segunda-feira, 31 de janeiro de 2022
Hoje é celebrado são João Bosco, fundador dos salesianos
REDAÇÃO CENTRAL, 31 jan. 22 / 05:00 am (ACI).- “Um só é meu desejo: que sejam felizes no tempo e na eternidade”, escreveu pouco antes de sua morte são João Bosco, cuja memória litúrgica é recordada hoje, 31 de janeiro. O fundador da Congregação Salesiana (os salesianos) ficou também conhecido como patrono e mestre da juventude.
João Melchior Bosco Occhiena nasceu 16 de agosto de 1815 na aldeia del Becchi, perto de Morialdo em Castelnuovo (norte da Itália), em uma família muito humilde. Quando tinha dois anos, seu pai morreu e sua mãe, a serva de Deus Margarida Occhiena, sendo analfabeta e pobre, foi responsável pela educação dos seus filhos.
Aos nove anos, João Bosco teve um sonho no qual viu uma multidão de meninos que brigavam e blasfemavam. Ele tentou silenciá-los com os punhos. Então, apareceu Jesus Cristo e lhe disse que devia ganhar os meninos com a mansidão e a caridade e que sua professora seria a Virgem Maria. A Mãe de Deus disse: “a seu tempo compreenderá tudo”.
Não conseguiu entender este sonho inicialmente, mas Deus mesmo o foi esclarecendo de diferentes maneiras com o tempo.
Dom Bosco teve que estudar e trabalhar ao mesmo tempo, com seu desejo de ser sacerdote. Ingressou no seminário de Chieri e conheceu são José Cafasso, que lhe mostrou as prisões e os bairros onde havia jovens necessitados. Foi ordenado sacerdote em 1841.
Iniciou o oratório salesiano, no qual todo domingo se reunia com centenas de meninos. No começo, esta obra não tinha um lugar fixo, até que conseguiram se estabelecer no bairro periférico de Valdocco. Depois de uma enfermidade que quase lhe custou a vida, prometeu trabalhar até o final por Deus através dos jovens.
São João Bosco se dedicou inteiramente a consolidar e estender sua obra. Deu alojamento a meninos abandonados, ofereceu oficinas de aprendizagem e, sendo um sacerdote pobre, construiu uma igreja em honra a são Francisco de Sales.
Em 1859, fundou os salesianos, tomando como modelo são Francisco de Sales. Mais adiante, fundou as filhas de Maria Auxiliadora e os cooperadores salesianos. Além disso, construiu a basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, em Turim, e a basílica do Sagrado Coração, em Roma, somente com doações.
Morreu em 31 de janeiro de 1888. Foi beatificado em 1929 e canonizado em 1924.
Confira também:
Papa Francisco exorta sacerdotes a serem alegres como Dom Bosco https://t.co/5kPjlbdSXo
— ACI Digital (@acidigital) January 31, 2019
domingo, 30 de janeiro de 2022
ANGELUS (Texto)
PAPA FRANCISCO
ANGELUS
Praça de São Pedro
Domingo, 30 de janeiro de 2022
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na liturgia de hoje, o Evangelho narra a primeira pregação de Jesus em seu país, Nazaré. O resultado é amargo: em vez de receber aprovação, Jesus encontra incompreensão e até hostilidade (cf. Lc 4 , 21-30). Seus companheiros aldeões, mais do que uma palavra de verdade, queriam milagres, sinais prodigiosos. O Senhor não trabalha com ele e eles o recusam, porque dizem que já o conhecem desde criança, ele é filho de José (cf. v. 22) e assim por diante. Assim Jesus pronuncia uma frase que se tornou proverbial: "Nenhum profeta é bem-vindo na sua terra" (v. 24).
Essas palavras revelam que o fracasso de Jesus não foi totalmente inesperado. Ele conhecia os seus, conhecia os seus próprios corações, conhecia o risco que corria, levava em conta a recusa. Então podemos nos perguntar: mas se foi assim, se ele prevê o fracasso, por que ele vai ao seu país de qualquer maneira? Por que fazer o bem às pessoas que não estão dispostas a recebê-lo? Essa é uma pergunta que muitas vezes nos fazemos. Mas é uma pergunta que nos ajuda a compreender melhor Deus: Ele, diante de nossos fechamentos, não se detém: não detém seu amor .. Diante de nossos fechamentos, Ele continua. Vemos um reflexo disso naqueles pais que têm consciência da ingratidão de seus filhos, mas não deixam de amá-los e de fazer-lhes bem por isso. Deus é assim, mas em um nível muito mais alto. E hoje ele também nos convida a acreditar no bem, a não deixar pedra sobre pedra para fazer o bem.
No que acontece em Nazaré, porém, encontramos outra coisa: a hostilidade para com Jesus por parte dos "seus" nos provoca: eles não foram acolhedores, e nós? Para verificar isso, vejamos os modelos de acolhimento que Jesus oferece hoje, aos seus conterrâneos e a nós. São dois estrangeiros: uma viúva de Sarepta de Sidon e Naamã, o sírio. Ambos receberam profetas: o primeiro Elias, o segundo Eliseu. Mas não foi uma recepção fácil, passou por provações. A viúva acolheu Elias, apesar da fome e embora o profeta tenha sido perseguido (cf. 1 Rs 17 , 7-16), ele foi perseguido politicamente-religioso. Naamã, por outro lado, apesar de ser uma pessoa do mais alto nível, aceitou o pedido do profeta Eliseu, que o levou a se humilhar, banhar-se sete vezes no rio ( cf.5.1-14), como se fosse uma criança ignorante. Em suma, a viúva e Naamàn os acolheram com sua disponibilidade e humildade . A maneira de acolher Deus é estar sempre disponível, acolhê-lo e ser humilde. Por aqui passa a fé: disponibilidade e humildade. A viúva e Naamã não rejeitaram os caminhos de Deus e seus profetas; eram dóceis, não rígidos e fechados.
Irmãos e irmãs, Jesus segue também o caminho dos profetas: apresenta-se como não esperávamos. Quem procura milagres não encontra - se procurarmos milagres não encontraremos Jesus - quem procura novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas; aqueles que procuram uma fé feita de poder e de sinais externos. Não, não vai encontrá-lo. Só quem aceita seus caminhos e seus desafios a encontra, sem queixas, sem suspeitas, sem críticas e sem cara feia. Em outras palavras, Jesus pede que você o acolha na realidade cotidiana que você vive; na Igreja hoje, como ela é; em quem você tem perto todos os dias; na concretude dos necessitados, nos problemas de sua família, nos pais, nos filhos, nos avós, acolhe Deus aí. Aí está ele, que nos convida a nos purificarmos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade.
E nós, somos acolhedores ou nos parecemos com seus compatriotas, que achavam que sabiam tudo sobre ele? “Estudei teologia, fiz aquele curso de catequese… sei tudo de Jesus!”. Sim, como um tolo! Não seja bobo, você não conhece Jesus.Talvez, depois de tantos anos sendo crentes, pensemos que conhecemos bem o Senhor, com nossas idéias e nossos julgamentos, muitas vezes. O risco é nos acostumarmos, nos acostumarmos com Jesus, e como nos acostumarmos com isso? Fechando-nos, fechando-nos às suas novidades, no momento em que Ele bate à sua porta e lhe diz algo novo, Ele quer entrar em você. Devemos sair disso permanecendo fixos em nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, ela tem a capacidade de se surpreender, de se surpreender. O Senhor sempre nos surpreende,
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Depois do Ângelus
Queridos irmãos e irmãs ,
hoje é o Dia Mundial dos Doentes de Hanseníase. Manifesto a minha proximidade aos que sofrem desta doença e espero que não lhes falte apoio espiritual e cuidados de saúde. É preciso trabalhar em conjunto para a plena integração dessas pessoas, superando qualquer discriminação associada a uma doença que, infelizmente, ainda atinge muitos, principalmente em contextos sociais mais desfavorecidos.
Depois de amanhã, 1º de fevereiro, o Ano Novo Lunar será comemorado em todo o Extremo Oriente, assim como em várias partes do mundo. Nesta ocasião, dirijo minhas cordiais saudações e desejo que todos possam desfrutar de paz, saúde e uma vida tranquila e segura no Ano Novo. Como é bonito quando as famílias encontram oportunidades de se reunir e vivenciar juntos momentos de amor e alegria! Infelizmente, muitas famílias não poderão se reunir este ano devido à pandemia. Espero que em breve possamos passar no teste. Por fim, espero que, graças à boa vontade dos indivíduos e à solidariedade dos povos, toda a família humana possa alcançar com renovado dinamismo os objetivos de prosperidade material e espiritual.
Na vigília da festa de São João Bosco, desejo saudar os Salesianos, que tanto fazem bem na Igreja. Acompanhei a Missa celebrada no Santuário de Maria Auxiliadora [em Turim] pelo Reitor-Mor Ángel Fernández Artime, rezei com ele por todos. Pensemos neste grande santo, pai e mestre da juventude. Não se trancou na sacristia, não se trancou em suas coisas. Saiu na rua em busca de jovens, com aquela criatividade que era sua marca registrada. Felicidades a todos os Salesianos e Salesianos!
Saúdo todos vós, fiéis de Roma e peregrinos de várias partes do mundo. Em particular, saúdo os fiéis de Torrejón de Ardoz, Espanha, e os estudantes de Murça, Portugal.
Saúdo com afecto os rapazes e as raparigas da Acção Católica da Diocese de Roma! Estou aqui em grupo. Queridos filhos, também este ano, acompanhados pelos pais, educadores e sacerdotes auxiliares, viestes - um pequeno grupo, pela pandemia - ao final da Caravana da Paz. Seu slogan é Vamos consertar a paz . Belo lema! É importante! Há uma grande necessidade de "consertar", a partir de nossas relações pessoais, até as relações entre os Estados. Obrigada! Continue! E agora solte seus balões para o céu em sinal de esperança... Aqui! É um sinal de esperança que os jovens de Roma nos trazem hoje, esta "caravana pela paz".
Desejo a todos um feliz domingo. E por favor, não se esqueça de orar por mim. Bom almoço e adeus.
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sábado, 29 de janeiro de 2022
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
Hoje a Igreja celebra santo Tomás de Aquino, o "doutor angélico
REDAÇÃO CENTRAL, 28 jan. 22 / 05:00 am (ACI).- A Igreja Católica recorda hoje, 28 de janeiro, santo Tomás de Aquino, filósofo, teólogo e doutor da Igreja, dotado de grande humildade e autor da famosa “Suma Teológica”. É o santo padroeiro da educação, das universidades e escolas católicas.
Tomás nasceu em Roccasecca, perto de Aquino, em Nápoles, em meio a uma família aristocrática, entre 1225 e 1227. Morreu cedo, em 7 de março de 1274, na abadia cisterciense de Fossanova, onde foi descansar depois de se sentir mal durante viagem para participar do Concílio de Lyon, a convite do papa Gregório X.
Quando tinha cinco anos, recebeu seu primeiro treinamento com os monges beneditinos de Montecassino. Diz-se que, ao ouvir os monges cantando louvores a Deus, perguntou: “Quem é Deus?”. Ele era muito estudioso e tinha vontade de oração e meditação.
