Papa: plasmar uma Igreja com
rosto amazônico
Francisco se reuniu com milhares de
indígenas em Puerto Maldonado e os encorajou à resistência diante dos desafios
atuais.
Cidade
do Vaticano
A
visita do Papa Francisco ao Peru começou na Amazônia, na cidade de Puerto
Maldonado.
O
ginásio Mãe de Deus acolheu cerca de três mil indígenas, entre os quais muitos
brasileiros, entre fiéis, sacerdotes, bispos e Dom Cláudio Hummes, presidente
da Rede Eclesial Pan-Amazônica.
O
encontro foi marcado por testemunhos e um longo discurso do Pontífice, em que o
Papa manifestou a sua preocupação pela ameaça que os povos e o território da
Amazônia está sofrendo.
“Provavelmente,
nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus
territórios como estão agora”, disse Francisco, citando os grandes interesses
econômicos da indústria extrativista e das monoculturas agro-industriais. O
Papa criticou também “a perversão de certas políticas”, que promovem a
«conservação» da natureza sem ter em conta o ser humano.
Todos
estes interesses “sufocam” os povos nativos e causa a migração das novas
gerações. “Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia
como uma despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus
habitantes.”
Para
romper este paradigma e transformas as relações marcadas pela exclusão,
Francisco sugeriu a criação de espaços institucionais de respeito,
reconhecimento e diálogo com os povos nativos. Estes não são um “estorvo”, mas
memória viva da missão que Deus nos confiou: cuidar da Casa Comum.
Tráfico
de pessoas
“A
defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida”, disse ainda o
Papa. Poluição ambiental e devastação da vida comportam ainda outro sofrimento:
tráfico de pessoas e o abuso sexual.
“ A violência contra os adolescentes e
contra as mulheres é um grito que chega ao céu. «Sempre me angustiou a situação
das pessoas que são objeto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se
ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: “Onde está o teu irmão?” (Gn
4, 9). Onde está o teu irmão escravo? (…) Não nos façamos de distraídos! Há
muita cumplicidade... A pergunta é para todos! ”
Francisco
recordou que já São Toríbio denunciava essas violências cinco século atrás.
Esta profecia, defendeu, “deve continuar presente na nossa Igreja, que nunca
cessará de levantar a voz pelos descartados e os que sofrem”.
Para
Francisco, as povos nativos jamais devem ser considerados uma minoria, mas
autênticos interlocutores. Além de constituir uma reserva da biodiversidade, a
Amazônia é também uma reserva cultural que deve ser preservada face aos novos
colonialismos.
Família
e educação
“A
família é, e sempre foi, a instituição social que mais contribuiu para manter
vivas as nossas culturas. Em períodos de crises passadas, face aos diferentes
imperialismos, a família dos povos indígenas foi a melhor defesa da vida.”
O
Pontífice falou também da educação, que deve ser uma prioridade e um
compromisso do Estado; compromisso integrador e inculturado que assuma,
respeite e integre como um bem de toda a nação a sua sabedoria ancestral.
Igreja
na Amazônia
Por
fim, Francisco comentou a presença da Igreja na Amazônia, enaltecendo o
trabalho dos missionários em defender as culturas locais. O Papa exortou
a não sucumbir às tentativas em ato para desarraigar a fé católica de seus
povos.
“Cada
cultura e cada cosmovisão que recebe o Evangelho enriquecem a Igreja com a
visão de uma nova faceta do rosto de Cristo. A Igreja não é alheia aos seus
problemas e à sua vida, não quer ser estranha ao seu modo de viver e de se
organizar. Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas
locais amazônicas.” Francisco pede ajuda mútua e diálogo entre os povos locais
e os bispos para “plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto
indígena. Com este espírito, convoquei um Sínodo para a Amazônia no ano de
2019”.
O
Papa concluiu encorajando os povos indígenas a resistirem, demonstrando
capacidade de reação perante os momentos difíceis que são obrigados a viver. E
se despediu em língua: quechua Tinkunakama [Até um próximo
encontro].
(vaticannews)
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