Mari Valjakka, pastora da Igreja Evangélica Luterana Finlandesa, encontrou-se com o Papa Francisco na última segunda-feira (17/01), às vésperas da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. A pastora faz parte da minoria Sami, uma população indígena que no passado sofreu diversas discriminações. Para Valjakka, a harmonia com o Pontífice é profunda, em particular no cuidado da criação e na defesa das minorias.
Benedetta Capelli – Vatican News
Um caminho a percorrer juntos, seguindo a estrela, para buscar a Deus. Esta é a estrada que o Papa Francisco indicou no encontro com a delegação ecumênica da Finlândia na última segunda-feira (17/01), às vésperas da abertura da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, uma iniciativa ecuménica de oração em que todas as Confissões cristãs rezam juntas para se alcançar a plena unidade. Esta é também mais uma etapa de um percurso que é enriquecido todos os dias com peças, com pequenas peças compostas por atividades realizadas em conjunto, em sinal de caridade e fraternidade.
Isso acontece também na Finlândia, país onde os católicos são minoria e onde se dá vida a um processo de renovação e reconciliação com os indígenas. O Papa Francisco, na audiência de segunda-feira, fez menção aos Sami, único povo indígena que vive na União Europeia. Ao todo, são cerca de 75 mil pessoas que vivem principalmente da criação de renas e da pesca. O Santo Padre convidou o povo Sami a trabalhar pela cura da memória, perseguindo a “busca sincera da verdade”.
O dever de ouvir
A minoria Sami inclui Mari Valjakka, pastora da Igreja Evangélica Luterana, que também é moderadora do Grupo de Referência para Povos Indígenas do Conselho Mundial de Igrejas.
No passado, você elogiou o compromisso do Papa Francisco com a defesa dos povos indígenas e com o cuidado da criação. Esses dois temas podem ser um terreno fértil para o ecumenismo?
Considero que a proteção da criação é central para a missão da Igreja. Como seres humanos fomos criados à imagem de Deus e como imagem de Deus somos chamados a cuidar da criação. Basicamente 80% da biodiversidade do planeta se encontra em territórios habitados por povos indígenas e essas populações têm sido verdadeiramente guardiãs de seus territórios. Portanto, elas têm uma tradição centenária em relação a isso. Esses povos têm tanta sabedoria a ser transmitida, mas muitas vezes sua voz não é ouvida. Na minha opinião, a missão deve partir das margens, das periferias com as periferias, com os povos indígenas, com aqueles que são discriminados. Como cristãos, temos o dever de ouvir essas vozes que muitas vezes não são ouvidas, ou até mesmo silenciadas, porque são irmãos e irmãs em Cristo para nós.
Por exemplo, quando pude ler o convite do Papa Francisco aos líderes das nações para defender a floresta amazônica e proteger todos os povos indígenas que vivem na área, fiquei muito impressionada porque vejo que aquilo que está acontecendo na Amazônia não ocorre somente na Amazônia, mas acontece também na região do Ártico onde moro. Estamos todos enfrentando uma crise climática, mas os povos indígenas enfrentam nas trincheiras, na linha de frente. A região do Ártico, por exemplo, está aquecendo muito mais rápidos do que qualquer outro lugar do planeta. Por isso, quando ouço o Papa tocar nesses temas essenciais, me traz muita esperança, porque penso que o Evangelho deve ser difundido e, ao ser propagado, pode ter um impacto benéfico.
Temos a tarefa de orar e pedir ao Senhor que também nos mostre como esses povos indígenas podem transmitir sua sabedoria aos outros. Também devemos orar por aqueles que estão no poder, que são líderes do mundo, que eles possam ser tocados, para que o futuro seja melhor do que ontem.
Qual é a realidade da minoria Sami à qual você pertence e o que significa para você, mulher de fé, defender os diretos das minorias?
O povo Sami é um povo marginalizado na Finlândia e a história das relações entre o povo Sami e a igreja local nem sempre foram pacíficas, porque houve uma tentativa de sermos assimilados à cultura dominante. Houve um tempo em que não podíamos falar nossa língua ou mesmo mostrar os sinais de nossa cultura. Neste momento iniciamos um processo chamado “verdade e reconciliação”. É um período em que o povo Sami pode contar suas experiências, o que sofreu, viveu e também a partir daqui, iniciar um caminho de reconciliação. Será um processo muito longo e também muito difícil, mas espero que exista uma possibilidade para se compreender melhor, um ao outro, para compreender-nos melhor.
O fato de ser mulher e vir de um grupo minoritário dentro da mesma minoria Sami, significa que eu me veja, não diria todos os dias, mas talvez a cada segundo do dia, lutando contra moinhos de vento. Mas estar aqui, ter a oportunidade de encontrar o Papa Francisco e também poder falar e trocar opiniões com católicos que trabalham na Finlândia e que também estão em contato com grupos minoritários, me dá a sensação de que talvez esses moinhos de vento não sejam tão fortes, tão poderosos.
Como são as relações com outras confissões religiosas? E que mensagem sente que carrega neste tempo de pandemia, que esperança?
Vejo e experimento que são muito boas as relações entre as várias Confissões e Igrejas. Ao mesmo tempo, acredito que poderíamos fortalecer nossas relações, não apenas dentro da Confissão cristã, mas também abrir-nos a outras religiões, ao diálogo inter-religioso. Estou muito feliz, por exemplo, que nós cristãos na Finlândia, podemos colaborar uns com os outros e fazemos isso em um nível muito prático, o que, no final das contas, é o nível da colaboração que dá mais frutos, é de alguma forma o mais fértil.
Neste tempo de pandemia e a caminho de um tempo pós-pandemia que se abrirá, considero que o mais importante é entender que precisamos uns dos outros. Precisamos nos encontrar, precisamos carregar os fardos uns dos outros, e acho que no final, estamos todos unidos diante da face de Deus porque somos todos filhos de Deus.
(vaticannews)
Sem comentários:
Enviar um comentário