sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Papa no Peru


Papa: plasmar uma Igreja com rosto amazônico
Francisco se reuniu com milhares de indígenas em Puerto Maldonado e os encorajou à resistência diante dos desafios atuais.

Cidade do Vaticano

A visita do Papa Francisco ao Peru começou na Amazônia, na cidade de Puerto Maldonado.
O ginásio Mãe de Deus acolheu cerca de três mil indígenas, entre os quais muitos brasileiros, entre fiéis, sacerdotes, bispos e Dom Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica.
O encontro foi marcado por testemunhos e um longo discurso do Pontífice, em que o Papa manifestou a sua preocupação pela ameaça que os povos e o território da Amazônia está sofrendo.
“Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como estão agora”, disse Francisco, citando os grandes interesses econômicos da indústria extrativista e das monoculturas agro-industriais. O Papa criticou também “a perversão de certas políticas”, que promovem a «conservação» da natureza sem ter em conta o ser humano.
Todos estes interesses “sufocam” os povos nativos e causa a migração das novas gerações. “Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus habitantes.”
Para romper este paradigma e transformas as relações marcadas pela exclusão, Francisco sugeriu a criação de espaços institucionais de respeito, reconhecimento e diálogo com os povos nativos. Estes não são um “estorvo”, mas memória viva da missão que Deus nos confiou: cuidar da Casa Comum.

Tráfico de pessoas

“A defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida”, disse ainda o Papa. Poluição ambiental e devastação da vida comportam ainda outro sofrimento: tráfico de pessoas e o abuso sexual.

“ A violência contra os adolescentes e contra as mulheres é um grito que chega ao céu. «Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objeto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? (…) Não nos façamos de distraídos! Há muita cumplicidade... A pergunta é para todos! ”

Francisco recordou que já São Toríbio denunciava essas violências cinco século atrás. Esta profecia, defendeu, “deve continuar presente na nossa Igreja, que nunca cessará de levantar a voz pelos descartados e os que sofrem”.
Para Francisco, as povos nativos jamais devem ser considerados uma minoria, mas autênticos interlocutores. Além de constituir uma reserva da biodiversidade, a Amazônia é também uma reserva cultural que deve ser preservada face aos novos colonialismos.

Família e educação

“A família é, e sempre foi, a instituição social que mais contribuiu para manter vivas as nossas culturas. Em períodos de crises passadas, face aos diferentes imperialismos, a família dos povos indígenas foi a melhor defesa da vida.”
O Pontífice falou também da educação, que deve ser uma prioridade e um compromisso do Estado; compromisso integrador e inculturado que assuma, respeite e integre como um bem de toda a nação a sua sabedoria ancestral.

Igreja na Amazônia

Por fim, Francisco comentou a presença da Igreja na Amazônia, enaltecendo o trabalho dos missionários em defender  as culturas locais. O Papa exortou a não sucumbir às tentativas em ato para desarraigar a fé católica de seus povos.
“Cada cultura e cada cosmovisão que recebe o Evangelho enriquecem a Igreja com a visão de uma nova faceta do rosto de Cristo. A Igreja não é alheia aos seus problemas e à sua vida, não quer ser estranha ao seu modo de viver e de se organizar. Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas locais amazônicas.” Francisco pede ajuda mútua e diálogo entre os povos locais e os bispos para “plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena. Com este espírito, convoquei um Sínodo para a Amazônia no ano de 2019”.
O Papa concluiu encorajando os povos indígenas a resistirem, demonstrando capacidade de reação perante os momentos difíceis que são obrigados a viver. E se despediu em língua: quechua Tinkunakama [Até um próximo encontro].


(vaticannews)

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