sábado, 18 de setembro de 2021

Arcebispo adverte presidente da Argentina: com aborto e maconha não se ajuda o povo

 


LA PLATA, 17 set. 21 / 03:59 pm (ACI).- Dom Víctor Fernández, arcebispo de La Plata, advertiu ao presidente da Argentina, Alberto Fernández, que com “prioridades” como o aborto, a maconha, a eutanásia e a linguagem “não binária” não se resolvem as “profundas angústias” do povo.

“Por amor a esta Pátria ferida, muitos esperam que o Presidente possa rever a tempo sua agenda de prioridades, para evitar um desastre que terminaria prejudicando ainda mais o nosso povo”, escreveu o prelado argentino em um artigo intitulado “Presidente, resta pouco tempo”, publicado em 16 de setembro no jornal La Nación.

Dom Fernández disse ter visto o governante argentino “muito ocupado com o aborto, a maconha e até com a eutanásia, enquanto os pobres e a classe média tinham outras profundas angústias que ficaram sem resposta”.

O arcebispo afirmou que, “nos últimos meses, viu-se uma poderosa cruzada para impor uma linguagem ´não binária` em que, nas imensas favelas, ninguém parece estar interessado. Talvez queiram copiar a agenda do socialismo espanhol, esquecendo que aqui estamos na América Latina, e para cúmulo, em plena pandemia, onde as circunstâncias exigem ocupar-se de outros assuntos mais imprescindíveis”.

“No final do ano passado, enquanto os países vizinhos estavam comprando vacinas, aqui o Ministério da Saúde se extasiava em plena campanha pelo aborto. Ao menos terão que reconhecer que não era o momento justo, nem era essa a necessidade mais básica”, afirmou dom Fernández.

Em 30 de dezembro de 2020, o Senado da Argentina legalizou o aborto, impulsionado pelo governo do presidente Alberto Fernández. A nova lei permite o aborto até as 14 semanas de gestação e não estabelece nenhuma causalidade para ele seja solicitado. Para ter acesso a um aborto, basta com realizar o pedido e que as mulheres maiores de 16 anos assinem uma declaração juramentada.

O arcebispo de La Plata também escreveu que “muitas mulheres, às quais o governo acreditava responder, estavam sobrevivendo dia após dia, com suas famílias destroçadas, seus filhos que haviam abandonado o colégio e ingressado ao mundo da droga e da delinquência, com o dinheiro desvalorizando-se cada dia.

“Dessa forma, a agenda social que poderia ter caracterizado este governo ficou manchada e, assim, uma grande oportunidade foi desperdiçada”, lamentou.

Segundo diversos especialistas, em 2021 a inflação na Argentina chegará a 48,2%, com um crescimento econômico de apenas 6,8%.

O país, ainda a terceira economia da América Latina, arrasta uma grave crise, com recessão e inflação alta, agravada pela pandemia da covid-19 em 2020, quando a atividade despencou 9,9%.

Dom Fernández também fez uma referência às eleições primárias do fim de semana e disse que “não deveria surpreender a abstenção das pessoas que não se sentem representadas por outras opções políticas, e que está muito indignada quando vai votar”.

“É muito eloquente que, em muitos bairros pobres, a abstenção chegou a 40%, embora, na realidade, esta campanha com poucas propostas reais e muito slogan não entusiasmou ninguém”, acrescentou.

No domingo 12 de setembro, foram realizadas na Argentina as eleições primárias abertas simultâneas e obrigatórias (PASO). Segundo a CNN em espanhol, se os resultados se repetirem em novembro nas eleições gerais, a Frente de Todos, o partido do governo, perderia a maioria que atualmente tem no Senado.

O arcebispo de La Plata ressaltou que o presidente Fernández “ainda está a tempo de dar prioridade aos grandes problemas sociais”, embora alertou que “às vezes a política se confunde quando acredita que, falando de determinados temas, responde às expectativas da sociedade, e na realidade só está adulando setores minoritários que tem por perto”.

“Isso não é o povo argentino e os votos parecem demonstrá-lo”, afirmou ele.

“No entanto, alguns membros do próprio governo parecem achar que a solução está em radicalizar-se mais ainda, sem ver que isso significaria aproximar-se mais do abismo”, lamentou.

Dom Fernández perguntou depois “quem não perdoaria ao Senhor Presidente o tropeço da festinha de Olivos se o tivessem sentido mais próximo de seus problemas reais? O problema é que ele considerava ´imbecis` as pessoas que faziam o mesmo que ele, bem como quando ele pedia um debate respeitoso sobre o aborto, chamava de ´hipócritas` aqueles que pensavam diferente”.

A festa a que o arcebispo se refere foi organizada por Fabiola Yáñez, namorada do presidente Fernández, em 14 de julho de 2020, durante a quarentena pela covid-19 na Argentina, quando esse tipo de evento não era permitido.

Em abril deste ano, o governante se referiu aos que criticavam os números altos de contágio dizendo: “escuto esses imbecis dizendo que os contágios são uma solução política. Alguém acha que quem governa um país ganha fazendo política com a quantidade de contagiados? Tem que ser um profundo idiota para dizer essas coisas ou uma pessoa muito má”.

Ao concluir, o arcebispo de La Plata lembrou que “nosso povo é generoso e é capaz de dar outra oportunidade aos que sabem retroceder seus passos e retomar o rumo”.

“Tomara que seja assim, para que seja possível reconstruir uma economia que leva vários anos danificada e comecemos a resolver as dificuldades das grandes maiorias sofredoras. Já há muita gente cansada de esperar”, afirmou dom Fernández.

O artigo do arcebispo de La Plata foi publicado um dia depois da renúncia de todos os ministros e funcionários de altos cargos que no gabinete representavam a vice-presidente Cristina Fernández, que trava uma disputa pública com o presidente argentino.


(acidigital)

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