Em 1236, ingressou na Universidade de Nápoles. Captava os estudos com maior profundidade e lucidez que seus mestres.
Mais tarde, quando decidiu ingressar na Ordem de São Domingos, teve que enfrentar a resistência de sua família. Chegou a fugir para a Alemanha, mas foi pego no caminho por seus irmãos que o prenderam no castelo.
Entretanto, nem mesmo isso o dissuadiu de seu desejo de seguir a vida religiosa. Seguiu para Colônia, na Alemanha, onde foi instruído por santo Alberto Magno.
Seu jeito silencioso e aparência robusta lhe renderam o apelido de “boi mudo” pelos companheiros que zombavam dele.
Mas, Tomás se tornou conselheiro dos papas Urbano IV, Clemente IV e Gregório X. Até mesmo o rei são Luís, da França o consultava sobre os assuntos importantes. Lecionou em grandes universidades, como de Paris, Roma, Bologna e Nápoles.
Embora santo Tomás tenha vivido menos de cinquenta anos, escreveu mais de sessenta obras, algumas curtas, outras muito longas. Isso não significa que toda a produção real foi escrita diretamente à mão; secretários o ajudaram, e seus biógrafos asseguram que ele poderia ditar a vários escribas ao mesmo tempo.
Sua obra “Suma Teológica” imortalizou o santo. Ele próprio a considerava simplesmente um manual de doutrina cristã para estudantes. Na verdade, é uma exposição completa, ordenada por critérios científicos da teologia e também um resumo da filosofia cristã.
Foi canonizado por João XXII, em 18 julho de 1323. No dia 28 de janeiro de 1567, foi declarado doutor da Igreja por são Pio V. Logo passou, então, a ser chamado “doutor angélico”.
Seus restos mortais estão em Toulouse, na França, mas a relíquia de seu braço direito, com o qual escrevia suas obras, se encontra em Roma.
Santo Tomás de Aquino é representado com o Espírito Santo, um livro, uma estrela ou raios de luz sobre seu peito e a Igreja.
(acidigital)
É inadmissível manipular fatos para conseguir nulidade matrimonial, diz o papa
Vaticano, 27 jan. 22 / 01:07 pm (ACI).- O papa Francisco disse que qualquer “alteração ou manipulação voluntária” dos fatos para conseguir a nulidade matrimonial é “inadmissível”, segundo Vatican News, serviço de informações da Santa Sé.
Em sua audiência com os juízes do Tribunal da Rota Romana por ocasião da inauguração do Ano Judiciário, em 27 de janeiro, o papa destacou que, embora "no julgamento ocorra as vezes uma dialética entre teses opostas”, é importante que cada caso se desenvolva “sempre com uma adesão sincera ao que parece ser verdadeiro para cada um, sem se fechar em sua própria visão, mas estando também abertos à contribuição dos demais participantes do processo”.
“A disponibilidade para oferecer a própria versão subjetiva dos acontecimentos torna-se frutífera no contexto de uma comunicação adequada com os outros, o que também pode levar à autocrítica”, disse Francisco. “Portanto, é inadmissível qualquer alteração ou manipulação voluntária dos fatos, visando a obtenção de um resultado pragmaticamente desejado.”
O Tribunal da Rota Romana, encarregado, entre outras funções, de receber recursos e processos de segunda instância, é uma das mais altas instâncias judiciárias da Santa Sé, apenas abaixo do Supremo Tribunal da Congregação para a Doutrina da Fé e do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica.
O papa Francisco também destacou a importância do “compromisso para favorecer o perdão e a reconciliação entre os cônjuges, e, também, para validar um matrimônio nulo quando isso for possível e prudente”.
“Desta forma, entende-se também que a declaração de nulidade não deve ser apresentada como se fosse o único objetivo a ser alcançado diante de uma crise matrimonial, ou como se isso constituísse um direito independentemente dos fatos”, afirmou.
Francisco destacou aos juízes que “ao considerar a eventual nulidade, é necessário fazer com que os fiéis reflitam sobre os motivos que os levam a solicitar a declaração de nulidade do consentimento matrimonial, favorecendo uma atitude de acolhimento da sentença definitiva, ainda que não corresponda à própria convicção”.
O papa exortou a “aprender a escutar, que não é simplesmente ouvir”, porque “é preciso compreender a visão e as razões do outro, quase identificar-se com o outro”.
“Como em outras âmbitos da pastoral, também na atividade judiciária é necessário promover a cultura da escuta, condição prévia da cultura do encontro”, disse.
O papa Francisco disse que “as respostas padrão aos problemas concretos das pessoas são deletérias. Cada uma delas, com sua experiência muitas vezes marcada pela dor, constitui para o juiz eclesiástico a ‘periferia existencial’ concreta da qual toda ação pastoral judiciária deve se mover”.
“Neste sentido, em sua ação como ministros do tribunal, nunca deve faltar um coração pastoral, um espírito de caridade e compreensão para com as pessoas que sofrem com o fracasso de sua vida conjugal”.
Francisco disse que “o êxito deste caminho é a sentença, fruto de um discernimento atento que conduz a uma palavra crível sobre a experiência pessoal, iluminando os percursos que podem ser abertos a partir dali”.
“Portanto, a sentença deve ser compreensível às pessoas envolvidas: só assim se tornará um momento de especial relevância no seu caminho humano e cristão”, disse ele.
(acidigital)
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
Hoje é celebrada santa Ângela de Mérici, fundadora das ursulinas
REDAÇÃO CENTRAL, 27 jan. 22 / 05:00 am (ACI).- “Se alguém, por seu estado de vida, não pode viver sem riquezas e posição, pelo menos, mantenha seu coração vazio do amor a estas”, costumava dizer santa Ângela de Mérici, fundadora da primeira ordem de mulheres dedicada ao ensino, chamada as ursulinas. Sua festa é celebrada hoje, 27 de janeiro.
Santa Ângela nasceu em Desenzano, perto de Brescia, no norte da Itália, por volta de 1470 ou 1474. Aos 10 anos, ficou órfã, então, ela, sua irmã e irmão foram criados por um tio com muito dinheiro.
Sua irmã mais velha faleceu de repente e a santa ficou muito preocupada porque ela tinha morrido sem os sacramentos. Foi assim que, certo dia, teve sua primeira experiência de êxtase na qual a Virgem Maria lhe apareceu.
Aos 13 anos, tornou-se terciária franciscana e viveu com muita austeridade, alimentando-se apenas de pão e vegetais em certas ocasiões. Não queria ter bens, nem uma cama, assim como Jesus, que não tinha onde recostar a cabeça.
Quando tinha 20 anos, seu tio morreu e santa Ângela voltou para sua terra natal, onde deu catecismo aos pobres. Sua baixa estatura não lhe impediu de servir a Deus com grande amor. Em uma ocasião, viajou para a Terra Santa e perdeu a visão em Creta, mas manteve sua devoção na viagem, e a recuperou no mesmo lugar em que a perdeu.
Em 1525, foi a Roma e se encontrou com o papa Clemente VII. O papa lhe pediu que se encarregasse de um grupo de enfermeiras em Roma, mas a santa lhe revelou que havia tido uma visão na qual donzelas subiam ao céu em uma escada de luz. Isto a inspirou a formar um noviciado informal.
Na visão, as santas virgens estavam acompanhadas por anjos que tocavam doces melodias com arpas douradas. Todas tinham coroas com pedras preciosas. Mas, de repente, a música parou e Jesus em pessoa a chamou por seu nome e lhe disse para criar uma sociedade de mulheres.
Dessa maneira, o papa lhe outorgou a permissão para formar a comunidade. Santa Úrsula lhe apareceu e santa Ângela a nomeou padroeira da comunidade.
Em 25 de novembro de 1535, na igreja de Santa Afra de Brescia, Ângela e 28 companheiras mais jovens se uniram diante de Deus para entregar suas vidas ao serviço da educação das meninas. Foi assim que surgiu a Companhia das Ursulinas.
As mulheres da ordem não usavam hábito, mas um simples vestido preto; não faziam votos, não tinham vida de clausura, nem vida comunitária. Dedicavam-se à educação religiosa de meninas, especialmente as pobres, e ao cuidado dos doentes. As ursulinas foram reconhecidas pelo papa Paulo III em 1544 e se organizaram como congregação em 1565.
Santa Ângela morreu em 1540, quatro anos depois da fundação e não pôde ver grande parte do crescimento da congregação, mas seu exemplo de paciência e amabilidade com os pobres, enfermos e as pessoas de pouca ou quase nenhuma instrução ficaria para sempre na história.
Ao morrer, suas últimas palavras foram o nome de “Jesus” e um raio de luz brilhou sobre a santa. Em 1568, são Carlos Borromeu chamou as ursulinas a Milão e as persuadiu a ingressar na vida de clausura.
São Borromeu, em um sínodo provincial, disse aos seus bispos vizinhos que não conhecia uma forma melhor de reformar uma diocese do que introduzir as ursulinas nas comunidades povoadas.
(acidigital)
Holocausto: a fraternidade de uma paróquia romana durante o horror
No Dia da Memória das Vítimas do Holocausto, uma história de salvação: a de uma paróquia romana que salvou quinze meninas judias. Na igreja de Santa Maria ai Monti, a poucos passos do Coliseu, um grupo de meninas foram escondidas graças às irmãs e ao pároco durante as rondas nazistas de 1943. O pároco, padre Francesco Pesce: "Uma antecipação da fraternidade invocada pelo Papa na Fratelli Tutti".
Salvatore Cernuzio – Vatican News
Passavam o dia desenhando, sempre desenhando. Assim as meninas judias refugiadas em um túnel estreito e escuro sob o campanário da igreja romana de Santa Maria ai Monti se distraíam do incessante rumor das botas dos soldados sobre os paralelepípedos, durante o horrível mês de outubro de 1943. Um longo período de terror que transformou Roma em uma floresta onde os predadores alemães arrancaram de suas casas vítimas inocentes. As meninas desenhavam principalmente rostos: os de suas mães e pais para que o terror ou o tempo não turvassem sua memória, os das bonecas perdidas na fuga, o rosto da Rainha Esther segurando um kallá, o pão da oferta. Escreviam seus nomes e sobrenomes, Matilde, Clelia, Carla, Anna, Aida.
Nas paredes desenhos, rostos, recordações
Aida, cuja assinatura ainda está marcada nas paredes com sua elegante caligrafia:
"Aida Sermoneta. Moro na sombra destes arcos".
Arcos nos quais são visíveis, embora desbotados pela humidade, peixes e frases em hebraico, dedicatórias à "Roma santa e popular". Talvez com o atrito do carvão nas paredes, as meninas quisessem cobrir gritos, tiros, portas batidas.
Refugiadas no convento
Eram quinze, a menor tinha quatro anos de idade. Elas se salvaram escondendo-se em um espaço de seis metros de comprimento e dois metros de largura no ponto mais alto desta igreja do século XVI a poucos passos do Coliseu. Ali passavam horas agonizantes, que às vezes se transformavam em dias. Entre as paredes e os arcos moviam-se como sombras para escapar dos soldados e delatores. Ajudadas pelas irmãs e pelo pároco da época, padre Guido Ciuffa, elas escaparam do rastreamento e morte certa nos campos de concentração que levaram a vida de seus parentes. As mesmas pessoas que tiveram a coragem de confiá-las às Filhas da Caridade no então Convento das Neófitas. Misturadas com as estudantes e noviças, ao primeiro sinal de perigo, eram levadas à paróquia por uma porta interna de comunicação.
