terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Avança processo de beatificação de brasileiro que trocou de lugar com refém em rebelião

 


REDAÇÃO CENTRAL, 19 Dez. 22 / 02:55 pm (ACI).- Em 1981, o advogado brasileiro Franz de Castro Holzwarth foi morto após trocar de lugar com um policial militar e ficar como refém durante uma rebelião na penitenciária de Jacareí (SP). No último sábado (17), o papa Francisco autorizou a promulgação do decreto que reconhece a “oferta de vida” do servo de Deus Franz de Castro, que dá um novo passo no processo de beatificação.

A “oferta de vida” é um novo caso para processo de beatificação e canonização estabelecido em 2017 pelo motu proprio Maiorem hac dilectionem e “se diferencia do caso sobre o martírio e sobre a heroicidade das virtudes”. “São dignos de especial consideração e honra aqueles cristãos que, seguindo mais de perto as pegadas e os ensinamentos do Senhor Jesus, ofereceram de forma voluntária e livremente a vida pelos outros, perseverando até à morte neste propósito”, afirma o motu proprio.

Segundo o site Postulazione Cause Santi, o decreto do servo de Deus Franz de Castro Holzwarth é “o primeiro decreto sobre oferta de vida na história da Igreja”.

O motu proprio Maiorem hac dilectionem estabelece que, para que a oferta de vida seja válida para o processo de beatificação, é preciso responder aos seguintes critérios: “oferta livre e voluntária da vida e aceitação heroica propter caritatem de uma morte certa e a curto prazo; nexo entre a oferta da vida e a morte prematura; exercício, pelo menos em grau ordinário, das virtudes cristãs antes da oferta da vida e, depois, até à morte; existência da fama de santidade e de sinais, pelo menos depois da morte; necessidade do milagre para a beatificação, ocorrido depois da morte do Servo de Deus e por sua intercessão”.

Franz de Castro Holzwarth nasceu em 18 de maio de 1942, em Barra do Piraí (RJ). Ao terminar o Ensino Médio, mudou-se para Jacareí, para estudar Direito. Em 1965, começou a trabalhar como assistente de administração do Juízo de Direito de Jacareí e, em 14 de julho de 1968, começou sua carreira jurídica.

Em 1973, Franz ingressou na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de São José dos Campos e passou a atuar junto com o presidente-fundador da instituição, o advogado Mário Ottoboni. A APAC, afirma seu site institucional, “é uma entidade civil de direito privado, com personalidade jurídica própria, dedicada à recuperação e à reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade”. Tem como objetivo “promover a humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena”. Trabalha com “método de valorização humana, vinculada à evangelização, para oferecer ao condenado condições de recuperar-se, buscando em perspectiva mais ampla, a proteção da sociedade, o socorro às vítimas a promoção da justiça restaurativa”.

No dia 14 de fevereiro de 1981, por volta das 13h, Mário Ottoboni recebeu uma ligação pedindo que ele e Franz de Castro fossem para a o presídio Jacareí, onde acontecia uma rebelião. Três pessoas eram mantidas reféns pelos presidiários, um carcereiro, um escrivão e um policial militar.

Segundo biografia publicada por Postulazione Cause Santi, o líder da rebelião solicitou que as negociações fossem feitas pelo Mário Ottoboni e Franz de Castro. Ficou combinado que sairiam dois carros: um com parte dos presos, dois reféns e Otobboni e o outro com os demais presos, um refém e Franz de Castro.

O primeiro carro saiu normalmente, mas depois a tensão entre a polícia e os rebelados começou a aumentar. A polícia passou a exigir a soltura do policial refém para liberar o segundo carro. Novas negociações foram retomadas entre Ottoboni, que já havia retornado ao local, Franz e o juiz de direito corregedor dos presídios, Orlando Pistorezzi, com os rebelados.

Com autorização do juiz, conta Postulazione Cause Santi, Franz passou a ser mediador-refém. Ottoboni levou o carro ao local combinado e “saiu apressadamente do local com o PM-refém, em troca do refém Franz de Castro”. Quando Ottoboni e o policial saíram da “linha de fogo da polícia”, foi disparado um primeiro tiro. “Logo depois uma chuva de projéteis de chumbo rasgou o carro, matou os cinco presos e também Franz que se encontrava no meio deles, com mais de trinta perfurações sobre o corpo”.

Franz de Castro Holzwarth foi sepultado no jazigo de sua família, em Barra do Piraí.

Em março de 2009, a diocese de São José dos Campos abriu o processo e beatificação de Franz de Castro. Em 2010, seus restos mortais foram transladados para a igreja matriz de São José dos Campos.


(acidigital)

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