Os filhos foram os autores de quase 40% dos crimes de
violência doméstica praticados contra mais de 2.600 idosos acompanhados pela
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) entre 2013 e 2015, situação que
tem vindo a aumentar.
Enquanto no período 2013-2014 o autor do crime, na sua
maioria, era o cônjuge, atualmente assiste-se a "um aumento das situações
em que a vítima é pai ou mãe", disse hoje à agência Lusa a coordenadora
executiva do Centro de Formação APAV, Maria de Oliveira.
A APAV registou, entre 2013 e 2015, 3.214 processos de
apoio a idosos, em que 2.603 foram vítimas de crime e de violência, segundo
dados da associação divulgados a propósito do Dia Internacional das Pessoas
Idosas (01 de outubro).
Estes valores traduziram-se em 6.264 factos
criminosos. Destes, 5.072 (81%) foram crimes de violência doméstica, 860
(13,7%) foram crimes contra as pessoas e 288 (4,6%) contra o património.
Entre os crimes de violência doméstica, destacam-se os
maus-tratos psíquicos, com 1.924 casos (30,7%), e os maus-tratos físicos, 1.244
casos (19,9%). Houve ainda 846 idosos que foram vítimas de ameaça/coação
(13,5%) e 520 de injúrias e difamação (8,3%).
A maior parte dos crimes foram cometidos dentro da
família, sendo os filhos (37,9%) e o cônjuge (28,2%) os principais agressores.
Os netos protagonizaram 4,4% dos crimes e os vizinhos 4,7%.
Analisando estes dados, Maria de Oliveira disse que
"ainda não espelham a realidade que acontece no país", mas confirmam
uma realidade que a APAV já suspeitava e para a qual tem vindo a alertar de que
"existem relações familiares que exercem relações de poder e decisão das
coisas da vida mais básicas" do idoso.
"Estamos a falar de filhos que exercem violência
contra os pais", frisou a técnica, afirmando que "ainda há muito
desconhecimento e alguma permissividade para continuarem a exercer estas
situações".
Os dados demonstram também um aumento no número de
processos de apoio: 941 em 2013, 1.068 em 2014 e 1.205 em 2015, o que, segundo
a técnica, se deve também a "uma maior consciência da população" para
"determinados comportamentos" exercidos contra as pessoas idosas que
constituem um crime".
Traçando o perfil destes idosos, a APAV refere que
mais de metade tinha entre 65 e 74 anos, 44,1% eram casados e pertenciam a um
tipo de família nuclear com filhos (32,8%).
Os dados indicam também que 36,3% das vítimas tinham
idades entre os 75 e os 84 anos e 12,5% mais de 85 anos.
O número de autores de crime contabilizados entre 2013
e 2015 ultrapassou o número de vítimas (2.603), ascendendo aos 2.730.
Em mais de 65% das situações, o agressor era homem,
com idades entre os 65 e os 74 anos. Foram ainda identificados sete agressores
com idades entre os 11 e os 17 anos e 52 com idades entre os 18 e os 24 anos.
Os dados adiantam que 20,5% dos autores dos crimes
estavam reformados, 19,3% desempregados e 13,5% empregados.
Tendo em conta o tipo de problemáticas existentes,
prevalece o tipo de vitimação continuada em cerca de 78% das situações, com uma
duração média entre os dois e os seis anos (12,4%).
A residência comum é o local mais escolhido para a
"ocorrência dos crimes", em 56,8% das situações, seguindo-se a casa
da vítima (27,5%) e a via pública (6,1%).
As queixas/denúncias ficam-se nos 30,7% face ao total
de autores de crimes assinalados.
Maria de Oliveira explicou que, "havendo uma
relação familiar, é muito difícil as pessoas denunciarem" a situação,
porque "têm sentimentos de vergonha e de culpa".
"Se for uma relação de pai ou mãe sentem que
falharam enquanto educadores", rematou.
(noticiasaominuto)
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