O que não deve mais acontecer
Hoje aquela porta é uma parede de concreto no sala da catequese. "Costumo explicar sempre às crianças o que aconteceu aqui e principalmente o que não deve mais acontecer”, explica ao Vatican News o padre Francesco Pesce, que é o pároco de Santa Maria ai Monti há doze anos. Padre Francesco é muito apreciado em toda a vizinhança, um emblema de uma Roma que ainda é capaz de fazer dialogar etnias e religiões. "Esta porta é simbólica, é uma passagem do desespero para a esperança, do mal para o bem". Daquela porta as meninas corriam para a sacristia na direção de outra porta, disfarçada pelo padre Guido com tapeçarias, vestes, mantos de Nossa Senhora. Era o ponto de junção para subir a escada que levava sobre a abside, 30 metros acima do solo. Mais acima, tinham apenas os sinos. Ou o céu, a única via de fuga.
A escada para a salvação
Padre Francesco nos conduz nesta imensidão de memórias levando-nos escada acima, iluminada por uma tocha. Noventa e cinco degraus de uma escada em espiral escura. Uma espiral angustiante. Nos momentos de perigo, no entanto, o único caminho para a salvação. O chão range por causa das carcaças de pombos mortos, a respiração encurta e os olhos só se acostumam à escuridão após alguns minutos, quando janelas do tamanho de tijolos deixam entrar vislumbres de luz. As meninas subiam e desciam a torre, sozinhas, por sua vez, para recolher alimentos e roupas e levá-los às suas colegas, que esperavam na cúpula de concreto que cobria a abside. O mesmo que usavam nos raros momentos de brincadeira, quando os cantos da missa cobriam o barulho.
Uma história de fraternidade
A história de Santa Maria ai Monti não é apenas a história de uma Igreja comprometida em resistir à fúria dos nazistas, mas é uma história de fraternidade escrita entre as linhas do que o Papa Francisco chamou de ‘a página mais negra’ da humanidade. "Aqui tocamos o auge da dor, mas também o auge do amor", diz ainda o pároco. "Toda a vizinhança ajudava, não apenas cristãos católicos, mas também irmãos de outras religiões que se mantiveram em silêncio e continuaram a obra de caridade. Nisso eu vejo uma antecipação da Fratelli tutti".
Silêncio e caridade
Todos no bairro sabiam que tinha quinze meninas judias escondidas na paróquia, e todos faziam escudo para protegê-las. Não cederam a ameaças ou promessas de recompensas sujas de sangue, não quiseram compartilhar nem mesmo as informações necessárias para organizar as ajudas. Muito arriscado com soldados patrulhando o bairro continuamente; muito perigoso com delatores e espiões infiltrados nas missas para escutar e observar e depois vender a vida de outros. As meninas simplesmente tiveram que desaparecer. Todas elas foram salvas. Como adultas, tendo se tornado mães, esposas e avós, elas continuaram a visitar a paróquia. Uma delas continuou a visitar a paróquia até alguns anos atrás, indo ao refúgio até onde suas pernas permitissem. Mesmo quando ficou idosa, ela parava diante da porta da sacristia de joelhos e chorava. Assim como fazia 80 anos atrás.
(vaticannews)
Palavra de Vida – janeiro 2022
«Vimos a sua estrela no Oriente e viemos prestar-Lhe homenagem».[1]
Estas palavras, referidas apenas pelo Evangelho de Mateus, foram ditas por alguns “sábios”, que vieram de longe, para uma visita algo misteriosa ao menino Jesus.
Era um grupo pequeno, que enfrentou um longo caminho orientando-se por uma pequena luz, à procura de uma Luz maior, universal: o Rei que já tinha nascido e já estava presente no mundo. Nada mais sabemos a respeito desses sábios, mas este episódio é rico de pistas para a reflexão e para a vida cristã.
Este tema foi escolhido – por proposta dos cristãos do Médio Oriente – para a celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos[2] deste ano. É uma ocasião preciosa para nos recolocarmos juntos no caminho, abertos ao acolhimento recíproco, mas, sobretudo, abertos ao desígnio de Deus de sermos testemunhas do Seu amor por todas as pessoas e todos povos da Terra.
«Vimos a sua estrela no Oriente e viemos prestar-Lhe homenagem».
Assim escrevem os cristãos do Médio Oriente, no documento que acompanha as propostas para esta Semana de Oração: «A estrela que apareceu no céu da Judeia constituía um sinal de esperança há muito aguardado, que conduziu os Magos e, através deles, todos os povos da Terra ao lugar onde se manifesta o verdadeiro Rei e Salvador. A estrela é uma dádiva, um sinal da presença amorosa de Deus para toda a Humanidade. […] Os Magos revelam-nos a unidade de todos os povos, desejada por Deus. Vêm de países distantes e representam diferentes culturas, mas são movidos pelo mesmo desejo de ver e conhecer o Rei recém-nascido. Reúnem-se na gruta de Belém para O venerar e para Lhe oferecerem os seus presentes. Os cristãos são chamados a ser, no mundo, um sinal da unidade que Ele deseja. Apesar de pertencerem a culturas, raças e línguas diferentes, os cristãos partilham a comum procura de Cristo e o comum desejo de O adorar. A missão dos cristãos, portanto, é a de serem um sinal, como a estrela, para guiar a humanidade sedenta de Deus e a conduzir a Cristo, para serem instrumentos de Deus para a realização da unidade entre todos os povos»[3]. A estrela que brilhou para os Magos é destinada a todos e acende-se, em primeiro lugar, na profundidade da consciência que se deixa iluminar pelo amor. Todos podemos afinar o olhar para a ver, pôr-nos a caminho para a seguir e alcançar a meta do encontro com Deus e com os irmãos na nossa vida quotidiana, para partilhar com todos as nossas riquezas.
«Vimos a sua estrela no Oriente e viemos prestar-Lhe homenagem.»
Prestar homenagem a Deus é fundamental para que, diante d’Ele, nos reconheçamos tal como somos: pequenos, frágeis, sempre necessitados de perdão e de misericórdia, e, por essa razão, sinceramente dispostos à mesma atitude em relação aos outros. Esta homenagem, devida apenas a Deus, exprime-se em plenitude na adoração.
A este propósito, podem ajudar-nos estas palavras de Chiara Lubich: «[…] o que significa “adorar” a Deus? É uma atitude que só podemos ter para com Ele. Adorar significa dizer a Deus: “Tu és tudo”, ou seja: “És aquele que é”. Eu tenho o privilégio imenso do dom da vida para o reconhecer. Adorar significa dizer também […] “eu sou nada”, mas não só com palavras: para adorarmos a Deus, é preciso anular-nos a nós mesmos e fazer com que Ele triunfe em nós e no mundo. […] E o caminho mais seguro, para chegar à proclamação existencial do nada que somos e do tudo que é Deus, é totalmente positivo: para anular os nossos pensamentos, basta pensar em Deus e ter os seus pensamentos, que nos são revelados pelo Evangelho; para anular a nossa vontade, basta cumprir a Sua vontade, que nos é indicada no momento presente; para anular os nossos afetos desordenados, basta ter no coração o amor para com Ele e amar os nossos próximos, partilhando com eles os seus anseios, sofrimentos, problemas e alegrias. Se formos sempre “amor”, seremos, sem nos darmos conta, “nada” para nós mesmos. Vivendo o nosso nada, afirmamos com a vida a superioridade de Deus, o facto de Ele ser tudo, abrindo-nos assim à verdadeira adoração a Deus»[4].
«Vimos a sua estrela no Oriente e viemos prestar-Lhe homenagem.»
Podemos fazer nossas as conclusões dos cristãos do Médio Oriente: «Depois de terem encontrado o Salvador e de O terem adorado juntos, os magos, avisados em sonho, regressaram aos seus países por outro caminho. Do mesmo modo, a comunhão que partilhamos na oração comum deve inspirar-nos a regressar às nossas vidas, às nossas Igrejas e ao mundo inteiro seguindo caminhos novos. […] Hoje, colocar-se ao serviço do Evangelho, requer o compromisso com a defesa da dignidade humana, sobretudo dos mais pobres, dos mais fracos e dos marginalizados. […] O caminho novo para as Igrejas é a estrada da unidade visível, que procuramos com sacrifício, coragem e audácia para que, dia após dia, “Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28)»[5].
Letizia Magri
[1] A frase proposta é uma conjugação dos textos Mt 2,1 e Mt 2,2. [2] A data tradicional para a celebração da Semana de oração pela unidade dos cristãos, no hemisfério norte, ocorre entre os dias 18 e 25 de janeiro. No hemisfério sul, onde janeiro é período de férias, as Igrejas celebram a Semana de oração noutras datas, por exemplo no tempo de Pentecostes, período igualmente simbólico para a unidade da Igreja. É um convite a manter vivo o compromisso com o diálogo ecuménico durante todo o ano. [3] Cf. Conselho Mundial das Igrejas, Subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2022, p. 4, aqui. [4] C. Lubich, Palavra de Vida de fevereiro de 2005, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 742-744. [5] CMI, Subsídios…, p 6-7.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Igreja celebra hoje são Timóteo e são Tito, discípulos de são Paulo apóstolo
REDAÇÃO CENTRAL, 26 jan. 22 / 05:00 am (ACI).- São Timóteo e são Tito foram discípulos de são Paulo, presidiram as comunidades cristãs da ilha de Éfeso e de Creta, respectivamente. Do mesmo modo, a eles foram dirigidas três cartas atribuídas a são Paulo. A festa de ambos é celebrada neste 26 de janeiro, o dia seguinte à festa da conversão do apóstolo dos gentios.
São Timóteo nasceu em Listra, filho de pai pagão e de mãe judia-cristã. No Novo Testamento, aparece como discípulos mais próximo a são Paulo, com quem realizou várias viagens.
O apóstolo o nomeou bispo de Éfeso e lhe escreveu duas cartas para orientá-lo na direção de suas comunidades: Primeira e Segunda Carta a Timóteo. Algumas de suas relíquias repousam na Itália desde 1239 na catedral de Termoli, procedentes de Constantinopla.
São Tito aparece nas cartas de são Paulo, a quem acompanhou ao Concílio de Jerusalém. Depois de pregar em várias cidades, são Paulo o consagrou bispo da ilha de Creta.
