A expressão “terra que mana leite e mel” significa na Bíblia a riqueza e produtividade da terra de Canaã, o território que Deus prometeu a Israel. Embora estivesse cercada por regiões desérticas, Canaã era uma terra fértil, com terreno propício para produção abundante de mantimento.
Então a “terra que mana leite e mel” é uma descrição bíblica usual para a Terra Prometida. De fato, essa é uma expressão frequente, principalmente no Pentateuco. Somente no livro de Deuteronômio, por exemplo, essa mesma expressão aparece pelo menos seis vezes. Mas essa designação também aparece nos livros históricos e proféticos (cf. Josué 5:6; Jeremias 32:22; Ezequiel 20:6-15).
A expressão “terra que mana leite e mel” aparece pela primeira vez na Bíblia no livro de Êxodo, no contexto do chamamento de Moisés. Naquele tempo o povo de Israel estava havia vários séculos escravizado no Egito. Moisés embora fosse um hebreu, tinha sido criado na corte egípcia, mas acabou precisando fugir do Egito por ter matado um egípcio (Êxodo 2).
Então após ter fugido do Egito, Moisés foi para Midiã, na península do Sinai. Ali Deus o convocou para liderar a libertação dos israelitas do Egito. Deus prometeu livrar o seu povo da mão dos egípcios, numa terra de servidão, e leva-lo a uma terra boa e vasta, “uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do perizeu, e do heveu, e do jebuseu” (Êxodo 3:8).
Uma terra que mana leite e mel
Ao usar a expressão “terra que mana leite e mel”, Deus estava afirmando que levaria Israel a um bom lugar. Ele não tiraria os israelitas do Egito para conduzi-los a uma terra estéril, mas os conduziria a uma terra fértil e abundante. O verbo “manar” que é empregado nessa expressão traduz um termo hebraico que transmite o sentido de “brotar” ou “correr” no sentido de “ter um fluxo”.
Em outras palavras, a Terra Prometida era uma terra que brotava, que “corria” abundância. Isso fica evidente na sequência da frase que indica que a terra manava “leite e mel”. A palavra “leite” frequentemente era empregada nos tempos antigos justamente como uma metáfora para a abundância da terra. Uma terra que produz leite é uma terra fértil, pois possui pastagem para o gado. Pelas características da região e da época, aqui não se deve pensar apenas no leite de vaca, mas principalmente no leite de cabra e ovelha.
Já a palavra “mel” traduz uma palavra hebraica que vem de uma raiz que traz a ideia de “ser grudento” ou “melado”. Alguns estudiosos defendem que provavelmente a principal referência nesse ponto não é ao mel de abelhas especificamente, mas ao mel de tâmara. Então na expressão “terra que mana leite e mel” a ideia é a de que a terra de Canaã não apenas era boa para a criação de gado, mas também para o cultivo e para obtenção de produtos naturais.
Tudo isso indica o caráter benevolente da promessa do Senhor. Os israelitas tinham crescido muito em número durante o tempo que ficaram no Egito. Mas por muitos anos eles acabaram sendo submetidos ao trabalho forçado e a situações precárias.
Porém, Deus havia providenciado uma terra que poderia acolhe-los com fartura; uma terra onde eles poderiam se estabelecer e desfrutar das bênçãos da aliança. Na terra haveria pastagem para o gado e plantas nos campos, e desse modo a “terra que mana leite e mel” proveria tudo o que povo necessitasse.
A realização da promessa de Deus na terra que mana leite e mel
Sendo obedientes ao Senhor, em Canaã os israelitas teriam sustento e doçura ao seu paladar. Em Canaã eles poderiam descansar de sua servidão. Mas antes de entrarem na Terra Prometida, espias israelitas foram analisar a terra. Eles verificaram que realmente a terra manava leite e mel, e trouxeram um exemplo do fruto da terra (Números 13:27).
No entanto, tão logo o entusiasmo deu lugar ao ceticismo. Os espias disseram que a terra era ocupada por povos poderosos com os quais Israel não poderia lidar. Mesmo apesar do testemunho fiel de Calebe – um dos espias – de que os israelitas triunfariam em Canaã porque aquela era a terra de sua herança, os outros espias falaram muito mal daquela terra. Então na boca deles a expressão: “terra que mana leite e mel” deu lugar a outra expressão: “terra que consome os seus moradores” (Números 13:32).
Deus não conduziria o povo de Israel a um lugar de ruína; não conduziria o povo a uma terra em que eles ficariam desprovidos da graça e da proteção do Senhor. Além disso, Deus havia avisado Moisés que aquela terra estava ocupada por outros povos (Êxodo 3:8). Mas aquela era a terra da herança que Deus prometeu a Abraão, Isaque e Jacó. Então o Senhor haveria de prover tudo para que Israel pudesse conquistar aquela terra.
Porém, a falta de confiança dos israelitas no Senhor foi tão grande, e sua rebeldia, tão aguda, que eles chegaram ao ponto de inverter a situação e afirmar que o Egito era a terra que manava leite e mel (Números 16:13; cf. Números 14).
O resultado final disso tudo foi que toda aquela geração, com exceção de Josué e Calebe, pereceu no deserto e não entrou na Terra Prometida (Josué 5:6). Mas Deus levantou uma nova geração de israelitas, e sob a liderança de Josué, Israel entrou e conquistou milagrosamente “a terra que mana leite e mel”.
O cristão e a terra que mana leite e mel
Podemos dizer que a realidade de uma terra que mana leite e mel, onde não há falta de nada, aponta para a abundância das riquezas espirituais que o crente desfruta em Cristo (Efésios 3:8). Em Cristo os cristãos encontram tudo o que precisam! Eles encontram abundância de graça, de misericórdia e de tudo mais que necessitam para viver uma vida cristã plena e realizada para a glória de Deus. Em Cristo Jesus os redimidos são completos (Colossenses 2:10).
Além disso, no Novo Testamento o escritor de Hebreus usa Canaã como figura da pátria celestial que aguarda os crentes (Hebreus 4). Nesse sentido, pela obra de Cristo a promessa divina sobre uma terra que mana leite e mel alcança seu cumprimento final no lar celestial, o verdadeiro descanso de Deus para o seu povo, de quem a Canaã terrena apenas prefigurava.
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