Por Walter Sánchez Silva | ACI Prensa
DENVER, 27 mai. 21 / 11:22 am (ACI).- O arcebispo Samuel Aquila, de Denver, Estados Unidos, escreveu uma carta aberta aos bispos católicos do mundo, especialmente aos da Alemanha, na qual faz uma extensa crítica e questionamentos ao polêmico Caminho Sinodal da Igreja alemã.
“Uma resposta ao ´Fórum I´ do Caminho Sinodal Católico Alemão: Uma carta aberta aos bispos católicos do mundo”, é o título da carta do arcebispo de Denver, escrita “para a nossa oração e reflexão”, neste 26 de maio, quando a Igreja celebra a festa de São Felipe Neri.
A Caminho Sinodal é um processo realizado por bispos e leigos alemães para discutir quatro questões principais: a forma como o poder é exercido na Igreja, a moral sexual, o sacerdócio e o papel da mulher.
Inicialmente, os bispos alemães asseguraram que o processo seria concluído com uma série de decisões “vinculantes”, o que gerou preocupação no Vaticano diante da possibilidade de infringir os ensinamentos e a disciplina da Igreja Católica. O Vaticano enviou uma carta aos bispos alemães afirmando que esses planos não eram “eclesiologicamente válidos”.
Depois de vários diálogos entre o Vaticano e a Conferência Episcopal, o Caminho Sinodal começou no dia 1º de dezembro de 2019 e deve terminar em fevereiro de 2022.
Nos últimos dias, a crise na Alemanha piorou depois que, apesar da proibição explícita do Vaticano, vários padres e agentes pastorais abençoaram casais homossexuais, deram a comunhão aos protestantes e permitiram que 12 mulheres pregassem homilias em várias partes do país.
Em sua carta publicada na íntegra hoje pela ACI Prensa (em espanhol), Dom Aquila questionou os bispos da Alemanha: “Queremos falar sobre a Cruz? Temos a coragem de andar no caminho da cruz, suportando o ódio do mundo pela mensagem do Evangelho? Daremos ouvidos ao chamado do Senhor Jesus ao arrependimento e teremos a coragem de proclamá-lo em um mundo incrédulo?
“Estamos 'não nos envergonhando do evangelho' (Rom 1:16) e da sua oferta de libertação do pecado, graças à morte e ressurreição de Cristo, ou da sua oferta de um relacionamento íntimo com seu Pai no amor de seu Espírito Santo?”, continuou.
Em sua carta, o arcebispo de Denver lembra que a autoridade dos bispos se origina em Cristo, e não neles próprios.
“Todo sucessor dos apóstolos deve resistir à tentação de imitar os profetas tolos que, seguindo seu próprio espírito, promoveram suas próprias opiniões e ideias, na época de Ezequiel. Da mesma forma, todo sucessor dos apóstolos deve rejeitar a tentação de imitar os profetas e os sacerdotes do tempo de Jeremias, que adaptaram o seu ensino às preferências do povo”, disse o prelado.
Em seguida, dom Aquila afirma que “a maioria de nós, fora da Alemanha, está ciente, pela mídia, do Caminho Sinodal Católico Alemão e da franqueza de alguns bispos que pedem mudanças radicais no ensino e na prática da Igreja”.
Ordenação de mulheres?
O arcebispo Aquila concentrou a sua reflexão no “Texto Fundamental do Fórum I” do Caminho Sinodal. O texto pede, entre outras coisas, “reavaliar criticamente a determinação de São João Paulo II de que 'a Igreja não tem o direito de ordenar mulheres ao sacerdócio', cuja validade deve ser comprovada por alegados 'novos entendimentos' do último quarto de século que questionam a 'coerência de sua argumentação'”.
Em diferentes ocasiões, o papa Francisco disse durante seu pontificado que a palavra final sobre a ordenação de mulheres veio de São João Paulo II, que em sua carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de 1994, estabeleceu que a Igreja não pode conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, mas apenas aos homens.
“De forma mais profunda, o Caminho Sinodal, embora se apresente como ancorado no Concílio Vaticano II, interpreta seus documentos de forma seletiva e confusa para propor pontos de vista insustentáveis sobre a natureza da Igreja (Lumen gentium), a sua relação com o mundo (Gaudium et spes), e o seu fundamento na revelação divina (Dei Verbum), visões impossíveis de conjugar com uma leitura completa do Concílio”.
O Concílio Vaticano II foi o evento eclesial mundial mais importante do século XX. Foi também um evento ecumênico, com o objetivo de buscar o “aggiornamento” ou a atualização da Igreja no mundo de hoje. Os documentos Lumen Gentium, Gaudium et spes e Dei Verbum são parte do resultado das deliberações dos bispos ou padres conciliares participantes no concilio.
Dom Aquila alertou que, “para justificar o desejo do Caminho Sinodal de democratizar o governo da Igreja e acolher a possibilidade de admissão de mulheres ao sacerdócio”, o que o Texto Básico faz é simplesmente questionar a distinção entre o “sacerdócio” dos batizados e o sacerdócio ministerial ordenado.
Além disso, “o Texto Básico falha ao unir claramente este 'sacerdócio ministerial especial' com o sacramento da Ordem, querido e instituído pelo próprio Jesus Cristo. Esse erro parece claramente intencional”.
A hierarquia da Igreja
O arcebispo de Denver observa que, “em notável contraste com a Lumen gentium, a doutrina da sucessão episcopal direta dos apóstolos foi completamente omitida do Texto Básico”.