“Certa é esta doutrina, e quero que a ensines com constância e firmeza, para que os que abraçaram a fé em Deus se esforcem por se aperfeiçoar na prática do bem. Isto é bom e útil aos homens”, recomendou são Paulo a Tito (Tt 3,8)
(acidigital)
AUDIÊNCIA GERAL (Texto)
PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Catequese sobre São José 9. São José, homem que "sonha"
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de me concentrar na figura de São José como homem que sonha. Na Bíblia, como nas culturas dos povos antigos, os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava (Cf. Gn 20, 3; 28, 12; 31, 11.24; 40, 8; 41, 1-32; Nm 12, 6; 1 Sm 3, 3-10; Dn 2; 4; Job 33, 15.). O sonho simboliza a vida espiritual de cada um de nós, o espaço interior, que cada um é chamado a cultivar e preservar, onde Deus se manifesta e muitas vezes nos fala. Mas devemos também dizer que dentro de cada um não existe apenas a voz de Deus: existem muitas outras vozes. Por exemplo, as vozes dos nossos receios, as vozes das experiências passadas, as vozes das esperanças; e há também a voz do maligno que nos quer enganar e confundir. Por conseguinte, é importante ser capaz de reconhecer a voz de Deus no meio de outras vozes. José demonstra que sabe cultivar o silêncio necessário e, sobretudo, tomar as decisões corretas perante a Palavra que o Senhor lhe dirige interiormente. Hoje, será bom para nós retomarmos os quatro sonhos do Evangelho que o têm como protagonista, para compreender como nos colocarmos perante a revelação de Deus. O Evangelho narra-nos quatro sonhos de José.
No primeiro sonho (cf. Mt 1, 18-25), o anjo ajuda José a resolver o drama que o assola quando soube da gravidez de Maria: «Não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados» (vv. 20-21). E a sua resposta foi imediata: «Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado» (v. 24). Muitas vezes a vida coloca-nos diante de situações que não compreendemos e que parecem não ter solução. Rezar nesses momentos significa deixar que o Senhor nos indique o que é justo fazer. Na verdade, muitas vezes é a oração que nos dá a intuição da saída, como resolver aquela situação. Caros irmãos e irmãs, o Senhor nunca permite que um problema surja sem nos conceder também a ajuda necessária para o enfrentar. Não nos lança sozinhos na fornalha. Não nos lança no meio das feras. Não. O Senhor quando nos mostra um problema ou revela um problema, dá-nos sempre a intuição, a ajuda, a sua presença, para sairmos dele, para o resolver.
O segundo sonho revelador de José chega quando a vida do menino Jesus está em perigo. A mensagem é clara: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar» (Mt 2, 13). José obedeceu sem hesitação: «Levantou-se durante a noite, tomou o menino e a sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até à morte de Herodes» (vv. 14-15). Na vida, todos nós experimentamos perigos que ameaçam a nossa existência ou a daqueles que amamos. Nestas situações, rezar significa ouvir a voz que nos pode dar a mesma coragem de José, para enfrentar as dificuldades sem sucumbir.
No Egito, José espera um sinal de Deus para poder regressar a casa, e este é o conteúdo do terceiro sonho. O anjo revela-lhe que aqueles que queriam matar o menino morreram e ordena-lhe que parta com Maria e Jesus e regresse à pátria (cf. Mt 2, 19-20). José «levantou-se, tomou o menino e a sua mãe e foi para a terra de Israel» (v. 21). Mas precisamente na viagem de regresso, «ao ouvir que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá» (v. 22). Eis então a quarta revelação: «Advertido em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré» (vv. 22-23). O medo também faz parte da vida e precisa da nossa oração. Deus não nos promete que nunca teremos medo, mas que, com a sua ajuda, este não será o critério para as nossas decisões. José experimenta o medo, mas Deus guia-o através dele. O poder da oração ilumina as situações de escuridão.
Penso neste momento em tantas pessoas que estão esmagadas pelo peso da vida e já não conseguem ter esperança nem rezar. Que São José as ajude a abrir-se ao diálogo com Deus, para encontrar luz, força e paz. E penso também nos pais diante dos problemas dos filhos. Filhos com muitas doenças, filhos doentes, inclusive com enfermidades permanentes: quanto sofrimento nisto. Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos; como gerir isto e acompanhar os filhos e não se esconder numa atitude condenatória. Pais que veem os filhos que vão embora, morrem, por causa de uma doença e também – é mais triste, lemos todos os dias nos jornais – jovens que fazem leviandades e acabam num acidente de carro. Os pais que veem os filhos que não rendem na escola e não sabem o que fazer… Muitos problemas dos pais. Pensemos em como os ajudar. E a estes pais, digo: não vos assusteis. Sim, há o sofrimento. Muito. Mas pensai como José resolveu os problemas e pedi a José que vos ajude. Nunca condeneis um filho. Sinto tanta ternura – também em Buenos Aires – quando ia de autocarro e passava diante da prisão: havia uma fila de pessoas que esperavam para entrar e visitar os encarcerados. E estavam ali as mães, faziam-me sentir tanta ternura: face ao problema de um filho que errou, foi preso, não o deixavam sozinho, encaravam o problema e acompanhavam-no. Esta coragem; coragem de pai e de mãe que acompanham os filhos sempre, sempre. Peçamos ao Senhor que conceda a todos os pais e a todas as mães esta coragem que deu a José. E depois rezar a fim de que o Senhor nos ajude nestes momentos.
A oração, no entanto, nunca é um gesto abstrato nem intimista, como querem fazer aqueles movimentos espirituais mais gnósticos do que cristãos. Não, não é isto. A oração está sempre indissociavelmente ligada à caridade. Só quando unimos a oração com o amor, o amor pelos filhos, como o caso que acabei de mencionar, ou o amor ao próximo, somos capazes de compreender as mensagens do Senhor. José rezava, trabalhava e amava – três ações boas para os pais: rezar, trabalhar e amar – e por isso recebeu sempre o necessário para enfrentar as provações da vida. Confiemo-nos a ele e à sua intercessão.
São José, vós sois o homem que sonha,
ensinai-nos a recuperar a vida espiritual
como o lugar interior onde Deus se manifesta e nos salva.
Retirai de nós o pensamento de que rezar é inútil;
ajudai cada um de nós a corresponder ao que o Senhor nos indica.
Que o nosso raciocínio seja irradiado pela luz do Espírito,
o nosso coração encorajado pela Sua força
e os nossos receios salvos pela Sua misericórdia. Amém.
Saudações:
Caros peregrinos de língua portuguesa, as minhas cordiais boas-vindas. Lembrai-vos sempre de agradecer a Deus o dom da Sua proximidade que nos permite sonhar um mundo novo e construí-lo a partir da Sua Palavra de vida. São José nos ajude a não nos cansarmos jamais da oração, fonte de alívio e coragem no nosso caminho. Que a Bênção do Senhor desça sobre todos vós!
APELO
Amanhã celebra-se o Dia internacional da memória das vítimas do Holocausto. Devemos recordar o extermínio de milhões de judeus e de pessoas de diferentes nacionalidades e credos religiosos. Esta crueldade indescritível não deve voltar a repetir-se! Apelo a todos, especialmente educadores e famílias, para que fomentem nas novas gerações uma consciência do horror desta página obscura da história. Não deve ser esquecida, para que possamos construir um futuro no qual a dignidade humana não volte a ser espezinhada.
Antes do Pai Nosso
E agora, com o Pai Nosso, convido-vos a rezar pela paz na Ucrânia, e a fazê-lo muitas vezes durante este dia: peçamos ao Senhor com insistência que aquela terra possa ver florescer a fraternidade e superar feridas, medos e divisões. Falamos do holocausto; mas pensai que [na Ucrânia) foram aniquiladas mais de cinco milhões de pessoas [1932-1933]. É um povo sofredor; sofreu a fome, sofreu tantas crueldades e merece a paz. Que as orações e súplicas, que hoje se elevam ao Céu, toquem as mentes e os corações dos responsáveis na terra, para que façam prevalecer o diálogo, e o bem de todos seja colocado acima dos interesses de parte. Por favor, nunca mais a guerra!
Resumo da catequese do Santo Padre:
São José aparece como um homem que sonha. Na Bíblia e nas culturas antigas, o sonho simbolizava a vida espiritual, porque através dele Deus manifestava-se e falava no íntimo de cada um. No entanto, dentro de nós não existe apenas a voz de Deus, existem muitas outras vozes: a voz dos nossos medos, de experiências passadas, de esperanças, e até a voz do maligno que nos quer enganar e confundir. Por isso, é importante discernir qual é a voz de Deus. São José, porque se acostumou ao silêncio e à oração, foi capaz de dialogar com Deus no seu interior. Isso mesmo testemunham quatro sonhos que teve. No primeiro, o anjo ajuda-o a resolver o drama que lhe causou a inesperada gravidez de Maria; a partir do segundo decide fugir para o Egito, porque a vida de Jesus corria perigo; já em terra estrangeira, José espera um sinal de Deus, que chega no terceiro sonho e lhe permite voltar para casa; por fim, quando José regressava, ao saber que a Judeia ainda não era lugar seguro, sentiu medo, mas graças à mensagem do quarto sonho, não se deixou abater e decidiu ir para Nazaré, na Galileia. Estas preocupações e estes sonhos de José fazem-me pensar em muitas pessoas esmagadas pelo peso da vida, que já não conseguem dialogar com Deus. Que São José as ajude a reencontrar o Senhor, que afugenta os medos, e a redescobrir na oração a força do amor que eleva.
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terça-feira, 25 de janeiro de 2022
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO (Texto)
SOLENIDADE DA CONVERSÃO DE SÃO PAULO APÓSTOLO
CELEBRAÇÃO DAS SEGUNDAS VÉSPERAS
LV SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de São Paulo fora dos Muros
Terça-feira, 25 de janeiro de 2022
Antes de partilhar alguns pensamentos, quero expressar a minha gratidão a Sua Eminência o Metropolita Polykarpos, representante do Patriarcado Ecuménico, a Sua Graça Ian Ernest, representante pessoal do Arcebispo de Cantuária em Roma, e aos representantes das outras Comunidades cristãs presentes. E obrigado a todos vós, irmãos e irmãs, por terdes vindo rezar. Saúdo em particular os estudantes: os do Ecumenical Institute of Bossey, que aprofundam o conhecimento da Igreja Católica; os anglicanos do Nashotah College, nos Estados Unidos da América; os ortodoxos e ortodoxos orientais que estudam com o apoio da bolsa de estudos oferecida pelo Comité de Colaboração Cultural com as Igrejas Ortodoxas. Acolhamos o ardente desejo de Jesus que nos quer «um só» (Jo 17, 21) e, com a sua graça, caminhemos rumo à plena unidade!
Neste caminho, servem-nos de ajuda os Magos. Nesta tarde, contemplemos o seu itinerário, que tem três etapas: parte do Oriente, passa por Jerusalém e, finalmente, chega a Belém.
1. Primeiro, os Magos partem «do Oriente» (Mt 2, 1), porque lá veem despontar a estrela. Põem-se em viagem do Oriente, donde surge a luz solar, mas vão à procura duma luz maior. Estes sábios não se contentam com os seus conhecimentos e tradições, mas anseiam por mais. Por isso enfrentam uma viagem arriscada, animados pela inquietação da busca de Deus. Queridos irmãos e irmãs, sigamos também nós a estrela de Jesus! Não nos deixemos distrair pelos fulgores do mundo, estrelas cintilantes mas estrelas cadentes. Não sigamos as modas passageiras, meteoros que se apagam; não cedamos à tentação de brilhar com luz própria, ou seja, de nos fechar no nosso grupo para nos autoconservarmos. Mas, que o nosso olhar esteja fixo em Cristo, no Céu, na estrela de Jesus. Sigamos a Ele, ao seu Evangelho, ao seu convite à unidade, sem nos preocuparmos de quão longa e cansativa possa ser a viagem para a alcançar plenamente. Não esqueçamos que, contemplando a luz, a Igreja, a nossa Igreja, no caminho da unidade, continua a ser o «mysterium lunæ». Aspiremos e caminhemos juntos, apoiando-nos mutuamente, como fizeram os Magos. Muitas vezes a tradição no-los mostrou com indumentos variegados para representar diferentes populações. Neles, podemos ver refletidas as nossas diversidades, as várias tradições e experiências cristãs, mas também a nossa unidade, que nasce do mesmo desejo: ver o Céu e caminhar juntos na terra. Caminhar.
