REDAÇÃO CENTRAL, 22 ago. 22 / 06:00 am (ACI).- "A maior tragédia de todas é a indiferença de tantos diante da perseguição religiosa. Não podemos ficar calados nessa situação", disse o presidente executivo da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), Thomas Heine-Geldern, sobre o do Dia Internacional de Homenagem às Vítimas de Atos de Violência por causa da Religião ou Crenças, celebrado hoje (22). Para ele, nesta data, “devemos lembrar não apenas aqueles que perderam suas vidas, mas também todos aqueles que são vítimas de discriminação e que sofrem as consequências imediatas da violência, bem como os deslocados, aqueles que são deixados traumatizados e todos aqueles que são sequestrados, incluindo alguns cujo paradeiro permanece desconhecido".
Em maio de 2019, a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução proposta pela Polônia, instituindo o dia 22 de agosto como Dia Internacional de Homenagem às Vítimas de Atos de Violência por causa da Religião ou Crenças. A proposta foi apoiada pelos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Egito, Iraque, Jordânia, Nigéria e Paquistão.
A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre é uma organização católica que apoia cristãos perseguidos e sofridos em mais de 130 países. Em razão do Dia Internacional de Homenagem às Vítimas de Atos de Violência baseada na Religião ou Crença, a ACN recordou algumas “questões importantes a serem lembradas nessa ocasião”.
Primeiramente, a fundação destacou a “falta de resposta internacional às inúmeras células terroristas islamistas na África”. Segundo a entidade, “o rápido crescimento de grupos jihadistas militantes na região do Sahel e países vizinhos, mas também no sudoeste do continente, é um dos problemas mais sérios que o mundo enfrenta”. Por isso, lamentou que “que as vítimas de violência religiosa na África sejam muitas vezes esquecidas” em meio a preocupações internacionais com “conflitos geopolíticos em outros lugares, mudanças climáticas e catástrofes ambientais”.
Ainda sobre o Sahel, ACN ressaltou que a ameaça à liberdade religiosa nesta região traz “graves consequências” não só para grupos religiosos, “mas para o crescimento e desenvolvimento de nações inteiras”. Como exemplo, citou Burkina Faso, país onde “cerca de 80%” do território “está inacessível devido à presença de grupos jihadistas”. Em Burkina Faso, afirma a fundação pontifícia, “durante décadas a Igreja Católica teve um tremendo impacto na sociedade civil através de seu importante trabalho nos campos do desenvolvimento social, educação e saúde, mas atualmente é quase incapaz de realizar qualquer trabalho social, educacional, humanitário ou pastoral fora da capital”.
ACN lembrou ainda a Nigéria, “país com a maior população da África” e que “está experimentando uma escala sem precedentes de violência religiosa”. Entre alguns casos registrados no país africano está a morte da estudante universitária Deborah, em maio, em Sokoto. Ela foi apedrejada e queimada até a morte por seus colegas por supostamente ter enviado mensagens ofensivas sobre Maomé. Outro episódio foi no Domingo de Pentecostes, 5 de junho, quando mais de 40 pessoas foram massacradas durante um atentado contra a igreja de São Francisco Xavier, em Owo. Além disso, “pelo menos 18 padres foram sequestrados em 2022, quatro dos quais foram assassinados”. “Deve-se lembrar que a violência é frequentemente causada por lutas por recursos, ou rivalidades étnicas. No entanto, a motivação religiosa utilizada nos ataques de grupos extremistas é claramente um fator cada vez maior”, disse a fundação.
A Fundação ACN chamou atenção ainda para os deslocados e refugiados, vítimas da violência provocada por extremistas religiosos. Segundo a entidade, estima-se que mais de 15 milhões de pessoas estão atualmente deslocadas em 12 países africanos identificados como sujeitos a severas perseguições religiosas no Relatório de Liberdade Religiosa 2021, publicado pela ACN.
A fundação pontifícia lançou um olhar também sobre a América Latina, onde disse haver “um aumento alarmante de ataques religiosos”, “liderados pela Nicarágua, onde em menos de quatro anos a Igreja Católica sofreu mais de 190 ataques e profanações, incluindo incêndios criminosos na Catedral de Manágua, agressões ao clero, o fechamento da mídia católica e a expulsão das Missionárias da Caridade de Madre Teresa”. Citou também países como México, Colômbia, Argentina e Chile, onde “grupos extremistas buscam silenciar as vozes da liderança da Igreja e restringir a livre expressão de grupos religiosos”.
Além disso, segundo ACN, é possível observar em certas democracias liberais “uma crescente limitação das expressões de crenças religiosas em espaços públicos através de vários casos de intolerância e discriminação contra grupos religiosos, predominantemente cristãos, e tentativas de criminalizar visões religiosas tradicionais onde essas contradizem novas ideologias seculares agressivas”.
“A ACN insiste na importância do diálogo inter-religioso para combater o fundamentalismo religioso, e convoca líderes religiosos, políticos e mídia a desempenhar um papel crucial na construção de comunidades centradas na paz e na justiça. Organizações e instituições internacionais também são solicitadas a se comprometerem a garantir o direito à liberdade religiosa”, afirmou o presidente executivo da fundação pontifícia, Heine-Geldern.
(acidigital)
Sem comentários:
Enviar um comentário