativo sobre grandes temas ou de uma escolha precisa de palavras eruditas, mas nasce como uma capacidade espontânea de trazer à tona com as palavras certas a interioridade que o habita e que o faz ver ligações mesmo onde aparentemente parece não haver". O Papa observa que aquele do jovem autor "é um olhar interior" que o impele a olhar para si mesmo, para os outros e para Deus e que "sabe captar em coisas aparentemente casuais uma nova profundidade".
A poesia, continua Francisco, precisa da disposição de alguém para ouvir, e Luca nos faz entender que a escuta é "a primeira forma de ternura". É, de fato, a capacidade de criar espaço dentro de si mesmo para coisas novas, diferentes, aparentemente contraditórias, percebendo, então, que elas são "mais verdadeiras que as outras".
Se hoje existe uma pobreza de poesia, aponta o Papa, não é porque a beleza tenha desaparecido, mas porque há menos a capacidade de ouvir. O Papa Francisco conclui assim o prefácio: "desejo que Luca seja capaz de se tornar, através destas páginas, um instrumento de beleza e ternura, e de encorajar os mais jovens a trazer à tona os talentos que o Senhor semeou dentro deles, e que às vezes não encontram a coragem de manifestar por medo do julgamento ou do fracasso".
Posfácio: em versos, a recuperação da vida
Já Padre Antônio Spadaro no posfácio da obra, cita uma frase na qual Luca descreve a poesia como algo que "certamente não dará a solução", mas pode nos deixar com "um sentimento de ser, uma carícia ao coração. Poderia até dar a percepção que existo algo de extraordinário". É graças ao papel e à caneta que Luca recupera a força e a emoção, o desejo de viver. Isso não o distancia da realidade, como às vezes se acredita, ao contrário, para ele "a poesia é um ponto firme que me mantém na realidade das coisas".
A poesia de Luca Milanese, segundo Spadaro, “serve para desenvolver as imagens da vida, para nos questionar sobre o seu significado e, talvez, para entendê-la. Serve, então, em poucas palavras, para experimentar verdadeira e efetivamente a vida. Consiste em uma maneira de decifrar o mundo".
A importância de observar o "trabalho em andamento"
Comentando o fato de que o Papa Francisco aceitou escrever o prefácio do livro de um jovem poeta, o diretor de "La Civiltà Cattolica" observa que esse caso, talvez sem precedentes, nos diz muito sobre Francisco, mas também sobre Luca: "o gesto do Papa é subversivo: ele não escolhe o conhecido e o consolidado, mas o inexperiente que cresce. Ele coloca a sua assinatura nas palavras de quem não tem um discurso realizado e reconhecido como tal. O seu interesse está no trabalho em andamento. E assim nos faz compreender que é nesta tensão que encontramos a chave para o hoje: em observar o que está se desenvolvendo, e não o fruto maduro".
A palavra, continua Padre Spadaro, "é o elemento concreto no qual tudo o que experimentamos e pensamos encontra o seu próprio corpo", leva a uma experiência e não a uma abstração. E o que Luca Milanese realiza com a poesia é "criar conexões e captar a profundidade da experiência", é a escuta da realidade e de si. O diretor concluiu:
“O que lemos aqui, então, é poesia de crescimento dialético e de contradição. Mas também de respiração, de paz, de calma, projetada também nos elementos naturais: é um apelo à harmonia, que estes versos sabem invocar de maneira pungente.”
(vaticannews)
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