sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Segunda Pregação do Advento 2022 com Fr. Raniero Cantalamessa

 


O texto integral da segunda pregação do Advento 2022 para a Cúria Romana do Frei Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap , na Sala Paulo VI na manhã desta sexta-feira (09/12)

A PORTA DA ESPERANÇA


Segunda Pregação do Advento de 2022


Vivendo a esperança

“Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o Rei da glória possa entrar” (Sl 24,7). Tomamos este versículo do salmo como fio condutor das meditações do Advento, entendendo por portas a serem abertas as das virtudes teologais: fé, esperança e caridade. O templo de Jerusalém – lemos nos Atos dos Apóstolos – tinha uma porta chamada “Porta Formosa” (At 3,2). O templo de Deus, que é o nosso coração, também tem uma porta “formosa”, e é a porta da esperança. É esta a porta que hoje queremos buscar abrir a Cristo que vem.


Qual é o objeto próprio da “esperança”, que em cada Missa proclamamos estar “vivendo”? Para nos dar conta da novidade absoluta trazida por Cristo neste campo, é preciso situar a revelação evangélica no pano de fundo das crenças antigas sobre o além.


Sobre este ponto, também o Antigo Testamento não tinha uma resposta para dar. Sabe-se que, apenas por volta do seu fim, tem-se alguma afirmação explícita sobre uma vida após a morte. Antes, a crença de Israel não diferia daquela dos povos vizinhos, especialmente daqueles da Mesopotâmia. A morte põe fim à vida para sempre; todos terminam, bons e maus, em uma espécie de lúgubre “fossa comum” que, em outros lugares, chama-se Arallu e, na Bíblia, o Sheol. Não diversa é a crença dominante no mondo greco-romano contemporâneo do Novo Testamento. Ele chama aquele triste lugar de sombras Infernos, ou Hades.


A grande coisa que distingue Israel de todos os demais povos é que ele continuou, apesar de tudo, a crer na bondade e no amor do seu Deus. Não atribuiu a morte, como faziam os babilônios, à inveja da divindade que reserva somente para si a imortalidade, mas sim ao pecado do homem (Gn 3), ou simplesmente à própria natureza mortal. Em certos momentos, o homem bíblico não calou, é verdade, o próprio desconcerto diante de uma sorte que parecia não fazer qualquer distinção entre justos e pecadores. Jamais, contudo, Israel chegou à rebelião. Em alguns orantes bíblicos, ele parece ser propenso a desejar e entrever a possibilidade de uma relação com Deus além da morte: um ser “resgatado da mão da morte” (Sl 49,16), “estar com Deus sempre” (Sl 73,23) e “delícia eterna e alegria ao seu lado” (Sl 16,11).


Quando, pelo final do Antigo Testamento, esta espera, amadurecida no subsolo da alma bíblica, finalmente virá à luz, não se exprime, à maneira dos filósofos gregos, como sobrevivência da alma imortal que, liberada do corpo, volta ao mundo celeste da qual provém. Em harmonia com a concepção bíblica do homem, como unidade inseparável de alma e corpo, a sobrevivência consiste na ressurreição – corpo e alma – da morte (Dn 12,2-3; 2Mc 7,9).


Jesus trouxe à sua luz, de imediato, esta certeza e – o que mais conta –, após tê-la anunciada em parábolas e sentenças (como aquela em resposta aos Saduceus sobre a mulher de sete maridos: Mt 22,30) –, deu a prova irrefutável disso, ele próprio ressurgindo da morte. Depois dele, para o crente, a morte não é mais uma aterrissagem, mas uma decolagem!


O mais belo dom e a mais preciosa herança que a Rainha da Inglaterra Elizabeth II deixou à sua nação e ao mundo, após 70 anos de reinado, foi a sua esperança cristã na ressurreição dos mortos. No rito fúnebre, assistido ao vivo por quase todos os poderosos da Terra e, pela televisão, por centenas de milhões de pessoas, foram proclamadas, por sua vontade expressa, na primeira leitura, as seguintes palavras de Paulo:


A morte foi tragada pela vitória; onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Ora, o aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. Graças sejam dadas a Deus que nos dá a vitória por Nosso Senhor, Jesus Cristo (1Cor 15,54-57).


E, no Evangelho, sempre por sua vontade, as palavras de Jesus:


Na casa de meu Pai há muitas moradas... E depois que eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também (Jo 14,2-3).


(vaticannews)

Sem comentários: