Missa do Papa em Santa
Marta
Ai de quem se ilude que é dono do nosso tempo. Podemos
ser donos do momento no qual vivemos, mas o tempo pertence a Deus e ele
doa-nos a esperança para o viver. Há muita confusão hoje para determinar
efectivamente a quem pertence o tempo, mas – advertiu o Papa Francisco na
homilia da missa celebrada na manhã de terça-feira, 26 de Novembro, na capela
de Santa Marta – não nos devemos deixar enganar. Explicou o porquê e o
como, reflectindo sobre quanto propõem as leituras deste último período
do ano litúrgico, durante o qual «a Igreja nos faz meditar sobre o fim».
São Paulo, observou o Papa, «fala muitas vezes sobre
isto e de modo claro: “A fachada deste mundo desaparecerá”. Mas isto é
outra coisa. As leituras com frequência falam de destruição, de fim, de
calamidade». Aquele é um caminho rumo ao fim que todos nós temos que percorrer,
todos os homens, toda a humanidade. Mas enquanto a percorremos «o Senhor
aconselha-nos duas coisas – especificou o Pontífice. Duas coisas que são
diferentes segundo o modo como vivemos. Porque é diferente viver no
momento e viver no tempo». E frisou que «o cristão é, homem ou mulher, aquele
que sabe viver o momento e o tempo».
O momento, acrescentou o bispo de Roma, é aquele que
temos nas mãos no instante em que vivemos. Mas não deve ser confundido com o
tempo porque o momento passa. «Talvez nós – frisou – possamos sentir-nos donos
do momento». Mas, acrescentou, «o engano é crer que somos donos do tempo. O
tempo não é nosso. O tempo é de Deus». Certamente o momento está nas nossas
mãos e temos também a liberdade de o viver como mais nos agrada, explicou
o Papa. Aliás, «podemos tornar-nos soberanos do momento. Mas do tempo, há um só
soberano: Jesus Cristo. Por isso o Senhor aconselha-nos: “Não vos deixeis
enganar. De facto muitos virão em meu nome dizendo: Sou eu, e o tempo está
próximo! Não andeis atrás deles (Daniel 2, 31-45). Não vos deixeis
enganar pela confusão».
Mas como é possível superar estes enganos? O cristão,
explicou o Santo Padre, para viver o momento sem se deixar enganar deve
orientar-se com a oração e o discernimento. «Jesus repreende os que não sabiam
discernir o momento», acrescentou o Papa que se referiu em seguida à parábola
do figo (Marcos 13, 28-29), na qual Cristo repreende quantos são capazes
de intuir a chegada do Verão através do florescer da figueira e, ao
contrário, não sabem reconhecer os sinais deste «momento, parte do tempo de
Deus».
Eis para que serve o discernimento, explicou: «para
conhecer os verdadeiros sinais, para conhecer a estrada que devemos empreender
neste momento». A oração, prosseguiu o Pontífice, é necessária para viver bem
este momento.
No que diz respeito ao tempo, «do qual só o Senhor é o
Dono», nós – afirmou o Pontífice – nada podemos fazer. De facto, não há virtude
humana que sirva para exercer poder algum sobre o tempo. A única
virtude possível para encarar o tempo «deve ser um dom de Deus: é a esperança».
Oração e discernimento para o momento; esperança para o
tempo: «desta forma o cristão caminha na estrada do momento, com a oração e o
discernimento. Mas deixa o tempo à esperança. O cristão sabe esperar o Senhor
em todos os momentos; mas espera no Senhor até ao fim dos tempos. Homem e
mulher de momentos e de tempo, de oração, discernimento e esperança».
A invocação final do Papa foi: «o Senhor nos dê a graça
de caminhar com a sabedoria. Também ela é um dom: a sabedoria que no momento
nos leva a rezar e a discernir, e no tempo, que é mensageiro de
Deus, nos faz viver com esperança».
(osservatoreromano.va)
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