O Oriente leva-nos a pensar também nos cristãos que lá habitam em várias regiões devastadas pela guerra e a violência. Foi precisamente o Conselho das Igrejas do Médio Oriente que preparou o roteiro para esta Semana de Oração. Aqueles nossos irmãos e irmãs enfrentam tantos desafios difíceis e no entanto, com o seu testemunho, dão-nos esperança: lembram-nos não só que a estrela de Cristo resplandece nas trevas e não conhece ocaso, mas também que, do Alto, o Senhor acompanha e anima os nossos passos. Ao redor d’Ele no Céu brilham, juntos e sem distinções de confissão, inúmeros mártires; estes indicam-nos na terra um caminho concreto: o da unidade!
2. Do Oriente, os Magos chegam a Jerusalém com o desejo de Deus no coração, dizendo: «Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo» (2, 2). Mas, do desejo do Céu, veem-se reconduzidos à dura realidade da terra: «Ao ouvir tal notícia – diz o Evangelho –, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele» (2, 3). Na Cidade Santa, os Magos, em vez de ver refletida a luz da estrela, experimentam a resistência das forças tenebrosas do mundo. Não é só Herodes que se sente ameaçado pela novidade duma realeza diversa da sua corrompida pelo poder mundano, mas toda a Jerusalém se perturba com o anúncio dos Magos.
Também ao longo do nosso caminho rumo à unidade, pode acontecer que nos detenhamos pelo mesmo motivo que paralisou aquela gente: a perturbação, o medo. É o temor da novidade que faz alterar os costumes e as certezas adquiridas; é o medo de que o outro desnorteie as minhas tradições e esquemas consolidados. Mas, na raiz, está o medo que habita o coração do homem e do qual nos quer libertar o Senhor Ressuscitado. Deixemos ressoar no nosso caminho de comunhão a sua exortação pascal: «Não temais!» (Mt 28, 10). Não temamos antepor o irmão aos nossos medos! O Senhor deseja que confiemos uns nos outros e caminhemos juntos, não obstante as nossas fraquezas e pecados, apesar dos erros do passado e das feridas mútuas.
Também nisto nos dá coragem a vicissitude dos Magos. Embora Jerusalém seja lugar de deceção e oposição, onde o caminho indicado pelo Céu parece interromper-se contra os muros erguidos pelo homem, todavia é lá precisamente que os Magos descobrem o caminho para Belém. São os sacerdotes e os escribas que fornecem a indicação, sondando as Escrituras (cf. Mt 2, 4). Os Magos encontram Jesus não só graças à estrela, entretanto desaparecida, mas eles precisam também da Palavra de Deus. De igual modo nós, cristãos, não podemos chegar ao Senhor sem a sua Palavra viva e eficaz (cf. Heb 4, 12). Esta foi dada a todo o Povo de Deus para ser acolhida, rezada, para ser meditada juntamente com todo o Povo de Deus. Aproximemo-nos, pois, de Jesus através da sua Palavra, mas aproximemo-nos também dos irmãos através da Palavra de Jesus. A sua estrela surgirá de novo no nosso caminho e encher-nos-á de alegria.
3. Assim aconteceu com os Magos, chegados à última etapa: Belém. Aqui entram na casa, prostram-se e adoram o Menino (cf. Mt 2, 11). Deste modo termina a sua viagem: juntos, na mesma casa, em adoração. Os Magos antecipam-se assim aos discípulos de Jesus que, diversos mas unidos, no final do Evangelho se prostram diante do Ressuscitado no monte da Galileia (cf. Mt 28, 17). Desta forma tornam-se um sinal de profecia para nós, desejosos do Senhor, companheiros de viagem pelas estradas do mundo, pesquisadores através da Sagrada Escritura dos sinais de Deus na história. Irmãos e irmãs, também para nós, a unidade plena, na mesma casa, só pode chegar através da adoração do Senhor. Queridas irmãs e queridos irmãos, a etapa decisiva do caminho rumo à plena comunhão requer uma oração mais intensa, requer que se adore, requer a adoração de Deus.
Entretanto os Magos lembram-nos que, para adorar, há um passo a realizar: primeiro é preciso prostrar-se. Este é o caminho, inclinar-se para o chão, pôr de lado as próprias pretensões para deixar no centro apenas o Senhor. Quantas vezes o orgulho foi o verdadeiro obstáculo à comunhão! Os Magos tiveram a coragem de deixar em casa prestígio e reputação, para se abaixarem na pobre casinha de Belém; assim descobriram uma «imensa alegria» (Mt 2, 10). Abaixar-se, deixar, simplificar: nesta tarde, peçamos a Deus esta coragem, a coragem da humildade, único caminho para chegar a adorar a Deus na mesma casa, ao redor do mesmo altar.
Em Belém, depois de se terem prostrado em adoração, os Magos abrem os seus escrinhos e aparecem ouro, incenso e mirra (cf. 2, 11). Isto vem lembrar-nos que, só depois de ter rezado juntos, só diante de Deus, na sua luz, nos apercebemos verdadeiramente dos tesouros que possui cada um. Mas são tesouros que pertencem a todos, que devem ser oferecidos e partilhados. Com efeito, trata-se de dons que o Espírito concede para benefício comum, para edificação e unidade do seu povo. E apercebemo-nos disto não só rezando, mas também servindo: quando damos a quem passa necessidade, oferecemos a Jesus, que Se identifica com quem é pobre e marginalizado (cf. Mt 25, 34-40); e Ele une-nos entre nós.
Os presentes dos Magos simbolizam aquilo que o Senhor deseja receber de nós. A Deus deve ser dado o ouro, o elemento mais precioso, porque Deus está em primeiro lugar. É para Ele que é preciso olhar, não para nós; para a sua vontade, não a nossa; para os seus caminhos, não para os nossos. Se verdadeiramente temos o Senhor no primeiro lugar, então as nossas opções – mesmo eclesiásticas – não mais se podem basear nas políticas do mundo, mas nos desejos de Deus. Depois temos o incenso, para recordar a importância da oração, que se eleva para Deus como perfume de agradável odor (cf. Sal 141, 2). Não nos cansemos de rezar uns pelos outros e uns com os outros. E por fim aparece a mirra, que será usada para venerar o corpo de Jesus descido da cruz (cf. Jo 19, 39), remete-nos para o cuidado da carne sofredora do Senhor, dilacerada nos membros dos pobres. Sirvamos os necessitados, juntos sirvamos a Jesus que sofre!
Amados irmãos e irmãs, recolhamos, dos Magos, as indicações para o nosso caminho; e façamos como eles, que regressaram a casa «por outro caminho» (Mt 2, 12). Sim, como Saulo antes do encontro com Cristo, precisamos de mudar de estrada, inverter a rota dos nossos hábitos e conveniências para encontrar o caminho que o Senhor nos mostra, o caminho da humildade, o caminho da fraternidade, da adoração. Dai-nos, Senhor, a coragem de trocar estrada, converter-nos, seguir a vossa vontade e não as nossas comodidades; a coragem de avançar juntos, para Vós, que com o vosso Espírito quereis fazer de nós um só. Amen.
Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana
Papa convoca um dia de oração pela paz na Ucrânia
Francisco propôs que a próxima quarta-feira, 26 de janeiro, seja um dia de oração pela paz. “Faço um forte apelo a todas as pessoas de boa vontade, para que elevem orações a Deus onipotente, para que cada ação e iniciativa política esteja a serviço da fraternidade humana”, disse o Pontífice ao final da oração do Angelus deste domingo.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O Papa voltou a manifestar a sua preocupação com as tensões na Ucrânia, “que ameaçam infligir um novo golpe à paz” no país, colocando em discussão a segurança da Europa.
“Faço um forte apelo a todas as pessoas de boa vontade, para que elevem orações a Deus onipotente, para que cada ação e iniciativa política esteja a serviço da fraternidade humana”, disse Francisco, recordando que quem persegue os próprios fins em detrimento dos demais despreza a própria vocação do homem, "porque todos fomos criados irmãos".
Diante deste cenário preocupante, o Pontífice então propôs que a próxima quarta-feira, 26 de janeiro, seja um dia de oração pela paz.
Diplomacia ativada
As crescentes tensões na fronteira entre Rússia e Ucrânia preocupam não só o Papa, mas toda a comunidade internacional. A diplomacia está multiplicando as reuniões e videoconferências para evitar uma agressão militar russa, que no momento nega qualquer possibilidade de uma medida militar real.
No entanto, há mais de 120.000 soldados russos já posicionados na fronteira ucraniana e no território do Donbass, onde, como em Kiev, os exercícios estão na ordem do dia. Também prossegue o fluxo de munições e instrutores militares dos países da OTAN. Um primeiro carregamento de armas, cerca de 90 toneladas, já chegou sob as ordens do presidente estadunidense Joe Biden.
A partir de segunda-feira, os ministros das Relações Exteriores dos 27 países da UE se reunirão por videoconferência com o Secretário de Estado norte-americano Blinken, que está retornando das negociações com Moscou em Genebra. Possíveis sanções em caso de invasão estão sendo consideradas. Também estão previstas conversações bilaterais entre o Reino Unido e a Rússia.
(vaticannews)
Os preciosos passos de São Paulo em Roma
Hoje, 25 de janeiro, fazemos memória da conversão de São Paulo, o grande apóstolo dos gentios.
Bruno Franguelli, SJ - Vatican News
A vida do Apóstolo Paulo é entusiasmante e Roma testemunha os seus últimos passos. Assim como o Apóstolo Pedro, a Paixão de Paulo pelo anúncio do Evangelho o levou até as últimas consequências: o martírio! Mas, porque Paulo veio a Roma? Quais foram as razões de seu martírio? Onde estão os seus restos mortais e como foram conservados até hoje? Estas e outras tantas curiosidades e enigmas sobre uma das colunas da Igreja é o que queremos revelar.
Quem era São Paulo?
É difícil definir em poucas palavras quem foi o Apóstolo dos Gentios. Sem dúvida é uma das figuras mais fascinantes do Novo testamento e da Igreja primitiva. Nasceu na cidade de Tarso da Cilícia (atual Turquia) entre os anos 5 e 10 d.C. Ele mesmo se apresenta como “membro da estirpe de Israel, da tribo de Benjamin, judeu filho de judeus e segundo a Lei, fariseu” (Fil 3,5). Homem de forte personalidade e coragem, ainda com o nome de Saulo, foi um dos mais temíveis perseguidores dos seguidores do Caminho (como eram chamados os primeiros discípulos de Jesus). Foi uma importante testemunha a favor do martírio de Santo Estevão.
