Papa
Francisco em Assis:
somente a paz é santa, não a guerra!
Cidade do Vaticano (RV) - “Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo
tem uma sede ardente de paz.” “Não temos armas; mas acreditamos na força mansa
e humilde da oração.” Foi o que disse o Papa Francisco na cerimônia conclusiva
do Dia Mundial de Oração pela Paz, celebrado na terça-feira (20/09) em Assis.
Na esteira do 30º aniversário do
histórico Encontro de Oração pela Paz convocado por João Paulo II (27 de
outubro de 1986), reunindo líderes religiosos do mundo inteiro, o evento desta
terça-feira teve como tema “Sede de Paz. Religiões e Culturas em Diálogo”,
promovido Diocese de Assis, Famílias Franciscanas e a Comunidade romana de
Santo Egídio.
Viemos a Assis como peregrinos à procura de paz
Já no início de seu discurso, após agradecer aos ilustres representantes
das Igrejas, Comunidades cristãs e Religiões pela presença e participação,
Francisco lembrou que todos se encontravam reunidos em Assis como peregrinos à
procura da paz, movidos pelo desejo de testemunhar a paz, sobretudo pela
necessidade de rezar pela paz, “porque a paz é dom de Deus e cabe a nós
invoca-la, acolhê-la e construí-la cada dia com a sua ajuda”, frisou.
“Sair, pôr-se a caminho, encontrar-se em conjunto, trabalhar pela paz:
não são movimentos apenas físicos, mas sobretudo da alma”, acrescentou; “são
respostas espirituais concretas para superar os fechamentos, abrindo-se a Deus
e aos irmãos. É Deus que no-lo pede, exortando-nos a enfrentar a grande doença
do nosso tempo: a indiferença”.
Em seguida, o Pontífice caracterizou
essa grande enfermidade: “É um vírus que paralisa, torna inertes e insensíveis,
um morbo que afeta o próprio centro da religiosidade produzindo um novo e
tristíssimo paganismo: o paganismo da indiferença”.
Mundo de hoje tem sede ardente de paz
“Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo tem uma sede ardente de
paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas
sempre causa de sofrimento e pobreza”, disse Francisco, lembrando sua visita à
ilha grega de Lesbos (16 de abril passado), na qual viu nos olhos dos
refugiados o sofrimento da guerra, a angústia de povos sedentos de paz.
“Penso em famílias, cuja vida foi transtornada; nas crianças, que na
vida só conheceram violência; nos idosos, forçados a deixar as suas terras:
todos eles têm uma grande sede de paz. Não queremos que estas tragédias caiam
no esquecimento. Desejamos dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se
encontram sem voz e sem escuta. Eles sabem bem – muitas vezes melhor do que os
poderosos – que não há qualquer amanhã na guerra e que a violência das armas
destrói a alegria da vida.”
A força mansa e humilde da oração
“Não temos armas; mas acreditamos na
força mansa e humilde da oração. Neste dia, a sede de paz fez-se imploração a
Deus, para que cessem guerras, terrorismo e violências”, disse ainda o Santo
Padre.
A paz que invocamos, a partir de Assis, não é um simples protesto contra
a guerra, nem é sequer «o resultado de negociações, de compromissos políticos
ou de acordos econômicos, mas o resultado da oração», acrescentou Francisco
citando palavras João Paulo II no Encontro de Oração pela Paz de 30 anos atrás.
“Procuramos em Deus, fonte da comunhão, a água cristalina da paz, de que
está sedenta a humanidade: essa água não pode brotar dos desertos do orgulho e
dos interesses de parte, das terras áridas do lucro a todo o custo e do
comércio das armas.”
Diferença não é motivo de conflito
Dirigindo-se aos líderes religiosos, o Papa lembrou que nossas tradições
religiosas são diversas. “Mas para nós, a diferença não é motivo de conflito,
de polêmica ou de frio distanciamento”, observou.
“Hoje não rezamos uns contra os outros,
como às vezes infelizmente se deu na História. Ao contrário, sem sincretismos
nem relativismos, rezamos uns ao lado dos outros, uns pelos outros.”
“Continuando o caminho iniciado há trinta anos em Assis, onde permanece
viva a memória daquele homem de Deus e de paz que foi São Francisco, «uma vez
mais nós, aqui reunidos, afirmamos que quem recorre à religião para fomentar a
violência contradiz a sua inspiração mais autêntica e profunda».”
Só a paz é santa; não a Guerra
“Não nos cansamos de repetir que o nome de Deus nunca pode justificar a
violência. Só a paz é santa; não a guerra!”, exclamou o Papa.
Francisco ressaltou que a oração e a vontade de colaborar comprometem
uma paz verdadeira, não ilusória: “não a tranquilidade de quem esquiva as
dificuldades e vira a cara para o lado, se os seus interesses não forem
atingidos”.
“Não o cinismo de quem se lava as mãos
dos problemas alheios; não a abordagem virtual de quem julga tudo e todos no
teclado dum computador, sem abrir os olhos às necessidades dos irmãos nem sujar
as mãos em prol de quem passa necessidade”, enfatizou.
Após afirmar ser a paz um fio de esperança que liga a terra ao céu, o
Pontífice disse tratar-se de uma palavra tão simples e ao mesmo tempo tão
difícil. Paz quer dizer perdão, acolhimento, colaboração e educação, disse.
Concluindo, o Papa lembrou que nosso futuro é viver juntos. “Por isso,
somos chamados a libertar-nos dos fardos pesados da desconfiança, dos
fundamentalismos e do ódio”.
Líderes da nações não se cansem de promover a paz
“Nós, como Chefes religiosos, temos a
obrigação de ser pontes sólidas de diálogo, mediadores criativos de paz.
Dirigimo-nos também àqueles que detêm a responsabilidade mais alta no serviço
dos povos, aos líderes das nações, pedindo-lhes que não se cansem de procurar e
promover caminhos de paz, olhando para além dos interesses de parte e do
momento.”
A paz é uma responsabilidade universal,
lembrou Francisco, fazendo uma exortação: “Assumamos esta responsabilidade,
reafirmemos hoje o nosso sim a ser, juntos, construtores da paz que Deus quer e
de que a humanidade está sedenta.” (RL)
(radiovaticana)
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