sábado, 1 de julho de 2017

Papa com o pequeno Charlie


Defender a vida,
sobretudo se ferida pela doença

Cidade do Vaticano (RV) – “Defender a vida humana, sobretudo quando é ferida pela doença, é um compromisso de amor que Deus confia a cada ser humano”.

Com um tweet publicado em sua conta na noite de sexta-feira, o Papa Francisco lançou um apelo em favor da defesa da vida, sobretudo na doença, intervindo assim no dramático caso do pequeno Charlie, de apenas 10 meses - vítima de uma doença rara, considerada incurável pelos médicos – internado em um hospital em Londres, e que terá os aparelhos que o mantém vivo desligados.

Os pais nunca perdem a esperança e assim gostariam que a criança fosse elevada aos Estados Unidos para ser submetida a uma terapia experimental.

Os médicos ingleses alegam que este seria apenas um artifício para prolongar o sofrimento de Charlie, atingido por uma doença que enfraquece progressivamente músculos e nervos. Também a Corte Europeia dos Direitos Humanos manifestou-se contrária à iniciativa.

Os pais, então, pediram que o pequeno pudesse ao menos morrer em casa, desejo também este negado pela Corte.

O não respeito à escolha dos pais de Charlie levanta diversos questionamentos, além de ter provocado uma onda de indignação em todo o mundo.

A Rádio Vaticano conversou a este respeito com o Presidente do Centro de Estudos sobre a Família, Prof. Francesco Belleti:

“É terrível, porque nós aceitamos uma intervenção do Estado nas crianças, nos filhos dos pais, quando os pais são incompetentes, quando rejeitam a cura, quando maltratam. Assim, todos nós esperamos que o Estado intervenha em favor da criança. Mas quando a criança é superprotegida pelos pais, quando os pais fazem de tudo – haviam feito uma coleta de recursos, haviam conseguido dinheiro para poder fazer esta viagem da esperança à América – o Estado decide no lugar dos pais que perdem a sua titularidade. Este é um dado devastador, que poderia ser aplicado em qualquer circunstância, por exemplo, nas escolhas educativas de qualquer tipo... Portanto, é muito preocupante esta invasão arrogante do Estado no lugar dos pais. Recordo que em todas as Declarações dos direitos do homem e da criança, os pais têm a plena e inviolável titularidade à responsabilidade. Aqui os pais fizeram de tudo pelo seu filho e o Estado propõe a eles uma cultura de morte. Isto é absolutamente intolerável”.

RV: Entre outras coisas, o senhor disse que se trata de um modo de conceber a lei que reduz uma pessoa à sua doença...

“Exato. Esta criança seguramente sofre, mas quantas famílias com doentes terminais hoje, em todo o mundo, olham um familiar que sofre! Os primeiros que sofrem pelo mal de seu filho são os pais de Charlie. Certamente também a eles o sofrimento do filho provocava uma ferida terrível no coração; porém, contemporaneamente, estão próximos a ele e o veem como uma pessoa plena, não a reduzem ao fato de uma doença. Esta é  outra coisa que antropologicamente é intolerável. Pensemos também em todos os agentes de saúde, nas quantas pessoas que estão nos asilos, nas estruturas onde devem acompanhar até a morte os idosos, as pessoas gravemente dependentes. Dentro desta condição, a pessoa é sempre maior que a doença e a doença nunca tem a última palavra. Fizeram vencer a doença, os juízes decidiram que Charlie não era tanto uma pessoa, mas era caracterizado somente pela sua doença.  São estas coisas, porque depois, o horizonte de uma decisão deste tipo é infinita: um Estado que pretende decidir sobre tua dignidade e define os limiares quando existem as condições para um cuidado mais humano possível. Infelizmente, existe também esta ideia, provavelmente exista algum pensamento por detrás disto: se temos menos pessoas que devamos cuidar por tantos anos, gastaremos menos como sistema social. E não podemos calar em relação a isto! Ou seja, por trás desta ideia de evitar o sofrimento, poderiam existir motivos econômicos e não humanitários”.

(JE/SC)
(radiovaticana)


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