Maria oferece-O a Deus e o Senhor
mostra-lhe que ela mesma será associada à missão redentora de Jesus.
A aglomeração de peregrinos em
Belém tinha terminado. Depois do nascimento de Jesus, José encontrou um lugar
mais decente para alojar a Sagrada Família. Passados oito dias foi aí que
realizou o rito da circuncisão, pelo qual os varões começavam a fazer parte do
povo de Israel e o Menino recebeu oficialmente o nome de Jesus, como lhe
tinha chamado o anjo antes que fosse concebido no ventre materno ( Lc 2,
21). Quarenta dias depois, Maria e José tomaram o Menino, levaram-no a
Jerusalém, depois que se completaram os dias da purificação de Maria,
segundo a Lei de Moisés (...), para O apresentar ao Senhor, como está escrito
na Lei do Senhor (...) e para oferecer como sacrifício, conforme o que também
está escrito na Lei do Senhor: “Um par de rolas ou dois pombinhos ( Lc 2,
22-25).
Nem Jesus nem Maria estavam
obrigados a seguir estas prescrições. Maria não tinha contraído nenhuma
impureza legal, pois tinha concebido e dado à luz virginalmente; nem sequer a
lei de resgate do primogénito se aplicava a Jesus, autêntico Cordeiro de Deus
que vinha tirar os pecados do mundo. E, no entanto, por três vezes, em poucos
versículos, se insiste em que tudo foi levado a cabo em estrita obediência à
Lei de Deus.
A Igreja descobre neste episódio
uma razão mais profunda. Em primeiro lugar, o cumprimento da profecia de
Malaquias: vai chegar ao Seu Templo o Senhor que procurais, o mensageiro da
Aliança, que desejais ( Ml 3, 1). Além disso, Maria compreendeu que
Jesus devia ser conduzido ao Templo, não para O resgatar como aos outros
primogénitos, mas para ser oferecido a Deus em verdadeiro sacrifício. Assim o
expressa a Carta aos Hebreus: entrando no mundo, diz: "Não quiseste
sacrifício nem oblação, mas formaste-Me um corpo; os holocaustos e sacrifícios
pelo pecado não Te agradaram. Então Eu disse: Eis-Me que venho, segundo está
escrito de Mim no rolo do livro, para fazer, ó Deus, a Tua vontade" ((
Hb 10, 5-7). A apresentação de Jesus no Templo poder-se-ia comparar, de
certo modo, ao Ofertório do Sacrifício do Calvário, que a Missa tornaria
presente em todos os pontos do tempo e do espaço. Na preparação desse
sacrifício, como depois na sua realização no cume do Gólgota, estava reservado
um lugar especial para a Mãe de Jesus. Desde os primeiros momentos da Sua vida
terrena, Jesus associa Maria ao sacrifício redentor que tinha vindo cumprir.
A APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO PODER-SE-IA COMPARAR, DE CERTO MODO,
AO OFERTÓRIO DO SACRIFÍCIO DO CALVÁRIO, QUE A MISSA TORNARIA PRESENTE EM TODOS
OS PONTOS DO TEMPO E DO ESPAÇO.
Esta participação no mistério da
Redenção foi, pouco a pouco, revelada à Virgem. O anjo da Anunciação nada lhe
tinha dito a este propósito, mas agora ser-lhe-á comunicado pelas palavras de
Simeão, um ancião justo e temente a Deus a quem tinha sido revelado pelo
Espírito Santo que não veria a morte sem ver primeiro o Cristo do Senhor ( Lc
2, 26).
O encontro entre a Virgem e ancião
deve ter acontecido frente à porta de Nicanor, por onde se acedia ao átrio dos
israelitas. Naquele lugar situava-se um dos sacerdotes encarregados de atender
as mulheres que ofereciam o sacrifício por si próprias e pelos seus filhos.
Maria, acompanhada de José, pôs-se na fila. Enquanto aguardava a sua vez, houve
um acontecimento que encheu de assombro os circunstantes. Um venerável ancião
aproximou-se da fila. O seu rosto resplandecia de alegria. Quando os pais
levaram o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições da Lei a Seu respeito,
Simeão tomou o Menino nos braços e louvou a Deus, dizendo: "Agora, Senhor,
conforme a Tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque os meus
olhos viram a Tua Salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para
iluminar as nações e glória do Teu povo Israel" ( Lc 2, 29-32).
O MESSIAS CUMPRIRIA A SUA MISSÃO POR MEIO DO SOFRIMENTO; E A MÃE FICAVA
MISTERIOSAMENTE ASSOCIADA À DOR DO FILHO.
Ao ouvir estas palavras, apoderou-se
de Maria e de José um sentimento de admiração: o ancião Simeão confirmava-lhes
o que o anjo lhes tinha comunicado da parte de Deus. Mas, logo a seguir, aquele
anúncio ensombrou a alegria: o Messias cumpriria a Sua missão por meio do
sofrimento; e a Mãe ficava misteriosamente associada à dor do Filho. Simeão
abençoou-os e disse a Maria, Mãe do Menino: "Eis que este Menino vai ser
causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de
contradição. Quanto a Ti, uma espada há-de atravessar-Te a alma. Assim serão
revelados os pensamentos de muitos corações" ( Lc 2, 34-35).
Também Ana, uma profetisa com mais de oitenta anos, se associou ao anúncio de
Simeão, pois chegou nesse instante, louvava a Deus e falava do Menino a
todos os que esperavam a libertação de Jerusalém ( Lc 2, 38).
Do evangelho de São Lucas deduz-se
que a Virgem apresentou Jesus só depois de ouvir a profecia. Ofereceu pelo seu
resgate um par de rolas ou dois pombinhos , a oferenda dos pobres, em
lugar do cordeiro prescrito na Lei de Moisés. No entanto, à luz das palavras de
Simeão, compreendeu — para além das aparências — que Jesus era o verdadeiro
Cordeiro que redimiria os homens dos seus pecados. E que Ela, como Mãe, de um
modo que não compreendia, estaria unida estreitamente à sorte do seu Filho.
J. A. Loarte
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