Reflexão
Cidade do Vaticano (RV) - O tema da liturgia de hoje é a hospitalidade. Tanto
na primeira leitura que fala da visita de Deus a Abraão e Sara, quando moravam
em tendas, como no Evangelho, quando relata a visita de Jesus Cristo a Lázaro,
Marta e Maria. Deus vem a nós como qualquer pessoa e deseja ser acolhido.
A primeira leitura versa sobre a dificuldade que temos
quando fazemos um ato de caridade e de acolhida e nos lembramos das palavras de
Jesus: “Quem acolhe um desses pequeninos, me acolhe e quem me acolhe, acolhe o
Pai que me enviou.” Abraão não sabe que acolhe Deus, mas no final tem
consciência de que hospedou e serviu o Deus Altíssimo nas pessoas daqueles três
homens.
Os três chegaram à tenda de
Abraão em um momento inoportuno. Fazia o maior calor do dia e Abraão fazia sua
sesta. Todavia, ao vê-los ao longe, ele se levanta e se dirige aos visitantes e
lhes dá as boas-vindas. Faz com que se sentem, traz água para que lavem os pés
e vai tomar outras providências para bem recebê-los. Mais tarde, aparece com
pão feito na hora, com a carne do novilho que havia mandado o empregado matar e
preparar, com coalhada e com leite.
Podemos dizer que, com sua generosidade, Abraão
providenciou o máximo que ele podia oferecer e ofereceu um banquete.
Abraão não se senta, mas permanece de pé, no sentido
de estar disponível para servi-los. Podemos imaginar, pela fala de Abraão, que
os chama de "meu Senhor" ao acolhê-los, que intuía que os visitantes
fossem Deus. Por outro lado, eles se comportam de modo diferente de como os
habitantes daquela região se comportariam, não perguntando pela mulher do dono
da casa; ao invés, eles perguntam por ela e demonstram saber seu nome, e fazem
alusão à sua esterilidade, prometendo-lhes um filho dentro de um ano.
O relato da visita de Jesus à família de Betânia traz
à nossa reflexão a dimensão espiritual que pode conter uma visita e sua
acolhida.
Jesus não critica Marta por
chamar sua irmã para ajudá-la nos afazeres e nem elogia Maria porque,
aparentemente, está desligada, não percebendo o "sufoco" da irmã.
Marta é censurada por Jesus porque está "preocupada e agitada por muitas
coisas"; está dispersa em meio a tantos afazeres. Maria é elogiada porque
está à "escuta da Palavra".
Marta deveria ter-se envolvido no trabalho após ter
escutado a Palavra. Isso evitaria que ela caísse na agitação, na canseira e na
neurastenia.
Por outro lado, durante esse episódio, não se ouviu a
voz de Maria. Ela permaneceu silenciosa todo o tempo. Certamente, em seu
silêncio, Maria viu a reação da irmã e se levantou colocou o avental e foi
trabalhar. Por sua vez, Marta deixou o avental e foi acalmar-se aos pés de
Jesus, quando este a censurou.
Abraão, com serenidade, deixou seu descanso no momento
mais exaustivo do dia e foi servir os hóspedes. Marta, preocupada em servir o
Mestre, se esqueceu de se alimentar de sua Palavra e ficou agitada, preparando
a refeição. Maria, a disponível, primeiro se preparou para o serviço, ouvindo o
Senhor. Mesmo com a reclamação da irmã, mesmo trabalhando e servindo o tempo
todo, conservou a serenidade a ponto de não se ouvir sua palavra.
A acolhida mais importante é a
feita à Palavra de Deus. Ela irá nos ensinar a acolher todas as pessoas.
Contudo, seremos mais felizes se estivermos no seguimento de Abraão e de Maria,
acolhendo a Palavra nos dois sentidos: tanto em escutar o Senhor, a Palavra
encarnada, como em servi-la com nossos préstimos, deixando que ela fale através
de nossos gestos, deixando o Verbo encarnar em nós, como fez Maria de Nazaré.
Do mesmo como Maria de Betânia e
como Maria de Nazaré, com serenidade, conservemos tudo no silêncio de nosso
coração.
(Reflexão do Padre Cesar
Augusto dos Santos para o XVI Domingo do Tempo Comum)
br.radiovaticana
Sem comentários:
Enviar um comentário