O bispo argumenta que “o Concílio Vaticano II fundamenta a constituição hierárquica da Igreja diretamente na intenção manifesta de Jesus Cristo e do próprio Espírito Santo. Portanto, está fora da competência da Igreja, na Alemanha ou em qualquer outro lugar, alterar isso fundamentalmente”.
Dom Aquila reconhece que os casos de abuso, incluindo os de poder, têm afetado a Igreja, mas considera “lamentável que o Texto Básico esteja convencido de que a melhor ou a única reforma possível do exercício do poder é diluí-lo em um sistema de freios e contrapesos”.
No entanto, isso não significa que os fiéis leigos não possam “ou não devam ajudar o clero no governo da Igreja”, mas “a configuração hierárquica entre os dons é importante, precisamente para o bem de todos”.
O arcebispo Aquila enfatiza que “o poder cristão deve ser crucificado, continuamente, por meio do arrependimento e do serviço humilde aos fiéis” e que “na purificação das estruturas de autoridade eclesial não há alternativa que a penitência e a busca sincera da santidade”.
A Igreja está preparada para suportar o ódio do mundo?
Em sua carta, o arcebispo Aquila afirmou que “a Igreja deve aceitar humildemente e responder penitentemente às críticas do mundo quando não vive de acordo com seu próprio ensinamento, como no caso do escândalo dos abusos sexuais”.
“No entanto, também deve estar preparada para suportar o ódio do mundo pela sua fidelidade à Palavra de Deus”, continuou.
“Ela não deve se conformar com o mundo, mas sim servir de fermento no mundo (Gaudium et spes, 40). Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Somos enviados ao mundo consagrados na verdade por Jesus”.
O arcebispo de Denver disse que, ao ler o Texto Fundamental (Grundtext), é “difícil evitar a conclusão de que a Assembleia Sinodal espera alcançar uma Igreja que, longe de estar preparada para sofrer o ódio do mundo por sua fidelidade a Cristo, esteja eminentemente condicionada pelo mundo e seja confortavelmente aceita como uma instituição respeitável entre as outras”.
“O Texto Básico não evidencia virtualmente nenhuma avaliação sobre como as exigências específicas do Evangelho, conforme é proclamado pela Igreja na fé e na caridade, podem levar, e de fato levam, à forte oposição que o Novo Testamento consistentemente suscita entre o espírito do mundo e a fidelidade a Jesus Cristo”.
Além disso, “o texto ignora o custo do discipulado da forma como Cristo o expõe no Evangelho”, adverte o arcebispo Aquila.
O Magistério da Igreja
O arcebispo observa que a assembleia sinodal “reinterpreta o papel do Magistério da Igreja, considerando-o como um moderador de diálogo. Esta posição sobre a autoridade magisterial, incluindo a do Santo Padre, foi ilustrada pela reação de Sua Excelência o bispo Bätzing à resposta da Congregação para a Doutrina da Fé a um dubium sobre a possibilidade de abençoar uniões do mesmo sexo”.
Dom Georg Bätzing, presidente do episcopado alemão e um dos promotores no país da bênção dos casais homossexuais e da Eucaristia aos protestantes, disse há poucos dias que o Caminho Sinodal está tentando “discutir a questão das relações bem-sucedidas de uma forma abrangente, que também leve em consideração a necessidade e os limites do desenvolvimento doutrinário da Igreja. Os pontos de vista que a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) hoje propôs devem ser e serão, com certeza, aceitos nessas conversas”.
O Arcebispo Aquila afirma que “assim, a decisão da CDF, que é uma expressão do magistério pontifício ordinário, apenas acrescenta ‘pontos de vista’ que serão levados em consideração pela Assembleia”.
“Para ser claro, o Papa e os bispos podem e devem ouvir, e de fato ouvem, as vozes dos fiéis e consultam os fiéis especialistas em campos relevantes. No entanto, no final, só os bispos, em comunhão com o Papa, têm a responsabilidade de ensinar com autoridade, 'dotados da autoridade de Cristo' (Lumen gentium, 25)”, acrescenta.
O arcebispo de Denver explicou que “não é responsabilidade dos bispos ensinar seus próprios pontos de vista e opiniões” e que, como São Paulo, “eles devem ensinar apenas o que eles mesmos receberam”.
O prelado enfatiza que a abordagem da assembleia sinodal “é suficientemente flexível para deixar qualquer conteúdo verdadeiro e decisivo sem sentido”.
Nesse sentido, “a assembleia se acha não só competente, mas até mesmo obrigada pelo dever, a tomar decisões pela Igreja, excedendo o discurso de bloqueio (Diskursblockaden) daqueles que podem se opor aos seus julgamentos (Grundtext, p. 15)”.
Ao destacar a importância de seguir fielmente o Magistério da Igreja, o arcebispo questionou: “permaneceremos unidos à vinha, Cristo Jesus, e daremos frutos, ou secaremos (Jo 15, 5-6)? Nós, como a igreja em Éfeso, a quem Jesus ressuscitado se dirige, abandonamos o primeiro amor (cf. Ap 2,4)?
“Se assim for, demos ouvidos à exortação e à advertência do Senhor dos reis da terra: 'Reconhece, então, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti e removerei o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas´ (Ap 2, 5; cf. 1, 5)”.
“Meu irmão, vamos nos lembrar de Cristo crucificado. Lembremo-nos do nosso primeiro amor”, conclui o arcebispo de Denver.
(acidigital)
Sem comentários:
Enviar um comentário