O secretário-geral da ONU alerta que o vírus agravou as desigualdades e se tem infiltrado noutros campos além da saúde. A distribuição das vacinas, diz, tem sido feita de forma injusta.
Claudia Carvalho Silva
22 de Fevereiro de 2021, 9:38
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirma que “o mundo está a enfrentar uma pandemia de abusos de direitos humanos”. A covid-19 acentuou vulnerabilidades e fragilidades, mas também criou novos problemas, diz num artigo de opinião publicado nesta segunda-feira no jornal britânico The Guardian: “Dez países administraram mais de 75% de todas as vacinas contra a covid-19. Ao mesmo tempo, mais de 130 países não receberam uma única dose.”
António Guterres tinha já criticado a distribuição das vacinas, dizendo que era “extremamente desigual e injusta”. Foi numa reunião com o Conselho de Segurança da ONU que o secretário-geral português avançou estes dados sobre os 130 países que não receberam ainda uma única dose da vacina contra a covid-19.
“O vírus proliferou porque a pobreza, a discriminação, a destruição do nosso ambiente natural e outras falhas de direitos humanos criaram enormes fragilidades nas nossas sociedades. As vidas de milhões de famílias foram viradas do avesso – com empregos perdidos, uma dívida avassaladora e grandes cortes nos rendimentos.” Os mais afectados foram os profissionais na linha da frente do combate à pandemia, pessoas com deficiência, idosos, mulheres e minorias, enumera. A pandemia também “dificultou os esforços para atingir a paz mundial” e os níveis de pobreza extrema estão a aumentar pela primeira vez nas últimas décadas.
O vírus está também a “infectar os direitos civis e políticos”, refere Guterres no artigo de opinião. Há autoridades em alguns países que estão a abusar do poder usando a pandemia como desculpa para “criminalizar liberdades básicas, silenciar o jornalismo independente e restringir a actividade de organizações não governamentais”. Há quem tenha sido detido por criticar a gestão da pandemia feita em alguns países e a “desinformação mortal tem sido amplificada – até por aqueles no poder”. Além disso, há extremistas – “incluindo supremacistas brancos e neonazis – que têm instrumentalizado a pandemia” para manipular, alerta António Guterres.
“Se permitirmos que o vírus prolifere como um incêndio florestal no Sul do globo, continuará a sofrer mutações e mutações. Novas variantes poderão tornar-se mais transmissíveis, mais mortais e até afectar a eficácia das vacinas actuais”, alerta o secretário-geral da ONU. Tudo isto pode levar a que tomemos novamente medidas como as que estão em vigor agora e a “atrasar a recuperação da economia mundial”.
(publico.pt)
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