quarta-feira, 20 de abril de 2022

Ideologia de género ameaça a dignidade humana, diz cardeal


Vaticano, 19 abr. 22 / 04:08 pm (ACI).- O secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, disse que a Igreja muitas vezes “não é ouvida” sobre temas como a ideologia de gênero.

Parolin disse em entrevista exclusiva à ACI Stampa, agência em italiano do grupo ACI, que a linha diplomática da Santa Sé não sofreu grandes mudanças durante os últimos pontificados. Há "uma continuidade", embora "cada papa tenha respondido às necessidades do seu tempo", disse. Segundo o cardeal, a Santa Sé “tenta ter uma visão que englobe todos os temas de atualidade”.


Ideologia de gênero

O cardeal disse que a Santa Sé está preocupada com os novos “direitos de género” promovidos pelos organismos internacionais. Segundo Parolin, esses direitos “trazem consigo uma nova visão antropológica que se afasta significativamente, para não dizer substancialmente, da visão da proposta cristã”.

“Esta nova antropologia priva a pessoa de suas três dimensões de relacionamento: consigo mesmo, relacionamento com Deus e relacionamento com os outros”, disse o cardeal.

A ideologia de género é uma corrente que considera que o sexo não é uma realidade biológica, mas uma construção sociocultural.

O cardeal Pietro Parolin destacou que a Santa Sé concebe esses desafios como um risco que ameaça "destruir a dignidade do ser humano" e defendeu que "devemos reconhecer que existem essas tentativas contínuas de 'colonização ideológica', como as chama o papa Francisco".

O cardeal destacou então que não se trata de “uma luta ideológica da Igreja”, mas que “trata-se realmente de falar de direitos, e falar deles com amor ao homem, porque vemos as consequências que surgem dessas escolhas”.

“Vemos na sociedade um mal-estar geral, uma incapacidade de se relacionar. Essas consequências vêm de uma visão antropológica que se concentra exclusivamente nos desejos pessoais”, destacou.

Para o cardeal Parolin, a questão de género está incluída hoje em muitos documentos, mesmo em alguns que nada têm a ver com "género", e lamentou que a Santa Sé não seja ouvida, mas "gere desconfortos".

“Mas não estamos trabalhando contra alguém. Pelo contrário, olhamos para o ser humano. Por isso, acredito que nossa tarefa é também ser fiel à mensagem que devemos transmitir, sem desanimar”, disse o cardeal, alegando que a Santa Sé deve “levantar as questões com respeito, com delicadeza, mas também com grande clareza ".

"Devemos expor nosso ponto de vista, mesmo que não seja imediatamente aceito, mesmo que não seja imediatamente compreendido, mesmo que seja rejeitado e haja oposição", defendeu.


Liberdade religiosa

Sobre a radicalização do Estado e a liberdade religiosa, o cardeal destacou que há uma tendência em alguns Estados, especialmente no Ocidente, de "relegar a religião à esfera privada".

O cardeal falou por último das restrições que foram tomadas durante a pandemia de coronavírus e afirmou ter ouvido muitos bispos “falando sobre os aspectos discriminatórios, porque certas instalações podiam abrir enquanto as igrejas tinham que permanecer fechadas. São opções que não levam em consideração, entre outras coisas, as necessidades espirituais das pessoas”.

“Acho que todos reconhecem que a Igreja tentou fazer a sua parte, não atrapalhando o trabalho do governo, mas acompanhando-o, ainda que com algumas críticas, mostrando-se um parceiro verdadeiramente confiável”, concluiu o cardeal.


(acidigital)

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