quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Salário Para Pastor é Bíblico? Pastor Deve Receber Salário?

  

Daniel Conegero


Sim, o salário pastoral é bíblico. Em diversas passagens a Bíblia indica que aqueles que se ocupam integralmente com o ministério do Evangelho de Cristo são dignos de receber um salário para seu sustento.

Mas essa questão deve ser vista com muito cuidado. Isso porque existem muitas distorções nesse sentido. Ao longo dos tempos muitas pessoas tem tentado fazer do Evangelho um produto comercial, contrariando completamente as Escrituras.

Apesar de popularmente falarmos em “salário pastoral” ou “salário de pastor”, normalmente esta não é a designação correta. O motivo disso é que o pastorado jamais deve ser visto como uma profissão, mas como uma vocação. Não existe registro em carteira de trabalho para serviço religioso.

Algumas pessoas chamam o salário pastoral de “prebenda”, “espórtula” (raramente) e “côngrua pastoral”. Então o salário recebido por aqueles que exercem o pastorado é corretamente entendido como sendo um reconhecimento de auxílio para o sustendo daqueles que se dedicam voluntariamente à obra de Deus.

O que a Bíblia diz sobre o salário do obreiro

O próprio Senhor Jesus falou sobre o direito de serem sustentados dignamente aqueles que pregam o Evangelho. Jesus tratou dessa questão na ocasião em que Ele designou setenta discípulos como obreiros que deveriam anunciar as boas novas da salvação pelas cidades da região em que estavam.

Jesus disse àqueles discípulos que eles não deveriam levar bolsa, nem alforje e nem alparcas. Os missionários deveriam tirar seu sustendo naquela viagem da generosidade das pessoas que porventura lhes receberiam bem. Foi nesse contexto que Jesus disse: “[…] digno é o obreiro de seu salário” (Lucas 10:7).

O apóstolo Paulo foi o escritor bíblico que mais escreveu sobre o salário pastoral. Ele diz que aquele que dedica sua vida à proclamação do Evangelho e ao cuidado da Igreja do Senhor possui todo o direito de deixar seu trabalho secular e viver dessa vocação. Ele justifica sua afirmação com alguns questionamentos: “Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?” (1 Coríntios 9:7).

O apóstolo ainda prossegue e relembra, inclusive, a Lei de Moisés, que diz que não se deve atar a boca do boi que debulha. Ele também se atenta ao fato de que nos tempos do Antigo Testamento os sacerdotes e os levitas tiravam do serviço religioso em Israel o seu sustento. Para finalizar, Paulo diz que foi o próprio Senhor Jesus quem ordenou aos “que pregam o Evangelho que vivam do Evangelho” (1 Coríntios 9:8-14).

Paulo era contra o salário pastoral?

As passagens bíblicas já citadas deixam claro que o apóstolo Paulo era favorável à remuneração dos obreiros. Apesar disso, parece claro que, por certos motivos, Paulo continuou exercendo sua profissão secular em algumas ocasiões paralelamente ao seu ministério apostólico.

Normalmente Paulo aceitava e dependia de apoio ao seu ministério. Na Carta aos Romanos, por exemplo, Paulo deixa claro que desejava receber o apoio da igreja em Roma para poder partir em uma viagem missionária na Espanha (Romanos 15:24).

Mas por vezes ele renunciou ao direito que tinha, e se recusou a receber remuneração de algumas comunidades cristãs. Geralmente ele fazia isso quando seus verdadeiros motivos para a pregação do Evangelho eram questionados; ou mesmo quando precisava servir como um exemplo firme para a correção da conduta desordenada de alguém.

É nesse sentido que ele escreve que trabalhava dia e noite para não ser um peso a ninguém. Mas jamais o apóstolo nega a legitimidade e o direito à remuneração por parte daqueles que trabalham na obra do Senhor (1 Tessalonicenses 2:9; 2 Tessalonicenses 3:7-12).

Inclusive, ao escrever a Timóteo, Paulo fala que os presbíteros que trabalham diligentemente na palavra e na doutrina são dignos de receberem honorários dobrados. Então mais uma vez ele relembra a lei mosaica sobre o boi que debulha e termina com as palavra de Jesus: “Digno é o obreiro do seu salário” (1 Timóteo 5:17,18).

Aos cristãos de Corinto o mesmo apóstolo fez a seguinte pergunta: “Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?” (1 Coríntios 9:11).

Por que um pastor precisa de salário?

É justo que um pastor receba salário quando ele realmente age de acordo com a Palavra de Deus. Se agir assim, geralmente ele terá muitas ocupações que muitas vezes o impedirão de desempenhar uma profissão qualquer.

O pastor administra uma comunidade cristã; visita regularmente os crentes; aconselha e se atenta aos que estão necessitados; tem uma vida de oração em favor da obra de Deus; estuda a Bíblia e prepara sermões incansavelmente. Além disso, geralmente as denominações sérias exigem que seus pastores façam diversos cursos e seminários para que estejam preparados para o serviço ministerial.

Tudo isso demanda muito tempo e recursos financeiros. Isso também significa que não é qualquer pessoa que pode se intitular pastor e sair querendo receber salário por aí. Mas também é verdade que nada impede que um pastor exerça uma atividade profissional no mercado de trabalho. No entanto, na maioria das vezes essa atividade lhe prejudicará de alguma forma no desempenho de seu ministério pastoral. Isso ocorrerá especialmente por causa da falta de tempo para se preparar e se dedicar adequadamente ao pastorado.

Quando o salário pastoral é errado?

Se por um lado a Bíblia coloca como legítimo o comumente chamado “salário pastoral”, por outro ela condena duramente o comportamento ganancioso que tem caracterizado essa questão.

O salário pastoral deve ser simplesmente uma remuneração para que as pessoas que voluntariamente e vocacionalmente trabalham na obra do Senhor, possam sustentar seus lares. Definitivamente o salário pastoral não deve ser um meio de enriquecimento.

Infelizmente existem muitas pessoas que tentam fazer negócios com a Palavra de Deus. Ao denunciar os fariseus e falsos profetas de sua época, o próprio Jesus adverte acerca da existência de ladrões e mercenários que tentam se aproximar do rebanho do Senhor. Os ladrões roubam as ovelhas; os mercenários fazem negócios e abandonam as ovelhas (João 10). O mesmo princípio se aplica aos dias atuais.

É cada vez mais comum o aparecimento de casos de verdadeiros milionários de púlpitos. Essas pessoas não se preocupam com as ovelhas. Elas não se comprometem com a saúde espiritual da comunidade cristã.

Na verdade essas pessoas se interessam mesmo é pelo resultado financeiro que as ovelhas lhes podem proporcionar. Essas pessoas se empenham em manter igrejas inchadas e templos lotados para poderem ganhar mais e mais. Nesses lugares o pecado não é confrontado, e o Evangelho é distorcido. Tudo isso ocorre em troca de um generoso salário pastoral. Mas haverá o dia em que essas pessoas terão de prestar contas de sua impiedade ao Supremo Pastor.


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