"As
pessoas andam completamente descuidadas,
arriscam desnecessariamente"
No dia em que arranca a
época balnear na maioria das praias portuguesas, o entrevistado do Vozes ao
Minuto é o comandante Paulo Sousa Costa, diretor do Instituto de Socorro a
Náufragos.
Portugal
tem cerca de 110 quilómetros de areal vigiado e 350 quilómetros de areal não
vigiado, sendo que as praias nacionais são visitadas, na época balnear, por
cerca de 63 milhões de portugueses e 12 milhões de estrangeiros, o que são
razões mais do que suficientes para apostar na prevenção e nos meios de
salvamento nas praias.
O
comandante do Instituto de Socorro a Náufragos disse ao Notícias ao
Minuto que há nadadores-salvadores em número suficiente para garantir
a segurança balnear nas praias vigiadas. Mas e as praias não vigiadas? Neste
caso não há nadadores-salvadores, mas há outras estratégias em curso que têm
como objetivo salvar vidas.
Recordando
as mortes que ocorreram no início do mês de maio, o comandante acusou as
pessoas de agirem com certa “incúria” e de não obedeceram às indicações de
segurança que lhes são dadas, considerando que "andam completamente
descuidadas junto ao mar”, faltando-lhes a necessária “cultura de segurança”.
Quando
é que arranca a época balnear?
No
grosso do país arranca a 1 de junho, mas há zonas onde começa mais cedo. Em
Cascais, por exemplo, começou a 1 de maio e no Algarve, em grande parte das
praias, arrancou a 15 de maio. A verdade é que não há um dia fixo para o início
da época balnear.
Faria
sentido se fosse uniforme em todo o país?
Não.
No Algarve faz sentido abrir mais cedo, porque o bom tempo chega mais cedo. No
Norte, por exemplo, não faria de todo sentido, pois o bom tempo chega mais
tarde. Não faria sentido colocar nadadores-salvadores numa praia onde não há
banhistas porque ainda está frio.
E
o inverso aplica-se ao encerramento da época balnear.
Sim.
O final da época balnear é quase todo a 30 de setembro, mas em locais como o
Algarve, por exemplo, só chega ao fim em meados de outubro.
Como
é que são definidas as datas para o arranque da época balnear?
Há
um grupo de trabalho que reúne previamente no qual estão representantes das
autarquias, da Bandeira Azul, da Agência Portuguesa do Ambiente, da
Direção-Geral da Autoridade Marítima e depois são as autarquias que fazem as
propostas da altura em que querem abrir as praias.
Tem de haver um cuidado
imenso por parte das pessoas nesta altura do início da época balnear. Quais
são os maiores riscos inerentes aos primeiros dias de praia?
Tem
de haver um cuidado imenso por parte das pessoas nesta altura do início da
época balnear porque as areias ainda não assentaram, não houve estabilidade em
termos das correntes da água do mar e dos ventos e existem os agueiros que
levam as pessoas para longe da costa.
E
nas praias fluviais?
Aqui
são as correntes, pois são correntes que vão de nascente para vazante. E não
esquecer que é proibido tomar banho junto à barragens.
Quantas
pessoas já morreram afogadas este ano?
Desde
o início do ano até ao início da época balnear morreram 21 pessoas, entre
pessoas que caminhavam na areia molhada e foram arrastadas por uma onda,
pessoas que pescavam e caíram nas rochas, praticantes de bodyboard…
Se me dissesse que tinham
morrido 21 pessoas durante a época balnear nas praias vigiadas isso sim seria
um número elevado. Pode considerar-se um número elevado?
Não.
Se me dissesse que tinham morrido 21 pessoas durante a época balnear nas praias
vigiadas isso sim seria um número elevado. O que temos de fazer é perceber os
motivos para este número.
Pode
falar-se, em alguns casos, de inconsciência das pessoas?
A
verdade é que, na maior parte das vezes, há incúria por parte das pessoas que
não têm uma cultura de segurança e acabam por provocar estas mortes. Houve o
caso de um casal de idosos que morreu na Nazaré porque foi caminhar para a
areia molhada na praia, mesmo depois de lhe ter sido dito para não o fazer. As
pessoas andam completamente descuidadas e arriscam desnecessariamente.