Durante uma de suas investidas contra os cristãos, a caminho de Damasco, teve uma experiência radical de encontro com Jesus Ressuscitado. Deste modo, a rota de Saulo muda completamente, adota o nome de Paulo e de perseguidor passa a ser um anunciador fervoroso da pessoa de Jesus e de seu Evangelho. Fundou várias comunidades cristãs e escreveu preciosas cartas com instruções, exortações e reflexões teológicas que desde o início da Igreja estiveram presentes no cânon das Sagradas Escrituras.
Por que São Paulo vai a Roma?
Sabemos, através do livro dos Atos dos Apóstolos, que o apóstolo dos gentios, a causa de sua pregação e de seu trabalho missionário, passou a ser perseguido. Uma das primeiras descrições destes momentos difíceis de Paulo narram que, em Jerusalém, esteve a ponto de ser linchado pelo povo e somente graças a Claudio Lisa, comandante da Fortaleza Antonia, saiu com vida. Segundo os judeus, Paulo profanava o Templo com sua pregação e estimulava o povo a desobedecer a Lei Mosaica (At 21, 28). Como cidadão romano que era, apelou às autoridades para que estas não o julgassem em tribunais judeus e sim na Orbe, sob a autoridade do Imperador romano (At 25,12). Seu pedido é aceito e, prisioneiro, é trazido a Roma. Mas, é interessante notar que Roma teria um significado muito maior para Paulo. Sua viagem lhe seria providencial.
Com o seu incansável ardor missionário, Paulo desejava vir à capital do poderoso Império para realizar uma obra que o Espírito lhe tinha inspirado (At 19,21), que depois foi confirmada através das palavras de um anjo (27, 23-24). A viagem, que a causa de uma grande tempestade quase custou a vida de todos os que estavam a bordo no navio, é descrita em detalhes por seu grande amigo, o evangelista Lucas no capítulo 27 e 28 dos Atos dos Apóstolos. Após estarem são e salvos em Malta, em um outro navio, Paulo e outros prisioneiros embarcaram para Roma. Sobre a chegada de Paulo em Roma, sabemos que ele foi conduzido a pé pela Via Appia (At 28,15) e ainda hoje podemos visitar a grande estrada da época do Império que dá acesso a Roma e ainda hoje é conservada, chamada Via Ápia Antica, que conecta Roma ao sul da Itália.
Prisão domiciliar e martírio
Paulo viveu em Roma entre os anos 61 e 67. Nos primeiros anos estava sob uma condição chamada “custodia militaris”, uma espécie de vigilância da parte do Império. Podia pregar e receber os amigos em casa com apenas algumas poucas restrições. Mas, ainda aguardava o seu julgamento (At 24,23). Um dos locais que, segundo a tradição, Paulo viveu parte de sua estadia e exerceu seu ministério em Roma é onde hoje se situa a Igreja San Paolo alla Regola. Nos momentos de dificuldades, pôde contar com a amizade e companheirismo do evangelista Lucas: “Só Lucas está comigo!”(2 Tm 4,11). Graças a esta proximidade, temos acesso aos detalhes da vida do apóstolo dos gentios, que Lucas deixou registrado em detalhes no livro dos Atos dos Apóstolos. Com o incêndio de Roma, a culpa foi lançada pelo imperador Nero aos cristãos. Assim, Paulo foi condenado a uma prisão mais dura denominada “Custodia publica”, onde permaneceu junto aos prisioneiros comuns e em condições precárias. Pouco tempo depois, por volta do ano 67 dC. o grande Apóstolo foi condenado à morte.
Por que Paulo não foi crucificado?
Paulo era cidadão romano e, por esta razão, contava, de modo especial, com duas prerrogativas: a primeira era que não podia sofrer a pena de morte dentro dos muros da cidade de Roma, a segunda era que, por esta razão, também não podia ser crucificado. Por isso, de acordo com a antiquíssima tradição cristã, foi levado para uma região distante quase cinco quilômetros de Roma, em direção a Óstia e lá foi martirizado. Hoje, o local é conhecido como “Tre Fontane” (três fontes), e conta com três belíssimas igrejas que testemunham o local onde Paulo viveu seus últimos momentos de vida. É interessante notar que o nome “Tre Fontane” refere-se a uma antiga tradição na qual ao ter sido decapitado, a cabeça de Paulo rolou pelo terreno dando três saltos e em cada um deles, nasceu uma fonte de água cristalina.
A Basílica e as relíquias
O corpo de Paulo foi sepultado num local fora dos muros de Roma, mais próximo da cidade que o lugar do martírio. Ali, o Papa Anacleto, segundo sucessor de São Pedro, construiu um túmulo memorial que desde então passou a ser local de peregrinação e veneração pelos cristãos. Mas, nos anos das terríveis perseguições aos cristãos, especialmente por volta de 258 d.C., durante o governo de Valeriano, os cristãos transferiram as relíquias de Paulo e as de Pedro para as catacumbas de São Sebastião. Ali, estiveram protegidas até o governo de Constantino, que as conduziu aos túmulos de origem e mandou construir uma primeira Basílica. As relíquias de Pedro ao local onde hoje está a Basílica de São Pedro e as de Paulo ao lugar onde hoje se encontra a Basílica de São Paulo Fora dos Muros. A Basílica constantiniana de São Paulo foi consagrada em 324 d.C. pelo Papa Silvestre. Em 1823, a Basílica sofreu um desastroso incêndio e precisou ser reconstruída quase na sua totalidade. Somente em 1854 a nova Basílica ficou pronta e em setembro do mesmo ano, o Papa Pio IX a consagrou. Os Imperadores posteriores a ampliaram e com as modificações ao longo dos séculos é hoje um dos mais belos templos e locais privilegiados de peregrinação em Roma. E assim, a memória do ardoroso Apóstolo dos Gentios, continua a inspirar todos os seguidores de Jesus que desejam, com o Apóstolo afirmar: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim!”(Gal 2,20).
(vaticannews)
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
Hoje é celebrado são Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas e comunicadores
REDAÇÃO CENTRAL, 24 jan. 22 / 05:00 am (ACI).- “O amor é a perfeição do espírito e a caridade é a perfeição do amor”, dizia são Francisco de Sales. Conhecido como o santo da amabilidade, lutou vários anos de sua vida para dominar sua ira e obteve a conversão de muitos. A festa deste Doutor da Igreja e padroeiro dos jornalistas e comunicadores é celebrada hoje, 24 de janeiro.
São Francisco de Sales nasceu no castelo de Sales, na Saboya, em 1567. Desde menino era muito inquieto e brincalhão, tanto que sua mãe e sua ama tinham que estar constantemente vendo o que estava fazendo.
Sua luta contra a ira foi constante. Certo dia, um calvinista visitou o castelo, o pequeno Francisco se inteirou, tomou um pau e foi brincar de correr atrás das galinhas gritando: “Fora os hereges, não queremos hereges”.
Teve como mestre o padre Deage, sacerdote muito perfeccionista em suas exigências. Este preceptor lhe faria passar momentos amargos, mas lhe ajudaria muito em sua formação.
Aos 10 anos, recebeu a primeira comunhão e confirmação e, desde esse dia, comprometeu-se a visitar frequentemente o Santíssimo. Mais adiante, conseguiu que seu pai o enviasse ao Colégio do Clermont, dirigido pelos jesuítas e conhecido pela piedade e o amor à ciência.
Acompanhado pelo padre Deage, Francisco se confessava e comungava a cada semana, era dedicado aos estudos e reservava um par de horas diárias aos exercícios de equitação, esgrima e dança.
Muitas vezes o sangue lhe subia à cabeça pelas brincadeiras e humilhações. Mas, conseguia se conter de tal maneira que muitos nem imaginavam o seu mau gênio. Entretanto, o inimigo lhe fez sentir que seria condenado ao inferno para sempre. Este pensamento o atormentava até o ponto que perdeu o apetite e já não dormia.
Então, disse a Deus: “Não me interessa que me mande todos os suplícios que queira, desde que me permita seguir te amando sempre”. Logo, na Igreja de Santo Estêvão, em Paris, ajoelhado diante da imagem da Virgem, pronunciou a famosa oração de São Bernardo: “Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria…”. Assim, recuperou a paz.
Esta provação o ajudou muito a se curar do orgulho e saber compreender as pessoas em crise para assim tratá-las com bondade. Obedecendo seu pai, foi estudar direito em Pádua, tempo que aproveitou para estudar também teologia por seu grande desejo de ser sacerdote.
Aos 24 anos, obteve seu doutorado em leis e mais tarde, junto a sua família, manteve uma vida típica de jovem da nobreza. Seu pai desejava que se casasse e que obtivesse postos importantes, mas Francisco se mantinha em reserva por sua inquietação de consagrar-se a serviço de Deus.
Com a morte do decano do Capítulo de Genebra, seu primo Luis de Sales, alguns conhecidos fizeram com que o papa lhe outorgasse este cargo. O jovem santo, por outro lado, começou a dialogar com seu pai sobre sua inquietação vocacional e pouco a pouco o convenceu.
Vestiu a batina no dia em que obteve a aprovação de seu pai e recebeu a ordem do sacerdócio seis meses depois. Exercia os ministérios entre os mais necessitados com muito carinho e seus prediletos eram os de berço humilde.
Entre os habitantes do Chablais, os protestantes tinham dificultado a vida dos católicos e Francisco se ofereceu para ir até lá com permissão do bispo.
A fim de tocar os corações da população, o santo começou a escrever panfletos nos quais expunha a doutrina da Igreja e refutava os calvinistas. Estes escritos mais tarde formariam o volume das “Controvérsias”.
O que as pessoas mais admiravam era a paciência com que o santo vivia as dificuldades e perseguições.
Francisco caiu em uma grave enfermidade e, ao recuperar a saúde, foi à Roma onde o papa estava. Lá, teólogos e sábios que tinham ouvido de suas qualidades fizeram-lhe perguntas difíceis de teologia. Todos ficaram maravilhados pela simplicidade, modéstia e ciência de suas respostas.
O papa o confirmou como coadjutor de Genebra e o santo retornou à sua diocese para trabalhar com mais empenho. Quando o bispo morreu, Francisco o sucedeu no governo e fixou sua residência em Annecy.
Teve como discípula santa Joana de Chantal e do encontro destes dois santos surgiu a fundação da Congregação da Visitação, em 1610. Das notas com que instruía a santa, surgiu o livro “Introdução à vida devota”. Mais tarde, são Francisco de Sales o publicou, tendo sido traduzido em muitos idiomas.
Em 1622, o duque da Saboya convidou o santo para se reunir em Aviñón. O santo bispo aceitou, pela parte francesa de sua diocese, mas arriscando muito sua saúde devido à longa viagem em pleno inverno.
Deixou tudo em ordem, como se soubesse que não voltaria. Quando chegou a Aviñón, as multidões se apinhavam para vê-lo e as congregações queriam que pregasse para elas.
Ao regressar, são Francisco se deteve em Lyon e se hospedou na casinha do jardineiro do Convento da Visitação. Atendeu as religiosas durante um mês inteiro e quando uma delas lhe pediu uma virtude para praticar, o santo escreveu “humildade”.
