sexta-feira, 4 de março de 2016

JOÃO BAPTISTA

Diminuir, diminuir, diminuir


João Baptista «o maior dos profetas», ensina-nos uma regra fundamental da vida cristã: tornar-nos pequenos com humildade para que seja o Senhor a cresecer. Este é o «estilo de Deus», diferente do «estilo dos homens», que o Papa recordou durante a missa celebrada na sexta-feira 5 de Fevereiro, na capela da Casa de Santa Marta.

Marcos, no trecho evangélico hodierno (6, 14-29), escreve «que as pessoas falavam de Jesus porque “o seu nome se tinha tornado famoso”». Resumindo «todos falavam» e perguntavam-se quem ele fosse realmente. E um dizia: «É um dos profetas que voltou». E outro: «É João Baptista que ressuscitou». O facto é que diante de Jesus «as pessoas permaneciam curiosas». Enquanto o rei Herodes, escreve Marcos, estava «temoroso e angustiado» porque «era perseguido pelo fantasma de João» que ele tinha mandado assassinar.


Além disso, observou Francisco, há «outros personagens presentes neste trecho do Evangelho: uma mulher má, que odiava e procurava vingança; uma jovem que nada entendia e interessava-se só da sua vaidade». A ponto que «parecia um romance»: é a história de Herodíades e de sua filha. 
Precisamente «nesta moldura – explicou o Papa – o evangelista narra o final de João Baptista, “o maior homem nascido de mulher” como dizia a fórmula de canonização». E «esta fórmula não foi pronunciada pelo Papa mas por Jesus!». Deveras João «é o maior homem nascido de mulher, o maior santo: assim Jesus canonizou-o».

Mas João «acaba na prisão, degolado». E «a última frase» da passagem evangélica de hoje parece ter inclusive uma nota de «resignação»: «Os discípulos de João, ao saberem do facto, vieram, pegaram no cadáver e sepultaram-no». Acaba assim «o maior homem nascido de mulher: um grande profeta, o último dos profetas, o único ao qual foi concedido ver a esperança de Israel». Sim, «o grande João que chamou à conversão: todo o povo o seguia e lhe perguntava “o que devemos fazer?”». Seguiam-no, acrescentou o Pontífice «também os soldados, para se fazer baptizar, pedir perdão, a tal ponto que os doutores da lei foram ter com ele e perguntaram: “és tu aquele que esperamos?”». A resposta de João é clara: «Não, não sou eu. Virá outro depois de mim: é ele. Sou só a voz que clama no deserto». 

A tal propósito, explicou o Papa «santo Agostinho faz-nos pensar bem quando afirma: «Sim, João diz de si mesmo que é a voz, porque depois dele vem a palavra». E «Cristo é a palavra de Deus, o verbo de Deus». Deveras «é grande, João» reafirmou Francisco. Grande quando diz que não é aquele esperado: precisamente «aquela frase é o seu destino, o seu programa de vida: “Ele, aquele que virá depois de mim, deve crescer; eu, pelo contrário, devo diminuir”». Assim «foi a vida de João: diminuir, diminuir, diminuir e acabar desta maneira tão prosaica, no anonimato». Eis que João foi «um grande que não procurou a própria glória, mas a de Deus». 

E não termina aqui. O Pontífice quis frisar o facto de que João «sofreu na prisão também – digamos a palavra – a tortura interior da dúvida». A ponto de se perguntar: «Mas será que errei? Este messias não é como imaginava que deveria ser o messias!». E «convidou os seus discípulos a perguntar a Jesus: “Diz a verdade: és tu que deves vir?”».

Evidentemente «aquela dúvida fazia-o sofrer» e perguntava-se: «Errei ao anunciar alguém que não é?» Enganei o povo?». Foi grande «o sofrimento, a solidão interior deste homem». E voltam com toda a força, as suas palavras: « Ao contrário, devo diminuir, mas diminuir assim: na alma, no corpo, tudo». À dúvida de João, «Jesus responde: “Olha para o que acontece». E confiando, não diz: “Sou eu”. Diz: “Ide e dizei a João o que vistes”. Ele dá também sinais, e deixa-o sozinho com a dúvida e a interpretação dos sinais».

Eis, afirmou Francisco, «este é o grande profeta». Mas sempre em relação a João «há um último aspecto sobre o qual reflectir: com esta atitude de «diminuir» para que Cristo possa «crescer», preparou o caminho a Jesus. E Jesus morreu na angústia, sozinho, sem os discípulos». Portanto, a «grande glória» de João foi ser «profeta não só de palavras mas com a sua carne: com a sua vida preparou o caminho a Jesus. É um grande!». 

Na conclusão, o Papa sugeriu – «far-nos-á bem» – «ler hoje este trecho do Evangelho de Marcos, capítulo seis». Sim, insistiu, «ler aquele trecho» para «ver como Deus vence: o estilo de Deus não é o mesmo do homem». E precisamente à luz da passagem evangélica, «pedir ao Senhor a graça da humildade que tinha João sem nos revestirmos de méritos ou glórias de outros».
 E «sobretudo a graça de que na nossa vida sempre haja um lugar para que Jesus cresça e nós diminuamos, até ao fim».

(L'osservatoreromano)

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