As
pessoas devem arriscar e atirarem-se à água para salvar quem está em apuros?
É
difícil responder. Cada pessoa tem de saber quais são as suas capacidades
físicas e analisar o estado do mar para perceber se tem, ou não, capacidade
para salvar alguém sem se colocar em risco.
Não basta saber nadar para
salvar alguém. Há uma série de procedimentos
Basta
saber nadar para salvar alguém?
Não.
É preciso saber o que fazer. Uma pessoa tem que chegar junto ao náufrago
dizer-lhe para se acalmar, virá-lo de costas, agarrá-lo pela cintura, colocar a
cabeça dela acima do ombro, fazer uma natação de costas… há uma série de
procedimentos que devem ser feitos.
Numa
praia vigiada existem os nadadores-salvadores. Mas e numa praia não vigiada? A
quem se deve recorrer em caso de afogamento?
Os
banhistas devem ligar para o 112, pois o Instituto de Socorro a Náufragos (ISN)
tem uma estratégia para colmatar a ausência de nadadores-salvadores em algumas
praias.
Quando há um incidente nas
praias não vigiadas, os banhistas devem ligar ao 112Em que consiste essa
estratégia?
Passa
por parcerias com entidades privadas. Por exemplo, temos uma parceria com a
SIVA que consiste na cedência ao ISN de 28 viaturas equipadas com todos os
meios de salvamento durante a época balnear. Temos outra parceria com a
Vodafone em que nos são cedidas motos 4x4 e motos de água. Estas viaturas são
conduzidas por elementos da Marinha. Assim, quando há um incidente nas praias
não vigiadas, os banhistas devem ligar ao 112 que, por sua vez, entra em
contacto com a Polícia Marítima que reencaminha estas viaturas para os locais
onde são precisas.
Quantos
nadadores-salvadores são precisos para esta época balnear?
Em
termos de praias marítimas as necessidades apontam para 1.236
nadadores-salvadores, nas fluviais são necessários 158. No total, e tendo em
conta o que é estabelecido pela legislação – dois nadadores-salvadores por cada
100 metros e mais um por cada 50 metros – são necessários 1.394 profissionais.
Mas ainda é preciso cerca de mais um terço para equilibrar os dias de folga. Eu
diria que a necessidade real é de 1.860 nadadores-salvadores.
E
quantos existem em Portugal?
Este
ano já certificámos 608 nadadores-salvadores que tiraram agora o curso, mas
também renovámos a certificação a outros 311 e estimamos que vamos certificar –
com os cursos que ainda vão decorrer – mais 650 alunos. Somando estes números a
todos os que temos na base de dados, atualmente em Portugal temos 5.241
nadadores-salvadores certificados, mas admito que consigamos chegar, durante
esta época balnear, perto dos 5.900.
Se não tiverem
nadadores-salvadores não podem ter a concessão abertaQuem é responsável pela
contratação dos nadadores-salvadores?
Os
concessionários da praia. Em contrapartida, para lhes serem atribuídas
concessões, eles devem contratar nadadores-salvadores. Se não tiverem
nadadores-salvadores não podem ter a concessão aberta.
Onde
são lecionados os cursos para nadadores-salvadores?
Até
ao ano passado eram da responsabilidade da Escola da Autoridade Marítima, mas
desde o ano passado passaram para a alçada de escolas privadas. Estas escolas
dão os cursos e, no final, após a realização do Exame Específico de Aptidão
Técnica, a certificação é dada pelo ISN.
Quais
são os requisitos necessários para se ser nadador-salvador?
Em
traços gerais, os candidatos devem ter mais de 18 anos, ter a escolaridade
mínima obrigatória, ter uma declaração médica que atesta terem a condição
física para o desenvolvimento da atividade, realizarem exames físicos e, não
tendo de ser portugueses, têm de falar um português fluente e ter conhecimentos
básicos de inglês.
Face a estes requisitos, qual é o perfil do nadador-salvador
português?
Os nossos nadadores-salvadores são, na maioria, estudantes
que procuram um emprego de verão. Normalmente trabalham dois ou três anos e
depois não voltam à atividade. E depois há uma pequena percentagem de
nadadores-salvadores que fazem isto a vida inteira.
(noticiasaominuto)
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