No cruel inverno, prosseguiu sua viagem pregando e administrando os sacramentos, mas sua saúde ia piorando até que morreu. Sua última palavra foi o nome de Jesus. São Francisco de Sales expirou aos 56 anos, em 28 de dezembro de 1622, sendo Bispo por 21 anos.
No dia seguinte, a população inteira do Lyon passou pela humilde casa onde faleceu. Em 1632, abriram seu túmulo para saber como estava. Parecia que se encontrava em um aprazível sonho.
Santa Joana de Chantal foi ver o corpo do santo junto a suas religiosas e, quando lhe disseram que podia se aproximar, a santa se ajoelhou, tomou a sua mão e a pôs sobre a sua cabeça para lhe pedir a bênção.
Nesse momento, todas as irmãs viram que a mão do santo parecia recuperar vida e, movendo os dedos, acariciava a humilde cabeça de sua discípula. Hoje, em Annecy, as irmãs da Visitação conservam o véu que santa Joana usava naquele dia.
São Francisco de Sales foi canonizado em 1665. Em 1878, o papa Pio IX o declarou doutor da Igreja. São João Bosco adotou o “santo da amabilidade” como patrono de sua congregação e como modelo para o serviço que os salesianos devem oferecer aos jovens.
(acidigital)
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O LVI DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
29 de maio de 2022
Escutar com o ouvido do coração
Queridos irmãos e irmãs!
No ano passado, refletimos sobre a necessidade de «ir e ver» para descobrir a realidade e poder narrá-la a partir da experiência dos acontecimentos e do encontro com as pessoas. Continuando nesta linha, quero agora fixar a atenção noutro verbo, «escutar», que é decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo.
Com efeito, estamos a perder a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil. Ao mesmo tempo, a escuta está a experimentar um novo e importante desenvolvimento em campo comunicativo e informativo, através das várias ofertas de podcast e chat audio, confirmando que a escuta continua essencial para a comunicação humana.
A um médico ilustre, habituado a cuidar das feridas da alma, foi-lhe perguntada qual era a maior necessidade dos seres humanos. Respondeu: «O desejo ilimitado de ser ouvidos». Apesar de frequentemente oculto, é um desejo que interpela toda a pessoa chamada a ser educadora, formadora, ou que desempenhe de algum modo o papel de comunicador: os pais e os professores, os pastores e os agentes pastorais, os operadores da informação e quantos prestam um serviço social ou político.
Escutar com o ouvido do coração
A partir das páginas bíblicas aprendemos que a escuta não significa apenas uma perceção acústica, mas está essencialmente ligada à relação dialogal entre Deus e a humanidade. O «shema’ Israel – escuta, Israel» (Dt 6, 4) – as palavras iniciais do primeiro mandamento do Decálogo – é continuamente lembrado na Bíblia, a ponto de São Paulo afirmar que «a fé vem da escuta» (Rm 10, 17). De facto, a iniciativa é de Deus, que nos fala, e a ela correspondemos escutando-O; e mesmo este escutar fundamentalmente provém da sua graça, como acontece com o recém-nascido que responde ao olhar e à voz da mãe e do pai. Entre os cinco sentidos, parece que Deus privilegie precisamente o ouvido, talvez por ser menos invasivo, mais discreto do que a vista, deixando consequentemente mais livre o ser humano.
A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Ela permite a Deus revelar-Se como Aquele que, falando, cria o homem à sua imagem e, ouvindo-o, reconhece-o como seu interlocutor. Deus ama o homem: por isso lhe dirige a Palavra, por isso «inclina o ouvido» para o escutar.
O homem, ao contrário, tende a fugir da relação, a virar as costas e «fechar os ouvidos» para não ter de escutar. Esta recusa de ouvir acaba muitas vezes por se transformar em agressividade sobre o outro, como aconteceu com os ouvintes do diácono Estêvão que, tapando os ouvidos, atiraram-se todos juntos contra ele (cf. At 7, 57).
Assim temos, por um lado, Deus que sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta. O Senhor chama explicitamente o homem a uma aliança de amor, para que possa tornar-se plenamente aquilo que é: imagem e semelhança de Deus na sua capacidade de ouvir, acolher, dar espaço ao outro. No fundo, a escuta é uma dimensão do amor.
Por isso Jesus convida os seus discípulos a verificar a qualidade da sua escuta. «Vede, pois, como ouvis» (Lc 8, 18): faz-lhes esta exortação depois de ter contado a parábola do semeador, sugerindo assim que não basta ouvir, é preciso fazê-lo bem. Só quem acolhe a Palavra com o coração «bom e virtuoso» e A guarda fielmente é que produz frutos de vida e salvação (cf. Lc 8, 15). Só prestando atenção a quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a «capacidade do coração que torna possível a proximidade» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 171).
Ouvidos, temo-los todos; mas muitas vezes mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o outro. Pois existe uma surdez interior, pior do que a física. De facto, a escuta não tem a ver apenas com o sentido do ouvido, mas com a pessoa toda. A verdadeira sede da escuta é o coração. O rei Salomão, apesar de ainda muito jovem, demonstrou-se sábio ao pedir ao Senhor que lhe concedesse «um coração que escuta» ( 1 Rs 3, 9). E Santo Agostinho convidava a escutar com o coração ( corde audire), a acolher as palavras, não exteriormente nos ouvidos, mas espiritualmente nos corações: «Não tenhais o coração nos ouvidos, mas os ouvidos no coração» [1]. E São Francisco de Assis exortava os seus irmãos a «inclinar o ouvido do coração» [2].
Por isso, a primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no íntimo de cada pessoa. E não se pode recomeçar senão escutando aquilo que nos torna únicos na criação: o desejo de estar em relação com os outros e com o Outro. Não fomos feitos para viver como átomos, mas juntos.
A escuta como condição da boa comunicação
Há um uso do ouvido que não é verdadeira escuta, mas o contrário: o espionar. De facto, uma tentação sempre presente, mas que neste tempo da social web parece mais assanhada, é a de procurar saber e espiar, instrumentalizando os outros para os nossos interesses. Ao contrário, aquilo que torna boa e plenamente humana a comunicação é precisamente a escuta de quem está à nossa frente, face a face, a escuta do outro abeirando-nos dele com abertura leal, confiante e honesta.
Esta falta de escuta, que tantas vezes experimentamos na vida quotidiana, é real também, infelizmente, na vida pública, onde com frequência, em vez de escutar, «se fala pelos cotovelos». Isto é sintoma de que se procura mais o consenso do que a verdade e o bem; presta-se mais atenção à audience do que à escuta. Ao invés, a boa comunicação não procura prender a atenção do público com a piada foleira visando ridicularizar o interlocutor, mas presta atenção às razões do outro e procura fazer compreender a complexidade da realidade. É triste quando surgem, mesmo na Igreja, partidos ideológicos, desaparecendo a escuta para dar lugar a estéreis contraposições.
Na realidade, em muitos diálogos, efetivamente não comunicamos; estamos simplesmente à espera que o outro acabe de falar para impor o nosso ponto de vista. Nestas situações, como observa o filósofo Abraham Kaplan [3], o diálogo não passa de duólogo, ou seja um monólogo a duas vozes. Ao contrário, na verdadeira comunicação, o eu e o tu encontram-se ambos «em saída», tendendo um para o outro.
Portanto, a escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação. Não se comunica se primeiro não se escutou, nem se faz bom jornalismo sem a capacidade de escutar. Para fornecer uma informação sólida, equilibrada e completa, é necessário ter escutado prolongadamente. Para narrar um acontecimento ou descrever uma realidade numa reportagem, é essencial ter sabido escutar, prontos mesmo a mudar de ideia, a modificar as próprias hipóteses iniciais.
Com efeito, só se sairmos do monólogo é que se pode chegar àquela concordância de vozes que é garantia duma verdadeira comunicação. Ouvir várias fontes, «não parar na primeira locanda» – como ensinam os especialistas do oficio – garante credibilidade e seriedade à informação que transmitimos. Escutar várias vozes, ouvir-se – inclusive na Igreja – entre irmãos e irmãs, permite-nos exercitar a arte do discernimento, que se apresenta sempre como a capacidade de se orientar numa sinfonia de vozes.
Entretanto para quê enfrentar este esforço da escuta? Um grande diplomata da Santa Sé, o cardeal Agostinho Casaroli, falava de «martírio da paciência», necessário para escutar e fazer-se escutar nas negociações com os interlocutores mais difíceis a fim de se obter o maior bem possível em condições de liberdade limitada. Mas, mesmo em situações menos difíceis, a escuta requer sempre a virtude da paciência, juntamente com a capacidade de se deixar surpreender pela verdade – mesmo que fosse apenas um fragmento de verdade – na pessoa que estamos a escutar. Só o espanto permite o conhecimento. Penso na curiosidade infinita da criança que olha para o mundo em redor com os olhos arregalados. Escutar com este estado de espírito – o espanto da criança na consciência dum adulto – é sempre um enriquecimento, pois haverá sempre qualquer coisa, por mínima que seja, que poderei aprender do outro e fazer frutificar na minha vida.
A capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia. A grande desconfiança que anteriormente se foi acumulando relativamente à «informação oficial», causou também uma espécie de «info-demia» dentro da qual é cada vez mais difícil tornar credível e transparente o mundo da informação. É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo abrandamento ou cessação de muitas atividades económicas.
A própria realidade das migrações forçadas é uma problemática complexa, e ninguém tem pronta a receita para a resolver. Repito que, para superar os preconceitos acerca dos migrantes e amolecer a dureza dos nossos corações, seria preciso tentar ouvir as suas histórias. Dar um nome e uma história a cada um deles. Há muitos bons jornalistas que já o fazem; e muitos outros gostariam de o fazer, se pudessem. Encorajemo-los! Escutemos estas histórias! Depois cada qual será livre para sustentar as políticas de migração que considerar mais apropriadas para o próprio país. Mas então teremos diante dos olhos, não números nem invasores perigosos, mas rostos e histórias de pessoas concretas, olhares, expetativas, sofrimentos de homens e mulheres para ouvir.
Escutar-se na Igreja
Também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros. Nós, cristãos, esquecemo-nos de que o serviço da escuta nos foi confiado por Aquele que é o ouvinte por excelência e em cuja obra somos chamados a participar. «Devemos escutar através do ouvido de Deus, se queremos poder falar através da sua Palavra» [4]. Assim nos lembra o teólogo protestante Dietrich Bonhöffer que o primeiro serviço na comunhão que devemos aos outros é prestar-lhes ouvidos. Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus [5].
Na ação pastoral, a obra mais importante é o «apostolado do ouvido». Devemos escutar, antes de falar, como exorta o apóstolo Tiago: «cada um seja pronto para ouvir, lento para falar» (1, 19). Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.
Recentemente deu-se início a um processo sinodal. Rezemos para que seja uma grande ocasião de escuta recíproca. Com efeito, a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia. Ao mesmo tempo, cada voz do coro canta escutando as outras vozes na sua relação com a harmonia do conjunto. Esta harmonia é concebida pelo compositor, mas a sua realização depende da sinfonia de todas e cada uma das vozes.
Cientes de participar numa comunhão que nos precede e inclui, possamos descobrir uma Igreja sinfónica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe.
Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2022.
Francisco
[1] «Nolite habere cor in auribus, sed aures in corde» ( Sermo 380, 1: Nova Biblioteca Agostiniana 34, 568).
[2] Carta à Ordem inteira: Fontes Franciscanas, 216.
[3] Cf. «The life of dialogue» , in J. D. Roslansky (ed.), Communication. A discussion at the Nobel Conference (North-Holland Publishing Company – Amesterdão 1969), 89-108.
[4] D. Bonhöfffer, La vita comune (Queriniana – Bréscia 2017), 76.
[5] Cf. ibid., 75.
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domingo, 23 de janeiro de 2022
Homilia (Texto)
DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS
SANTA MISSA
HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO
Basílica de São Pedro
III Domingo do Tempo Comum, 23 de janeiro de 2022
Na primeira leitura e no Evangelho encontramos dois gestos paralelos: o sacerdote Esdras coloca no alto o livro da lei de Deus, abre-o e anuncia-o a todo o povo; Jesus, na sinagoga de Nazaré, abre o rolo da Sagrada Escritura e lê um trecho do profeta Isaías na frente de todos. São duas cenas que nos comunicam uma realidade fundamental: no centro da vida do povo santo de Deus e do caminho de fé que não estamos, com nossas palavras. No centro está Deus com sua Palavra.
Tudo começou com a Palavra que Deus nos dirigiu. Em Cristo, seu Verbo eterno, o Pai "nos escolheu antes da criação do mundo" ( Ef 1 , 4). Com a sua Palavra criou o universo: "Ele falou e tudo foi criado" ( Sl 33.9). Desde os tempos antigos ele nos fala pelos profetas (cf. Hb 1 , 1); finalmente, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4, 4), enviou-nos a sua própria Palavra, o Filho unigénito. Por isso, depois de ler Isaías, Jesus anuncia no Evangelho algo inédito: "Hoje se cumpriu esta Escritura" ( Lc4.21). Cumpriu-se: a Palavra de Deus já não é uma promessa, mas cumpriu-se. Em Jesus ela se fez carne. Pela obra do Espírito Santo ela veio habitar entre nós e quer habitar em nós, para preencher nossas expectativas e curar nossas feridas.
Irmãs e irmãos, mantenhamos o olhar fixo em Jesus, como as pessoas na sinagoga de Nazaré (ver v. 20) - olhavam para ele, ele era um deles: que novidades? o que vai fazer este, de que tanto se fala? - e acolhemos sua Palavra. Meditemos hoje em dois aspectos ligados um ao outro: a Palavra revela Deus e a Palavra nos conduz ao homem . Está no centro: revela Deus e leva-nos ao homem.
Em primeiro lugar , a Palavra revela Deus. Jesus, no início da sua missão, comentando aquela passagem particular do profeta Isaías, anuncia uma escolha precisa: veio para a libertação dos pobres e oprimidos (cf. v. 18). Assim, precisamente através das Escrituras, ele nos revela o rosto de Deus como Aquele que cuida da nossa pobreza e tem no coração o nosso destino. Ele não é um mestre empoleirado nos céus - aquela imagem feia de Deus, não, não é - mas um Pai que segue nossos passos. Ele não é um observador frio, distante e impassível, um Deus "matemático". É o Deus-conosco, que se apaixona pela nossa vida e se envolve até chorarmos nossas lágrimas. Ele não é um deus neutro e indiferente, mas o Espírito amoroso do homem, que nos defende, nos aconselha, se posiciona a nosso favor, se envolve, se compromete com nossa dor. Está sempre presente lá. Eis "a boa notícia" (v. 18) que Jesus anuncia diante do olhar atônito de todos: Deus está perto e quer cuidar de mim, de você, de todos. E esta é a característica de Deus: proximidade. Ele se define assim; ele diz ao povo, em Deuteronômio: "Que povo tem seus deuses perto deles, como eu estou perto de vocês?" (cf.Dt 4.7). O Deus que está perto, com essa proximidade compassiva e terna, quer te levantar dos fardos que te esmagam, quer aquecer o frio dos teus invernos, quer iluminar os teus dias sombrios, quer apoiar os teus passos incertos. E fá-lo com a sua Palavra, com a qual vos fala para reacender a esperança nas cinzas dos vossos medos, para vos fazer reencontrar a alegria nos labirintos da vossa tristeza, para encher de esperança a amargura da solidão. Faz-te ir, mas não num labirinto: faz-te ir pelo caminho, para o encontrares cada dia mais.
Fratelli, sorelle, chiediamoci: portiamo dentro al cuore questa immagine liberante di Dio, il Dio vicino, il Dio compassionevole, il Dio tenero? Oppure lo pensiamo come un giudice rigoroso, un rigido doganiere della nostra vita? La nostra è una fede che genera speranza e gioia o – mi domando, tra noi – è ancora zavorrata dalla paura, una fede paurosa? Quale volto di Dio annunciamo nella Chiesa? Il Salvatore che libera e guarisce o il Dio Temibile che schiaccia sotto i sensi di colpa? Per convertirci al vero Dio, Gesù ci indica da dove partire: dalla Parola. Essa, raccontandoci la storia d’amore di Dio per noi, ci libera dalle paure e dai preconcetti su di Lui, che spengono la gioia della fede. La Parola abbatte i falsi idoli, smaschera le nostre proiezioni, distrugge le rappresentazioni troppo umane di Dio e ci riporta al suo volto vero, alla sua misericordia. La Parola di Dio nutre e rinnova la fede: rimettiamola al centro della preghiera e della vita spirituale! Al centro, la Parola che ci rivela come è Dio. La Parola che ci fa vicini a Dio.
E agora o segundo aspecto: a Palavra nos leva ao homem. Ci porta a Dio e ci porta all’uomo. Proprio quando scopriamo che Dio è amore compassionevole, vinciamo la tentazione di chiuderci in una religiosità sacrale, che si riduce a culto esteriore, che non tocca e non trasforma la vita. Questa è idolatria. Idolatria nascosta, idolatria raffinata, ma è idolatria. La Parola ci spinge fuori da noi stessi per metterci in cammino incontro ai fratelli con la sola forza mite dell’amore liberante di Dio. Nella sinagoga di Nazaret Gesù ci rivela proprio questo: Egli è inviato per andare incontro ai poveri – che siamo tutti noi – e liberarli. Non è venuto a consegnare un elenco di norme o ad officiare qualche cerimonia religiosa, ma è sceso sulle strade del mondo a incontrare l’umanità ferita, ad accarezzare i volti scavati dalla sofferenza, a risanare i cuori affranti, a liberarci dalle catene che ci imprigionano l’anima. In questo modo ci rivela qual è il culto più gradito a Dio: prendersi cura del prossimo. E dobbiamo tornare su questo. Nel momento in cui nella Chiesa ci sono le tentazioni della rigidità, che è una perversione, e si crede che trovare Dio è diventare più rigidi, più rigidi, con più norme, le cose giuste, le cose chiare… Non è così. Quando noi vedremo proposte di rigidità, pensiamo subito: questo è un idolo, non è Dio. Il nostro Dio non è così.
Irmãs e irmãos, a Palavra de Deus nos muda - a rigidez não nos muda, ela nos esconde -; a Palavra de Deus nos transforma penetrando na alma como uma espada (cf. Heb 4,12). Perché, se da una parte consola, svelandoci il volto di Dio, dall’altra provoca e scuote, riportandoci alle nostre contraddizioni. Ci mette in crisi. Non ci lascia tranquilli, se a pagare il prezzo di questa tranquillità è un mondo lacerato dall’ingiustizia e dalla fame, e a farne le spese sono sempre i più deboli. Sempre pagano i più deboli. La Parola mette in crisi quelle nostre giustificazioni che fanno dipendere ciò che non va sempre da altro e dagli altri. Quanto dolore sentiamo nel vedere i nostri fratelli e sorelle morire sul mare perché non li lasciano sbarcare! E questo, alcuni lo fanno in nome di Dio. La Parola di Dio ci invita a uscire allo scoperto, a non nasconderci dietro la complessità dei problemi, dietro il “non c’è niente da fare”, “è un problema loro”, “è un problema suo”, o il “che cosa posso farci io?”, “lasciamoli lì”. Ci esorta ad agire, a unire il culto di Dio e la cura dell’uomo. Perché la sacra Scrittura non ci è stata data per intrattenerci, per coccolarci in una spiritualità angelica, ma per uscire incontro agli altri e accostarci alle loro ferite. Ho parlato della rigidità, di quel pelagianesimo moderno, che è una delle tentazioni della Chiesa. E quest’altra, cercare una spiritualità angelica, è un po’ l’altra tentazione di oggi: i movimenti spirituali gnostici, lo gnosticismo, che ti propone una Parola di Dio che ti mette “in orbita” e non ti fa toccare la realtà. La Parola che si è fatta carne (cfr Jo 1,14) quer se tornar carne em nós. Não nos abstrai da vida, mas nos coloca na vida, nas situações cotidianas, na escuta do sofrimento de nossos irmãos e irmãs, do clamor dos pobres, das violências e injustiças que ferem a sociedade e o planeta, para não ser cristãos indiferentes, mas cristãos diligentes, criativos, cristãos proféticos.
" Hoje - diz Jesus - esta Escritura se cumpriu" ( Lc 4,21). A Palavra quer se encarnar hoje, no tempo em que vivemos, não em um futuro ideal. Um místico francês do século passado, que escolheu viver o Evangelho nos subúrbios, escreveu que a Palavra do Senhor não é "uma" letra morta ": é espírito e vida. [...] A acústica que a Palavra do Senhor exige de nós é o nosso "hoje": as circunstâncias de nossa vida cotidiana e as necessidades do próximo" (M. Delbrêl, A alegria de crer, Gribaudi, Milão 1994, 258). Perguntemo-nos então: queremos imitar Jesus, tornar-nos ministros de libertação e consolação para os outros, pôr em prática a Palavra? Somos uma Igreja dócil à Palavra? Uma Igreja disposta a ouvir os outros, empenhada em estender a mão para aliviar irmãos e irmãs daquilo que os oprime, desatar os nós dos medos, libertar os mais frágeis das prisões da pobreza, do cansaço interior e da tristeza que desliga a vida? Queremos isso?
Nesta celebração alguns de nossos irmãos e irmãs são leitores e catequistas instituídos. Eles são chamados à importante tarefa de servir o Evangelho de Jesus, de anunciá-lo para que sua consolação, sua alegria e sua libertação cheguem a todos. Esta é também a missão de cada um de nós: ser arautos credíveis, profetas da Palavra no mundo. Portanto, apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura, deixemo-nos mergulhar pela Palavra, que revela a novidade de Deus e nos leva a amar os outros sem nos cansar. Voltemos a colocar a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja! Assim seremos libertados de qualquer pelagianismo rígido, de qualquer rigidez, e seremos libertados da ilusão de espiritualidade que o coloca "em órbita" sem cuidar de irmãos e irmãs. Voltemos a colocar a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja. Vamos ouvi-lo, rezá-lo, colocá-lo em prática.
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